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  • Belo Horizonte

    Caderno de Variedades da Revista Conhecimento & Cidadania Em 1701, o bandeirante João Leite da Silva Ortiz chegou à Serra de Congonhas à procura de ouro. Em lugar do metal, encontrou uma bela paisagem, de clima ameno e próprio para a agricultura. Resolveu ficar e construiu a Fazenda do Cercado, onde desenvolveu uma pequena plantação e criou gado. O progresso da fazenda logo atraiu outros moradores e um arraial começou a se formar em seu redor. Viajantes que por ali passavam, conduzindo o gado da Bahia em direção às minas de ouro e pedras preciosas, fizeram da região um ponto de parada. O povoado foi batizado de Curral Del Rei. Aos poucos, o Curral Del Rei cresceu apoiado na pequena lavoura, criação e comercialização de gado e fabricação de farinha. Algumas poucas fábricas, ainda primitivas, instalaram-se na região: produzia-se algodão, fundia-se ferro e bronze. Das pedreiras, extraía-se granito e calcário. Frutas e madeiras eram vendidas para outros locais. Com a decadência da mineração, o arraial se expandiu. Das 30 ou 40 famílias existentes no início, a população saltou para a de 18 mil habitantes. Elevado à condição de Freguesia, mas ainda subordinado à Sabará, Curral Del Rei englobava as regiões de Sete Lagoas, Contagem, Santa Quitéria (Esmeraldas), Buritis, Capela Nova do Betim, Piedade do Paraopeba, Brumado Itatiaiuçu, Morro de Mateus Leme, Neves, Aranha e Rio Manso. Vieram as primeiras escolas, o comércio se desenvolveu. No centro do arraial, os devotos ergueram a Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. O Distrito foi criado com a denominação de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral del Rey, por Ordem Régia de 1750 e, em 1890, renomeado como Belo Horizonte. Elevada à categoria de município e Capital de Minas Gerais, com a denominação de Cidade de Minas, em 1893, e passou a denominar-se Belo Horizonte, em 1901. Ocorreram sucessivas divisões administrativas e desmembramentos desse território, sem que houvesse mudança no nome da cidade. O ciclo de prosperidade durou pouco e diversas regiões que constituíram o antigo arraial se tornaram autônomas. Rapidamente, a população diminuiu e a economia local entrou em decadência. No final do século XIX, restavam cerca de quatro mil habitantes. Com a Proclamação da República, em 1889, cresce a esperança de transformações. Para entrar na era que então se anunciava, deixando para trás o passado monárquico, os sócios do Clube Republicano de Curral Del Rei propuseram a mudança de seu nome para Belo Horizonte. Nesse clima de euforia, os horizontinos receberam a notícia da construção da nova capital. Mudança da capital de Ouro Preto para Belo Horizonte A primeira tentativa de transferir a sede do Governo de Minas para uma cidade diferente de Ouro Preto data de 1789, quando os inconfidentes planejaram instalar a capital de sua república em São João Del Rei. Depois disso, mais quatro tentativas foram feitas, todas fracassadas. A questão só veio a ser considerada após a Proclamação da República e, dessa vez, não seria uma simples transferência, mas a construção de uma nova cidade. Em 1891, o Presidente do Estado, Augusto de Lima, determinou – por decreto – a transferência da capital para um lugar que oferecesse condições precisas de higiene. Adicionada à Constituição Estadual, a lei provocou muitos protestos da população ouro-pretana. Os mineiros dividiram-se entre os '‘mudancistas’', favoráveis à nova capital, e os '‘não mudancistas’'. Cada um desses grupos fundou seu jornal, promovendo reuniões e debates. O Governo Estadual, enfrentando essas disputas, criou uma Comissão de Estudos para indicar, dentre cinco localidades, a mais adequada para a construção da nova cidade e Belo Horizonte venceu. Em 17 de dezembro de 1893, com a Lei Nº 3 adicionada à Constituição Estadual, a sede do Governo transferiu-se para Belo Horizonte, onde a nova capital deveria ser inaugurada. A mesma Lei criou a Comissão Construtora formada por técnicos responsáveis pelo planejamento e execução das obras, dentre os quais estavam alguns dos melhores engenheiros e arquitetos do Brasil, chefiados por Aarão Reis. Belo Horizonte foi inaugurada, ainda em construção, no dia 12 de dezembro de 1897. Fonte: IPHAN

