
MENEZES COSTA
"Com conhecimento se constrói cidadania!"
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- O problema não é a polarização
Estava eu navegando na internet em busca de uma pauta. Afinal, além de ter o privilégio de escrever para a Revista Conhecimento e Cidadania , trabalho em um portal de notícias. Em minha procura, encontrei um artigo da Gazeta do Povo, cujo título é “ Brasil precisa parar de adorar entes políticos como Lula e Bolsonaro ” . Eu detesto este tipo de comparação esdrúxula. Primeiro que, quem admira Bolsonaro o faz justamente por ele ser o oposto do que temos visto desde o fim do regime militar: alguém que, de fato, almeja o bem do país e o faz sem politicagem. Segundo, me espantou a publicação deste material em um jornal deveras renomado como a Gazeta do Povo. Estou até o presente momento atônita com o ocorrido. Contudo, em vez de criticar o conteúdo gratuitamente, prefiro analisar o texto nas linhas a seguir. Comecemos pelo seguinte trecho: “ Sempre que me perguntam sobre direita e esquerda, aponto o caminho para a frente…” Esse tipo de análise rasa não me convence. No fundo, é uma tentativa de desviar-se de um posicionamento claro sobre suas convicções políticas. Um termo popular que define este tipo de pessoa é “isentão” . Qual o problema em se posicionar? O problema consiste em ter que se explicar, e quando a pessoa não possui argumentos suficientes para tal, a tendência é de que seja “engolida” pelo seu opositor. Assumir uma postura não é para qualquer um, na realidade. O texto segue: “ Em um país com características naturais tão singulares quanto o Brasil, o maior desastre natural orbita, literalmente, entre direita e esquerda na política” Não, este não é o maior desastre. O que assola o país – e o mundo – é a questão moral. E neste espectro é a esquerda que deixa a desejar. Exemplos que justificam isso não faltam: a ala progressista da força defende aborto, desencarceramento em massa, o fim da polícia militar, leis feministas que amordaçam os homens, entre outras pautas que decerto o leitor se recordou neste momento. E o artigo segue: “ Clãs como os de Bolsonaro e Lula corroem toda a riqueza que poderíamos estar gerando para a população, pois, politicamente, atrapalham todos os que querem viver o melhor que o Brasil pode oferecer com base no próprio trabalho e esforço” Confesso que minha primeira reação ao ler este trecho foi: “Hã? É sério que um CEO, formado na Escola Superior de Propaganda e Marketing, com curso de extensão pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, teve a audácia – para não dizer, a desonestidade – de escrever tamanho absurdo?” A menos que este senhor tenha transferido sua residência para a lua ou adentrado em um buraco negro, é praticamente impossível que um empresário brasileiro não saiba das notícias econômicas do seu país. É de conhecimento público que Fernando Haddad aumenta e cria impostos com maior velocidade do que um chute de esquerda de Roberto Carlos; que Lula e sua turma de “papagaios de pirata” extinguem as reservas de dinheiro publico mais rápido do que o fogo que devastou a Califórnia e destruiu as casas das celebridades; que não houve sequer um único ser punido pela fraude do INSS e que os mesmos envolvidos estão sendo blindados pelo Judiciário. Para que não fique somente nas minhas palavras, provarei o que estou dizendo com as seguintes manchetes: “ Gastos fora da meta fiscal ultrapassam R$ 300 bilhões em governo Lula 3” (CNN Money, 14/06/2025) “ Gastos do governo Lula com viagens oficiais superam os 4 anos de Bolsonaro” (Coluna Radar, Veja, 07/05/2025) “Governo gasta, em média, R$ 5 milhões bancando viagens” (Canal Claudio Humberto, YouTube, 21/10/2025) “ Governo Lula gasta R$ 8,4 mi em 30 dias com anúncios nas redes e eleva gastos em 360%” (InfoMoney, 05/10/2025) “ Brasil terá rombo fiscal mesmo com recorde de impostos em 2025” (Poder 360, 19/10/2025) Jair Bolsonaro, doutra sorte, enquanto esteve ocupando a cadeira da Presidência da República, fez com que um único verbo fosse conjugado: economizar. Mas não cabia somente a Paulo Guedes, ministro da Economia, a responsabilidade de “enxugar a máquina pública” . Jair Bolsonaro aplicava o mesmo verbo em sua própria casa. Em entrevista para o jornalista Felipeh Campos no dia 8 de fevereiro de 2025, o empresário – e amigo da família Bolsonaro – Agustin Fernandez, relatou como era a rotina no Palácio da Alvorada: “ Bolsonaro é tão simples, tão simples, tão simples, que a comida era feita por militares e todo dia era a mesma comida: arroz, estrogonofe, bife de frango ou de carne e aquela salada que é alface, cebola e tomate. Naquela época, os lençóis eram da época do (José) Sarney. O colchão era muito desconfortável, o ar-condicionado era aquela caixa antiga que fazia um barulho… Então, o glamour que as pessoas viam de fora não era o que eu vivia la dentro”. Agustin ainda relatou um episódio inusitado em relação a Jair Bolsonaro: “ Eu amo tomar banho longo, e o Bolsonaro falava assim ‘Para de ser vagabundo, isso aqui é dinheiro do pagador de imposto, não pode ficar o dia inteiro tomando banho!’Eu me sentia mal. Mas quando eu comecei a ver os gastos da atual primeira-dama, vejo que, na época, era economia para o pagador de imposto”. Inclusive, foi o verbo “economizar” que possibilitou que o outro verbo, o “auxiliar” , fosse utilizado na pandemia. Se Paulo Guedes não tivesse trabalhado, o Brasil teria sucumbido. Graças a Deus e ao trabalho de um ministro capacitado – e não de um zé que colou do coleguinha no mestrado de Economia – o Brasil foi o que melhor se saiu economicamente no pior período da história mundial recente. Sigamos com a análise: “ O Brasil tem tudo para ser um país bom de morar e empreender, porém desenvolveu uma vocação para o assistencialismo e a adoração de entes políticos como Lula e Bolsonaro. Concordo com esta citação até a palavra “adoração” . De fato, o Brasil é uma nação próspera, mas o povo brasileiro desenvolveu vocação para o assistencialismo. Contudo, é importante explicarmos isso. Até os anos 90, as regiões Norte e Nordeste não eram tão desenvolvidas como hoje. Muitos moravam em casas de pau-a-pique (desenvolvidas com bambu entrelaçado e seladas com barro), a seca castigava o sertanejo, muitos sequer possuíam um par de chinelos. Neste contexto, nasce o “voto de cabresto” , onde políticos “pagavam” eleitores em troca de voto. O “pagamento” era em forma de cesta básica, água, tijolos ou até dinheiro vivo. Enquanto os candidatos subornavam o cidadão, realizavam inúmeras promessas de campanha que nunca eram cumpridas. A título de exemplo: as promessas para a transposição do Rio São Francisco remontam ao século XIX, com o primeiro projeto sendo proposto em 1847 no Reinado de Dom Pedro II. Desde então, diversos presidentes anunciaram a obra. Atualmente, o voto de cabresto é conquistado via assistencialismo, por meio de Bolsa Família e diversos auxílios. Note bem: não sou contra esses auxílios, contudo, devem ser entreguem àqueles que estão em situação de vulnerabilidade extrema. Porém, vemos que pessoas que estão aptas para trabalhar simplesmente não o querem, porque é mais cômodo esperar que o “pai Estado” seja o provedor do sustento. Dados recentes divulgados pelo portal Poder 360 mostram dados alarmantes: dez estados brasileiros – todos das regiões Norte e Nordeste – possuem mais beneficiários do Bolsa Família do que trabalhadores com carteira assinada. O campeão é o Maranhão, com 521,6 mil pessoas a mais recebendo auxílio do que empregados. Sobre o restante da frase: “ E isso impede que as coisas aconteçam e prosperem por aqui” Polarização política é algo novo no Brasil, portanto, não é a responsável pelo caos instalado. A questão é, acima de tudo, moral. O mal de todo liberal é pensar que, resolvendo a questão econômica o resto fluirá, o que não é nem de longe verdade. Vamos a um exemplo: uma matéria da CNN Brasil, publicada em 24/09/2024, denunciou: “Beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bi com ‘bets’ em agosto” . A ajuda que seria, em tese, para possibilitar a aquisição do alimento, estava sendo utilizada para apostar. Este é um problema moral extremamente grave, que não se resolve sequer aplicando as teorias da Escola de Chicago. Para finalizar: “ É mais do que hora de desconstruirmos o status quo da política e do judiciário, como sociedade civil organizada e darmos um basta nisso tudo” Vote 12345! (Não parece um jargão eleitoral?) Sinceramente, eu esperava mais de um CEO. Alexandre Schwartsman tem mais conteúdo para oferecer. Bom, não sou CEO de nada. Porém, apresento iniciativas que podem melhorar – um pouco – o país. Diminuição ou aniquilação de impostos. O Brasil possui uma das maiores cargas tributárias do mundo. Economicamente falando, é inviável prosperar desta forma. Diminuição ou aniquilação de cargos públicos (comissionados, apadrinhados, indicados, etc) Isso ajudaria e muito a economia brasileira a respirar melhor. PPP – Parceria Público-Privada. Medida importante para fomentar turismo, tecnologia, indústria e outros setores. Rastreamento dos auxílios e limite de uso. Isso faria com que vulneráveis não perdessem o auxílio e inibiria os aproveitadores. Fim de Brasília (polêmica essa). Tudo seria feito de maneira remota e cada parlamentar ficaria em seu estado. A medida traria uma economia absurda e faria com que certos deputados não fugissem da realidade da localidade que os elegeu. Estes seriam melhor cobrados pela população a resolver as demandas. Diante do exposto, quando um CEO fala que o maior problema do Brasil é "polarização" , penso com meus botões se este não é um analfabeto funcional, filho de Paulo Freire. Leia: A atuação da imprensa no contexto político atual Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 59 edição de Outubro de 2025 – ISSN 2764-3867
- Rastros de sangue
No ano de 71 a.C, Marco Licínio Crasso, encarregado de dissolver a revolta dos escravos que, sob o comando de Espartáco, devastavam o sul da Itália, decidiu encurralar os revoltosos em Brútio, entretanto, o Tenente Múmio, em uma ação impetuosa, decidiu avançar com suas legiões face aos escravos, o que acabou custando uma derrota e a debandada dos legionários. Crasso conseguiu derrotar os homens de Espartáco em uma investida posterior, entretanto, a derrota causada por Múmio custaria muito às legiões romanas, posto que, para manter a disciplina, Crasso ordenou que fosse imposto o castigo da dizimação, decimatio em latim, uma sanção que importava na execução, por espancamento, de um a cada dez homens das legiões, que deveria ser posta em prática pelos nove décimos sobreviventes. A dizimação era uma punição grave que visava manter o controle da tropa através de um castigo que eliminava parte dele e exigia que a outra, sobrevivente, fosse responsável por executar seus pares, de maneira que, aos que não sofressem a sanção, restava a lição para não mais incidirem na falta. No contexto das legiões romanas, tendo em mente que aquelas tropas se prestavam à defesa do Império, a punição capital não era uma exceção, posto que, mesmo nos dias atuais, ações como traição e deserção, em período de guerra são passíveis de punições que custem as vidas dos transgressores. Os crimes gravíssimos, por vezes, também podem ser motivadores para a aplicação de pena capital, mas tal regra, cada vez mais rara, se volta às infrações cuja natureza é tão abjeta que podemos chamar de hediondos. No ocidente, os casos de pena de morte, já abolidas na maior parte dos países, se focam em crimes como homicídios, latrocínios, estupros e outros tantos, entretanto, a mente doentia dos revolucionários que, em sua máxima de que tudo é relativo e a que a revolução edificará um paraíso utópico, entende que, não há infração mais grave que se opor a sua loucura. Incapazes de se reconhecer como loucos déspotas degenerados, os revolucionários assumem, como todo desequilibrado faminto pelo poder, que qualquer um que se oponha a sua intenta deve ser destruído, em especial, se tal embate se der no campo das ideias, pois, tal arena é justamente aquela que suas narrativas são expostas, questionadas e destruídas. A revolução, que alega resolver artificialmente todos os dilemas da humanidade, obviamente se sustenta em mentiras, prometendo o chamado terreno no horizonte, um lugar perfeito e acessível, mas que nunca será alcançado, por tanto, criará inúmeras narrativas para que seus seguidores, movidos pela ganância, por medo ou pelo sentimento de pertencimento, continuem servido aos seus mestres. Regimes totalitários como o socialismo, o nazismo e o fascismo, bem como, a promessa de uma sociedade sem regras como o anarquismo, sustentam-se sobre os pilares da mentira, da corrupção e do medo, posto que, mentem para os incautos, corrompem os vazios e intimidam os que, por algum motivo, não possam reagir. Portanto, o emprego de violência estará sempre nos planos dos revolucionários. O maior exemplo histórico é a Revolução Francesa, que prometia libertar o povo de um monarca egoísta e permitir que os mais humildes tivessem participação nas decisões, que chamavam de democracia, no entanto, tão logo os revolucionários assumiram o poder, sendo figuras intelectuais e tomadas por ideias iluministas, que os faziam acreditarem-se salvadores da humanidade, ou melhor, da História com ou sem a humanidade, seus líderes se provaram déspotas cruéis que fizeram do regime removido do palácio de Versalhes algo saudoso para aqueles que não comungavam da loucura que conduziu a Revolução. A liberdade conquistada no âmbito da Revolução Francesa foi a de concordar com os líderes ou descansar o pescoço em uma obra da engenharia que marcou a época chamada guilhotina. Até hoje, s revolucionários sonham com a oportunidade de apedrejarem, guilhotinarem ou fuzilarem aqueles que não assumam sua visão doentia de mundo como única forma de progresso e, portanto, existência universal. A mente daqueles que defendem regimes idealizados, que apontam existir uma fórmula capaz de solucionar todos os males do mundo, assume que adotada a sua ideologia, tudo se resolverá, entretanto, tal pensamento só ocorre nas camadas mais baixas de tais grupos, posto que, no centro nervoso, a Torre de Marfim, existe a noção de que a promessa de mundo ideal é tão somente um ardiloso argumento para conduzir os tolos, ao passo que se assume o poder. Alcançada a posição de domínio, os líderes revolucionários não abdicarão de sua condição e, cada vez mais, esmagaram tão quantos forem necessários para, no topo, se manterem. A frase que melhor define os artífices da revolução é a máxima de que “o sonho do oprimido é se tornar o opressor”, logo, uma vez que tenham o poder que outrora invejaram, tornar-se-ão ainda mais cruéis que aqueles que diziam enfrentar, portanto, podemos até admitir que a monarquia francesa que ofereceu brioches quando faltou pão, pode ter sido um regime autoritário, indiferente ou mesmo tirano, mas não chega perto das atrocidades promovidas pelos revolucionários que a sucedera. Os revolucionários, em especial aqueles que pregam ideias coletivistas, se agrupam em hordas violentas sob o comando de figuras desprovidas de moral, para tratar de tais bandos ferozes, nos despedimos dos anarquistas em geral, haja vista que sua violência embora também seja animalesca, visa destruir aqueles que tentem impor-lhes regras, mas, no geral, trata-se de uma turba acéfala sem uma liderança. O grande risco das debandadas anarquistas, como recentemente ocorrera no Nepal, é que tais levantes podem ter dois efeitos perigosos. Um levante anarquista pode ser tomado pelo caos não direcionado, tendo um desfecho em que a destruição consumirá a todos, ou, poderá dar lugar a um líder ou grupo de líderes que assumam o controle da situação, tendo como resultado final uma situação randômica, pois dependerá da índole daqueles que forem alçados ao poder, podendo surgir