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  • A música na oração e a poesia na teologia

    Quem canta reza duas vezes, diz um ditado popular. O Rei David salmodiava e louvava Javé tocando harpa e declamando verdadeiros poemas, ora de angústia, ora de alegria, ora de clamor, ora de agradecimento. Quero mostrar a você uma música que reúne melodia adequada para meditar e orar e uma composição cuja letra apresenta traços bíblicos teológicos, com uma elegância e sutileza sem tamanho, pois fala de Jesus Cristo, sem citar seu nome, fala de ressurreição, sem dizê-lo expressamente, relembra os lugares de oração de Jesus, sem perder a poesia. Fala até do juízo final. Estou falando da música O Homem, de Erasmo Carlos e Roberto Carlos. Estariam eles salmodiando para Deus? Reza a canção: Um certo dia um homem esteve aqui/Tinha o olhar mais belo que já existiu/Tinha no cantar uma oração/E no falar a mais linda Canção que já se ouviu/Sua voz falava só de amor/Todo gesto seu era de amor/E paz, Ele trazia no coração Nessas primeiras estrofes eles fazem catequese a partir da visão que um poeta e cancioneiro tem das passagens dos Evangelhos. Nessas estrofes, com sutileza e poesia falam de uma qualidade maravilhosa de Jesus: a compaixão, que consiste em olhar o outro como a si mesmo, colocando-se no lugar do outro para sentir como deve sentir o outro. Isso eles dizem numa frase: “Tinha o olhar mais belo que já existiu”. Era o olhar da compaixão e misericórdia. O “belo” aqui não se refere apenas à estética, mas também à ética; é um “belo” no sentido de expressar compromisso e revelar em atitudes a Verdade, o rosto do Pai. Vejam como um poeta alcança e transmite uma mensagem bíblica e teológica sem citar um único versículo das Escrituras. Em seguida, fazem um trocadilho poético invejável: “Tinha no cantar uma oração E no falar a mais linda canção”. A liberdade poética permite isso e mais ainda, imaginar que Jesus cantava, e que seu canto era oração. Talvez, de fato, Jesus cantasse os Salmos, que eram verdadeiramente orações. Mas, em seguida, transformam a fala, os discursos de Jesus na“mais linda canção que já se ouviu”. A canção, quando boa, atrai, concentra, permite fazermos associações de tempo, lugar e pessoas, em futuras recordações, chegando, às vezes, a ficar na nossa memória o dia inteiro. Assim descrevem esses poetas, os ditos e as falas de Jesus de Nazaré: a fala de Jesus era a mais linda canção que já se ouviu. Conseguem expressar na simplicidade, mas com profundeza teológica, aquilo que Jesus exigiu dos discípulos e que condenava nos fariseus: exigia coerência entre o falar e o agire condenava a hipocrisia. E dizem isso assim: “Sua voz falava só de amor/ Todo gesto seu era de amor /E paz, Ele trazia no coração”. Jesus falava de amor e amava as pessoas do jeito falava do amor: “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos (...) Pois, se amardes [apenas] aos que vos amam, que recompensa tereis? não fazem os publicanos também o mesmo?”(Mt 5,44-46). E o evangelista João confirma esse amor incondicional de Jesus: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13,1) e foi no fim que pregado na cruz injustamente, Ele rezou: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” (Lc 23,34). De fato, como canta Roberto Carlos, “todo gesto seu era de amor”. Mas termina a estrofe: E paz, Ele trazia no coração”. A Paz que Jesus anunciou dizendo “Eu vos dou a paz; a minha paz vos dou. Não a dou como o mundo a dá” (Jo 14,27 ou em Mt 11,29): “Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas”. Essa mansidão própria de quem traz a paz no coração, Erasmo e Roberto perceberam e cantaram em seus versos. Ele pelos campos caminhou Subiu as montanhas e falou do amor maior Fez a luz brilhar na escuridão O sol nascer em cada coração que compreendeu. Campos e montanhas. Jesus caminhou pelos campos, pelo deserto, pelas montanhas. Por isso seus seguidores eram chamados de “os do Caminho” (At, 9,2) e só mais tarde em Antioquia foram chamados de cristãos (AT 11,16). Nos campos, como em Lc 6,1 e principalmente nas Montanhas (Mt 4,8; Mt 5; Mt 17) dentre tantos exemplos, Jesus costumava ir e levar seus discípulos para momentos de oração e pregação. A última tentação aconteceu numa montanha; as bem-aventuranças foram pronunciadas numa montanha; numa montanha foram multiplicados os pães, e, no fim do Evangelho, quando os discípulos encontram o Ressuscitado e são enviados para o mundo inteiro, encontram-se na montanha, Monte Tabor. Tudo isso foi percebido pelos autores desta canção. “Fez a luz brilhar na escuridão, O sol nascer em cada coração que compreendeu.” É assim o final dessa estrofe. Isto é uma leitura de Jo 4,5: “Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.O logos se fez carne, era vida, vida plena e eterna. Só Ele era a verdadeira luz que poderia nos retirar das trevas do pecado e do erro. O sol é o Cristo, que nasce dentro de cada um, que aquece nossa alma e ilumina nossos passos. Uma frase numa música sendo capaz de fazer catequese cristã. Diz a estrofe que esse Homem fez o sol nascer em cada coração que compreendeu. Compreendeu o quê? Responde a estrofe seguinte: “Que além da vida que se tem Existe uma outra vida além e assim O renascer, morrer não é o fim”. Poetas falando sobre a vida depois da morte, falando da ressurreição. “Morrer não é o fim”, diz a letra da música. “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá”; “Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para ser condenados”. São palavras de Jesus narradas no evangelho segundo são João. Morrer pode ser o começo de uma vida eterna na sombra do amor de Deus, na presença da Trindade, de Nossa Senhora e de todos os santos que estão em comunhão entre si e conosco. Ou o começo de uma morte eterna, para aqueles que ressuscitarão para o julgamento final, e poderão ficar eternamente afastados do amor de Deus, no inferno. A frase da estrofe da música, morrer não é o fim, é um alerta de esperança na ressurreição, mas também de admoestação para o perigo do inferno, como a própria música explicará em linguagem poética mais adiante. Tudo que aqui Ele deixou/ Não passou e vai sempre existir/ Flores nos lugares que pisou/ E o caminho certo pra seguir. As duas primeiras frases podem ser lidas biblicamente da seguinte maneira: “Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mt 24,35) . Ou nas palavras do profeta Isaías:“Assim será a Palavra que sair da minha boca, não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei”(Isaías 55,11). A vida encarnada é passageira. Tudo passará e terminará. Somente as Palavras, os ensinamentos e promessas de Jesus serão eternas. Por isso, “Tudo que aqui Ele deixou/Não passou e vai sempre existir/, diz a música com sabedoria. Mas um outro elemento teológico é apresentado na música: o dever de gratidão e de honrar a Deus Trinitário. É nosso dever darmos graças para nossa salvação, em todo tempo e lugar, afirma o Prefácio das Orações Eucarísticas, na liturgia da santa Missa. Isso é reconhecido pelos cancioneiros quando afirmam: “Flores nos lugares que pisou, eo caminho certo pra seguir”. Os lugares por onde Jesus passou se tornaram lugares santos, de tal modo que as primeiras liturgias e ritos da Igreja levaram esse fato em consideração e respeito, como consta da Liturgia de São Tiago: “Oferecemos-te ó Senhor, por teus santos lugares, que glorificaste com aparições divinas de teu Cristo e pela vinda do teu Espírito Santo, especialmente a santa e gloriosa Sião, mãe de todas as Igrejas” (Sião, na linguagem cristã originária, referia-se sempre à Igreja local de Jerusalém). Daí um aspecto teológico, litúrgico e eclesial presente numa frase da música de Erasmo e Roberto Carlos, o dever de louvar e agradecer, simbolizado na frase “flores nos lugares que pisou”. Depois eles cantam: ‘Eu sei que Ele um dia vai voltar E nos mesmos campos procurar o que plantou; E colher o que de bom nasceu, Chorar pela semente que morreu sem florescer”. Nessa estrofe encontramos uma riqueza teológica. Erasmo e Roberto Carlos declaram acreditar na parusia, na segunda e gloriosa vinda de Jesus. Eles começam a música afirmando que “Um certo dia um homem esteve aqui”. E nas estrofes finais eles cantam: “Eu sei que Ele um dia vai voltar e nos mesmos campos procurar o que plantou”. Estão reconhecendo a segunda vinda de Jesus e mais, ainda, afirmando que haverá um juízo, um julgamento final (procurar o que plantou!). De forma poética ele nos faz lembrar a parábola do Juízo Final em Mt 25,31-46: “Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer, eu estava com sede e me destes de beber, eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’”. Vejam que maravilha, numa estrofe de poucas palavras eles recordam 15 versículos do evangelho de Jesus e afirmam a convicção e crença no retorno de Jesus (sempre sem citar qualquer nome): “Eu sei que Ele um dia vai voltar”. E quando voltar, diz a música, “e nos mesmos campos procurar o que plantou”. Vai procurar os “frutos que plantou”, e como na parábola do joio e do trigo – Mt 13,24-30 – e na parábola do Juízo Final, vai “colher os bons frutos” e queimar os frutos ruins, separar as ovelhas dos cabritos, num juízo feito a partir da avaliação de nossas obras de fé, pois quem tem fé tem obras para mostrar. Quem não tem obras para apresentar, vai para a esquerda de Deus Pai, ao lado dos “cabritos”, ao caminho do inferno. As sementes que não frutificaram (Mc 4-1-20) serão arrancadas, com muita dor, pois Jesus não tem nenhum prazer em ver um pecador condenado, não arrependido. Por isso, com razão na letra da música, se afirma que ele vai “Chorar pela semente que morreu sem florescer”, porque a vontade de Jesus é a mesma do Pai: que todos sejamos santos, como ele O é. O projeto de Deus é a salvação para todos, e cada vez que perde um de seus filhos, o céu inteiro chora. Por derradeiro, dizem os autores dessa maravilhosa canção: Mas ainda há tempo de plantar Fazer dentro de si a flor do bem crescer Pra Lhe entregar quando Ele aqui chegar Enquanto há vida, a chance de arrependimento e de mudança (metanoia) de comportamento. É sempre tempo de conversão. A conversão nos leva ao caminho da misericórdia e do perdão. Do contrário, sairemos do poder da graça e nos submeteremos ao julgamento de justiça. Ainda dá tempo de plantar a semente do bem, canta a melodia. Podemos mudar interiormente, fazendo crescer no nosso coração “a flor do bem”, e contribuir para o Reino de Deus ainda na terra (do agora para o ainda não escatológico). Ainda dá tempo de seguir o caminho das flores, seguindo os passos de Jesus:“Flores nos lugares que pisou, e o caminho certo pra seguir”. Não entenda que o caminho será um caminho exclusivo de flores. Espinhos, pedras e cruz teremos pelo caminho. O “caminho das flores” significa os ensinamentos de Jesus Cristo que devemos seguir. Flores como metáfora das Palavras deixadas por Cristo. Por isso, caminho certo a seguir. Reflita isso nessa Quaresma. Ainda dá tempo de plantar a flor do bem! Que Deus tenha acolhido Erasmo e abençoe a vida de Roberto, para uns, ridicularizado, e para outros, eterno Rei da música brasileira. Ouça a música Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 28