  • As “relações intergeracionais”, o Così è (se vi pare) progressista

    Luigi Pirandello foi um dramaturgo, porta e romancista italiano. Recebeu o Nobel de Literatura em 1934. Uma de suas peças mais conhecidas chama-se “Così è (se vi pare)” (Assim é... se lhe parece), escrita em 1917. Nela, o autor retrata o tema da verdade, o contraste entre realidade e aparência, entre verdadeiro e falso, mas questiona a verdade como sendo objetiva. “Verdade relativa” sempre foi uma das cartas na manga dos casacos vermelhos, pertencentes aos membros da ala progressista; afinal, onde não há freio nem limites no que tange à costumes, existe um verdadeiro “vale-tudo”, sem ordem e sem pensar nas consequências. Uma dessas “verdades relativas” é: “quem disse que menores não podem decidir com quem se relacionar, mesmo que seja com maiores de idade?” Os progressistas chamam isso de “relação intergeracional”: uma relação amorosa entre um menor e um adulto, com o consentimento de ambos e que não necessariamente resulta em abuso. Isso foi o que decidiu a Suprema Corte da Colômbia no mês de Agosto. Menores entre 14 e 18 anos agora podem tomar a “decisão livre” de casar-se civilmente ou estabelecer uma união estável, com a “vontade responsável” de formar uma família. Para a Corte, “os maiores de 14 anos e menores de 18 anos” podem, “conforme sua idade e maturidade”, decidir “sobre suas próprias vidas e assumir responsabilidades”. “Ninguém mais poderia ser dono de seus destinos. Assim, devem ser consideradas pessoas livres e autônomas, com a plenitude de seus direitos”, acrescenta o texto. Com a sentença, já não é necessária a autorização dos pais. Infelizmente, cristalizou-se algo que foi durante muitos anos uma bandeira de movimentos da ala vermelha da força. Essa postura indecorosa foi defendida por Simone de Beauvoir e seu amante, Jean-Paul Sartre (que, sabidamente, aliciavam menores), além de Michel Foucault, Jacques Derrida, pelo romancista e ativista pelos direitos dos homossexuais Guy Hocquenghem, entre outras personalidades. A feminista radical Shulamith Firestone, em sua obra “A dialética dos sexos”, defendia a “liberdade sexual para que todas as mulheres E CRIANÇAS possam usar a sua sexualidade como quiserem (...) serão permitidas e satisfeitas TODAS AS FORMAS DE SEXUALIDADE.” Para os progressistas, assim é se lhe parece: se um menor pode dar consentimento, por que ser refreado em sua sexualidade? Para os conservadores, porém, além de um freio moral, há uma verdade incontestável: um menor NÃO tem capacidade de consentir. E mostrarei isso com o caso da própria Beavouir. A filósofa e seu amante cooptavam menores para sua rede nefasta de abuso. A primeira vítima foi Olga Kosachiewicz, filha de um imigrante perseguido pela Revolução Russa. Simone e Sartre prometeram à família cuidar da menina, que à época, tinha 17 anos, e pagar suas despesas com educação. Aos poucos, a menina foi envolvida em uma teia nefasta e seduzida por Beauvoir. Olga começou a ir mal nos estudos e seus pais a convenceram a voltar para casa. O casal, prometendo mundos e fundos, conseguiram trazer Olga de volta a seu convívio. A menor relacionava-se com Simone, mas relutava em estar com Sartre, principalmente por conta de sua aparência. Olga aceitava dinheiro do filósofo, porém recusava a ter relações com ele. A pressão psicológica era tão grande que Olga mutilava-se constantemente. Para se “vingar”, Sartre seduziu a irmã da adolescente, Wanda. Infelizmente, as duas irmãs foram as primeiras de uma longa fila de menores cooptadas por este casal psicopata. Das amantes que tiveram, pelo menos uma suicidou-se e outra tornou-se viciada em entorpecentes. O cerne da questão é: se, de acordo com os que defendem as ditas “relações intergeracionais”, o menor pode decidir entrar e sair do relacionamento, por que as moças cooptadas pelo casal francês não o fizeram? Devemos sempre lembrar que a ala progressista não possui freio moral, como já dito no início deste texto, e por conta disso, há uma falsa imagem de “liberdade”: podemos fazer tudo se sentirmos vontade, dizem. Relativizam até um atentado gravíssimo contra menores em prol de uma “autonomia sexual infantil”. Em 2020, a ex-ministra da Família e agora, senadora eleita Damares Alves, denunciou que algo semelhante transita pelos corredores do Congresso. Segundo ela, o projeto de lei de número 236/2012, propõe que a idade do consentimento recue para DOZE ANOS. De acordo com Damares, apesar do relator da proposta ter rejeitado a medida, alguns assessores parlamentares falavam de reduzir a idade de consentimento para 10 anos, o que seria como legalizar a pedofilia. – O relator rejeitou, manteve 14. Mas nem foi apreciado o voto do relator e nem foi apreciado o projeto inicial. Eu saí do Senado em dezembro de 2018. Nos corredores, já se falava, entre assessores, da possibilidade de apresentar uma emenda para diminuir para 10 [a idade do consentimento]. O que se faz com isso? Legaliza-se a pedofilia. Então, eu preciso reagir. Percebe-se a tentativa de se normalizar algo nefasto e que sequestra a infância de milhares de crianças. Mas, já que tudo no mundo moderno é relativizado, não se pode caracterizar isso como “violência”, mas como “escolha”. Afinal, Così è (se vi pare). Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 21 Faça o download, gratuitamente, do seu exemplar e leia demais artigos: https://www.direitonasescolas.com/revista-conhecimento-cidadania