uma figura que ascendera com a intenção de trazer luz ao momento de trevas, bem como, uma nefasta criatura que se aproveitou do cenário para galgar ao poder e nele assumir a postura despótica que escondia em seu âmago. A incerteza do momento atual nepalês nos leva a esperar os próximos passos daquele povo em direção ao futuro, tendo em mente que, embora a queda de um regime socialista seja sempre algo que devemos comemorar, não há como negar que a incerteza pode dar lugar a outro regime totalitário, mesmo porque, socialista costumam se desmembrar em diversos grupos para que um se torne a alternativa ao outro. O chamado teatro de tesouras nada mais é que uma experiência multifacetada dos socialistas, que, divididos em diversas bandeiras, fingem oporem-se uns aos outros para que, em meio ao inevitável fracasso do regime, ocorra a substituição pela outra vertente do mesmo espectro ideológico. A título de ilustração, queda no regime nazista, para os que viviam a leste de Berlim, não trouxe um futuro de liberdade e justiça, mas um regime subordinado a Moscou que se assemelhava, em muito, ao que lhe dera lugar, de tal forma que, a temida Gestapo deu lugar à Stasi, não havendo considerável mudança no que tange a suas práticas de violações em relação ao cidadão alemão. Não se pode olvidar que a queda de um regime despótico pode dar lugar a outros tiranos, entretanto, os líderes revolucionários sempre estarão à espreita aguardando a oportunidade para se colocarem como salvadores, assumindo o papel de promotores da vontade daqueles que derrubaram o regime. Por outro lado, quando são os próprios revolucionários que chegam ao poder, no geral, as cadeiras já estão marcadas mesmo antes de uma coroação formal, logo, cada um dos senhores da revolução já sabe qual serão o seu quinhão quando chegarem ao poder, exceto por aqueles que foram usados, que não terão a recompensa almejada, ou aqueles que possam reivindicar mais do quê aquilo que lhes fora prometido, uma vez que, tornar-se-ão ameaçadores aos seus antigos correligionários. O maior exemplo de líder revolucionário que teve sua parte no poder negada foi, sem dúvida, Leon Trotsky, tendo em vista que, a sua presença nos círculos de poder em Moscou ameaçava diretamente a autoridade de Joseph Stalin, em razão de parte dos Bolcheviques acreditarem ser o primeiro o legítimo herdeiro de Vladimir Lênin no comando do partido e, por conseguinte, da União Soviética. Tal situação acabou por determinar o destino de Trotsky, que acabou sendo expulso do país em 1929, e assassinado em 20 de agosto de 1940, por Ramón Mercader, agente soviético, na capital do México. A União Soviética também contava com os documentos que ficaram conhecidos com “A lista de Stalin”, nos quais, nomes de supostos traidores ou opositores do regime eram inseridos para que tais figuras fossem perseguidas e enviadas para campos de prisioneiros, o sistema Gulag, ou execuções. Notadamente, o destino cruel não era reservado apenas aos opositores do regime, mas também aos seus apoiadores ou aqueles que permaneceram isentos que, por algum motivo, foram considerados traidores ou meros obstáculos para o regime stalinista. Na Ucrânia, país integrante da União Soviética no qual a maior parte dos habitantes era contrária à política comunista de Moscou, especialmente pela expropriação de suas terras e os frutos dela, Joseph Stalin promoveu uma política de morte pela fome , conhecida como Holodomor, que foi acobertada pelo regime até seus últimos dias, sendo negada até hoje pelos defensores do socialismo. O Holodomor deveria ser motivo mais que suficiente para que todo o mundo desprezasse o socialismo, não sendo razoável que um indivíduo que conheça tal capítulo abominável da história da humanidade ainda insista em defender tal regime, assim como o Holocausto é a maior evidência do mal que foi o regime nazista. O assassinato daqueles que se levantam contra o regime totalitário tornou-se a regra nos movimentos revolucionários, haja vista que, o relativismo moral de seus líderes e seguidores, os permite promover a distorção da noção de certo e errado, afastando a ideia de bem e mal, logo, um revolucionário, independentemente, da posição que ocupa na esfera de poder e influência de determinado movimento, assumirá que os fins justificam os meios e estão dispostos a cometerem atrocidades se está for em defesa da revolução. Não existe resquício de moralidade em alguém que promove a mutilação de crianças em prol de uma ideologia de gênero ou o assassinato indiscriminado de seres humanos em fase intrauterina , com o agravante que seja a própria mãe coautora de tamanha atrocidade. Não haveria maior vitória para o mal que matar um inocente e, ao mesmo tempo, corromper a alma da mãe dele, ao fazer com que ela seja tão vil que atente contra a vida daquele que deveria defender com todas as forças. Recentemente, após um alerta do atual Chefe de Estado americano, Donald Trump, acerca de possível risco de crianças nascerem com autismo devido ao uso de um determinado medicamento durante a gestação, diversas mulheres adeptas do espectro da esquerda se lançaram em um movimento em que se filmavam grávidas e consumindo a fármaco mencionado pelo presidente daquele país. O espantoso é que tais mulheres faziam uso do medicamento sem precisarem e ignoravam que há estudos apontando para tal risco, de maneira que, mesmo sem qualquer necessidade, colocaram a saúde de seus filhos em risco para demonstrar repúdio a Donald Trump, deixando evidente que estão dispostas a arriscarem aquilo que deveriam considerar como mais precisos em nome de sua nefasta agenda. Procurar empatia em um indivíduo capaz de dar cabo de seu filho inocente e indefeso para que a ideologia que já matou milhões avance sobre o mundo é como procurar uma agulha no palheiro, portanto, não há como tentar sensibilizar quem assume que seus opositores deveriam ser levados a um bom paredão para receberem uma boa bala e uma boa cova, pois tais criaturas já abdicaram de valores morais e se alimentam de sua própria ganância, inveja e soberba, acreditando que seus vícios se tornam virtudes quando estão a serviço da revolução. A crueldade passa a ser um fator de orgulho para aqueles que se acreditam promotores de uma revolução que libertará a humanidade de seus tabus, ignorando que as tradições decorrem da natureza humana e das sociedades que dela se desdobram. Tal quais os revolucionários de outrora tentavam justificar suas atrocidades em nome de uma utopia, as hordas atuais que ocupam o espectro da esquerda, tentam anular todo aquele que se coloque como obstáculo a sua escalada ao poder, estando dispostos a derramar sangue até de crianças para conquistarem seus propósitos nefastos, porque, para eles, os fins justificam os meios e como não há bem ou mal, tudo é relativo e que se opõe a loucura que pregam apesar de ter sido comprovada sua podridão em todo lugar que o coletivismo fora implantado. Não foi obra do acaso que os seres mais abjetos do mundo ocidental saíram de suas valas imundas para comemorar o assassinato covarde de Charlie Kirk, uma vez que, o ativista conservador americano promovia debates que exigiam reflexão a respeito de políticas e conceitos que dominam o pensamento revolucionário, expondo as mentiras e distorções contidas nas narrativas e ideais da esquerda, algo que fez dele um obstáculo ao avanço das hordas virulentas e, por tal motivo, um alvo do ódio bestial dos revolucionários. Charlie Kirk ameaçava a esquerda com uma arma que ela é incapaz de combater, a verdade , por isso, precisava ser violentamente extirpado do debate, pois, sua presença deteriorava as bases da esquerda e, cada vez mais, levava, principalmente, os jovens e alguns adultos a perceberem que a ilusão encobria uma realidade na qual a revolução socialista é um câncer que destruirá cada um que ouse se levantar contra ela, seja por sua oposição, como fizeram com o próprio Charlie Kirk, por sua omissão e, no caso dos apoiadores, por perderem a utilidade ou se tronarem ameaças aos senhores que assistem a tudo das sacadas de suas torres de marfim. As mortes de Charlie Kirk e de Miguel Uribe, além de atentados contra Jair Bolsonaro e Donald Trump, apontam que os autointitulados defensores da democracia e antifascista , são os verdadeiros empecilhos à democracia real, pois defendem a política do partido único ou das bandeiras irmãs, hipóteses em que só a esquerda pode governar, sendo dona do poder, mesmo que isso custe a eliminação daqueles que pensam diferente. A revolução socialista é assassina, do útero aos campos de trabalho forçado, não se permitirá confrontar, mas cairá podre porque sua essência é artificialmente idealizada, não havendo relação com a natureza humana. Será necessário que cada um guarde força e sabedoria para os tempos vindouros e que os mártires não sejam esquecidos pelos que restarem de pé quando finalmente tombarem as hordas daqueles que há tempos espalham rastros de sangue inocente. Leia também: Tirania em vertigem Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 58 edição de Setembro de 2025 – ISSN 2764-3867
- Virtude
A carta na manga do ser humano Nesta apresentação quero propor um espaço para trazer uma ideia que se aplicada adequadamente pode promover uma mudança importante e para melhor, em nossa sociedade. Um mundo novo e melhor é possível através da prática das virtudes humanas; ao fim desta apresentação, pretendo deixar claro, como, quando aplicar a prática das virtudes humanas na construção desse nobre ideal. Longe de apresentar um mundo perfeito, quero tratar de um espaço aberto por nós mesmos, para que o ser humano expresse o melhor de si. Faz séculos, desde a história conhecida que as pessoas sonham com um mundo mais justo, fraterno e seguro, mas seus esforços, se não inúteis, estão longe do resultado esperado; isso acontece porque sem as ferramentas adequadas é impossível que a construção de qualquer objeto tenha sucesso. Estas ferramentas são alcançadas através de uma educação filosófica verdadeira que nos permitirá colocar cada um desses tijolos que chamamos de virtudes, em seu devido lugar. Mas afinal, o que são virtudes? Virtudes são qualidades muito poderosas que dão o tom do ser humano, levando à sua máxima expressão; são as virtudes que dão identidade ao ser humano e só têm validade se colocadas em prática, caso contrário serão apenas letras escritas em qualquer base; as virtudes são fundamentais para a elevação moral do homem em geral. Sabendo agora o que são virtudes, deixo aqui alguns exemplos: honestidade, cortesia, generosidade, justiça, bondade… Sendo as virtudes o elemento que traz o que há de melhor no homem e sendo ele mesmo o protagonista dessa construção, temos a certeza de que a prática das virtudes humanas, é só ela, pode promover uma sociedade com o maior nível de consciência. Para se ter uma ideia do poder das virtudes, proponho um exercício de imaginação: Imaginemos um momento em que a sociedade atual decida selar um pacto entre si, onde decidisse devidamente, uma, apenas uma virtude. A partir daquele momento, todos seriam apenas justos uns com os outros, ou fraternos, generosos ou quem sabe honestos… Creio que um pacto formado com base em apenas uma virtude resolveria um sem número de problemas em nossa sociedade, e teríamos sem dúvida uma sociedade irreconhecível!! Mas como aplicar as virtudes? Primeiro há que aprender sobre elas e saber que sua prática é inegociável. Onde aplicar? Em todo o tempo, espaço e circunstância. Quando? Hoje, aqui, agora e daí por diante… Então, mãos à obra? Lembro que somos os únicos seres capazes de portar as virtudes humanas é isso deixa claro, nossa responsabilidade e protagonismo na construção de um mundo novo e melhor. Que Deus abençoe nossa jornada!!! Leia também: A chegada do inverno Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 58 edição de Setembro de 2025 – ISSN 2764-3867
- Liberdade Objetiva e Subjetiva
O Encontro entre o Eu, o Nós e o Tu Divino A liberdade é um dos conceitos centrais da filosofia e da teologia cristã. Desde a Antiguidade, pensadores buscaram compreender sua natureza, seus limites e sua realização. No horizonte filosófico, ela pode ser entendida em duas dimensões: a subjetiva, ligada à experiência interior do indivíduo, e a objetiva, relacionada às condições sociais, políticas e históricas que tornam a ação possível. Essas dimensões se articulam com as esferas do eu (a interioridade e a consciência pessoal) e do nós (a coletividade, as instituições e a vida em comum). No entanto, a tradição cristã acrescenta uma terceira dimensão: o Tu divino, isto é, a relação com Deus, fonte última da liberdade. Como afirma o Concílio Vaticano II: “A verdadeira liberdade é sinal eminente da imagem divina no homem. Deus quis deixar o homem entregue à sua própria decisão, para que assim busque espontaneamente o seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegue à plena e feliz perfeição” (Gaudium et Spes, n. 17). Liberdade Subjetiva: A Esfera do Eu A liberdade subjetiva é a experiência íntima de autonomia, de sentir-se capaz de escolher e agir. Uma jovem que decide estudar artes em vez de seguir a carreira que sua família esperava; alguém que escolhe não usar redes sociais para preservar sua paz interior, uma pessoa que decide perdoar uma ofensa grave, não por imposição, mas por convicção espiritual são manifestações da liberdade subjetiva, no último caso em sua forma mais elevada. Na filosofia, Jean-Paul Sartre afirma que o ser humano está “condenado à liberdade”, pois não pode escapar da responsabilidade de escolher (O Ser e o Nada). Immanuel Kant sustenta que a liberdade é a capacidade de agir segundo a razão prática, obedecendo às leis que o próprio sujeito reconhece como universais (Fundamentação da Metafísica dos Costumes). Na teologia, Santo Agostinho ensina que a verdadeira liberdade consiste em “não poder pecar”, isto é, em orientar a vontade para o bem. São Paulo declara: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1), indicando que a liberdade subjetiva encontra sua plenitude quando orientada para o amor. Aqui, a liberdade subjetiva é um exercício de autodeterminação espiritual: o eu se reconhece como criatura livre, chamada a cooperar com a graça. Liberdade Objetiva: A Esfera do Nós A liberdade objetiva refere-se às condições externas que tornam a liberdade possível ou a restringem: um cidadão que deseja expressar suas opiniões políticas, mas vive em um país onde há censura; um trabalhador que sonha em empreender, mas não tem oportunidade devido às altas tributações do seu país. Uma comunidade que garante a seus membros o direito de professar a fé sem perseguição assegura a liberdade objetiva; uma paróquia que promove a inclusão cria condições para que cada pessoa viva sua vocação cristã. Na filosofia, Hegel afirma que a liberdade só se concretiza plenamente no “espírito objetivo”, isto é, nas instituições, nas leis e na vida ética compartilhada (Princípios da Filosofia do Direito). Na teologia, Tomás de Aquino ensina que a lei justa é aquela que ordena a vida comum ao bem comum, criando condições para que cada pessoa realize sua finalidade última (Suma Teológica, I-II, q. 90). O Concílio Vaticano II reforça: “A dignidade humana exige que o homem atue segundo a sua consciência e por livre adesão, não coagido por força externa” (Dignitatis Humanae, n. 2). Aqui, a liberdade é uma conquista coletiva: o nós cria as condições para que cada eu possa florescer. A literatura e o cinema também revelam a tensão entre liberdade subjetiva e objetiva. Na literatura: em 1984, de George Orwell, a liberdade objetiva é esmagada por um regime totalitário. O protagonista, Winston, ainda preserva uma centelha de liberdade subjetiva ao manter pensamentos íntimos, mas sem o respaldo de uma comunidade justa, sua resistência é sufocada. No cinema: em A Vida é Bela, de Roberto Benigni, Guido, mesmo aprisionado em um campo de concentração, preserva sua liberdade subjetiva ao transformar o horror em esperança para o filho. Esse gesto ecoa a liberdade cristã, que não depende apenas das circunstâncias externas, mas da fidelidade interior ao amor. Essas obras mostram que a liberdade não é apenas um conceito abstrato, mas uma experiência vivida, marcada pela tensão entre o íntimo e o social, entre o eu e o nós, e, no horizonte da fé, entre a criatura e o Criador. A Articulação entre Eu, Nós e Deus A liberdade subjetiva e a objetiva não são opostas, mas complementares: O eu precisa do nós para que sua autonomia não seja apenas um sentimento, mas uma realidade concreta. O nós precisa do eu para não se tornar uma massa homogênea, mas uma comunidade de sujeitos singulares. Ambos, eu e nós, encontram sua plenitude quando abertos ao Tu divino, pois é em Deus que a liberdade se torna vocação ao amor e à eternidade. Como afirma São João Paulo II: “A liberdade não consiste em fazer tudo o que se quer, mas em ter o direito de fazer o que se deve” (Veritatis Splendor, n. 35). A liberdade é, ao mesmo tempo, interior e exterior, individual e coletiva, mas também humana e divina. No eu, ela é consciência, escolha e responsabilidade. No nós, ela é direito, reconhecimento e vida em comum. No Tu divino, ela é plenitude, pois só em Deus a liberdade se torna eterna e verdadeira. Assim, a liberdade não é apenas um direito ou um sentimento, mas uma vocação: viver como filhos e filhas de Deus, em comunhão com os outros, construindo uma sociedade justa e aberta ao amor. Em outras palavras: a liberdade é o diálogo constante entre o eu que deseja, o nós que possibilita e o Deus que chama. Leia também: Liberdade e Legado Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 58 edição de Setembro de 2025 – ISSN 2764-3867