  • Marylin

    Assisti ao filme Blonde, estrelado por Ana de Armas, que vive Marilyn Monroe. Apesar de ser deprimente, sob diversos aspectos, como foi a própria vida da modelo e atriz, a película me fez refletir sobre muitos dos temas que ali são abordados. Filha de uma corista do cinema com pai desconhecido, a menina foi criada em um orfanato, após a mãe ter sido internada em um sanatório, diagnosticada com esquizofrenia. Foi casada com Joe Di Maggio e Arthur Miller, amante do Presidente J. F. Kennedy, viveu um romance com Charles Chaplin Jr… enfim, uma vida cheia de emoções. Com uma trajetória recheada de ausências e carências afetivas (passou a vida em busca de um pai), Norma Jean (seu nome de batismo) não gostava de ser confundida com a personagem que criou. Entretanto, não conseguiu desenvolver uma personalidade e uma identidade própria, que permitissem que fugisse do estereótipo da loira gostosa, tampouco que se mantivesse distante de relações abusivas. O despreparo de Marilyn fez com que o sucesso meteórico causasse-lhe muito mal, e a estrela passou a vida toda considerando-se uma fraude, não merecedora da fama, da atenção e dos elogios que recebia. Queria ser Norma Jean. Mas, quem era, afinal, essa moça? Marilyn não tinha resposta para tal pergunta. O filme é péssimo, sob diversos aspectos. Mostra cenas de aborto, que nunca confirmados na vida real, diálogos com voz infantil, caricaturas da imprensa, divagações de Marilyn... Aliás, é de extremo mau gosto e repleto de vulgaridades, tentando criar uma aura angelical e frágil para a personagem, que teria sido explorada, usada e abusada pelos homens, o que não é, em absoluto, a verdade dos fatos. Esta é apenas mais uma dessas releituras de obras feministas (o filme é baseado no tendencioso livro de Joyce Carol Oates), que faz questão de apresentar Marilyn como uma vítima do machismo e dos homens, de modo geral. Marilyn esteve longe disso. Afinal, fez o que quis, escolheu seus papéis, posou nua logo no início de sua carreira, desfrutou de sua liberdade sexual e valeu-se de sua autonomia financeira. Evidentemente, foi julgada, pelos padrões morais da época, como era de se esperar. O fato de ter se tornado dependente de álcool e medicamentos, também ajudou a manchar a imagem da atriz, que frequentemente foi vista em público drogada e bêbada. O que salta aos olhos, e que já me chamava a atenção na biografia da atriz, é a imagem de ingenuidade que o filme busca passar. A própria Marilyn alimentou tal imagem. Chamava seus parceiros afetivos de Daddy, possuía uma voz doce e baixa, não contrariava quem quer que fosse. Acusada de ter se valido de seus dotes físicos para subir na carreira, soube capitalizar sua imagem e a fama, e ganhou bastante dinheiro. Teve condutas de caráter duvidoso, e após tornar-se dependente de drogas, passou a descontrolar-se em público e nos estúdios. Sobretudo, a mensagem que este filme de quinta categoria me deixou, foi a de que, quando a bonança, o sucesso, o poder e o dinheiro chegam em nossas vidas, precisamos estar prontos. Tudo que pode ser bom, pode, se mal utilizado, ser nossa ruína. Toda moeda tem duas faces. Como disse em meu artigo do fim do ano, White Lotus, fama e fortuna, poder e sucesso, deveriam vir não para quem os persegue implacavelmente, mas para os que farão bom uso destas ferramentas. Porque, no final das contas, deveriam ser isso: tão somente ferramentas, para a evolução pessoal, o impacto positivo na sociedade e o suporte financeiro de quem amamos. Todas as vezes em que essas conquistas são utilizadas para vaidade pessoal, para o alcance de status e a submissão dos outros às nossas vontades, o que se vê é um rastro de destruição e dor. O filme sobre a vida de Marylin é um retrato disso. Uma vida desperdiçada, que poderia ter sido utilizada para coisas nobres e para deixar um legado. E que legado seria esse? Não seria, a toda evidência, o de sex simbol, que ficou colado na imagem da atriz. Descolar-se do personagem, construir uma trajetória baseada em valores sólidos, ter a noção da necessidade de se ter um propósito de vida, e das imperfeições que precisamos superar, a cada dia, não é uma missão fácil. Esta exige renúncias pessoais, evolução da personalidade, autodomínio, para a evitação dos vícios e excessos, o controle do temperamento, o foco em um bem maior… Mas, somente o amadurecimento da personalidade pode trazer-nos as conquistas e as recompensas de que merecemos desfrutar, como seres humanos. A vida madura é solitária. É mais contida. É mais densa e profunda. Mas é mais repleta daqueles bens e riquezas, que nos deixam mais próximos de Deus. Marilyn queria ser aceita e amada. Em troca disso, usou a fama e o dinheiro, teve muitos romances, prostituiu sua personalidade, em busca deste reconhecimento. Pagou um preço alto, tirando a própria vida. Uma vida que poderia ter sido vivida de modo completamente diverso, caso houvesse sentido, propósito e senso de pertencimento, que só há para aqueles que aqui estão, com a clareza de sua missão. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 27