  • Batalha de Lepanto e Nossa Senhora do Rosário

    No Golfo de Lepanto, depois conhecido como golfo de Corinto, travou-se a maior batalha naval do Século XVI. Os otomanos ampliavam um violento ataque aos territórios cristãos e avançavam sobre a população ocidental. Os cristãos sentiam-se desanimados, as forças muçulmanas pareciam invencíveis, vilipendiavam o cristianismo, negavam a divindade de Jesus Cristo, invadiam os territórios cristãos e escravizavam a população. Haviam subjugado 12 mil seguidores de Cristo e os condenaram a trabalhos forçados na África. Por fim, tomaram a ilha de Chipre. A pedido do Papa, os cristãos se uniram para deter a destruição dos fiéis, formaram a Liga Santa, com forças navais da Espanha, Nápoles, Veneza e Gênova1. A Armada lançou-se ao Mar Jônico para enfrentar os agressores fé sagrada. A superioridade da esquadra inimiga era gritante, mas isto não intimidou os guerreiros de Cristo. O Papa São Pio V, pediu à cristandade que se pusesse de joelhos a rezar o Santo Rosário enquanto a batalha revolvia o mar. Ele mesmo, junto com um grupo de oração, incessantemente jejuava e rezava o terço o pedindo auxílio à Mãe de Deus para defender a palavra e os seguidores de seu Filho no embate que se desenvolvia. O comandante da esquadra cristã, Dom João da Áustria, no principal mastro da nau capitânia, hasteou o estandarte com a imagem de Jesus Crucificado, presente de Sua Santidade para lembrá-lo da missão de defesa da santa fé. Sob seu comando todos os marinheiros se confessaram e receberam o Sacramento da Comunhão2. Rezavam incessantemente o Santo Rosário, o mantinham junto ao corpo, em súplica a Nossa Senhora para que os auxiliasse nessa luta em defesa da cristandade. Os mouros dispuseram seus navios em forma de lua crescente, símbolo da expansão impiedosa de seu império. Os navios cristãos foram dispostos em duas colunas, em forma da Santa Cruz. Súbito, ouviu-se o ribombar de um canhão inimigo, era a afronta moura que avisava o início do ataque. As embarcações cristãs rumaram para a luta. O embate foi violento e o desequilíbrio numérico das esquadras inundava a alma dos guerreiros inimigos de soberba. Os cristãos impuseram a seus corpos todas as forças do espírito, alimentava sua determinação o sentido de suas existências: a defesa da fé revelada ao povo hebreu, confirmada e esclarecida, por Jesus Cristo, aos apóstolos. Surpreendentemente, os ventos mudam de direção, os cristãos dominam o combate e os otomanos são derrotados. A Liga Santa libertou os 12 mil cristãos escravizados. Os marinheiros mouros relatam que viram, sobre os mastros principais das embarcações da Liga Santa, uma Senhora exuberante, poderosa, irresistível, que os repeliu com a força de sua majestosa presença. No instante da vitória, no dia 07 de outubro do ano da graça de 1571, o Papa São Pio V levantou os olhos para fitar o céu de Roma, nele estava estampada a imagem da mesma Senhora Magnífica que derrotou os guerreiros mouros. O Pontífice voltou-se para os religiosos, que rezavam com ele, e disse: É hora de pararmos de pedir, vamos agradecer, Nossa Senhora acaba de nos dar a vitória. 10 dias depois, chegou à Santa Sé a notícia da vitória cristã em Lepanto. Confirmou-se a visão do Papa. Agradecidos, os marinheiros cristãos chamaram sua defensora de Nossa Senhora das Vitórias, depois, Nossa Senhora do Rosário. As vitórias foram alcançadas através da oração do Santo Rosário. Santíssima Senhora, dai-nos a vitória! Rogai por nós, Nossa Senhora do Rosário! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Nº. 21