- Quando a ordem natural é subvertida
Se o mundo fosse um lugar onde a racionalidade e o senso de proporções imperassem, poucas coisas – ideias, em especial – resistiriam a alguns simples testes de realidade. Não há nada mais eficiente para avaliar uma ideia (ou ideologia, mesmo) do que observar seus extremos: de onde ela veio e o que ela produziu. Tivéssemos essa capacidade, o comunismo, por exemplo, já teria se transformado em objeto de escárnio por boa parte do mundo civilizado, e não ensinado em salas de aula como a solução para as desventuras sociais pelas quais o planeta passa desde que o mundo é mundo. Deveria ser assim sempre: onde e como isso surgiu, e o que produziu de concreto. Mas, infelizmente, não é assim. Uma parte considerável da humanidade é movida pela sede de poder, pela ganância, pela ambição, pela inveja e por um materialismo descontrolado que mantém de pé todo o sistema que convencionamos chamar de globalista, que manipula de forma sagaz todas as nossas medíocres e peculiares fraquezas, em especial, a vaidade. Quando John Milton, que na verdade é o próprio Satanás, personagem vivido por Al Pacino em “O Advogado do Diabo” (de 1997, dirigido por Taylor Hackford e distribuído pela Warner Bro.) , diz no final do filme que a vaidade é o seu “pecado favorito”, ele está revelando a principal ferramenta de controle e manipulação que usa para tornar o mundo um lugar pior a cada dia. É a confirmação da máxima do Rei Salomão que, em forma de alerta, disse: “Tudo é vaidade”, expressão que repete várias vezes no Livro de Eclesiastes. Salomão, homem mais sábio que já existiu, entrou e saiu do sistema. E uma das finalidade desse livro sapiencial é mostrar que ele – o sistema – não vale a pena. Entretanto, toda essa indústria de ilusões não poderia funcionar sozinha sem um suporte sofisticado e capilarizado em todos os setores das sociedades. Uma estrutura insuspeita que foi concebida e é a cada dia mais aperfeiçoada, para garantir que o sistema se mantenha no poder e deixe cada vez mais estreito o campo de ação para qualquer tipo de resistência, mas sem chamar a atenção para isso. Uma arma discreta, perfeitamente disfarçada de modo a parecer à parte de tudo isso, mas que dia após dia garante a eficiência e – o pior – a permanência dos poderes que controlam a humanidade. Algo que se infiltrasse nos sistemas legais internacionais e fosse aos poucos corroendo as estruturas que formam a criação e a aplicação de leis, de modo a sempre blindar aquilo que fosse conveniente para a manutenção do controle. Mas, para que possamos entender esse intrigante e sombrio horizonte, precisamos antes compreender um pouco sobre a natureza das leis, não sob a ótica fria de um materialismo fabricado sob encomenda, mas sob a ótica da preservação da humanidade a partir dos elementos indispensáveis para sua a sobrevivência e continuidade. Porque uma coisa é sobreviver a algo, e outra, é permanecer vivo. A primeira barreira a ser transposta é a da “ordem natural das coisas”. Podendo significar muita coisa ou quase nada, essa expressão curiosamente expõe uma ideia de contradição em si mesma: que existe uma ordem e, portanto, algo ordenado, ao mesmo tempo em que essa ordem é natural, ou seja, é intrínseca à natureza das coisas. Uma ideia que nos ocorre quando olhamos para o mundo à nossa volta além dos homens, com toda a sua complexidade cíclica e ininterrupta, que faz sempre a lua crescente vir depois da lua nova, e o verão após a primavera. É o que temos: a natureza além dos homens é perfeitamente ordenada em qualquer uma de suas dimensões cósmicas. É natural, portanto, essa ordem. Mas por que isso se torna uma barreira a ser transposta? Por conta de uma questão lógica: a ordem não surge por acaso, é necessário que alguém a estabeleça, caso contrário o caos se impõe no ambiente. Mas se eu preciso combater a ideia de uma “ordem natural” e tudo o que dela deriva, ainda que com intermináveis evidências, o que eu preciso fazer não é combater o ordenamento, mas o “alguém” que o gerou. E por isso cada geração tem a sua tentativa de impor uma “Nova Ordem Mundial” que, no fundo, é a tentativa de remover a causa primeira do ordenamento e tudo aquilo que possa ser usado para defendê-la ou subsidiá-la dialeticamente. Então toda a ideia de sociedade como a Ordem Natural das Coisas concebe, dever ser subvertida, deturpada, desconstruída e, por fim, submetida. E isso deve acontecer em todos os níveis existentes de uma sociedade, por isso revoluções após revoluções têm reescrito a histórias das nações de modo a adequá-las a um (admirável) mundo novo, onde o relativismo moral e espiritual dita as regras de cada setor, se subdividindo em intermináveis ideologias e sistemas políticos, que têm como alvo final arrancar o homem da Ordem Natural das Coisas e remodelá-lo à imagem e semelhança de anjos caídos, alijado de freios éticos e cercas de proteção intelectual. E então temos as narrativas. Essa importante ferramenta de manipulação funciona desde os tempos imemoriais, quando, segundo Josefo, Ninrode prometia aos que trabalhavam na construção de sua torre, em Babel, proteção contra o “tirano” que havia devastado o mundo com um dilúvio há pouco tempo (Flávio Josefo. A História dos Hebreus.) . A cada nova era, cada nova geração, uma narrativa após a outra é engendrada com o intuito óbvio e direto de afastar Criador e criatura, em um ataque contínuo e sistemático à tradição judaico-cristã. Cada nova era tem o seu Ninrode. E nem precisa ser um exímio historiador ou um teólogo habilidoso para constatar essa realidade. Basta observar o gradativo e constante declínio moral e espiritual pelo qual a humanidade passa, enquanto a sabedoria original é posta de lado, e narrativas que se travestem de ideologias hostis a ela e teorias críticas avançam sobre toda a estrutura de formação de pensamento que se tem notícia. É preciso adentrar os centros “científicos”, e dar a essas narrativas roupagens de igual natureza, para que o sistema possa inseri-las na sociedade sem ser incomodado. O comunismo não deixou de ser “utópico” para ser “científico” por acaso. Ele precisava ser ensinado nas escolas e universidades como algo além do empírico, em contraponto com os textos sagrados, que passaram a ser tratados como lendas, fábulas, anacronismos e mitos. Ter fé passou a ser sinal de ignorância ou superstição, andar conforme a Lei de Deus, começou a ser tratado com desdém e deboche. A “onda” é ser “descolado” ou “antenado”, sem freios e sem limites. Pouco a pouco todos os elementos essenciais para uma boa educação foram sendo defenestrados dos sistemas educacionais. Disciplina, leitura sistemática, bibliografia rica, avaliações rígidas, “decência e ordem” (I Coríntios 14:40.) , hierarquia, valores, enfim, todo o escopo educacional que produzia alunos de verdade, foi substituído por uma linha de produção de militantes globalistas, de modo que hoje, somente no Brasil, 3 em cada 10 brasileiros são considerados analfabetos funcionais. Na última avaliação do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos, sigla em português), entre 81 países avaliados, o Brasil ficou na 65ª posição em matemática, 53ª em leitura e 61ª em ciências. Mas que ninguém se iluda ou entre em pânico, porque isso encerra duas realidades, sendo que a primeira é: vai piorar. E a segunda: tudo isso foi precisamente calculado por aqueles que tomaram o poder desde a redemocratização, no final dos anos 80. E por que vai piorar? Porque quem tomou o poder precisa de uma sociedade cada vez mais ignorante e alijada do componente espiritual para poder continuar controlando-a. E para isso conta com o poderoso aporte de um sistema que controla mídias, multinacionais, meios de comunicação, sistemas educacionais, “ciências”, políticos, legisladores e qualquer outra instância que possa ser útil para o seu intento. Quando o Espírito Santo revela que “ O mundo inteiro jaz no maligno ” (I João 5:19.), é disso que ele está falando. As revoluções e a Institucionalização do antinatural. Após a era das grandes revoluções, que fizeram a transição entre as idades históricas, até meados da Revolução Russa, o mundo ainda era um lugar de tensões possíveis, então era preciso encarcerar futuras tentativas de ruptura. Os revolucionários sabiam que poderiam ser vítimas do próprio veneno, e se apressaram em redesenhar os arcabouços políticos e ideológicos do Ocidente, a partir de ideias e “teorias” travestidas de “justiça social” e, quado sobrava espaço, de “ciência”, um argumento milenar que, trabalhado de forma eficiente, junto ao medo, produz uma turba patética de fantoches, reciclada de rupturas anteriores. É como diz Gasset: “A rebelião das massas é a mesma coisa que o fabuloso crescimento que a vida humana experimentou no nosso tempo. Mas o reverso do mesmo fenômeno é aterrador; visto por esse lado, a rebelião das massas é o mesmo que a radical desmoralização da humanidade” (Ortega Y Gasset. A Rebelião das Massas.) . Ou seja, era preciso institucionalizar a “anti-rebelião”, criar mecanismos dentro dos Estados, disfarçados sob o manto da “legalidade”, que tornassem o ato de não se adequar à narrativa revolucionária, não apenas uma ameaça, mas um crime. E, diga-se de passagem, não se adequar à narrativa revolucionária nem de longe se resume à ideia de uma contrarrevolução, mas abarca todo o universo herdeiro da tradição judaico-cristã e, consequentemente, um universo conservador. Os homens não são cristãos porque são conservadores, é exatamente o contrário. Mas isso também, em algum momento, seria criminalizado de forma velada. O que se viu foi a criação de um monstrengo que atende pelo nome de juristocracia. Uma ideia de contornos sombrios, assim nomeado pelo cientista político canadense Ran Hirschl, que consiste na transferência de poderes em um estado democrático de direito – ou não necessariamente – para o seu judiciário. É o que em último caso passou a ser chamado de “ditadura da toga”. Essa ideia, supostamente recente, não tem nada de nova, mas, é claro, se intensificou de forma mais contundente no Ocidente globalizado, onde os poderes que operam além das fronteiras internacionais controlam governos inteiros, direta ou indiretamente. A juristocracia é a arma que o sistema usa para determinar o que é ou não é crime de acordo com a narrativa que lhe é mais conveniente. Esse enredo, que mais parece um roteiro saído de uma ficção de Orwell, Huxley ou Wells é algo cada vez mais vivenciado por nações que lutam para se reconhecerem como democráticas. Em países como Venezuela e Nicarágua, por exemplo, isso não é mais necessário. “ A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela não há a quem recorrer” (Rui Barbosa) Obviamente era preciso construir não somente a estrutura jurídica para fazer o mecanismo juristocrático funcionar, mas também a estrutura legal. O direito tal qual conhecemos, em si, carece de precisão, posto que se sustenta em dois pilares absolutamente subjetivos: convencimento e entendimento. Quando Bobbio diz que “não há porque ter medo do relativismo” (Norberto Bobbio. A Era dos Direitos.) , ele sabe exatamente o que pretende. A priori, pensa-se que se trata de uma mera questão dialética, mas não é. Como se diz nos dias de hoje no debate cultural: “Há método”. Relativismo e subjetivismo andam de mãos dadas com sua mamãe conveniência. E a essa família se submete os conceitos de convencimento e entendimento. E todo esse rio caudaloso deságua no que conhecemos como Lei Positiva, a matéria-prima da juristocracia, como bem observa Geisler: “O ‘prisma legal’ da lei positiva, portanto, se carateriza por dois princípios centrais: 1) não há nenhuma ligação necessária entre moralidade e lei; e 2) a validade legal é determinada em última instância em relação a certos fatos sociais básicos. Isto faz que a lei positiva seja subjetiva, porque ela se baseia em normas sociais relativas que diferem em várias culturas, experiências e situações. Os defensores da lei positiva insistem em que a lei é determinada pela humanidade e, portanto, as autoridades humanas são soberanas sobre ela. Este entendimento da lei conduz à ideia de que a humanidade também é soberana sobre a vida e determina o seu valor.” (Norman Geisler. Fundamentos Inabaláveis.) . Notaram alguma semelhança com “Meu corpo, minhas regras” ou “Você pode ser o que quiser”, transformados em algum tipo espúrio de legislação e criminalizando qualquer um que pense o contrário? Entenderam agora o que está protegendo as “teorias críticas”? As mentes por trás deste desastre vão de Nietzsche, com seu niilismo, até o utilitarismo de Bentham e John Stuart Mill, e claro, com a devida contribuição “científica” de Darwin e Marx. O sistema é tão bruto, que cuidou em transformar em lenda urbana as teorias de que nazismo e fascismo só foram possíveis graças ao positivismo. Sim, claro, tudo teoria da conspiração, sem dúvida. Mas só para quem ainda não se debruçou para fazer o contraponto necessário entre o positivismo e a tradição judaico-cristã, e perceber que, assim como Marx, Conte desenvolveu uma, digamos, corrente filosófica, para afastar as pessoas da sua fé. Qualquer um que conheça os fundamentos de uma ou de outra corrente, e não perceber que o alvo, no final das contas, é a fé tradicional, talvez precise olhar de novo como mais calma. Em suma, toda a estrutura pós-moderna está sustentada em pilares globalistas anticristãos, enquanto vende a imagem de “tolerante”, “democrática”, “sustentável” e preocupada com o bem-estar social. É essa mesma estrutura que gera projetos diabólicos como uma agenda que tem como mote “Você não terá nada e será feliz”, e que, como diz Paulo, ao se referir ao anticristo e sua obra: “se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora…” (II Tessalonicenses 2:4.) . E logo, logo, mais cedo do que se imagina, será (será) crime previsto em lei – ou talvez nem seja preciso – se opor a ela. Leia também: O deep state do deep state Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 58 edição de Setembro de 2025 – ISSN 2764-3867
- JUSTIÇA OU VINGANÇA?