  • A Era da Loucura: Pão e Circo

    Durante anos de construção, o cristianismo passou por muitas fases. Costumo dizer que a Igreja Católica é um abrigo de muitas crenças: franciscanos, carmelitas, carismáticos e muitas outras. Vivi o suficiente para dizer que a Igreja se reinventou para conquistar, mesmo pregando que não deve mudar mas o mundo que precisa abraçar a cruz… Na prática, não é assim que funciona, a Igreja escolheu agregar pluralismo do que perder mais “uma alma”. Contudo, se por um lado seu “modus operandi” aparenta uma filosofia altruísta, por outro, pode nos trazer consequências avassaladora se não acontecer respeitando seus pilares de fé: Sagrada Escritura, Tradição e Magistério. O senso comum nos ensina que ao procurarmos agradar a todos, não agradamos a ninguém. “O falso se dá bem com todo mundo, o verdadeiro não” (Freeman, M). Vale reforçar que, católico ou não, todo cristão é chamado a ser o sal no mundo. Nós somos convidados a dar o verdadeiro gosto a vida, e esse tempero é o próprio Cristo. Evidentemente, não devemos como bons cristãos deixar de acolher mas precisamos entender que o Evangelho é para aquele que deseja o seguir. A busca por Deus não é algo fácil, precisa de abdicação e coragem, como o apóstolo Paulo nos exorta: "mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça. (Ef 6, 14). Entretanto, quando não conhecemos a verdade, temos a tendência de criticá-la. Como diria Maurício Lobato “quem mal lê, mal ouve, mal fala e mal vê”. Toda história é a versão de quem conta e algumas vezes distante daquilo que aconteceu. Ou ainda, contada de modo a atender certos interesses. Certamente quando nos rodeamos de amigos ou nem tão amigos com visões distintas, ampliamos nosso campo de visão e passamos a compreender diferentes pontos de vista. Contudo, se não colocarmos nossa razão à luz da sabedoria divina estaremos apenas diante da vã filosofia dos homens. Isso porque a verdade de um, pode não ser a verdade do outro. E mesmo refutando as ideias concebidas pelo senhor Leonardo Boff, preciso concordar que “todo ponto de vista é a vista de um ponto”. Aliás, neste quesito a Palavra de Deus nos mostra que relativizar a verdade é uma heresia, pois a verdade divina é única. Mas essa conversa ficará para um próximo artigo. Como sal do mundo, além de darmos sabor a vida também somos chamados a preservá-la. Então, não podemos nos fechar em nosso “mundinho”, ou pior, optar pela autossabotagem. Isso porque colocaríamos nossa sociedade em degradação. Sintetizando, não temos a escolha de sermos preguiçosos e não buscar pela verdade. Deste modo, somos constantemente chamados a adquirir conhecimento, criar discernimento e ter sabedoria mas essa missão é árdua. Necessita de dedicação e comprometimento. Se formos negligentes, omissos ou desistentes ficaremos a mercê daqueles que detém a informação porque optamos por deixar outro alguém pensar e definir por nós em que podemos ousar acreditar. Infelizmente, parece que perdemos completamente a capacidade de defender nossos argumentos, é mais fácil “cancelar”, “bloquear”, “deixar de seguir”… Nos tornamos uma sociedade das interações superficiais. Que acredita em tudo que se diz, que é fácil de ser enganada, manipulada... Não podemos nos permitir ser meras marionetes do sistema. Uma frase atribuída a Shakespeare diz que “sempre é tempo da peste, quando são os loucos que guiam os cegos”. E parece que justamente estamos vivendo a “Era da Loucura: Pão e Circo”. Alguns meses atrás, me deparei com um site que se define como uma plataforma que busca combater a desinformação. Entretanto, um pouco diferente dos serviços que costumamos nos deparar, esse site específico é um caçador de informações nas redes sociais públicas. Funciona do seguinte modo, salva as informações coletadas em sua base de dados e fornece esse serviço para agentes públicos ou até mesmo empresas privadas. Uma espécie de vigilantes de mensagens e compartilhamentos de informações “públicas” com a missão de salvar a internet das chamadas “fake news”. Serviços desse tipo crescem constante mente porque as pessoas não querem perder tempo para pensar ou pesquisar. Então, fica bem mais fácil alguém “já se dar a esse trabalho, né?” Obviamente, não. Não existe almoço grátis e ninguém faz isso porque é bonzinho. Escolher ser “isentão” em um sociedade tão louca pode ser muito conveniente e trazer até alguma paz. Mas se fazemos isso em nossa vida pessoal, será que não estamos permitindo nossa fé também ficar morna? Lembrando que no livro de Apocalipse somos advertidos “seja quente ou seja frio. Não seja morno, senão te vomito” (Ap 3, 16). Não estou dizendo para ninguém subir ao monte e sair gritando aos quatro cantos do Universo a ponto de perder a cabeça na guilhotina (não é uso de linguagem) mas que façamos nossa reflexão espiritual para entendermos nosso papel no mundo. Será que nesse momento, Deus precisa de um Pedro recolhido e escondido ou de um Pedro preso, perseguido, torturado e crucificado de ponta cabeça? Repito como mencionado no artigo anterior, precisamos de cautela. Mas é necessário identificar quem queremos ser e o que desejamos alcançar nesse e no outro mundo. Portanto, “enquanto a verdade estiver amordaçada, a mentira sequestrará o mundo” (autoria desconhecida), pois “nenhuma quantidade de evidência irá persuadir um idiota” (Mark Twain, escritor EUA). Afinal, “geralmente é inútil tentar apresentar os fatos e análises para pessoas que desfrutam de um senso de superioridade moral em razão da sua ignorância” (Sowell, T). Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 27

  • A Verdade e a Mentira

    Gosto muito da parábola sobre a verdade e a mentira. Ela é bem emblemática, e em tempos sombrios como os que estamos vivendo, nos mostra que é preciso perder a ingenuidade. A estória é mais ou menos assim: A Verdade se encontrou com a mentira, por acaso. A Mentira disse: que lindo dia, não é? A Verdade, desconfiada, foi olhar, e o céu realmente estava azul, os passarinhos cantavam, era um dia bonito. A Mentira estava certa. A Mentira prosseguiu: está bem quente hoje, poderíamos nos banhar no rio. A Verdade teve que concordar que fazia calor, e achou que não havia nada demais entrar no rio com a Mentira. Afinal, ela não parecia tão ruim assim, e estava falando coisas coerentes e corretas. Mal entraram no rio, a Mentira saiu da água e vestiu-se com as roupas da Verdade, fugindo. A Verdade recusou-se a vestir as roupas da Mentira, e saiu desnuda, pelas ruas. Não via por que se envergonhar, havia sido enganada, explicaria sua situação. As pessoas, entretanto escandalizaram-se com a Verdade nua e crua à sua frente, preferindo acreditar na Mentira, vestida de Verdade. E a verdade se escondeu, morta de vergonha e ultrajada, desacreditada e espezinhada que havia sido, e nunca mais apareceu. A Mentira é ardilosa, sedutora, fácil de engolir. Ela desce macia, goela abaixo, e apenas após ser mastigada e digerida, inicia seu processo de destruição. A Verdade, não. Ela é dura, inconveniente, incômoda. Gera mal estar e indisposição, logo que se apresenta. A Mentira, quando chega, precisa do discurso da Verdade. Precisa convencer, encantar e dominar as atenções das pessoas, atingindo em cheio todos os desavisados. E a Verdade? Bem, ela só é convidada a ingressar em círculos bem restritos, onde as pessoas estão preparadas para sua chegada. Porque ela chega de modo abrupto, não sabe seduzir, não é maliciosa, não escolhe as palavras, posto que não aprendeu a enganar. A humanidade, desde os primórdios, sente-se mais confortável em companhia da Mentira, já que a Verdade a retira de sua zona de conforto, é a visita que incomoda desde a chegada e não tem hora para ir embora. A Verdade, coitada, bem que tentou argumentar. Estava sendo ultrajada, vilipendiada e covardemente escorraçada. Fora preterida por um conjunto de mentiras pífias e injustificáveis. Mas, infelizmente, ninguém prestou atenção no que estava dizendo, inebriados que estavam pelas sedutoras e eloquentes palavras da Mentira, que foi alegremente celebrada, e saiu toda elegante (pois as roupas da Verdade lhe caíram muito bem), para jantar fora com os Congressistas, e celebrar sua vitória acachapante. “Realidade é aquilo que existe fora e independentemente de nós e que minuto a minuto nos impõe algo que não desejaríamos saber, algo que preferiríamos que não existisse”. Olavo de Carvalho. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 26 e também em Tribuna Diária

  • Para tudo há uma ocasião

    O cristianismo chegou ao Brasil como missão de evangelização da Igreja Católica. Apenas sob a ótica religiosa, podemos afirmar que evangelizar é um ato de fraternidade. Se eu desejo a salvação da minha alma, é normal também desejar o mesmo ao meu irmão. “E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa.” (MT 5,15). Deste modo, os jesuítas foram os primeiros catequistas e professores de Pindorama (como os indígenas chamavam o território brasileiro). Os padres jesuítas aprenderam a língua nativa, desbravaram o território de mata fechada, identificaram as tribos e fizeram muitas vezes o primeiro contato do homem branco com o povo nativo. A verdade é que ao longo da história, esse modo de evangelização não nos traz nenhuma novidade. A Igreja Católica desde seus primórdios sempre catequizou usando artifícios, hoje considerados pouco ortodoxos, mas antigamente algo muito comum quando dois povos com tradições diferentes se encontravam: criando um pluralismo religioso ou uma cultura se sobrepondo sobre a outra. Lembrando que a religião antes de ser vista como um evento sobrenatural, sob o ponto de vista material é uma manifestação cultural de um povo. Sabendo disso, não é difícil entender que o catolicismo de hoje não é o mesmo de 600 anos atrás. A Igreja Católica, berço do cristianismo, precisou lidar com a reforma protestante. Época em que perdeu adeptos e a expansão marítima era um modo de disseminar também a fé católica para outras regiões do globo terrestre. Aos poucos a Igreja se modificou, o cristianismo começou a ser entendido com novos aspectos e ser religioso mudou de estereótipos. Podemos dizer que o cristão se modernizou e se abriu a um novo mundo de possibilidades. Mas fica a pergunta: até aonde mudamos nossa essência? Aprendemos a acolher melhor o diferente ou mudamos o cristianismo para não desagradar certos grupos? Como cristãos defendemos a vida ou preferimos nos omitir para não ferir o outro com nossa crença? Como cristãos acreditamos no arrependimento e na remissão dos pecados ou nos rebaixamos a julgar o outro? Como cristãos nos fechamos apenas a criticar nossos “inimigos” ou oramos por eles e para que Deus nos dê sabedoria no falar? Como cristãos falamos com amor e sabedoria ou queremos apenas atacar a visão do outro? Realmente, vivemos tempos sombrios e, sinceramente, acreditávamos que tais tempos não aconteceriam com a brevidade que estão ocorrendo. Não é fácil agir com cautela em um momento que nossa vontade é gritar. Existe uma música que exprime bem esse momento, chamada “O Profeta” que tem como refrão, assim: “Tenho que gritar, tenho que arriscar Ai de mim se não o faço! Como escapar de Ti, como calar Se Tua voz arde em meu peito? Tenho que andar, tenho que lutar Ai de mim se não o faço! Como escapar de Ti, como calar Se Tua voz arde em meu peito?” Como cristãos, devemos levar a verdade ao mundo, é a nossa missão. Mas sigamos o exemplo de Jesus que diante do sacrifício da Cruz se recolheu para oração pessoal, preparou a alma durante 40 dias e noites no deserto. E no momento em que precisou seguir seu chamado já havia preparado o próprio espírito. Então, após compreender a importância da cautela e perante a precipitação de Pedro usou estas palavras: “Embainha a tua espada! Acaso não haverei de beber o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18, 11). Enfim, assim como Jesus viveu seu deserto antes de ir para o sacrifício, somos também chamados a preparar o espírito através de momentos de reflexão, de silêncio, de oração pessoal e resguardo. A luta será árdua, não podemos desanimar nem perder as esperanças. “Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu” (Ecl 3,1). Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 26