Estamos nos aproximando do final de 2025 e nosso país segue dividido. O lema adotado pelo governo federal "União e Reconstrução" nunca passou de um lema. A sociedade segue dividida e o ódio tem se espalhado, substituindo a simples oposição de lados divergentes. É como se não tivéssemos mais facções políticas, mas praticamente torcidas rivais que extrapolam os objetivos de seus objetos de paixão — no caso, a política partidária — e invadem a seara do ódio e da destruição mútua das reputações. No Brasil, a racionalidade, a razoabilidade e a justiça parecem ter cedido lugar ao interesse pessoal, à rivalidade e à vingança. O mais recente exemplo sobre este grave problema nacional se materializa nas manifestações a favor e contrárias à anistia, não só aos presos do 8 de janeiro de 2023, mas também a todos os que foram investigados ou indiciados por supostamente atentarem contra a democracia. Os debates ocorrem nas ruas e nas redes sociais. O observador distraído poderia pensar que a dificuldade de consenso sobre o tema poderia vir de um certo ineditismo desta medida, mas a história nos mostra que a anistia no contexto brasileiro pode ser tudo, menos inédita. Mas será a anistia uma solução para as crises que enfrentamos? Crise institucional, de identidade coletiva e de justiça? No contexto atual, uma anistia semelhante para os envolvidos nos eventos de 8 de janeiro seria mais que uma questão de justiça, considerando que nem todos os participantes cometeram atos de invasão ou depredação. Muitos são idosos, motivados por convicções políticas; outros são jovens, incluindo crianças, mas todos estavam desarmados. As manifestações prévias nas entradas de quartéis se mantiveram pacíficas e não havia qualquer mobilização no sentido de usar de força ou violência contra o Estado, prédios públicos ou pessoas. A análise do desenrolar dos fatos no 8 de janeiro mostra que há evidências de facilitação à invasão, seja ela proposital ou descuido por parte das forças de segurança. Para além dos manifestantes, existem relatos de infiltrados, o que poderia sugerir elementos externos ao grupo principal, que poderiam ter incitado atos criminosos, disparando o conhecido "efeito manada". São muitas questões que, em um clima de normalidade jurídica e institucional, levariam naturalmente à anistia, no mínimo para fins de pacificação. Mas a anistia é um expediente conhecido e aplicado ao longo de nossa história? É quase certo que os leitores lembrarão da famosa "anistia ampla, geral e irrestrita" de 1979. Mas temos apenas este precedente? A anistia tem sido um mecanismo constitucional recorrente na história brasileira, utilizado para restaurar o equilíbrio social e jurídico, após períodos de tensão social, política e até militar. A Lei nº 6.683 de 1979, que concedeu anistia ampla, geral e irrestrita a crimes políticos e conexos entre 1961 e 1979, exemplifica como esta medida pode facilitar transições democráticas, promovendo reconciliação sem comprometer a responsabilização seletiva. Desde 1822, o Brasil concedeu diversas anistias, muitas delas amplas para resolver conflitos políticos, conforme compilações oficiais da Câmara dos Deputados. Essas medidas não ignoravam a lei, mas buscavam equilíbrio ao perdoar atos motivados por contextos coletivos, preservando a ordem sem perpetuar divisões. Em 18 de setembro de 1822, D. Pedro I decretou a anistia aos portugueses opositores à Independência do Brasil. Esse ato visava pacificar o país após a declaração de independência, promovendo a reconciliação e tentando evitar conflitos internos que poderiam enfraquecer o novo império. A anistia permitiu que aqueles que haviam se posicionado contra a separação de Portugal retornassem à vida política e social sem punições. Os eventos posteriores que se estenderam até 1824, como os ocorridos na Bahia, foram tratados com o rigor da lei, consolidando a independência, com foco exclusivo nas dissidências. Nos anos de 1830, período em que estivemos sob as Regências, ocorreram decretos regionais, como o de 11 de outubro de 1833, que concedia anistia em razão das comoções sociais e políticas ocorridas na província do Maranhão. Também o decreto de 4 de novembro de 1833, que concedeu anistia aos oficiais e praças do corpo de artilharia da Marinha pronunciados e presos pelos acontecimentos de outubro de 1831, onde a individualização das participações foi observada, evitando injustiças. Encontramos ainda o decreto de 19 de junho de 1835, que concedeu anistia aos envolvidos em crimes políticos até o fim do ano anterior nas províncias de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Avançando ao período do segundo reinado, em 1º de março de 1845, foi assinado o Tratado de Ponche Verde, concedendo anistia ampla aos participantes da Revolução Farroupilha, com integração de rebeldes ao Exército, promovendo equilíbrio regional e favorecendo a integração nacional. Nos primeiros anos do período republicano, em 6 de setembro de 1895, o decreto do presidente Prudente de Morais anistiou participantes da Revolução Federalista e da Armada, de forma ampla para pacificar e consolidar a República. Em 26 de novembro de 1910, o recém-empossado presidente Hermes da Fonseca sancionou uma lei aprovada emergencialmente pelo Congresso, anistiando os militares participantes da Revolta da Chibata. Após a rendição e devolução dos navios sequestrados, o governo determinou a prisão de todos os participantes anistiados, alegando que um novo plano de insurreição estava em curso. No início da Era Vargas, em 11 de novembro de 1930, o Decreto nº 19.398 concedeu anistia "a todos os crimes políticos, quaisquer que sejam a sua natureza, os seus autores e os seus cúmplices, os delitos decorrentes desses crimes e os crimes militares, desde que praticados com intenção política, ou a serviço de movimento político". Ficavam anistiados também "os funcionários públicos civis e militares, que foram exonerados, demitidos, reformados ou postos em disponibilidade por motivos ostensiva ou ocultamente políticos". Seguindo o governo Vargas, o decreto-lei 7.474 de 18 de abril de 1945 concedeu anistia "a todos quantos tenham cometido crimes políticos desde 16 de julho de 1934". Esta anistia era um ato que visava facilitar alianças políticas, no contexto da crise que o governo atravessava. Em 10 de setembro de 1945, o Decreto-Lei nº 7.943 concedeu anistia aos acusados por crimes de injúrias aos poderes públicos e aos responsáveis por crimes ocorridos por ocasião de manifestações políticas. Com João Goulart, encontramos o Decreto Legislativo nº 18, de 15 de dezembro de 1961, que foi assinado pelo vice-presidente em exercício, Auro Moura Andrade, o que na prática ampliava o alcance do Decreto-Lei 7.474 de 1945. Até que chegamos finalmente a 28 de agosto de 1979, com a famosa Lei nº 6.683, que concedeu anistia ampla, geral e irrestrita a crimes políticos e conexos de 1961 a 1979. A Lei implícita e tacitamente reconhecia os excessos praticados por todas as partes envolvidas durante aquele período e, diante da impossibilidade de julgar à exaustão e individualizar todos os crimes, sem paralisar institucionalmente o país, anistiava a todos. A Emenda Constitucional nº 26, de 27 de novembro de 1985, reforçou o quadro jurídico de anistias. Pedimos perdão aos nossos leitores se todo esse rol de exemplos de anistias históricas pode parecer extenso e cansativo, mas esses precedentes demonstram que anistias amplas servem à justiça ao diferenciar intenções coletivas de atos isolados, evitando punições que exacerbem polarizações, dando oportunidade ao país como um todo a prosseguir na construção de sua história. Os eventos de 8 de janeiro de 2023 envolvem um cenário político e social muito mais complexo e abrangente e que demandaria uma análise muito mais longa, equilibrada, individualizada, e não apenas um resumo maniqueísta que limita todo o contexto e seus participantes a uma série de eventos que acabam por receber o título genérico e abstrato de "atos atentatórios ao Estado Democrático de Direito". Nem todos os participantes invadiram ou depredaram os prédios dos Três Poderes; muitos permaneceram na praça, exercendo direitos constitucionais de manifestação, sem envolvimento direto em vandalismo. Relatórios indicam que uma minoria cometeu excessos, enquanto a maioria era composta por cidadãos comuns, incluindo idosos que participaram motivados por convicções políticas e sentimentos de defesa patriótica, sem histórico de violência. Punir esses grupos de forma indiscriminada violaria princípios de proporcionalidade jurídica, gerando ainda mais divisão e insegurança. Ademais, a escalada dos eventos sugere falhas externas: indícios de facilitação pelas forças de segurança, como omissões em barreiras e alertas ignorados pela Força Nacional, criaram condições para o descontrole. Há relatos de infiltrados — elementos externos que teriam incitado vandalismo para desacreditar o movimento — o que reforça a necessidade de distinções justas, evitando condenações baseadas em narrativas simplificadas. Esses elementos demandam equilíbrio: uma anistia ampla como a de 1979 permitiria ao país retomar sua caminhada institucional no sentido do real atendimento dos objetivos presentes no art. 5º da Constituição Federal. Finalmente, gostaríamos de trazer à lembrança a pena imposta ao alferes Joaquim José da Silva Xavier, o conhecido Tiradentes. Sua morte se deu por enforcamento em praça pública; seu corpo foi esquartejado; sua cabeça salgada e exposta no alto de um poste em Vila Rica (atual Ouro Preto); os demais membros exibidos ao longo do caminho desde a corte (Rio de Janeiro) até Vila Rica; sua casa demolida e o solo salgado para que nada mais ali crescesse. O conjunto cruel e sanguinolento desta condenação servia a um propósito bastante específico: que qualquer pessoa que seguisse os mesmos ideais, soubesse que teria o mesmo fim. Que servisse de exemplo! Os contrários à anistia aos participantes do 8 de janeiro e a todos os demais incluídos nos inquéritos, que se reúnem em torno da suposta defesa da democracia, querem justiça ou vingança? Querem a pacificação ou a criação de milhares de novos alferes, exibidos em praça pública como exemplos atuais dos mesmos objetivos do passado? A resposta parece ser bem resumida na máxima: não ousem estar no caminho dos detentores da democracia. Leia também: Maquiagem e estética para o baile Educacional Brasileiro Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 58 edição de Setembro de 2025 – ISSN 2764-3867
- A atuação da imprensa no contexto político atual
Em 10 de setembro, um homem jovem de 31 anos compareceu diante de uma multidão na Universidade de Utah com um único objetivo: dialogar. Ele realizava este trabalho desde 2012, quando criou a Turning Point USA. Porém, neste dia, alguém resolveu que não queria dialogar. Tudo bem, nem todos querem. É normal alguém não sentar para debater ideias e alegar inúmeros motivos para isso. O que não é normal em uma sociedade saudável é executar seu opositor. E foi isso que fizeram com Charlie. Diante daquela multidão, alguém apertou o gatilho e acertou sua jugular. Imagens captadas de diversos ângulos registraram a fatalidade. A cena era semelhante à de filmes de ação, onde um inocente é alvo de bandidos. Infelizmente, o ocorrido não surgiu das páginas de nenhum escritor de livros policiais ou de novelas. O ocorrido foi real. Horas após o atentado, Charlie não resistiu e veio a óbito. A notícia, semelhantemente às labaredas de fogo que consomem a pólvora, se espalhou pelo mundo. Infelizmente, foi neste dia que tomei conhecimento de sua existência. A primeira pergunta que surge em nossa mente é “Por quê?” . Por que alguém teria interesse em executar em plena luz do dia aquele que somente queria conversar? Bom, se até com Nosso Senhor Jesus Cristo fizeram isso, quem somos nós, meros mortais, para não sofrermos? O que aconteceu com Charlie não é um mero fato isolado, mas há um agravante: a participação da imprensa. Talvez o leitor especule ser um exagero de minha parte falar isso, mas como jornalista, não posso me furtar em dizer a verdade, ainda que doa admitir: a profissão que escolhi aos meus catorze anos se “casou” com a ala progressista e trabalha incansavelmente para destruir seus opositores. Antes, o discurso nas redações tratava de apurar a verdade; hoje, trata-se em dar voz a apenas um lado da história, e criou um inimigo imaginário que povoa as mentes dos mais raivosos: a “extrema-direita” . Fiz uma breve pesquisa sobre quem cunhou este termo grotesco e descobri que é mais antigo do que eu supunha. Contudo, graças à imprensa, as pessoas repetem algo que não fazem ideia do que signifique. Perguntei ao Chat GPT sobre a expressão e eis a resposta: “Não existe um indivíduo específico que possa ser creditado como o criador do termo, mas sim um processo histórico e jornalístico acadêmico de classificação” . Então, já podemos ter ideia da participação da imprensa neste processo. Em uma resposta mais aprofundada, a inteligência artificial me disse: “ O dicionário Merriam-Webster indica que “far right” (extrema-direita / muito à direita) é um termo usado no inglês desde cerca de 1906 (…) Seymour Martin Lipset, um dos teóricos políticos, usou o termo “right-wing extremism”. Então fui pesquisar quem foi este tal Seymour: Sociólogo americano, filho de imigrantes judeus russos, o homem que ajudou a popularizar o termo “extrema-direita” , foi severamente influenciado pela sua juventude, sua origem operária, sua nacionalidade russa, e a influência universitária a aderir ao marxismo , sendo um socialista ativo, embora se declarasse antistalinista. Partindo do princípio de que quem ajudou na popularização deste termo, digamos, abjeto, tivesse aderido à linha marxista, agora a questão seria: o que Karl Marx fala sobre isso? Vamos às citações: “ Os comunistas rejeitam dissimular as suas perspectivas e propósitos. Declaram abertamente que os seus fins só podem ser alcançados pelo derrube violento de toda a ordem social até aqui. Podem as classes dominantes tremer ante uma revolução comunista! Nela os proletários nada têm a perder a não ser as suas cadeias. Têm um mundo a ganhar.” (Manifesto Comunista, 1848) E que dizia o melhor amigo de Marx, Friedrich Engels? “A burguesia não renunciará pacificamente ao poder; ela deve ser derrubada pela força se necessário.” (Anti-Dühring, 1878). Após a Revolução Russa, dois personagens muito conhecidos se inspiraram em Marx e adaptaram suas ideias no país: Vladimir Lênin e Joseph Stalin, Vejamos o que eles têm a dizer: “ O proletariado só pode conquistar o poder através da luta violenta contra a burguesia e o Estado burguês.” (Lênin, O Estado e a Revolução, 1917) “Não existe meio termo com os inimigos do povo. A revolução exige que eles sejam eliminados.” (Stalin, sem data de publicação). Havia um terceiro elemento, que era amigo de Lênin e Stalin, e trabalhou ativamente com seus “camaradas” . Qual a sua opinião? “ A defesa da revolução socialista requer que os contrarrevolucionários sejam esmagados sem piedade.” ( Leon Trotsky , História da Revolução Russa, 1930). Poderia apresentar mais citações, que iriam desde Che Guevara até os líderes do Hamas. Contudo, penso que o material que apresentei seja suficiente. Agora, vamos relacionar isso ao papel – ridículo – ao qual a imprensa tem se prestado. Com a morte de Charlie, as redações passaram a descrever o marido e pai de duas crianças desta forma: “Aliado de Trump e ativista da extrema-direita: quem era Charlie Kirk” (Revista Veja, 10/09/2025) “Influenciador de extrema-direita Charlie Kirk morre após ser baleado em universidade dos EUA” (Carta Capital, 10/09/2025) “Morre Charlie Kirk, influenciador da extrema direita baleado durante discurso nos EUA” (NSC Total, 10/09/2025) “ Aliado de Trump, Charlie Kirk construiu carreira com ataques a LGBTS e negros” (Folha de SP, 10/09/2025) “ Trump se pronuncia após morte de influenciador de extrema direita e acusa ‘esquerda radical’ (NSC Total, 11/09/2025) “ Ativista de extrema-direita morre após ser baleado em evento conservador nos EUA” (Terra, 10/09/2025) Eu sou jornalista, tenho meu DRT e estou na reta final de conclusão do curso. Em três anos e meio de faculdade, nunca vi um único professor citar alguém que não pertencesse à ala progressista – alguns indicam personagens ou veículos mais radicais, inclusive. Todos são exaltados com esmero e presteza. Já quando, em alguma aula específica, citam alguém “outro lado” , o fazem com desprezo, até com certa ironia e ridicularização. Note bem, caríssimo leitor, que são estes profissionais que devem trabalhar para “levar a verdade” para o público, mas que, na realidade, promovem uma verdadeira lavagem cerebral a nível global. E de quem seria este interesse? Se o leitor pensou nos “senhores do mundo” (Rockefeller, Rotschild, Soros e companhia ilimitada, acertou. George Soros fundou a Open Society, organização que financia diversas frentes que a imprensa denomina como “liberdade”: aborto, projetos anti-armamento civil, ativismo LGBT e descriminalização das drogas. E dentro da Open Society, existe o Project Syndicate, voltado exclusivamente para a imprensa. Como recomendava Walter Lippmann, em 1922, “as opiniões devem ser organizadas para a imprensa e não pela imprensa” . Pensando nisso, a organização de Soros reúne um “time” de colunistas que, por uma coincidência absurda (risos irônicos), defendem as mesmas pautas. Novamente, perguntei ao Chat GPT sobre a organização. Eis a resposta: “ O Project Syndicate é uma organização de mídia internacional sem fins lucrativos que publica e distribui artigos de opinião e análises sobre uma variedade de tópicos globais. Os artigos são escritos por líderes políticos, economistas, acadêmicos e outros especialistas renomados. As contribuições são publicadas no site oficial e distribuídas para uma ampla rede de publicações parceiras em todo o mundo .” “ O Project Syndicate conta com cerca de 80 autores que contribuem regularmente com artigos de opinião. Entre os colaboradores estão líderes políticos, economistas, acadêmicos e ativistas de destaque.” “ Os artigos do Project Syndicate são disponibilizados gratuitamente para meios de comunicação em países em desenvolvimento ou com recursos jornalísticos limitados .” “ A organização possui uma rede de 506 meios de comunicação em 156 países, tornando-se uma das maiores fontes de artigos de opinião do mundo . Além disso, oferece seus conteúdos em 18 idiomas, incluindo português, espanhol, árabe, chinês, francês, russo e outros.” Em minha pesquisa, descobri nomes de brasileiros que atuam como verdadeiros ativistas da organização. Vou trazer um nome familiar para muitos: Pedro Abramovay. Abramovay é um advogado brasileiro, formado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, com mestrado em Direito Constitucional pela Universidade de Brasília e doutorado em ciência política pelo IESP-UERJ. Foi assessor especial do então Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. Neste cargo, ele foi um dos coordenadores da Campanha do Desarmamento. Segundo a revista ISTO É, Abramovay é um dos principais nomes da sociedade civil na defesa da descriminalização do uso de drogas. Ele foi indicado para a Secretaria Nacional Antidrogas logo no início do Governo Dilma Rousseff, onde defendeu a ideia apoiada pelo Supremo Tribunal Federal de penas alternativas para pequenos traficantes. Um dos artigos recentes escritos por Abramovay chama-se "Bolsonaro and Trump Have Revealed the Biggest Threat to Democracy" (Bolsonaro, Trump e a era do autoritarismo competitivo). Observem como uma peça do tabuleiro de Soros age: “ Bolsonaro carrega a marca inconfundível do autoritarismo do século XX. Seu ideal político é a ditadura militar encerrada nos anos 1980. Embora nenhum país esteja totalmente protegido contra a erosão democrática, a Constituição brasileira pós-ditadura construiu salvaguardas fortes. Bolsonaro está sendo julgado porque não conseguiu se conter e esperar pela lenta desmontagem da democracia. Tentou um golpe clássico – e encontrou um país preparado para rejeitá-lo.” “… é reconfortante ver Bolsonaro sendo julgado , especialmente quando nenhum líder militar foi condenado por crimes durante o regime. Mas hoje, é o autoritarismo competitivo, e não os golpes militares, que mais ameaçam nossas liberdades. No Brasil, nos EUA e em outros lugares, precisamos deter a decadência gradual das instituições democráticas que permite que eles cheguem ao poder .” Já diz o ditado: quem paga a flauta dá o tom. Na imprensa, infelizmente, é desta forma que vem ocorrendo. Sob uma ótica geral, não existe imprensa livre se, para existir, ela deve se adequar a um discurso que promove a extinção dos opositores. A chamada “mídia tradicional” não se utiliza de frases de Marx, Lênin, Trotsky, Che Guevara ou outros, mas realiza a mesma disseminação de ódio. Mas quem é o extremista mesmo? Leia também: A verdadeira compaixão pela mulher Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 58 edição de Setembro de 2025 – ISSN 2764-3867
- Tirania em vertigem
Aos vinte e seis dias do mês de julho de mil setecentos e noventa e quatro, Maximilien Robespierre, em seu discurso, falou sobre a existência de inimigos internos e conspiradores dentro dos comitês governamentais, sem, contudo, nomeá-los. O tirânico líder revolucionário, em que pese a redundância, haja vista que líderes revolucionários sempre são tiranos, ao afirmar que acreditava existirem inimigos internos e conspiradores, provavelmente, buscava, por meio de ameaça, exigir a lealdade dos membros da revolução, entretanto, o recado passado para os políticos na ocasião era que qualquer um poderia ser considerado um traidor e executado. A fama de tirano conquistada por Robespierre era tamanha que ninguém ousaria ficar em seu caminho e suas ameaças, ainda que vagas, deveriam ser consideradas como um perigo real, pois havia meios para que ele pudesse pô-las em prática. A reação, por óbvio foi de pânico e, em um movimento natural de reação, foi ordenada a prisão e execução de Robespierre. O tirânico líder da Revolução Francesa não adotou tal postura ao acaso, pois a prática, já comum, dos expurgos, na qual os líderes revolucionários exterminam, prendem ou ostracizam aqueles que consideram traidores, suspeitos ou que perderam a utilidade para a revolução, era adotada por Robespierre, todavia, sentido seu desgaste político, o tirano precisava recuar ou intimidar ainda mais os insatisfeitos, de forma que, poderia arrefecer sua postura despótica ou se tornar ainda mais maligno e ameaçar todos que ousassem o desapontar. Na verdade, o tirano Maximilien Robespierre se via acuado , mas sua soberba, somada à falsa percepção da realidade e o temor da responsabilização por seus atos, o fizeram aumentar a agressividade como único meio de se manter no poder. Se, por um lado, o arrogante revolucionário francês se colocava como uma criatura iluminada e, portanto, acima dos homens comuns, o quê o impedia de reconhecer suas falhas, por outro prisma, a loucura o consumiu ao ponto de se confundir com aquilo que falsamente pregava, logo, o tirano se via como única forma de democracia possível, como único líder digno de ocupar a posição de senhor sobre outros, renegando que outrem poderia ser melhor ou mais desejado pelo povo. Sim, caro leitor, o título é uma flagrante ironia àqueles que se julgam bastiões da democracia quando, na verdade, sequer anseiam por uma, usando apenas uma faixada para iludir suas presas e, quando ascenderem ao poder, tornarem-se tiranos dispostos a suprimir o poder do povo, ainda que, para isso, tratem o verdadeiro titular do poder em uma democracia como um amontoado de pequenos tiranos. O mesmo grupo político que admira todo o tipo de ditadura teve a coragem de produzir, com apoio de uma grade empresa de stream americana, um folhetim político fantasiado de documentário no qual a principal mensagem era que a democracia dependia da hegemonia da esquerda, ou seja, a maior ameaça à democracia era a existência de uma oposição e do crescimento dela. Tamanha era dissonância presente na propaganda autointitulada de documentário, que ela apontava que o sistema democrático estava em risco em razão da ascensão da direita e, por conseguinte, a polarização, o quê nada mais é que a verdadeira democracia. Ao condicionar a democracia à hegemonia do espectro da esquerda, resta evidente que não se tratava da defesa de um regime democrático, mas de um rótulo usado para confundir os incautos e reagir ao surgimento de uma verdadeira democracia no Brasil. O termo falsamente empregado pela esquerda revolucionaria era, tão somente, um verniz para encobrir sua tirania, de maneira que, a reação, que alegava ser a ascensão da direita uma ameaça à democracia, era nada além de um discurso dos tiranos que percebiam a aproximação de sua queda. Como Robespierre, a esquerda queria se colocar como única forma justa de governo e se atribuiu o título de detentora do monopólio da democracia. Parece insignificante, e deveria ser, pois cada um deveria ser livre para produzir a obra de ficção que sua mente o permitir construir, mas quando os líderes revolucionários parecem acreditar, ou, ao menos, alimentam seus discursos doentios com premissas falsas que parecem tiradas de um filme de ficção ou de um manicômio. Não por acaso, algumas das mais cruéis ditaduras insistem em se autodenominar como democracias, como a República Popular Democrática da Coreia, em que só o último nome é verdadeiro, ou a extinta República Democrática da Alemanha, que era conhecida também como Alemanha Oriental, além de outros tantos que insistem em usar um rotulo tão descaradamente falso. Assim como Maximilien Robespierre, um tirano que se percebe exposto e encurralado tenderá a se tornar ainda mais agressivo, posto que, lutando para se manter no poder , precisará intimidar todos que considera como ameaça a sua tirania a qual intitulará como democracia para se revestir de um valor o qual, na verdade, não possui. Ao final, o brado de um tirano à beira do abismo é nada além de um grito de desespero por estar encurralado e temendo enfrentar as consequências de seus atos, como um criminoso que, cercado pela polícia, reage como uma fera acuada por não saber se a melhor opção é o cárcere ou a morte. Há déspotas, como Adolf Hitler ou Getúlio Vargas, que preferem a morte ao julgamento, entretanto, não há dúvidas que o sonho de um tirano é morrer como Joseph Stalin ou Fidel Castro, impunes em relação aos crimes que cometeram. Quando o mal se vê desnudo, não podendo negar sua verdadeira natureza, sua tendência é ameaçar para manter seu domínio, um bom exemplo é o do ditador narcossocialista venezuelano Maduro, que, exposto com líder do chamado Cartel dos Sóis, uma organização criminosa assim batizada em razão dos símbolos que o oficialato daquele país ostenta, passou a ameaçar os Estados Unidos da América, responsável por tal exposição, uma vez que o atual Chefe de Estado americano não se olvidou a enfrentá-lo. O narcoditador venezuelano, acuado pela postura dos Estados Unidos da América que decidiu combater o narcossocialismo latino-americano de forma aberta, chegou a desafiar a nação que conta com o maior aparato militar do planeta a atacá-lo no Palácio Miraflores, local que deveria ser sede do Governo Venezuelano e que se encontra encampado há muito pelo Cartel dos Sóis. Na prática, os Estados Unidos da América, ainda sob o governo do Partido Democrata, não reconheceu a eleição de Maduro, considerando que houve uma farsa para dar verniz de legitimidade ao governo estabelecido pela força do Cartel dos Sóis, o Brasil e outros países também se negaram a reconhecer as fraudulentas eleições venezuelanas, ou seja, a ação incisiva do Presidente Donald Trump contra a organização criminosa deveria ter respaldo internacional, seja pela ausência de legitimidade do regime imposto pelo cartel narcossocialista na Venezuela ou pela própria natureza do Cartel dos Sóis. Se, por um lado, o regime venezuelano advém de um golpe de Estado que se prolonga desde Hugo Chavez, por outro prisma, é correto dizer que a organização criminosa que assumiu o controle, pela força, da Venezuela atenta contra o povo daquele país, que é sua vítima, e todas as demais nações que venha a ser inundadas por seus entorpecentes e seus agentes. No caso dos EUA o Trem de Aragua, que conta com o apoio, talvez fraterno do Cartel dos Sóis, é uma ameaça direta. O regime chavista não se dissocia do Cartel dos Sóis, mas em verdade, a esquerda latino-americana parece ter uma aproximação mais que natural com o narcotráfico, como tratado nos artigos intitulados O braço armado da revolução e A guerrilha , algo que o Governo dos Estados Unidos da América parece ter percebido e assumido o compromisso de investigar, expor e combater. O próprio Foro de São Paulo, que no passado escondia sua existência, poderia ser associado aos cartéis de drogas que assolam as Américas, uma vez que, as FARC, organização de narcoguerrilha socialista que passou a ocupar espaço na política colombiana, chegou a participar dos encontros de tal grupo. Se, por algum motivo, os Estados Unidos da América investigar e provar alguma ligação real entre o Foro de São Paulo e os cartéis de drogas que tomaram quase tudo ao sul de suas fronteiras, hipótese na qual estaremos diante de uma verdadeira epifania geopolítica na qual a esquerda, se realmente tais laços existirem, precisará se revelar ou abandonar seu braço armado . Ainda no campo da suposição, se parte da esquerda latino-americana, em quem sabe até da norte-americana, se associou ao narcotráfico não apenas no imaginário ideológico, mas no plano real, como supostamente o regime chavista o fez, seria correto presumir que o Foro de São Paulo pode ser, uma vez somadas suas ramificações políticas, sindicais, narcoguerrilheiras e outros movimentos, a maior organização criminosa do planeta e a preocupação do atual Chefe de Estado americano faria todo sentido. Uma das medidas adotada pelo Governo Trump foi a inclusão de organizações narcoguerrilheiras como grupos terroristas, entre as quais, o Cartel dos Sóis, o Cartel de Sinaloa, o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho, movimento que não foi acolhido pelo Governo do Brasil, bem como, pelo regime venezuelano. O Paraguai, em ato recente, reconheceu o Cartel dos Sóis como organização terrorista, se somando ao esforço de combater e, se possível, erradicar o grupo em seu território. As ameaças de Nicólas Maduro são gritos de uma fera acuada, lutando para não assumir as consequências de suas nefastas ações, que diz ser capaz de lutar contra o imperialismo americano e defender a soberania, não do povo venezuelano, mas a sua própria. O tirano se encastela e tenta colocar no caminho dos Estados Unidos o castigado povo daquele país, para que sirva de escudo como o Hamas faz com os palestinos e os traficantes com os moradores das favelas do Brasil. Restará ao ditador venezuelano implorar por ajuda e se autoproclamar o defensor da democracia daquela nação, quando, na verdade, ele e seu predecessor foram os algozes do povo e da liberdade na Venezuela. De nada adianta avocar o título de bastião da democracia quando se é um violador de direitos, um tirano em estado de flagrante, senão para intimidar os que o cercam. Associar-se ao regime chavista tornou-se uma postura repulsiva que atrai, não apenas a ojeriza daqueles que anseiam a liberdade, mas os canhões da maior potência livre do mundo. Ao estender a mão a Nicólas Maduro, o Presidente da Colômbia, por exemplo, adota a postura esperada de alguém que está ligado à ditadura narcossocialista venezuelana, dando maior robustez a uma suspeita no que tange à atuação do Foro de São Paulo junto à narcoguerrilha, quem sabe como centro nervoso. A Presidente do Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela, Caryslia Beatriz Rodrigues, alvo de sanções dos Estados Unidos da América e da União Europeia por fazer parte do regime narcossocialista do Cartel dos Sóis que tomou o poder naquele país, sendo a face que ocupou o Poder Judiciário, adotou um discurso em defesa da soberania e das instituições que, na verdade, se propõe a defender tão somente o ditador de quem ela é aliada. O Judiciário partidário não parece novidade, mas tudo indica que na parte do continente americano ao sul do trópico de câncer, a situação fica ainda mais evidente, rachando o verniz de democracia e expondo que as ditaduras socialistas, consolidadas ou não, se mantém no poder com uma ajudinha de um poder que abriu mão de sua sagrada imparcialidade para se tornar um agente da mudança, sendo que alguns de seus membros ainda se orgulham de tal distorção. Na América Latina, em que membros e aliados do governo adentram sem quaisquer óbices ou constrangimentos em regiões sob o domínio das mesmas organizações que se recusam a tratar como terroristas , os brados em defesa de uma democracia sem liberdade e da soberania de poucos iluminados sobre um povo que intitulam como pequenos tiranos, nada mais são que demonstrações de desespero diante das consequências de seus atos. Assim como Solano Lopez armou adolescentes para não perder o poder, Nicólas Maduro não se furtará em colocar os mais frágeis em sua linha de frente para que morram, não por seu país, mas pelo cartel que os escravizou. Usando, deliberadamente, o povo que tanto maltratara como escudo para, a exemplo do Hamas, acusar os Estados Unidos da América de um massacre contra inocentes. Talvez algumas autoridades também prefiram destruir todo um sistema bancário, usando o próprio povo como escudo, para não enfrentarem sanções impostas por seus desvios, mas só o futuro responderá qual o limite do poder de tais tiranos. Ao perceberem que seus castelos estão prestes a desabar, os tiranos lutarão para permanecer no poder e ameaçarão atacar os dissidentes e qualquer um que não lhes jurem obediência, mas ao final, como Robespierre, os déspotas encontrarão seu trágico fim. Que Deus proteja o povo venezuelano e guie as forças americanas para que o Cartel dos Sóis, e, se for o caso, o Foro de São Paulo, seja destruído e todo o continente americano possa se ver livre do narcossocialismo, bem como, nos permita conservar a liberdade, a moral e a fé para reconstruirmos as nações ao sul do trópico de câncer. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 57 edição de Agosto de 2025 – ISSN 2764-3867 Leia também: Uma nação perdida