  • A Quarentena e os Bandos

    Temos vivido a tal quarentena que remete a quarenta, mas, na verdade, é por período indeterminado. Dizem que estamos presos, mas não há prisão capaz de conter a infinidade de atividades que podemos desenvolver num mesmo espaço físico e, sobretudo, não há meios de aprisionar a nossa capacidade de pensar, criar, desenvolver habilidades, interagir, ser solidários e expressar amor. Então o que nos incomoda exatamente, nesta situação de afastamento social? O primeiro pensamento que me ocorre é que estávamos habituados à ininterrupta tentativa de fazer o mundo e tudo que nele há, funcionar a favor de nossos interesses individuais, que escolhemos a partir de nossa baixíssima capacidade de percepção da realidade existencial, de nossa condição individual dentro da circunstância coletiva e sobretudo de nossa identidade: o que somos aos nossos próprios olhos? A que servimos? Que destino estamos imprimindo aos dias que se nos apresentam de presente? Modernamente, reduzimos o tamanho de nossas famílias, não moramos mais todos juntos, avós, filhos, tios e netos, achamos que esta forma de convivência dificultava os relacionamentos, cada um precisa fazer conformar o mundo ao seu modo de vida, começamos a considerar que as presenças afetavam nosso direito à privacidade. Afrouxamos os laços de convivência e os parentes que estavam conosco nas refeições e nas conversas do fim do dia passaram a ser vistos com dia e hora marcados, cada vez mais esporadicamente, perdemos a noção fundamental de bando original, a família em sua estrutura mais larga. Tentamos substituir essa convivência familiar pela convivência social mais adequada ao propósito comum de conformação do mundo aos nossos interesses. Como um grande número de pessoas convencionou que esta era a maneira adequada de viver, formamos um grupo imenso de pessoas com o modo de proceder semelhante, um bando substitutivo do bando original, a organização familiar inicial. No bando original, estávamos mais próximos dos exemplos ancestrais que reforçavam a aceitação do outro, a tradição familiar favorecia da aceitação individual pela semelhança, portanto, os papeis que representávamos estavam mais vinculados a nossa realidade interna, a nossa essência, à verdade do nosso eu. No bando substitutivo os papeis, precisaram ser reconstruídos para atendimento da expectativa comum de conformação do mundo aos nossos interesses individuais, ganharam uma padronização de certo e errado de acordo com esse propósito, não havendo a partilha de emoções familiares a sustentar a aceitação mútua como no bando original, precisamos de padrões de certo e errado mais uniformes para sermos aceitos pelo novo bando. Nos afastamos muito da verdade do nosso eu para nos encaixarmos neste bando substituto, e o afastamento incluiu a supressão de atividades que destinávamos ao embelezamento de nossa essência como o tempo dedicado às artes, a leitura, à contemplação à comunicação com o divino e à convivência com os que nos eram essencialmente semelhantes e partilhavam a mesma história ancestral. Empobrecemos nossa essência, por falta de tempo. Talvez seja este o mal-estar coletivo que tantos comentam, deixamos de ser quem somos e de estar com os que nos são semelhantes. A quarentena suprimiu os espaços para representação dos papéis destinados à conformação do mundo aos nossos interesses, desmanchou os palcos e, sobretudo, enfraqueceu os vínculos com o bando substitutivo, por isso emergiu uma sensação de abandono, no sentido etimológico da palavra: a – ban – dono, “a” prefixo de negação; “ban” indicativo de bando e “dono” referente a senhorio. A ideia de que resultamos abandonados, sem bando e sem dono, nasce porque nos afastamos do bando original e o bando substitutivo não existe mais, tal como o vivenciávamos. A pandemia atual parece nos reconduzir ao bando original e à redução da convivência para nos restringirmos aos mais semelhantes a nós, semelhança é elemento que favorece a aceitação natural, se for assim, penso que tendemos a desenvolver papeis mais verdadeiros, mais próximos de nós mesmos. O hoje confirma que o mundo é naturalmente inconformista, é ele que estabelece as regras para desfrute da vida que ele generosamente nos presenteia, tomara que esta pausa nos habilite à humildade, à gratidão pelo seu acolhimento e generosidade para conosco, nos habilite à reverência incondicional à vida, ao embelezamento de nossa essência e ao reconhecimento da sacralidade da existência para merecer estar vivo . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 25

  • Onde está a sua esperança?

    Semana de Natal. Neste ano, tudo está sendo atípico: não tenho visto janelas iluminadas com as luzes tradicionais, não está acontecendo aquela famosa correria de fim de ano para as compras da ceia ou de roupas novas para usar na festa; estamos em um limbo repleto de incertezas, o que faz com que as pessoas, ainda que não demonstrem, estejam preocupadas com o que o amanhã reserva. Há patriotas ainda acampados nas portas dos quartéis, outros em Brasília, depositando todas as suas fichas em uma única ação. Os que não estão acampados por diversos motivos, estão assistindo as movimentações da transição e quase tendo uma síncope a cada anúncio de possíveis ministros: já temos na lista Fernando Haddad, Flávio Dino, Margareth Menezes, Rui Costa. De fato, isso é pior que um pesadelo! Porém, venho através deste artigo para fazer uma pergunta: onde está a sua esperança? Há aqueles que já a perderam, e eu não julgo. Mas nem tudo está perdido. Para o Brasil? Para o seu Estado? Para o mundo? Não! Para você! “Dani, como assim? Então quer dizer que não devo mais lutar?” Nada disso! Mas me permita explicar como que o discurso global esquerdista se infiltrou no meio dos conservadores e cristãos. Como age o meio progressista? Através do coletivismo: eles não dizem que querem ajudar os pobres, mas “acabar com a pobreza”; eles não falam sobre atuar nos bairros para promover conscientização ambiental, mas em “discurso global contra emissão de gazes, contra o agro, etc.”. Ou seja, eles NUNCA tratam do individual ou local, mas do global; isso faz com que a dominação seja mais fácil de se conseguir. Além disso, o discurso global não leva em conta as especificidades de cada lugar e do grupo de pessoas que ali residem. Agora, percebam que este é o discurso que tem se infiltrado aos poucos no meio conservador: “precisamos salvar o Brasil!”. Óbvio que devemos lutar pelo melhor para o nosso país, mas este discurso coletivista, em vez de nos fortalecer, esvazia nossas forças. O Brasil é um país continental, com necessidades diversas, como que eu, um ser pequeno, conseguirei esta tarefa hercúlea? Simples: se cada um salvar a si mesmo. E apenas com o Evangelho isso é possível! “Ih, lá vem ela com esse discurso religioso...”. Nada disso! Não trago aqui discurso religioso, mas de realidade! Não temos condições de salvar o mundo, mas podemos (e devemos!) salvar a nossa alma. No momento mais difícil para o povo de Israel – o cativeiro babilônico – Jeremias escreveu: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lamentações 3.21). O profeta entendia que não dava para mudar aquela situação externamente, mas dentro dele; uma coisa que aprendi na igreja é: quando mudamos a visão, mudamos a condição, e isso deve acontecer primeiro dentro de nós. Quem já teve a oportunidade de viajar de avião sabe que a aeromoça dá várias instruções em caso de emergência, e uma delas é: “Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão automaticamente (...) Auxiliem crianças ou pessoas com dificuldade SOMENTE APÓS TEREM FIXADO A SUA”. Não temos a menor condição de ajudar alguém se estivermos mal, e não podemos “salvar o Brasil” se nós mesmos não estamos! Trato aqui de salvação da alma, mas não apenas disso. Se sua casa estiver desajustada, se seu casamento estiver mal, se você não tem disciplina com suas atividades, não conseguirá salvar um país inteiro! Jordan Peterson, psicólogo clínico canadense, em sua obra “12 regras para a vida”, deu a lição 6 o título “Deixe a sua casa em perfeita ordem antes de criticar o mundo”. Se eu fosse a autora da obra seria: “Salve a sua alma antes de salvar o mundo!”. Nosso Senhor já havia “dado a dica” quando disse: “Mas buscai PRIMEIRO o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6.33). A maior esperança que podemos ter em meio a este caos que assolou o Brasil é saber que Nosso Senhor é com aquele cujo coração já lhe foi entregue. Já falei algumas vezes e repito: a política não é um fim em si mesma. Ela é necessária enquanto vimemos neste mundo, porém não deve nortear a nossa vida a ponto de abandonarmos nosso convívio familiar e, acima de tudo, com Deus. E: a guerra é espiritual. Se todo o problema fosse simplesmente político, o presidente Jair Bolsonaro não teria dificuldades em resolvê-los; e guerra espiritual não se vence com discurso, mas de joelhos dobrados. Independente da situação que vier, o lema que nosso presidente nos ensinou, na ordem que está, é que fará a diferença: DEUS, FAMÍLIA, PÁTRIA E LIBERDADE. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 25