- A horda dos desalmados
Na mitologia grega a Ilha de Ea, Eana ou Aiaia, que supostamente seria o que hoje conhecemos como Monte Círceo, um promontório situado ao extremo norte do Golfo de Gaeta na região do Lácio ao oeste da Península Itálica, é a morada da feiticeira Circe, filha do titã Hélio e da ninfa oceânide Perse. A também conhecida como deusa da feitiçaria, em algumas versões, vivia na citada ilha devido ao castigo imposto pelos senhor do Olimpo, em outras, teria se isolado voluntariamente após ter envenenado seu esposo Sármatas. A feiticeira, segundo a mitologia, era versada em poções e capaz de proezas mágicas consideráveis, mas o episódio vivido por homens sob o comando de Ulisses na Odisseia é o que chama a atenção, posto que, uma vez entregues aos desejos carnais, tornar-se-ia prisioneiros. Na literatura de Homero os comandados do herói Ulisses acabam por aportar na localidade ora conhecida como Ilha de Eana, lar de Circe. O comandante permanecera junto às embarcações e determinou que parte de seus homens buscassem por mantimentos na região, pois o seu objetivo era retornar para Itaca. A fração incumbida de tal missão deparou-se com um castelo cercado por animais selvagens, porém nada hostis, sendo a construção habitada pela deusa da feitiçaria e suas servas. Excetuando um dos membros do grupo, todos se banquetearam e entregaram-se aos prazeres carnais naquela oportunidade, entretanto, foram transformados em suínos. Somente Eurílico voltara ao encontro de Ulisses, haja vista que fora o único a não ser metamorfoseado em porco pelos poderes da feiticeira. Diante do que lhe foi dito, Ulisses decidiu enfrentar Circe, e, com a ajuda do deus Hermes, conseguiu resgatar seus homens, que voltaram a condição de humanos e deixaram a ilha anos depois. Esta breve introdução serve para trazer o tema central do qual precisamos cuidar, considerando que, uma vez entregues aos vícios vos reduzimos a condições grotescas análogas aos animais não racionais. Seduzidos por prazeres momentâneos podemos nos envenenar e destruir aquilo que nos é mais valioso, nossas almas. A maior vantagem que um inimigo pode ter é lutar contra uma tropa adoecida, envenenada, por isso, como acreditar que a flagrante defesa de uma moléstia pode ser resultado de uma visão simplista ou da ignorância. Dar aos que propagam a livre distribuição de uma doença significativa o benefício da dúvida é render-se antes mesmo de se opor. Em verdade, é preciso tratar a descriminalização das drogas com a devida cautela, não por acreditar que se busca a diversão ou decorre de uma visão míope, mas, enfrentando a intenta com a coragem de indicá-la em sua devida face. A defesa dos entorpecentes tem um fim especial que não pode ser ignorado, seja pela sua busca em adoecer deliberadamente uma sociedade, seja pela vontade berrante em minimizar o mal que se alimenta do narcotráfico. O mito da Ilha de Eana não se resume aos usuários de drogas, pode ser facilmente transplantados para outras figuras que se perderam em nome do poder e da fama. Se substituirmos a morada da deusa da feitiçaria por outra ilha veremos diversos seres entorpecidos pela luxúria e pelo poder, perdendo sua humanidade ao passo que se deixam seduzir pelo farto banquete. Ilhas como Caio Pedro, Caras e outras tantas podem ilustrar isso, posto que, uma vez envolto daquilo que se percebe como elite, torna-se fácil esquecer o propósito da existência. Não por acaso assistimos indivíduos outrora famosos que, uma vez despidos de sua vida glamourosa, assumem ter saboreado um banquete sem vida ou se prestarem a papéis indignos para evitar aquilo que consideram a pior das punições, o ostracismo de sua bolha. Normalmente, acreditando-se como um ser superior devido à fama, poder, riqueza e outras formas de se destacar, surge o medo de perder o status social de nobreza , uma visão perturbadora na qual se espia na sarjeta, despojado de seus suntuosos apetrechos de luxo. Naturalmente, aqueles que estão em suas sacadas com uma vistas exuberantes não se importam em deixar sua moral em uma valise enquanto aproveitam o banquete, por tal razão é que assistimos a verdade florescer dos lábios de indivíduos que estavam calados quando usufruíam das pompas da realeza. Não quer dizer que os que expõe as vísceras e os corredores dos castelos tenham se arrependido de participarem das festas, tal reação pode ser tão somente uma forma de tentar atingir seus antigos pares, uma vez que os culpa pelo descarte, ou mesmo, um jeito de conquistar algum tipo de brilho, atraindo a atenção dos que observam sua evisceração. Aponta-se casos curiosos com de pessoas famosas que após seu crepúsculo admitem terem se sujeitado à lasciva alheia como forma de conquistar um espaço nos salões reais, assumindo que se submeteram ao chamado “teste do sofá” e portando-se como vítimas. Em verdade, a relação espúria entre o detentor do passaporte para o “sucesso” e a suposta aquele que, movido pela ganância, aceita o trato, é uma trota de favores perversos cuja vítima é uma pessoa que não participara da relação mas que se viu preterida em decorrência do favorecimento imoral. Se alguém aceita um acordo obscuro para obter um papel, uma promoção ou qualquer vantagem que não lhe era destinada, não pode possar de vítima quando tirou o que seria de outrem através de um subterfúgio. Pode ocorrer o real arrependimento, uma vez que, alguém que tinha medo de perder sua posição social, temia a sombra do ostracismo, acaba por perceber que sua vida era uma ilusão e, por isso, decide servir de farol para que outros não sigam pela mesma rota. Uma espécie de alerta para os que poderiam se aventurar por um caminho, em grande parte das vezes, sem volta . Despencar da sacada do palácio é algo que qualquer um pode experimentar e, como dizia a sabedoria popular, “ quanto mais alto, maior a queda ”. Logo, a sombra do ostracismo assola mais àqueles que possuem maior apego ao poder, fazendo com que os mais poderosos sejam mais desprovidos de escrúpulos e da capacidade de renunciar aquilo que consideram como conquistas, ainda que tenham consciência do mal que significa. Bestializado e sabendo que não há como cair do topo sem sofrer as consequências de suas marcas, o indivíduo sujeitar-se-á ao preço que lhe for exigido, tudo que importa é não ser humilhado por ter perdido seu lugar no palácio, não arcar com as suas ações ou ser “rebaixado” ao nível dos seres humanos comum, deixando de ser especial, na sua concepção do que é ser especial. Protegido no interior de sua fortaleza surge a falsa crença que se é inatingível, não afeto às leis ou mesmos aos males que assolam o mundo, distanciado-se de um mundo real que é vivido pelo homem comum, contudo, implorando a cada dia para não ser lançado para fora das muralhas e se tronar aquilo que despreza, que é justamente, o ser humano que considera comum. Se preciso for, o desalmado mentirá para negar sua existência superficial, seu desprezo pela vida simples e, principalmente sua queda, inventando uma realidade que possa confortar sua imagem de superioridade. Claro, não admitirá nunca que digam que o rei está nu, calando qualquer um que ouse lhe dizer a verdade, criando instrumentos para isso. O poder corrompe e o medo de perdê-lo cega, por isso, natural que seu detentor busque impedir sua queda, não importando como o fará, pois, o temor do ostracismo é maior que qualquer outro, assim, o indivíduo, consumido pela luxúria, buscará ainda mais poder como forma de se perpetuar no centro do palácio, fazendo de suas relações com a humanidade se resumam a movimentos de um jogo no qual impedir a ascensão, ainda que merecida, de outros e a sua derroca é a única coisa que importa. Alguém que se considera superior, capaz de conduzir as vidas alheias com base na sua visão de mundo, sempre buscará uma solução ineficaz, justamente por acreditar que está em um grau de iluminação que pode curar quaisquer que sejam os males da humanidade. Acredita que uma revolução é a forma de destruir um universo carcomido para implantar sua formula milagrosa, entretanto, é ingênuo crer que estas figuras estão no centro nervoso do processo. Um revolucionário pode propor um mundo ideal com base em fantasias que aos serem postas em práticas tornar-se-ão experiências, na melhor das hipóteses fracassadas, mas que podem tomar proporções catastróficas, como o socialismo se provou ser. Nesta primeira análise, deve-se confessar propositalmente rasa, dar-se o benefício ao revolucionário, assumindo que ela apresenta uma teoria que parece boa, entretanto, ao ser colocada em prática acaba sendo falha devido às pontas soltas. Infelizmente, não é possível tratar as coisas através de uma lente que busca enxergar a bondade em tudo, haja vista que, observando o resultado de todas as experiências socialistas, resta evidente que a teoria não é boa porém falha, sendo, na verdade, uma mentira posta a seduzir os incautos, como o banquete da Ilha de Eana. Tudo que se busca ao implantar um sistema socialista é que o grupo responsável por sua condução subtraia o poder do povo, ou de qualquer outro que o detenha, para tomar os salões dos palácios e as ilhas para si. A tirania de um socialista que chega ao poder não decorre de uma doença movida por sua condição, não é um veneno que estava no trono tomado pelo líder dos revolucionários, mas algo que estava em seu próprio ser e o motivou em sua escalada ao topo, privando-o de sua humanidade para atingir seus objetivos. Não por acaso são os déspotas que se destacam em meio a revolução, pois, uma vez privados de consciência, encontram na falta de pudor a liberdade para atropelar seus pares em busca de seu lugar ao sol. Em síntese, o socialismo é uma mentira que parece bonita cujo único objetivo é arrebanhar seguidores para impor um sistema nefasto que garantirá aos seus líderes, e somente a eles, a ascensão ao poder. Seus apoiadores, os idiotas úteis, serão objeto de expurgo tão logo sejam considerados descartáveis, por isso, a elite revolucionária, aquela que tece os fios, sabe que muitos serão desprezados e expurgados, inclusive os membros da própria elite, desde que, em algum momento sejam considerados como ameaça ao poder. O motivo de criar posições antagônicas e afastar cada vez mais pessoas por meio de rótulos decorre da necessidade de identificar quais são os indivíduos mais suscetíveis aos desmandos e os que podem ou precisam ser descartados. Não seria ideal para os líderes se livrar daqueles que possuem qualidade que se pretende explorar, entretanto, se figurar como clara oposição, o obstáculo será removido. É essencial para a dominação que existam camadas que possam se comunicar de forma que as direções estabelecidas pelo centro nervoso sejam perseguidas ainda que não compreendidas. A mente dominante sabe que precisa de toda parte que puder aproveitar, porém, não conseguirá se comunicar com aqueles que estão distante intelectual e socialmente, como o cérebro que precisa ordenar um movimento aos pés, mas que o faz através de uma rede capaz de fazer com que a mensagem seja transmitida. O pé não precisa saber para onde está indo, basta que siga na direção ordenada. A elite revolucionária já capturou intelectuais, ricos, famosos e autoridades que se consideram senhores dos castelos, por vezes o são, mas seus palácios ainda são ligados ao centro nervoso, aquilo que outrora tratamos como a Grande Torre de Marfim . Percebendo que seus servos não eram capazes de controlar grandes parcelas da sociedade, precisaram manter o controle sobre a informação e trouxeram suas vítimas seduzidas por promessas mentirosas . Ao aprisionar os indivíduos através da mentira, criou-se uma expectativa não correspondida e a farsa estava desnuda e para continuar mantendo a revolução, está, naturalmente, se transmutou em algo novo, buscou recrutar aqueles que se consideravam excluídos ou vítimas. Surgem as pautas identitárias , uma forma de cooptar indivíduos ressentidos, ainda que tal sentimento fosse implantado em seus corações pelos próprios líderes revolucionários, que passaram a buscar um lugar entre os seus, precisavam do chamado sentimento de pertencimento, queriam ser acolhidos em um grupo, assim como os gananciosos almejavam os salões dos palácios, os identitários só queria conforto em a afirmação que eram vítimas de um sistema excludente. Tornaram-se presas fáceis. Por outro lado, para que a revolução ocorra, é preciso atingir um número considerável de pessoas, motivando-os a participarem da intenta ou acuando-os para que não se insurjam. Por isso, pode-se observar a constante atuação no sentido de empurrar cada vez mais pessoas para os grupos minoritários, com a sexualização infantil, o imaginário que mulheres precisam defender os movimentos feministas, que homossexuais devem ao ativismo LGBT e que negros sofrem o chamado racismo estrutural, que nada mais é que uma forma indireta de imputar o racismo a todos. Mesmo aqueles que se identificam com determinados grupos podem preferir não se arregimentar como elementos revolucionários, ora por, simplesmente, não se preocuparem com o tal sentimento de pertencimento, não sendo dependentes de aceitação de grupos, ora por perceberem que as pautas identitárias são meros artifícios para os aprisionarem, posto que, quando as minorias se chocam, há uma nítida omissão para garantir que a revolução seguirá os rumos traçados pela Grande Torre, ainda que, uma determinada minoria seja esmagada. Aos revolucionários restou, ou sempre fora a vontade, lançar mão de mais uma fonte mão de obra para a sua intenta pelo poder, sendo preciso capturar ainda mais e pouco se importando com o material humano que iriam dispor, uma vez que consideram aqueles que manipulam para alçar o topo como seres descartáveis, os revolucionários associaram-se ao lumpemproletariado , aquilo que o próprio Karl Marx tratava como trapos humanos, é o significado do termo. Essas pessoas não tinham valores e metas, suas vidas eram relegadas à sorte e, por isso não, tinham nada a perder, viviam como se não houvesse amanhã , como passageiros de um trem desgovernado, sem pensar nas consequências. Escravizar indivíduos desprovidos de valores, sem compromisso com as gerações futuras e fé, torna-se uma tarefa pouco árdua, justamente, pela fraqueza moral que a sociedade apresenta. Não haverá resistência alguma se o alvo do tirano for um grupo de pessoas adoecidas, por isso, o pânico sempre foi uma arma eficiente para dominação. As medidas autoritárias implantadas nos últimos anos não foram questionadas em razão do estado de pavor em que as pessoas se encontravam, o medo foi a chave para que a maior parte da população mundial se curvasse à vontade de uma elite despótica. É necessário manter a constante vigilância e deixar o legado de uma sociedade forte com indivíduos livres, para que cada ferida não seja a origem de uma enfermidade fatal, precisamos cuidar desde os primeiros momentos, não transigindo quando o preço a alma humana. Faz necessário discorrer sobre a questão das drogas. A descriminalização das drogas tem como argumentos a liberdade individual, a renda lícita em substituição à ilícita e a diminuição da