  • História de Campos do Jordão

    Imagem: https://www.cidadeecultura.com/historia-campos-do-jordao/#:~:text=Com%20o%20falecimento%20de%20Ign%C3%A1cio,origem%20ao%20nome%20da%20cidade. Por ordem real, com o objetivo de transportar o ouro de minas de Itajubá (MG), em 1720, foi aberto um caminho por Gaspar Vaz, que saía desde o Vale do Rio Sapucaí até Pindamonhangaba (SP). Apesar de o caminho Ter sido fechado, Gaspar Vaz estabeleceu-se na região, transformando-a em importante centro comercial de gado. Em 1771, Inácio Caetano Vieira De Carvalho, também atraído pelos encantos da região, resolver aqui se estabelecer. Em 27 de Setembro de 1790, por meio de carta do Governador da Capitania de São Paulo, obteve sesmaria. Após 1825, a gleba foi vendida ao Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão, ficando, o lugar que era denominado “Os Campos”, conhecido como “Os Campos do Jordão”. Em 1874, as terras foram adquiridas por Matheus da Costa Pinto, que fundou o povoado de São Matheus do Imbiri, atual Vila Jaguaribe, justa homenagem ao Dr. Domingos Nogueira Jaguaribe, que introduziu importantes melhoramentos no povoado, hoje marco da fundação de nossa cidade. No início deste século, devido ao clima com alto nível de oxigênio, aliado a baixas temperaturas, a região passou a ser referência no tratamento de tuberculose, criando, a partir de então, diversos sanatórios. A cidade, nesta época, passou a atrair médicos e pacientes de todo o país, muitos deles políticos influentes e grandes empresários. Em razão de longos períodos de tratamento que a doença exigia, muitos fixaram residência e trabalho na cidade, colaborando com o desenvolvimento da região. Domingos José Nogueira Jaguaribe, médico, político, escritor e fundador do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, interessou-se pela região, que já ganhara notoriedade e, em 1891, comprou boa parte das terras de Matheus da Costa Pinto. Então, dividiu em lotes para venda, nos quais foram construídos pensões e hotéis para receberem doentes da tuberculose e do alcoolismo. Em 1918, a vila passou a ser chamada de Vila do Jaguaribe, em homenagem ao morador que trouxe progressos para o local. Abernéssia, famoso bairro que hoje abriga diversas atrações turísticas, igrejas, lojas e avenidas, teve início com a vinda de um escocês, o engenheiro Robert John Reid, que, por volta de 1907, foi nomeado agrimensor na ação judicial de divisão da Fazenda Natal. Recebeu, como pagamento pelos seus serviços, uma vasta área de terras na região. Em 1915, Vila Nova passou a ser chamada de Vila Abernéssia, nome da chácara em que Reid viveu, como homenagem ao morador ilustre. O nome Abernéssia foi criado pelo próprio Reid, fazendo alusão às cidades escocesas Aberdeen e Inverness. Pela Lei nº 2.140 de 01/10/1926, Campos do Jordão transformou-se em Estância Hidromineral. Em 1938, o então interventor federal Adhemar de Barros, encantado com a paradisíaca natureza local, decidiu construir, além de sua casa de campo, uma sede de veraneio do Governo do Estado, em Campos do Jordão. Depois de levantadas as paredes e coberto o “Castelo”, como era chamado pelo povo, permaneceu o prédio fechado por 26 anos. A construção só foi concluída em 1964. Nesse mesmo ano, era inaugurado o Palácio da Boa Vista, contando com a presença do Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Branco, anfitrionado pelo Governador Adhemar de Barros. No período de 1967 a 1971, o Palácio Boa Vista foi muito explorado em eventos culturais, principalmente em exposições de artes plásticas brasileiras da época pré-modernista e da fase compreendida entre 1913 (ano da primeira exposição de Lasar Segall) e 1950, quando a Pinacoteca do Estado começou a adquirir obras de artistas modernos, o que significou a admissão oficial da arte contemporânea em nosso País. Nessa época o palácio torna-se Museu e Monumento Público, sem, entretanto, perder suas funções de veraneio. Em 1969, o então governador Abreu Sodré, por solicitação de seu Secretário da Fazenda, Luiz Arrobas Martins, cedeu espaço no saguão interno do palácio para apresentações de música erudita. No ano seguinte, foi criada uma Comissão Organizadora dos Concertos de Inverno de Campos do Jordão, com a pretensão de promover na cidade programas idênticos aos grandes centros turísticos da Europa e Estados Unidos. Devido ao sucesso desses eventos culturais, que passaram a ser frequentes, os espetáculos exigiam a criação de um espaço mais amplo e independente para abrigar um número cada vez maior de expectadores. Em 1979 foi inaugurado o Auditório Campos do Jordão, mais tarde denominado Auditório Cláudio Santoro. O complexo é dotado de 900 confortáveis poltronas numeradas, modernos sistemas de calefação, iluminação e acústica, além de um palco com capacidade para apresentação de grandes orquestras. Em 1998, a Secretaria de Estado da Cultura, que administra o auditório, construiu uma concha acústica para apresentações ao ar livre de música popular. O festival é considerado atualmente um dos mais respeitados concertos de música erudita e de câmara de toda a América Latina. Por ter característica climáticas e paisagísticas semelhantes a de várias regiões da Europa, Campos do Jordão passou a receber construções com arquitetura típica dos alpes suíços, espalhadas por praticamente todo o seu território. Não é à toa que Campos do Jordão foi batizada carinhosamente de "Suíça Brasileira". O município tem como principal atividade econômica o turismo e é um dos principais destinos de inverno do Brasil. Brigadeiro Jordão “Era amigo do Imperador D. Pedro I e fez parte do Governo Provisório. Naquela época, foi incluído entre os 10 maiores proprietários de terras da Província de São Paulo, chegando a ser diretor do Tesouro da Província. Alguns historiadores localizam-no no famoso quadro de Pedro Américo, alusivo ao Grito do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, quando este subia a Serra de Santos. Ademais, o local da Proclamação da Independência do Brasil, no Ipiranga, ficava na Fazenda Palmeiras, de propriedade do brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão”. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 24 Fontes:https://www.camposdojordao.tur.br/historia https://www.cidadeecultura.com/historia-campos-do-jordao/#:~:text=Com%20o%20falecimento%20de%20Ign%C3%A1cio,origem%20ao%20nome%20da%20cidade.

  • Os piratas do norte e o rei Alfredo

    Quando brilhou o primeiro raio de luz do dia 06 de maio de 878 o Reino de Wessex assistiu, aterrado, a mais um ataque dos piratas do norte. Não satisfeitos com os saques que realizavam na costa, em especial a pilhagem de mosteiros cristãos, decidiram dominar a Grã-Bretanha. O Grande Exército Viking já havia invadido e vencido os outros três reinos da região, Northumbria, Anglia Oriental e Mércia, até que a banda comandada por Guthrum realizou um ataque definitivo em Edington. A carnificina que envolvia suas conquistas empestava o ar. Famosos pela barbárie da violência que empregavam contra os outros povos, dominavam uma técnica de tortura e execução especial. Punham de joelhos suas vítimas e cortavam-lhes as costas até alcançar as costelas. Quebravam-nas e viram-nas ao contrário, a pavorosa imagem assumia a aparência de assas. Por fim, arrancavam-lhes os pulmões pelas costas. Esta ferocidade era conhecida como “águia de sangue”. Haviam invadido a região da Europa e marcado a queda do Império Romano do ocidente, cujos Senhores mais abastados fugiram das cidades e instalaram-se em grandes propriedades no interior. A população os seguiu, pois os assombrava o pavor de serem trucidados pelos bárbaros. Nestas terras mais afastadas das cidades, entabularam um juramento: os senhores acolheriam a população em suas propriedades, lhes concederiam o direito de cultivo da terra e a defenderiam dos ataques e invasões dos germanos. Em troca, a população produziria alimento para sua mantença. Este pacto fundamentou os feudos nascidos da desagregação do império. Na região da Grã-Bretanha ainda não havia sido necessária a formação de feudos, até esta fatídica manhã de 06 de maio de 878 quando os campos revelaram uma imensidão de guerreiros invasores. Haviam chegado à costa em uma grande armada de navios-dragão, langskip, cujas proas eram encimadas pela imagem da cabeça da temida serpente marinha Jormugand. Acreditavam que ela era gigantesca, seu comprimento circundava a terra, e que mordia a própria cauda para formar um anel em torno do mar. Os navios eram compridos e estreitos como a serpente. Possuíam um calado estreito dotado de uma quilha o que lhes permitia cruzar oceanos e navegar em rios sem que os nórdicos precisassem trocar de embarcação. Eram dotados de pares de remos, por vezes até 36 pares, e os guerreiros sentavam-se em suas próprias bagagens para remar. O impulso dos remos se acrescia ao das velas, o que produzia grande agilidade de navegação, favorecia o ataque e a fuga nas emergências. Alfredo, O Grande, rei de Wessex havia sido enganado pelos nórdicos em um tratado anterior quando pagou para que eles deixassem o reino em paz. Foi traído, em pouco tempo os ataques recrudesceram. Quando veio o ataque em Edington, as forças guerreiras do rei eram diminutas comparadas com o exército inimigo. Alfredo e seus homens haviam lutado com todas as suas forças mas este ataque dos vikings havia sido de tal violência que praticamente aniquilou a resistência anglo-saxônica, os nórdicos começaram a comemorar a vitória. O rei de Wessex, devoto de Nossa Senhora, diariamente recorria a Ela e formulava pedidos de ajuda e inspiração. Conta-seque neste dia em que a derrota mais uma vez se abatera sobre seu exército, Alfredo retirou-se para rezar, abatido pelo fracasso e pelo sofrimento que rondava o destino de seu povo. De joelhos e mãos postas pediu orientação à Mãe de Deus, nesta meditação perdeu a noção do tempo. Ao abrir os olhos avistou, no alto, uma Senhora radiante mas com uma profunda tristeza estampada nos olhos. Trazia sete espadas cravadas em seu coração, mas com força, determinação e bravura empunhava a oitava. Estupefato, Alfredo teria lhe perguntado se deveria ainda resistir, se seus homens poderiam voltar para casa ou se os germanos matariam a todos com requintes de crueldade. A Virgem haveria respondido que, é dever de seus filhos seguir no escuro e manter a alegria no coração, cientes de que Ela caminha com os seus e que o brilho fulgurante de Deus se mostra aos que perseveram no caminho da verdade e da justiça. Alfredo voltou para o grupo e, com energia renovada, teria dito: levantem guerreiros, vamos atacá-los, Nossa Senhora lutará conosco! Os poucos homens do exército de Alfredo Guerrearam com todo vigor e, inacreditavelmente, venceram os Piratas do Norte. Graças a esta vitória a Grã-Bretanha não precisou de feudos para livrar seu povo dos bárbaros. Caminhemos nós também, meus irmãos, com força, determinação e bravura. Coragem! Mesmo no escuro mantenhamos a alegria no coração! A verdade e a justiça sejam nossas guias, para que possamos alcançar a graça de ver a Luz. Deus nos ajude!

  • A lentilha e a picanha

    E o preço de vender a alma “Tinha Jacó feito um cozinhado, quando, esmorecido, veio do campo Esaú. E lhe disse: Peço-te que me deixes comer um pouco desse cozinhado vermelho, pois estou esmorecido. Daí a chamar-se Edom. Disse Jacó: VENDE-ME PRIMEIRO O TEU DIREITO DE PRIMOGENITURA. Ele respondeu: Estou a ponto de morrer; DE QUE ME APROVEITARÁ O DIREITO DE PRIMOGENITURA? Então disse Jacó: Jura-me primeiro. ELE JUROU E VENDEU O SEU DIREITO DE PRIMOGENITURA A JACÓ. Deu, pois, Jacó a Esaú pão e o cozinhado de lentilhas; ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu. Assim, desprezou Esaú o seu direito de primogenitura.” (Gênesis 25.29-34) Os pais hebreus tinham por costume abençoar o filho mais velho antes de falecer. Esta bênção era a maior herança que o primogênito poderia receber, inclusive muito mais importante do que dinheiro ou bens que recebesse como herança. A bênção patriarcal era o que norteava a vida daquele filho por toda sua vida, e ele deveria transmiti-la para seu descendente. Esaú não estava pensando no amanhã, mas em apenas saciar sua fome naquele momento. Quantos não agem assim nos dias de hoje? Vivemos em um mundo onde cada vez mais o imediatismo se faz presente; o clássico “Os Dez Mandamentos”, de 1956, seria execrado nos dias de hoje simplesmente por ter mais de três horas de duração. Afinal, se um vídeo dura mais de 1 minuto é considerado “filme” por esta geração tik toker, e áudios dessa proporção são considerados podcasts. Contudo, como aquele velho e conhecido refrão, “O apressado come cru”. Há quem leia a história de Esaú e pense “Meu Deus, que tolo! Como ele trocou algo bom por comida?? Ele não ia sentir fome de novo depois?? A benção era eterna!!”. Pois bem, estes mesmos são aqueles que trocam o certo pelo duvidoso, e que nas eleições, trocaram a certeza de crescimento econômico por “picanha”. Paulo Guedes, exímio especialista em Economia, conseguiu colocar o Brasil nos trilhos novamente. Infelizmente, ainda havia muito o que fazer, pois a máquina pública brasileira é enorme; fora o fato de que enfrentamos pandemia e guerra. Porém, mesmo com todas as adversidades, o país se saiu melhor que muitos que conhecemos ser de primeiro mundo. Isso porque Guedes é a experiência encarnada, alguém que sabe do que fala e entende das consequências de uma economia concentrada no Estado. Contudo, de maneira geral, o brasileiro é um ser imediatista; e a falta de instrução política adequada fez com que o povo pensasse que Jair Bolsonaro não fez nada esses quatro anos de mandato. Então, Lula (o encantador de serpentes, como diz Ciro Gomes) seduz este povo com um discurso: “Se eu for eleito, você vai voltar a comer picanha e tomar sua cervejinha!” Mas oras, nesses quatro anos o brasileiro trabalhador não comeu? Como carioca, sei que em quase todo jogo do Flamengo o churrasquinho e a bebida estão presentes (e olha que sou tricolor!). É só aparecer um feriado para que, no dia anterior, os supermercados estejam lotados de homens (que quase nunca tem paciência de enfrentar filas para fazer compras com suas esposas) empurrando carrinhos lotados de lotes de cerveja e carne para, no dia seguinte, reunirem amigos e família para comer. Contudo, o discurso imediatista, fácil e que satisfaz a alma agrada aos ouvidos. De onde virá o dinheiro para a tal picanha? Não sei, mas sei que vai ter; de onde virá o recurso para aumentar o salário mínimo? Não sei, mas sei que vai ter aumento; quem vai pagar a conta de aumento de ministérios para trinta e três? Não sei, mas tem que ter o tal Ministério da Igualdade Racial, dos Povos Indígenas, da Cultura. E assim seguem pensando apenas no agora, e nunca nas consequências desses atos. Quem “fez o L” na esperança de comer picanha, lamento, mas ela ficará só na imaginação: é porque a tal picanha era uma METÁFORA (figura de linguagem que produz sentidos figurados por meio de comparações): “Já pensou ter que explicar para um marmanjo de quase 30 anos que ‘picanha e cerveja’ é uma metáfora? Que não é sobre beber e comer churrasco, é sobre o pobre voltar a comer bem, ter poder de compra e lazer. É sobre o próximo parar de comprar osso ou procurar comida no lixo” Mas, agora já era: a alma já foi vendida; e tal qual Esaú, o povo brasileiro perdeu a bênção de continuar com uma gestão equilibrada, sensata, que não prometia tudo, mas que cumpria tudo o que prometia. E esse discurso de inchaço da máquina pública já está cobrando (e com juros) o seu preço: A bolsa de São Paulo fechou em queda e o dólar subiu nesta quinta-feira (10), após declarações de Lula, que alimentaram temores sobre o aumento sem controle dos gastos públicos. Mas, cadê Armínio Fraga? Onde está Elena Landau? E Meirelles? Eles não fizeram o L? Por que eles não estão felizes com isso? Ah, eles foram os que venderam sua alma por um prato de lentilha... ops! Por um espetinho de picanha! O Ibovespa, principal índice da Bolsa de São Paulo, fechou em queda de 3,61%, em uma sessão que chegou a operar em baixa de mais de 4%. Enquanto isso, o dólar comercial chegou a R$ 5,39, em alta de 4,10%, a maior desde março de 2020, segundo o jornal Valor Econômico. Contudo, no momento em que o mercado está gritando por socorro, eis que Lula solta esta pérola: “Nunca vi um mercado tão sensível como o nosso. É engraçado que esse mercado não ficou nervoso com quatro anos do [governo] Bolsonaro” Será que esta instabilidade não se deve ao fato de que sem um firme fundamento econômico qualquer país se torna um risco para investidores? Ah, mas não ia ter picanha? E a cerveja? Ah, então está tudo certo, né? A vida de Esaú foi conturbada até o fim, e seus descendentes (os edomitas) tornaram-se, mais à frente, inimigos do povo de Israel, ou seja, dos filhos de Jacó. E tudo começou com um prato de lentilhas, aparentemente saboroso, mas que custou um preço alto demais. Infelizmente, mais de sessenta milhões de brasileiros fizeram o mesmo ao elegerem quem lhes prometeu algo que nunca se cumprirá. Esaú, ao menos, pôde comer. A picanha de quem fez o L, porém, ficará apenas na imaginação. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 23