violência causada pela “guerra às drogas”, que nada mais é que o enfrentamento entre forças de segurança e os narcotraficantes. Não há como debater o tema sem observar estes três pontos. No que diz respeito à liberdade individual, não há como considerar um dependente químico um ser humano livre, pois o adequado tratamento que lhe dispensado aponta de tal forma. Uma adicto, não importa qual seja o objeto de sua dependência não poderá ser tratado como livre, isso porque, sua dependência está adstrita a uma substância que lhe torna mais fraco, como é o caso de todas as drogas. No que concerne a transferência do mercado ilícito para o lícito, o argumento mais inconsistente de todos, todavia, que seduz grande parte das pessoas, pois parte da premissa que a legalização das drogas traria renda ao Estado ao passo que uma indústria legal das drogas absorveria o mercado atualmente nas mão dos criminosos, esvaziando assim a renda das organizações criminosas. Trata-se de uma narrativa vazia, pois há pontos que devem ser enfrentados. De fato, o Estado teria um ganho em sua arrecadação devido aos impostos, mas, por outro lado, mão há como sustentar que um ente que decorre da associação de pessoas possa assumir uma postura torpe ao ponto de alimentar-se de uma moléstia que sabe ter como essência aprisionar os indivíduos enfraquecendo-os. Seria como um indivíduo utilizasse o autoflagelo para aferir lucro , o que de fato alguns fazem, mas não aqueles que estão presos a valores morais. Por outro lado, a indústria legal teria alguns problemas no que diz respeito aos seus “clientes”, pois como se observa nas ruas das grandes metrópoles, os usuários de entorpecentes acabam reduzidos a uma horda zumbi se capacidade financeira, de forma que precisaram se socorrer do mercado negro para manter sua dependência. Os habitantes de uma “cracolândia”, termo que se refere aos locais de uma cidade em que usuários de drogas se reúnem, em regra, não tem meios de proverem seu sustento, recebendo doações de comida e, por vezes, trocando objetos por entorpecentes ou valores. Tais objetos, não raros os casos, são produtos de ilícito, como metais retirados de fiação e portões por meio de furto. Saber como estes, parafraseando Karl Marx, “trapos humanos” poderiam sustentar uma cadeia produtiva sem que praticassem outros crimes é quase um exercício de imaginação inalcançável, entretanto, isso não parece ser um problema para quem vende a ilusão da mentira para chegar ao poder e enfraquece seus pares para lá se manter. Naturalmente, projetamos a imagem de saques sendo realizados para manter o vício e uma indústria que prospera através drenando todas as outras, reduzindo a zumbis todos os seus consumidores. Por fim, temos a ideia, também mentirosa, que ao retirar a renda das organizações criminosas e absorver sua mão de obra, o mercado lícito de entorpecentes acabaria com a chamada “guerra às drogas”, o que, lamentavelmente é repetido como um mantra diabólico a ponto de convencer grande parte das pessoas. O mercado legal não precisaria, e não absorveria, a mão de obra do narcotráfico, posto que, uma empresa não recrutará um menor de idade para avisar quando da presença de agentes de segurança ou de membros de sua concorrente, bem como, não precisará de indivíduos que são pagos com seus produtos, são semialfabetizados e usam da violência bestializada como único meio de vida. O lumpemproletariado que porta fuzil nas comunidades não tem serventia para uma empresa que atue dentro dos parâmetros legais, logo, essa massa precisará obter outras fontes de receita. A extorsão aos moradores e comerciantes que estão sobre o julgo dos criminosos, bem como, o roubo de quaisquer bens e o controle sobre serviços nas localidades em que há controle das organização, já se provaram fontes de receita capaz de manter a guerrilha, portanto, manter o poder sobre as pessoas acaba sendo mais importante que determinada atividade como fonte de renda. A trilogia O Poderoso Chefão (The Godfather), ilustra muito bem como organizações criminosas podem migrar de atividade para se manter no poder, ao apresentar uma família de mafiosos que da venda ilícita de bebidas alcoólica passam para o jogo ilegal após o fim da Lai Seca nos Estados Unidos da América, outras famílias se envolvem com entorpecentes naque mesmo momento. A narcoguerrilha utiliza o comércio de entorpecentes como sua principal fonte de renda e forma de arregimentar indivíduos para sua horda de desalmados, uma vez que, desesperados por sua adicção, os dependentes químicos aceitam qualquer tipo de situação para ter acesso à única coisa que lhes importa, tornando-se um refém irracional das forças revolucionárias. Entretanto, ainda que não houvesse usuários de drogas, a guerrilha permaneceria lutando por poder. Os tiranos, necessariamente precisam escravizar outros para seus nefastos fins, seja pela guerra de classes, pelas pautas minoritárias ou pelo envenenamento através das drogas, sendo certo que a degradação moral é sua maior arma contra uma sociedade que busca se ver livre. Assim como a feiticeira Circe, apresentarão uma face sedutora e um belo banquete, mas no final reduzirão os desalmados a porcos e subtrairão suas almas, pois, na revolução, os que primeiro perderam sua essência humana foram os líderes revolucionários. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 19 edição de Setembro de 2022 – ISSN 2764-3867
- Maquiagem e estética para o baile Educacional Brasileiro
Nos anos 1990, o Brasil enfrentou uma encruzilhada histórica que moldou seu futuro educacional. Em meio a esforços para estabilizar uma economia marcada por décadas de inflação galopante, o país buscava também se reposicionar no cenário global, demonstrando capacidade de modernizar suas estruturas sociais e institucionais. Nesse contexto, a educação emergiu como peça central nas negociações com organismos multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, que condicionavam financiamentos a reformas estruturais. A questão central, porém, permanece: até que ponto os acordos internacionais firmados para melhorar indicadores educacionais promoveram mudanças reais na qualidade do ensino? Ou será que, na ânsia por cumprir metas externas, o Brasil recorreu a soluções artificiais que maquiaram problemas estruturais sem resolvê-los? Na verdade, o leitor já deve imaginar a resposta a esta pergunta, mas vamos tentar entender como tudo se desenrolou até chegarmos onde estamos. O sistema educacional brasileiro, antes mesmo das pressões externas dos anos 1990, já carregava um fardo de problemas históricos. A escola pública enfrentava taxas alarmantes de evasão, repetência em massa e desigualdades profundas no acesso à educação. O cenário era de exclusão sistêmica: milhões de crianças, especialmente em áreas rurais e periferias urbanas, não completavam o ensino fundamental, enquanto a repetência se tornava quase uma norma, perpetuando ciclos de fracasso escolar e desmotivação. Dados do IBGE da época mostram que, no início dos anos 1990, cerca de 20% dos alunos do ensino fundamental repetiam o ano, e a taxa de conclusão desse nível de ensino mal ultrapassava 50% em algumas regiões. Nesse contexto, durante os governos de Fernando Henrique Cardoso (1995–2002), o Brasil intensificou sua parceria com o Banco Mundial, aceitando condicionalidades que vinculavam empréstimos à melhoria de indicadores de acesso e permanência escolar. A proposta era ambiciosa e, em teoria, promissora: universalizar a matrícula, reduzir a evasão e promover a democratização do ensino. Para isso, foram implementadas reformas estruturais, como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), criado em 1996, que direcionou recursos para o ensino básico, e a municipalização do ensino fundamental, que buscava descentralizar a gestão educacional e aproximá-la das realidades locais. A meta de universalizar a educação, amplamente defendida nessas negociações, implicava não apenas ampliar o acesso, mas garantir permanência, conclusão, qualidade e equidade no sistema educacional. No entanto, o Brasil concentrou esforços em indicadores quantitativos, como matrículas e fluxo escolar, negligenciando elementos cruciais como a qualidade do aprendizado e a redução das desigualdades regionais e sociais. Dados do IBGE mostram que, no início dos anos 2000, o país alcançou taxas de matrícula próximas de 100% no ensino fundamental, um marco significativo. Contudo, avaliações como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) revelaram que cerca de 40% dos alunos do 5º ano apresentavam desempenho crítico em leitura em 2003. Além disso, disparidades persistiam: escolas em regiões pobres, como o Norte e o Nordeste, frequentemente operavam sem infraestrutura básica, como água potável ou saneamento, enquanto grupos vulneráveis, como indígenas e alunos com deficiência, enfrentavam barreiras adicionais, como a falta de materiais didáticos adaptados ou professores preparados. Esse descompasso evidencia que a universalização, em sua plenitude, exigia muito mais do que números favoráveis. No entanto, a tradução desses objetivos em políticas públicas revelou fragilidades. Medidas como a introdução de ciclos de progressão continuada, adotada em estados como São Paulo a partir de 1998, e sistemas equivalentes, como a “progressão parcial” no Rio de Janeiro, acabaram por distorcer o propósito original das reformas. A lógica por trás dessas políticas era aparentemente simples, mas perigosa: se altas taxas de reprovação comprometiam os indicadores exigidos por organismos internacionais, bastava reduzir as barreiras para a aprovação, independentemente do aprendizado efetivo. Assim, nasceu a polêmica prática da “aprovação automática”, um termo que, embora nunca oficialmente adotado, capturava a essência de um sistema que priorizava o avanço formal dos alunos em detrimento da qualidade educacional. Em São Paulo, a progressão continuada foi justificada como uma forma de combater a estigmatização da repetência e manter as crianças na escola. No Rio de Janeiro, a progressão parcial permitia que alunos avançassem mesmo sem dominar conteúdos essenciais, desde que cumprissem requisitos mínimos. Essas políticas, embora " bem-intencionadas ", criaram um paradoxo: os indicadores de fluxo escolar melhoraram significativamente, com aumento nas taxas de matrícula e redução da evasão e da repetência. Dados do Ministério da Educação mostram que, entre 1995 e 2005, a taxa de aprovação no ensino fundamental subiu de cerca de 70% para quase 90% em algumas regiões. Contudo, avaliações internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), revelaram um quadro alarmante: os alunos brasileiros avançavam de série, mas apresentavam desempenho pífio em leitura, matemática e ciências, colocando o Brasil consistentemente entre os últimos colocados no ranking global. Esse contraste expôs uma verdade incômoda: o Brasil havia transformado suas escolas em “fábricas de aprovação”, onde o progresso nos registros oficiais não correspondia ao domínio real dos conteúdos. A ênfase em metas quantitativas, como as exigidas pelo Banco Mundial, acabou incentivando soluções de curto prazo que negligenciavam questões estruturais, como a formação inadequada de professores, a infraestrutura precária das escolas e a ausência de políticas robustas de apoio ao aprendizado. Por exemplo, enquanto o Fundef trouxe avanços no financiamento, a distribuição desigual de recursos entre municípios perpetuou disparidades regionais, com escolas em áreas pobres frequentemente operando com orçamentos insuficientes para atender às necessidades básicas. Além disso, a pressão por resultados rápidos levou a uma cultura de accountability que remete à transparência nos atos, nas metas, nos objetivos, nas entregas de resultados, na definição de responsabilidades e, claro, na prestação de contas. A essência do sistema estava baseada em números, mas carente de foco na qualidade pedagógica. Avaliações nacionais, como o SAEB, começaram a revelar que muitos alunos concluíam o ensino fundamental sem habilidades básicas de leitura e escrita. Esse cenário evidenciava que as reformas, embora bem-sucedidas em ampliar o acesso, falhavam em garantir aprendizado significativo. As reformas educacionais dos anos 1990 e início dos 2000 foram impulsionadas por uma combinação de pressão internacional e aspirações legítimas de modernização. No entanto, o Brasil pagou um preço alto pela priorização de metas numéricas em detrimento da qualidade. Ao transformar escolas em máquinas de aprovação, o país esvaziou o sentido pedagógico do progresso escolar e formou uma geração de alunos que, embora registrados como bem-sucedidos nos índices oficiais, carecia de competências essenciais para a vida e o mercado de trabalho. Erro de cálculo ou premeditação? Os fins justificavam os meios? O resultado seria tão imprevisível que nossos burocratas não conseguiriam adivinhar? Certamente não, havia método e interesses personalistas envolvidos. O cálculo político se sobrepôs ao idealismo do magistério. O legado desse período é ambíguo: por um lado, o Brasil alcançou avanços inegáveis na ampliação do acesso à educação, com taxas de matrícula no ensino fundamental próximas de 100% já no início dos anos 2000. Por outro, a incapacidade de alcançar a universalização plena da educação — que combina acesso, permanência, conclusão, qualidade e equidade — reflete o preço pago pela priorização de metas imediatistas. A fragilidade na qualidade do ensino, evidenciada por avaliações como o PISA, e as desigualdades persistentes, especialmente para grupos vulneráveis como indígenas e alunos de regiões pobres, mostram que o Brasil ainda está longe de um sistema educacional verdadeiramente inclusivo e transformador. É verdade que o Banco Mundial e outros organismos internacionais não prescreveram diretamente a “aprovação automática” ou políticas similares. Contudo, ao impor metas rígidas e prazos apertados, contribuíram para a adoção de atalhos que privilegiaram estatísticas em vez de transformações reais. Para além deste mecanicismo, os burocratas não consideraram o fator "corrupção endêmica", que assola nosso país. Hoje, ao enfrentarmos os desafios do presente, fica evidente que educação de qualidade exige mais do que números bonitos. Superar esse legado demanda políticas que enfrentem as desigualdades estruturais, invistam na formação docente, modernizem currículos e priorizem o aprendizado efetivo, rompendo com a lógica de soluções de fachada que marcaram as últimas décadas. O Brasil aprendeu, a duras penas, que encher estatísticas não é sinônimo de educar. Cabe agora corrigir o rumo, com políticas que conciliem inclusão e excelência, para que a escola pública seja, de fato, um motor de transformação social. Ao finalizar este artigo, é no mínimo um gesto de responsabilidade reconhecer que décadas de erros, incidentais ou propositais, não serão resolvidas apenas com o uso de uma caneta Bic ou de uma Montblanc. Antes de corrigir a educação, é fundamental curar a corrupção, iniciando um ciclo virtuoso em que a responsabilidade no trato da res publica e a seriedade na condução da educação das novas gerações se retroalimentarão. Só então teremos o Brasil do futuro — com um futuro sustentável — até lá, segue o baile. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 57 edição de Agosto de 2025 – ISSN 2764-3867
- Liberdade e Legado