  • Cátaros, Políticas Sociais, Preconceitos e Constituição

    Há muito tempo surgiu a doutrina gnóstica, ensinava que no princípio dos tempos existiu uma divindade perfeita, continha em si tudo o que existe. De um instante para outro, este todo deu início a um processo constante de partição em pedaços iguais, em essência, e opostos em acidentes. Deste processo surgiram masculino/feminino, claro/escuro, o alto e baixo etc. Segundo estes teóricos, também de um instante para outro, a partição produziu uma partícula diferente, os demais pedaços da divindade primeira, que antes se julgavam iguais, ao ver a partícula diferente perceberam que não eram completos, faltava-lhes algo que estava presente na partícula diferente. Isto desintegrou a divindade, suas partículas se dispersaram e prosseguiram o processo de partição interminável. Para conter a desintegração da divindade, surgiu um ente, o Demiurgo, que criou a matéria e dentro dela aprisionou as partículas divinas. Interrompeu o processo de desintegração através do aprisionamento das partes do divino. Neste processo há uma divindade boa, o todo inicial, e um Deus mau, o criador da matéria. O paganismo fundava-se nesta doutrina, a matéria era má porque aprisionava do divino que precisava, a qualquer custo, libertar-se para tentar trilhar um caminho de retorno à unidade original, à plenitude. O platonismo é mostra clara desta cosmovisão. Platão, em Fedon, afirmou categoricamente estar seguro do avanço que lhe traria sua transferência para junto dos deuses que são excelentes amos, por isso não se revolta com a ideia de morte, pelo contrário, tem esperança nela. Por isto, as crianças deveriam ser educadas para temer a morte o menos possível e tornarem-se adultos corajosos para lutar pela liberdade mais do que pela própria vida. Depois deste pensador, Cristo ensinou que não existe “início”, como dizem os gnósticos, Deus é infinito, não há princípio nem fim, ademais existe somente um Deus. É bom, não comporta partições, é simples no sentido de unidade, personificação, cuja vontade difusora de amor criou a matéria. No Cristianismo a matéria é dom, essencialmente boa, por isso a defesa da vida é a primeira lei natural. No cristianismo a liberdade é valor fundamental. Esta é uma das mensagens advindas da crucificação de Cristo, que além da revelação de fé, sobre ressurreição de corpo e alma para os que se empenham em viver a ordem de valores por ele ensinada, nos ensina que a liberdade, inclusive direito de expressão da verdade, exige coragem e grandeza de personalidade. O Homem deve empenhar-se na vivência das virtudes. O gnosticismo pagão se infiltrou na igreja de Cristo através de diversas seitas inclusive dos maniqueístas e sobretudo dos cátaros. Estes pregavam a mortificação do corpo, a autoflagelação, eram contra o casamento pois produzia mais matéria, os filhos, novos cárceres da alma, centelha divina aprisionada. Nessas circunstâncias, achavam preferível o amor livre e matavam mulheres, sobretudo as grávidas. Profanavam os templos e cultos católicos pois não aceitavam a existência humana como um bem, nem que Deus houvesse se encarnado em Jesus. O suicídio era o ponto alto da doutrina cátara como forma de libertação da partícula divina presa na carne. Violavam a primeira lei natural, basilar para o catolicismo: preservação da vida. Sua conduta produzia indignação social e reações em que tanto os cidadãos quanto o poder político secular, os agrediam e matavam violentamente. A desagregação social que produziam era tamanha que há quem defenda que se sua doutrina se tornasse universal devia levar a extinção da raça humana. Os cátaros marcaram vivamente o simbolismo da realidade material do homem como um mal, cuja malignidade era insuperavelmente maior na mulher em face de sua natural fecundidade, capacidade de reprodução. A doutrina era oposta à orientação católica de elevada distinção da dignidade da mulher, que o Novo Testamento traz a lume através do escrito descritivo do primeiro milagre de Jesus Cristo. Nesta oportunidade, a mãe de Jesus, ao pedir-lhe que intercedesse pois havia faltado vinho na festa onde estavam, Este respondeu: “Mulher, o que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou.”. De imediato, atende seu pedido e transforma água em vinho. Ao enfatizar a palavra mulher, Jesus revela e ressalta que a mulher é capaz de dar causa à vontade divina de realização do bem, tem força suficiente para vencer obstáculos: “minha hora ainda não chegou”. O pedido de uma mulher move a vontade de Deus. A simbologia da mulher transmuta-se de subserviência ao maligno, comum às ideologias gnósticas, para a intercessora de bênçãos junto a Deus Filho. Os movimentos sociais que posteriormente expressaram a igualdade entre homens e mulheres, inicialmente em face da lei e posteriormente em direitos e obrigações, assim como proteções específicas relativas a maternidade, partem da orientação Cristã. Assim também as normas constitucionais proibitivas de qualquer tipo de discriminação do ser humano. Seguiram-se a estes movimentos as inserções normativas constitucionais de reconhecimento de igualdade, entre homens e mulheres, de modo que a variação de sexo é acidental, incidente sobre uma mesma substância denominada espécie humana6. A igualdade de que tratam as normas modernas, em especial a Constituição brasileira, é a igualdade essencial. Nesta senda, reza o inciso I, artigo 5º que reconhece a igualdade, em direitos e obrigações, para homens e mulheres. É esta mesma essencialidade comum à espécie humana que autoriza a Constituição da Republica de 1988 a reconhecer, no artigo 5º, que todos são iguais perante a lei. Refere-se à igualdade essencial da qual são acidentes a cor da pele, o comportamento religioso a forma de exercício da liberdade individual etc. Enfim, o Estado brasileiro registra, na Constituição, a herança ancestral ocidental que se estruturou através da transposição do paganismo grego para o cristianismo. É este o fundamento de sua orientação sistêmica de respeito à dignidade humana como espécie. Esta cosmovisão que se crava na Constituição brasileira e traz como elemento a confiança na autonomia individual para gestão do próprio destino, tem o mesmo sentido utilizado pela União Europeia e expresso em um de seus documentos gerentes de desenvolvimento econômico: apoio aos compromissos de geração de emprego e estímulo à aprendizagem para que o crescimento individual seja resultado do esforço próprio de superação das dificuldades individuais e motor do desenvolvimento nacional. Nesta linha de entendimento, a Constituição da República Federativa do Brasil estabelece, no inciso IV, artigo 1º que o trabalho e a livre iniciativa são fundamentos do Estado e associa a esta premissa o objetivo de Estado de desenvolvimento nacional na forma do inciso II, artigo 3º. O artigo 3º da Constituição da República traz como único instrumento de ação, para alcance dos objetivos de Estado, o desenvolvimento nacional, é de se entender que os demais objetivos serão alcançados através dele. Nesta linha, o objetivo estatal de solidariedade, expresso no mesmo dispositivo, também se subsume ao instrumento de desenvolvimento nacional. O que se impõe ao Estado, objetivamente, é o desenvolvimento. Este, abriga o fomento à geração de empregos, ao livre empreendedorismo, ao sistema de aprendizagem, à estabilidade emocional através da harmonia social e segurança, bem como o cuidado com a saúde. É fundamental ter em mente a realidade atestada historicamente de que o desenvolvimento sócio/econômico somente se potencializa impulsionado pelo aumento da diferenciação acidental. Esta observação produziu a assertiva de que a evolução cultural, com a civilização dela decorrente, trouxeram a diferenciação, riqueza crescente e grande expansão da espécie humana. Nestas condições, o dever estatal de promoção do desenvolvimento nacional para geração da sensação de bem-estar interno exige o fortalecimento da percepção individual de igualdade essencial, simultaneamente, com o favorecimento à diferenciação acidental. É a realidade que se apresenta como condição de execução de qualquer competência Estatal de desestímulo à discriminação estabelecida pelo inciso IV, artigo 3º da Constituição. Por seu turno, o dever de facilitação da aprendizagem inclui o favorecimento do acesso a informações técnicas, associadas ao fomento do reconhecimento da igualdade essencial da espécie humana, tanto quanto o crescimento da virtuosidade humana. É assim por causa da revelação, efetivada pela História de que a moralidade, reflexo de condutas virtuosas, foi o elemento determinante para a civilização atual, pois foram os grupos que seguiram suas regras que conseguiram multiplicar-se e enriqueceram em relação a outros grupos. O estímulo, do Estado, ao fortalecimento da virtuosidade humana é condição de desenvolvimento nacional que coopera para a construção da justiça social estabelecida pelo inciso I, artigo 3º da Constituição. O dever de desenvolvimento da virtude humana é imperativo civilizacional e condição de realização do objetivo Estatal de superação de preconceitos como determina inciso IV, artigo 3º da Constituição. Ao Estado brasileiro, por imposição constitucional, compete edificar um ambiente interno favorável ao progresso individual, técnico e de caráter, resultante do empenho próprio de cada cidadão. O fomento ao crescimento individual é atividade de Estado basilar para geração do desenvolvimento nacional, como decorrência natural do esforço conjunto da população brasileira “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”, parágrafo único, artigo 1º da Constituição brasileira. Para realizar os ensinamentos da História, as políticas públicas e ações de grupos privados fundadas em diferenças acidentais precisam ser desestimuladas e substituídas por outras que fortaleçam a igualdade essencial. O sistema normativo orienta para o estímulo à aprendizagem técnica associada ao crescimento das virtudes humanas, pois o que gera bem-estar individual, harmonia social e prosperidade é a cooperação de todos com base na confiança advinda da virtuosidade do comportamento humano. É importante despregar-se das garras da contradição de ressaltar a diferença acidental com o discurso de promoção do bem de todos. O bem comum somente repousa no colo da igualdade essencial, única possibilidade de igualdade humana nesta terra e único caminho de destruição das discriminações. Os símbolos da doutrina cátara ainda estão vivos no mundo moderno, escondem-se e revelam-se em imagens, obras de expressão plástica, interpretações de teatro, música e que, subliminarmente, ressaltam diferenças acidentais dos seres humanos como instrumento de geração de antagonismo social. A associação da imagem da mulher à malignidade é apenas um exemplo da vitória do vício da crueldade, estimulado através do fortalecimento das desigualdades acidentais como fundamento para desavenças, sobre o mandamento cristão de caridade humana, alcançável apenas com o desenvolvimento equilibrado da virtuosidade individual. Este movimento parte, necessariamente, do reconhecimento e fortalecimento da igualdade essencial da espécie humana. As políticas, ou legislação infraconstitucional, de suporte social precisam evitar vivamente fundar-se em desigualdades humanas acidentais e permanentes para passar a apoiar-se em realidades transitórias, que permitam mobilidade dos integrantes dos grupos beneficiados. São exemplo deste segundo tipo os habitantes de determinados espaço, as pessoas que se encontram desacompanhadas no sustento de suas famílias etc. As normas infraconstitucionais e políticas públicas, ou privadas, fundadas em desigualdades humanas acidentais permanentes são desagregadoras porque apoiam-se sobre o binômio algoz/vítima. São contrárias ao objetivo estatal de desenvolvimento nacional, porque essencialmente discriminativas. A premissa sob que se fundam nega diretamente o reconhecimento da igualdade essencial do homem. O discurso de redução de desigualdades sociais e da discriminação através de ações de avivamento das desigualdades acidentais do homem é contradição interminável. Tal comportamento labora sobre o engano, esconder-se em promessas de correção de circunstâncias históricas ou condição social quando o resultado por elas produzido é a animosidade interna entre os cidadãos. Tais ações atraiçoam, porque prometem o que, potencial e intencionalmente, não são capazes de concretizar. Findam por aprisionar à infindável dependência do Estado, os indivíduos para quem dizem buscar tutela. Entrava-lhes a dignidade e a confiança individual na própria capacidade de superação da realidade desvantajosa. Nestas circunstâncias, para alcance do desenvolvimento nacional, o sistema constitucional determina que a realização dos objetivos de Estado se operem através da utilização de instrumentos verdadeiramente capazes de concretizá-los. São os recursos, reafirmativos da dignidade humana, fundados no reconhecimento da essencialidade igual do homem, em sua capacidade individual de superação de dificuldades e de contribuição para o desenvolvimento comum. O engano, mentira e a traição que se escondem na base das ações que se pretendem redutoras da discriminação e das desigualdades sociais, mas se fundam no fortalecimento das desigualdades acidentais permanentes, surpreendentemente estão presentes na etimologia da palavra diabo. Para os gregos, diábolos é aquele que engana, traiçoeiro, e para os latinos diabolus é o espírito da mentira, personificação do mal. Será por esta causa que a Constituição da República é avessa às ações e políticas de fortalecimento das desigualdades acidentais permanentes? Ou será, simplesmente, porque o constituinte conhecia a doutrina gnóstica de que a partição dos essencialmente iguais os transforma em opostos e provoca a desintegração da divindade? Será que nossa Democracia constitucional resiste a partições dos essencialmente iguais? Deus nos ajude!

  • Por que liberais fazem a curva à esquerda?

    O segundo turno de qualquer pleito eleitoral é marcado por apoios: políticos e personalidades diversas aparecem e declaram voto em determinado candidato que mais se assemelha às suas convicções, fazendo que com seus admiradores elejam o tal político. Inclusive os concorrentes perdedores do primeiro turno articulam com seus partidos qual será o melhor caminho a seguir a partir daí. Nestas eleições o presidente Jair Bolsonaro recebeu apoio de vários políticos: os governadores eleitos Romeu Zema (NOVO) e Cláudio Castro (PL), além do governador de São Paulo Rodrigo Garcia (PSDB) tornaram público que estão à direita na segunda etapa da eleição. Na classe artística, chamou a atenção a união de vários artistas sertanejos em prol da reeleição de Bolsonaro: Leonardo, Zezé Di Camargo, Sula Miranda, Gusttavo Lima, Chitãozzinho e a dupla Henrique e Juliano se reuniram em Brasília, no palácio do Planalto, e em entrevista coletiva à imprensa pediram aos fãs que reelejam o presidente. Na ala vermelha da força, os apoios não surpreenderam, a priori: Fernando Henrique Cardoso, tucano raiz, já se posicionou a favor do petista, Simone Tebet (MDB) decidiu ficar contra o agronegócio (que Lula chamou de “fascista”) e foi para o lado esquerdo, juntamente com Ciro Gomes (PDT). Contudo, um grupo de pessoas surpreendeu ao declarar apoio ao descondenado petista: liberais econômicos. Pedro Malan (ex-ministro da Fazenda do governo FHC), Elena Landau (ex-assessora da presidência do BNDES e ex-diretora da área responsável pelo Programa Nacional de Desestatização do governo FHC) e o movimento liberal LIVRES expuseram sua escolha por Lula. Esses movimentos trouxeram uma interrogação: como que liberais econômicos podem apoiar alguém que, quando esteve na presidência, roubou bilhões dos cofres públicos? Como ninguém trouxe essa explicação, me permito esclarecer esta dúvida. Primeiro, gostaria de esclarecer: o conservador já é liberal economicamente falando, porque entende que o Estado deve ser mínimo, e não inexistente. Contudo, via de regra, o liberal não é conservador; muitos pensam que esta classe, por defender a Economia, está do lado direito da força, e não é assim. O maior exemplo que temos em solo brasileiro é o Movimento Brasil Livre (MBL), que vendeu uma imagem de direita liberal, mas chegaram a fazer manifestação juntamente com Ciro Gomes em 2021. E por que os liberais tomam esta atitude? Um dos motivos é a culpa: há um clamor promovido por uma classe “intelectual” para uma chamada “sociedade mais justa”. A esquerda prega que a “classe burguesa” é quem promove a desigualdade, pois concentra a renda. O que esse grupo faz para “aliviar” esta culpa? Investe seu dinheiro em movimentos de esquerda, que alegam trabalhar por esta “justiça social”.E como acontece a “lavagem cerebral” para que liberais ajam dessa forma? O saudoso professor Olavo de Carvalho, em seu artigo “Direto do inferno” (disponível no livro “O mínimo...”), mostra quem são os agentes da culpa: “Os cientistas sociais, os psicólogos, os jornalistas, os escritores, as ‘classes falantes’ (...) são forças de agentes da transformação social, as mais poderosas e eficazes, as únicas que têm uma ação direta sobre a imaginação, os sentimentos e a conduta das massas.” As “classes falantes” contaminam a massa, o povo; o povo se rebela; a esquerda acusa os ricos; e os ricos, com peso na consciência, contribuem para a “causa”. A esquerda “elogia” a postura, a “classe falante” propaga e o povo compra a ideia. E assim, o sistema se autoalimenta. O liberal possui um pensamento que resume-se a uma palavra: dinheiro. Notem a postura destes que estão ao lado de El Cachacero: não levam em conta a questão moral, a falta de caráter, o rombo nos cofres públicos, enfim. Em contrapartida, ao levantarem-se em favor do ex-presidiário, citam a expressão “democracia”. Vamos analisar de qual “democracia” eles sentem falta. Em 2014, o jornal Valor Econômico publicou um levantamento com base em dados dos 50 maiores bancos: os lucros foram de R$ 279,9 bilhões durante todo o governo de Lula, contra R$ 34,4 bilhões durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso. O Valor Econômico analisou ainda outro indicador que, segundo a reportagem, pode comparar com mais precisão os balanços nos dois períodos. Considerando a rentabilidade média sobre o patrimônio líquido, os bancos continuam ganhando mais no governo Lula, cujo indicador é de 20,1%, do que no FHC (7,04%). Ele mede o quanto os bancos estão tendo em retorno sobre o capital que investiram (patrimônio). O adversário eleitoral Ciro Gomes chegou a dizer que o Partido dos Trabalhadores (que irônico, não?) transferiu mais dinheiro aos bancos do que aos pobres:“R$ 4,88 trilhões, no período em que o Lula deu as cartas do poder brasileiro, foram transferidos para os bancos, via juros. E, R$ 332 bilhões foram transferidos para os pobres no Bolsa Família. Isso é uma coisa concreta.” Agora, trago um recorte do jornal Esquerda Diário, que, por incrível que pareça, trata deste assunto com honestidade intelectual, mostrando que a relação de Lula com a alta classe é antiga: “A política de facilitação de crédito, como a redução do dinheiro que os bancos têm que deixar depositado nos bancos, resultou numa liberação massiva de reais no mercado. Em 2002, o crédito disponibilizado no país era de R$ 380 bilhões, em 2010, chegou a R$ 1,6 trilhões. Isso se transformou em ‘o aumento do poder de compra dos brasileiros’, ao passo que o salário médio dos trabalhadores não representou esse salto. Com o constante aumento da inflação, acompanhado do aumento dos juros, o que foi chamado de ‘poder de compra’ dos trabalhadores, era o aumento da parte do salário que ia para o bolso dos banqueiros. Nunca os banqueiros lucraram tanto no país. Em 2011 calculou-se em torno de R$ 200 bilhões (sem corrigir com a inflação atual, o que elevaria esse valor) nos 8 anos de Lula. Com grande parte do salário dos trabalhadores destinado aos cofres dos bancos, mesmo numa crise econômica, os bancos continuam aumentando seus lucros. Todas as políticas que beneficiaram estes banqueiros tiveram como resultado o endividamento em massa.” Liberais geralmente viram à esquerda porque lhes falta a bússola moral para reger a vida moral. O professor Olavo explica isso em seu artigo: “Por que não sou liberal”: O liberalismo é a firme decisão de submeter tudo aos critérios do mercado, inclusive os valores morais e humanitários (...) O liberalismo é um momento do processo revolucionário que, por meio do capitalismo, acaba dissolvendo no mercado a herança da civilização judaico-cristã e o Estado de direito.” Aqueles que não possuem uma régua moral para se guiar acabam cooptados pelo discurso progressista de lutar pela “justiça social” e alimentam o monstro que irá devorá-los, mais dia, menos dia.

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