Quando o Direito vira imposição A liberdade é um conceito que pulsa entre o concreto e o abstrato, entre a história e a consciência. Ao escrever sobre suas dimensões objetiva e subjetiva, buscamos mais do que uma definição — buscamos compreender como ela se manifesta, se esconde e se transforma ao longo do tempo. Vivemos em uma era que se autoproclama livre. A liberdade é o mantra das democracias modernas, o slogan das redes sociais, o argumento dos debates públicos. Esse conceito tão exaltado quanto mal compreendido atravessa séculos como bandeira de luta, promessa de emancipação e, mais recentemente, como produto de consumo. Da guilhotina à hashtag, ela mudou de forma, mas não de função: continua sendo o instrumento pelo qual se mede o que é aceitável, o que é justo, o que é humano. Mas há algo inquietante nesse cenário: a liberdade deixou de ser uma conquista e passou a ser uma exigência. Somos obrigados a ser livres. E essa obrigação, paradoxalmente, tem nos tornado menos livres. A Revolução Francesa é frequentemente lembrada como o marco fundador da liberdade moderna. O fim do absolutismo, a queda da Bastilha, a Declaração dos Direitos do Homem — tudo isso compõe o imaginário de uma sociedade que finalmente se libertou das amarras da tirania. Mas a história, como sempre, é mais complexa. Como vimos no artigo anterior, a mesma revolução que proclamou liberdade, igualdade e fraternidade também instaurou o Terror, perseguiu dissidentes e justificou a violência como meio de purificação política. Foi, sem dúvida, um marco na construção da modernidade política. Contudo, como visto no artigo anterior, a tensão entre emancipação e violência revela um paradoxo que atravessa séculos: a liberdade, quando absolutizada ou instrumentalizada, pode se tornar seu próprio oposto. Rousseau, ao propor que o homem seja “forçado a ser livre”, não estava defendendo tirania, mas apontando para um dilema entre autonomia individual e pertencimento coletivo. Dilema que ainda nos assombra: a liberdade como contrato social exige renúncias. O problema surge quando esse contrato é manipulado por quem confunde vontade geral com vontade de poder — seja um rei, um partido ou um algoritmo. Historicamente, a liberdade foi um ideal perseguido por séculos. Lutou-se contra tiranias, contra censuras, contra estruturas que oprimiam corpos e mentes. Hoje, o espírito revolucionário sobrevive em slogans e discursos, mas perdeu sua profundidade filosófica. A liberdade virou performance. E a performance, como sabemos, exige plateia, aplauso e roteiro. Temos uma inversão curiosa: não se trata mais de lutar por liberdade, mas de se submeter a ela. A sociedade contemporânea construiu um dogma — quem não se encaixa na narrativa dominante da liberdade é visto como retrógrado, perigoso ou simplesmente ignorante. Na sociedade atual, a liberdade não é apenas um direito — é um dever. Espera-se que sejamos livres, autênticos, empoderados. O dilema “meu corpo, minhas regras” é um exemplo emblemático. Tornou-se um imperativo moral absoluto, que exclui qualquer nuance, qualquer debate, qualquer reflexão sobre os limites entre o eu e o outro. A liberdade corporal, quando transformada em dogma, deixa de ser escolha e passa a ser obrigação ideológica. Não se pode discordar, ponderar ou questionar — sob pena de ser cancelado, silenciado ou rotulado. Nesse contexto, a liberdade não liberta: ela constrange. É nesse cenário que se impõe uma reflexão mais profunda sobre os limites da liberdade subjetiva quando desconectada da estrutura objetiva. É importante reconhecer que a filosofia não se limita à exaltação ou condenação: ela interroga, provoca e desestabiliza certezas. E isso se estende a todas as esferas da vida. Essa liberdade obrigatória se manifesta também nas escolhas cotidianas. Somos livres para escolher nossa identidade, nossa profissão, nossa verdade — desde que essas escolhas estejam dentro dos limites do que é socialmente aprovado. Somos bombardeados por discursos que exaltam a autonomia: escolha sua carreira, seu gênero, sua identidade, sua verdade. A liberdade virou um produto — e como todo produto, tem embalagem, marketing e prazo de validade. A ilusão da escolha é reforçada pelas redes sociais, palco principal da liberdade performática. Ali, somos livres para dizer o que pensamos — desde que o pensamento esteja dentro dos limites do algoritmo. A liberdade de expressão virou liberdade de repetição. No Brasil contemporâneo, temos liberdades garantidas constitucionalmente — expressão, voto, associação. Mas será que essas liberdades são plenamente vividas? Quando decisões políticas são tomadas em gabinetes fechados, quando o acesso à informação é desigual, quando a participação cidadã se limita ao espetáculo eleitoral — estamos diante de uma liberdade performada, não experienciada. E quando alguém ousa sair da linha, o sistema reage com força: denúncias, bloqueios, exclusões. A liberdade, nesse contexto, é vigiada, monitorada e punida. A liberdade subjetiva, nesse contexto, pode se tornar uma ilusão confortável. Sentimo-nos livres porque escolhemos, mas não sabemos o que nos é negado. Ao questionarmos os limites da liberdade vivida, propomos que essas conquistas só se realizam plenamente quando acompanhadas de consciência crítica e estrutura transparente. A verdadeira liberdade não está apenas em agir conforme a própria vontade, nem apenas em obedecer a leis justas. Ela floresce quando há espaço para o diálogo, para o dissenso, para a escuta. Talvez o aspecto mais perigoso dessa nova configuração seja a tirania disfarçada de boas intenções. Em nome da proteção, da inclusão, da segurança, propõem-se medidas que restringem justamente aquilo que se diz defender. Um exemplo claro é o debate sobre a regulação das redes sociais. A proposta parece sensata: combater fake news, proteger usuários, evitar discursos de ódio. Mas quem define o que é verdade? Quem decide o que é ódio? Quem fiscaliza os fiscalizadores? A regulação, quando feita sem transparência e sem limites claros, transforma-se em censura. E a censura, mesmo quando bem-intencionada, é sempre uma ameaça à liberdade. A história nos ensina que regimes autoritários raramente se apresentam como tal. Eles chegam com promessas de ordem, de justiça, de progresso. E é justamente por isso que são perigosos: porque seduzem, convencem, conquistam. A liberdade, para sobreviver, precisa desconfiar das boas intenções. Precisa resistir à tentação de entregar sua essência em troca de segurança. A Revolução Francesa nos ensinou isso — mas parece que esquecemos. Estamos, portanto, diante de um paradoxo: quanto mais se fala em liberdade, menos ela é vivida. A liberdade verdadeira não é aquela que nos é imposta, mas aquela que escolhemos com consciência, com responsabilidade, com disposição para o risco. Ser livre é poder dizer “não” — inclusive ao discurso dominante da liberdade. A liberdade não é uniforme, não é absoluta, não é confortável. Ela exige conflito, exige dúvida, exige coragem. E talvez por isso esteja sendo substituída por uma versão mais palatável: a liberdade domesticada, higienizada, aprovada por comitês e algoritmos. Essa versão não incomoda, não provoca, não transforma. Mas também não liberta. O que resta, então, é a liberdade interior — aquela que não depende de aprovação externa, que não se curva às tendências, que não se vende em pacotes ideológicos. Essa liberdade é silenciosa, discreta, resistente. Ela não precisa ser exibida, nem defendida com slogans. Ela vive na recusa, na dúvida, na escolha consciente. E talvez seja essa a liberdade que mais incomoda: a que não se deixa capturar. A que não se transforma em bandeira. A que não se presta à tirania das boas intenções. Porque essa liberdade, quando vivida de forma autêntica, revela o que muitos preferem esconder: que o verdadeiro poder está em não se deixar obrigar — nem mesmo a ser livre. Se a liberdade performática nos aprisiona em narrativas ideológicas e algoritmos, talvez seja hora de olhar para uma liberdade que transcende o tempo, o poder e a cultura — a liberdade espiritual. Na tradição cristã, a liberdade não é apenas um direito humano, mas um dom divino. “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gálatas 5, 1) — não uma liberdade que se impõe, mas que se oferece; não uma liberdade que exige, mas que convida. Essa liberdade não se confunde com autonomia irrestrita, nem com a ilusão da escolha mercadológica. Ela é a liberdade de viver segundo a verdade, mesmo quando essa verdade é incômoda. É a liberdade de servir, de amar, de renunciar. Paradoxalmente, é na entrega que se encontra a libertação. Como dizia Agostinho, “Ama e faz o que quiseres” — porque o amor verdadeiro orienta a vontade para o bem. A liberdade interior, que este texto evoca, encontra eco profundo na fé: é o espaço onde a consciência se encontra com o eterno, onde o ser humano deixa de ser escravo de si mesmo para se tornar filho. Não se trata de submissão cega, mas de confiança radical. A fé não anula a liberdade — ela a purifica. E é nesse encontro entre liberdade e transcendência que o ser humano pode finalmente dizer “sim” sem medo, e “não” sem culpa. Em tempos de tiranias disfarçadas de boas intenções, a liberdade espiritual permanece como resistência silenciosa. Ela não precisa de palco, nem de aplausos. Vive na escuta, na oração, na coragem de ser autêntico diante de Deus e do mundo. Porque, no fim, a verdadeira liberdade não é fazer tudo — é saber o que não se deve fazer. E isso, talvez, só se aprende quando se olha para o alto. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 57 edição de Agosto de 2025 – ISSN 2764-3867
- A verdadeira compaixão pela mulher
Nos últimos tempos, o Instagram incorporou algumas características do Facebook. Uma delas é a visualização de postagens de perfis que não seguimos, e, em nosso ímpeto, acabamos por comentar. Às vezes, esta atitude pode nos trazer algumas dores de cabeça, mas, a depender do caso, vale a pena. Exponho neste artigo minha experiência pessoal sobre isso: dia desses, no Instagram, deparei-me com uma matéria do portal Metrópoles, cujo título é: “Estuprada, mulher tem intestino e útero furados durante aborto legal” . Antes de analisar as diversas problemáticas, vamos conhecer esta história. A vítima, que era casada, sofreu uma violência sexual em uma rodoviária no Distrito Federal. Não sabemos a razão, a jovem de 24 anos não relatou o fato a seu marido. Contudo, ele acabou por descobrir e a agrediu. No registro do boletim de ocorrência por agressão, a jovem relatou o estupro. E a situação, que já estava ruim, se transformou em um calvário. A moça foi levada para realizar o procedimento de aborto no Hospital Materno Infantil (o que seria irônico se não fosse terrivelmente trágico). O local, que deveria servir para trazer à luz foi utilizado para ceifar a vida de um inocente. E para piorar, a jovem foi vítima de nova violência: ela teve o intestino e o útero perfurados durante o procedimento, e agora, ela usa uma bolsa de colostomia. Ao me deparar com esta situação tão trágica, me comovi por ela: sem marido, em um abrigo com a filha de dois anos, submetida a um procedimento nefasto e, na mesa cirúrgica, foi tratada como carne de açougue. Imediatamente após isso, lembrei do lema número um das feministas: “Aborto seguro salva vidas” . E então, na postagem, eu questionei: “Ué, mas não era o 'aborto legal' que salvaria vidas?” . E aqui inicia a minha saga. Imediatamente, uma enxurrada de cometários de pessoas com QI -83 vieram me acusar de estar zombando da vítima. Jamais! Meu questionamento nunca foi direcionado a esta moça, e sim para as defensoras do ato mais nefasto praticado pelo ser humano. Selecionei alguns para que o leitor veja como atua a turma do “Mais amô, pu favô”: “essa deve tirar -2 na redação do enem” “impressionante, 36 anos e não sabe interpretar texto” “o tamanho do eco que faz nessa sua cabeça é surpreendente” “você devia estar mugindo e pastando por aí, sério” “Não dá pra esperar outro comentário da seita Bolsonarista” “seu comentário provando que sua laia é completamente desprovida de inteligência” “Desprovida de raciocínio” “tu é burra ou se faz??” “chegou a bolsominion que faltava” “imagina ter falta de cognição assim que lindo” “no perfil da infeliz ainda fala de ”Jesus ” (que é meu sobrenome, diga-se de passagem) “mulher conservadora é uma piada tão grande kkkk” Contudo, de todos os comentários, os que mais me chamaram a atenção foram aqueles que desejaram que eu fosse violentada. Trago-os aqui ao leitor: "espero q passe pelo msm q ela pra desenvolver sua empatia (...)E sim eu volto a desejar que você passe pela mesma situação que ela, ou que eu passei, porque gente da sua laia só sabe a hora de calar a boquinha quando começa a usar o mesmo sapato" Antes de tudo, se faz necessário explicar aos jornalistas o óbvio: não existe aborto legal no Brasil. O que existe são exceções, três em específico, que constam no Art. 128 do Código Penal. Logo, dizer que a moça foi submetida a um “aborto legal” é o que Donald Trump cunhou como fake news . Outro ponto: a Organização das Nações Unidas (ONU) e seus tentáculos disseminaram o termo saúde reprodutiva . Bom, se a mulher realiza um procedimento onde precisa ser introduzida uma agulha de 30 centímetros, com solução salina, cujo objetivo é alcançar o coração do bebê, e ele morre em consequência de uma parada cardíaca, e esse bebê precisa ser cortado em diversas partes para ser retirado, onde que isso pode ser chamado de saúde? Até porque, utilizando os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o aborto é considerado a quinta causa de morte materna no Brasil. E mais: aborto seguro , não existe. Vou reescrever ipsis literis um trecho de uma reportagem que relata isso: "Uma das mulheres, A.N.T., 29, saiu do estado (da Geórgia) para fazer o procedimento na Carolina do Norte, mas perdeu o horário da consulta em decorrência de um acidente de trânsito na estrada. Ela foi instruída a usar pílulas abortivas - mifepristona e misoprostol-, UM DOS MÉTODOS CONSIDERADOS SEGUROS e recomendados pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Já de volta à Georgia, "A" precisou ir ao hospital por sangramento excessivo e lá descobriu que havia tecido em seu útero. Um procedimento de dilatação e evacuação resolveria o problema, mas os médicos, temendo represálias, decidiram esperar até não haver batimento cardíaco fetal. A espera culminou numa infecção generalizada e, quando o procedimento foi autorizado, "A" não sobreviveu à intervenção. Ela deixou um filho de 6 anos." E atenção a um trecho de um artigo científico (antes que me chamem de “negacionista”), publicado na Revista PubMed Central: “Na Finlândia (…) o risco de morte por aborto induzido legal é relatado como sendo quase quatro vezes maior do que o risco de morte por parto”. "…o risco de mortalidade em gestações subsequentes ao aborto aumenta devido a morbidades induzidas pelo aborto, como parto prematuro e placentação anormal." “Nos Estados Unidos, a taxa de mortalidade por aborto induzido legal realizado com 18 semanas de gestação é mais que o dobro daquela observada em mulheres que tiveram parto vaginal.” " O risco de morte por aborto legal aumenta em 38 por cento a cada semana após oito semanas de gestação. Está documentado que o aborto induzido, geralmente em gravidez avançada, leva ao aumento do comportamento de risco que resulta em morte por overdose de drogas, suicídio ou homicídio." Ah, e mais um trecho deste artigo maravilhoso para que o leitor possa mostrar (ou “esfregar”, como queira) no nariz dos defensores do ato: “Tem havido desinformação generalizada sobre o aborto legal. Parece que as mortes raramente ocorrem e o aborto é considerado um procedimento muito seguro. Ao discutir a mortalidade relacionada à gravidez, é preciso reconhecer que as alterações fisiológicas começam assim que a gravidez começa. O aborto induzido interrompe esta fisiologia normal e existem riscos únicos devido a esta intervenção.” A quem interessar possa, o título do artigo é "Induced Abortion and the Increased Risk of Maternal Mortality" . Desfrutem. Voltemos ao meu comentário na postagem do portal Metrópoles. Vendo a proporção que um simples questionamento causou, percebi o seguinte: nós, conservadores, não devemos mais repetir que aborto é assassinato. Quem defende a prática, no fundo, sabe disso. O que estes que defendem algo tão abjeto não querem que as pessoas saibam é que o procedimento não traz saúde ou dignidade para a mulher. Eles não querem que as consequências nefastas do ato sejam difundidas. Todos os defensores do aborto repetem o mantra: “Se o aborto for legal, realizado em hospital, com todos os recursos, certamente a mulher não vai sofrer”. Contudo, o ocorrido com a jovem de Brasília é a prova de que não importa se a prática é realizada em um fundo de quintal ou no maior hospital da América Latina. O problema está no ato em si. Nos comentários, me acusaram de não sentir empatia pela vítima. Oras, na cabeça destes analfabetos funcionais (para dizer o mínimo), se eu sou contra o aborto, não tenho empatia. Meu Deus! Se eu sou contra é justamente por sentir compaixão pela mulher! O que não quero para mim jamais vou desejar ao meu próximo - bem diferente de quem quer meu mal. Sinceramente, eu gostaria de saber quem é essa moça. Quero ajudá-la. Desejo que ela seja amparada e cuidada. Espero que ela se recupere de todo o mal que lhe fizeram. Quanto àqueles que querem que eu seja estuprada, um recado de Nosso Senhor Jesus: “Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12.34). 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