  • Um trono ameaçado!

    Aos Católicos do Brasil Hoje é dia de Nossa senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Todos recordamos que no ano de 1888 a Princesa isabel aboliu a escravidão no Brasil e por esse gesto, recebeu do Papa Leão XIII a maior honraria destinada a personalidades católicas de grande destaque e benemerência, a chamada Rosa de Ouro(Fonte: Agência Senado). Entretanto, essa atitude da Princesa lhe rendeu perseguições da aristocracia da época, enfrentando uma verdadeira campanha contra sua imagem. "A República não foi feita contra a família imperial, mas claramente contra Dona Isabel, em seu terceiro reinado (os republicanos diziam que a abolição foi um confisco de propriedade e queriam indenização), e contra os negros. A República foi uma forma de impedir a politização do movimento abolicionista e ascensão dos negros — defende Antunes de Cerqueira”, diz a Agência Senado. Pressionada junto com a família Real a deixar o Brasil, consta que a Princesa Isabel foi ao encontro da imagem de Aparecida deixando o seguinte bilhete: “Eu, diante de Vós, sou uma princesa da terra e me curvo, pois és a Rainha do céu e te dou tão pobre presente que é uma coroa que seria igual à minha, e se eu não me sentar no trono do Brasil, rogo que a Senhora se sente nele por mim e governe perpetuamente o Brasil”. Esse gesto humilde e devoção a Nossa Senhora feito pela Princesa Isabel foi seguido pelo Papa Pio X, que em setembro de 1904, oficialmente coroou Nossa Senhora Aparecida como Rainha do Brasil e, mais tarde, Padroeira do Brasil. Durante a Consagração de Nossa Senhora, o Cardeal Sebastião Leme, então Arcebispo do Rio de Janeiro: pronunciou as seguintes palavras: “Senhora Aparecida, o Brasil é vosso! Rainha do Brasil, abençoai a nossa gente! (…) Senhora Aparecida, o Brasil vos ama, o Brasil em vós confia! Senhora Aparecida, o Brasil vos aclama! Salve, Rainha!" Por ocasião do centenário da Coroação de Nossa Senhora Aparecida, o Santo Papa João Paulo II afirmou: “ [Nossa Senhora] teve uma pátria, pertenceu a um povo, aos quais amou e pelos quais sofreu; podemos pensar que Ela experimentou essa realidade humana que é o patriotismo, conhece seu sentido mais profundo. Tendo levado consigo estes valores para o Céu, Ela sabe o que pedir junto de Deus melhor do que o fizera Ester ao rei Assuero: «Só te peço, ó rei, que salves o meu povo» (cf. Est 7, 3). Hoje, no seu dia, precisamos refletir o quanto o Trono de Aparecida está sob ameça. Ela, que segundo João Paulo II, experimentou essa realidade do patriotismo, sendo amada e venerada por esse povo pertencente a um país de raízes católicas, cujo 1º ato solene após o descobrimento foi a celebração de uma santa Missa, numa praia, com altar improvisado, cravando a cruz do Cristo, como sinal da presença católica para a luta pela implantação do Reino de Deus e evangelização dos povos (“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas – Mt 16,15). E hoje, nossa Rainha assiste muitos católicos abandonando a luta pelo Reino de Deus, pela propagação do Evangelho trocado por pregação de ideologias, pela perda dos valores religiosos e do patriotismo, colaborando para entregar seu Trono aos comunistas e socialistas, que odeiam Nossa Senhora, odeiam Jesus Cristo, odeiam as religiões judaico-cristãs. Não de agora, mas bem mais acentuada se faz a perseguição aos cristãos, em especial aos católicos, por comunistas e socialistas: Ortega, na Nicarágua, recentemente, expulsou freiras e padres, prendeu bispo, fechou rádios católicas. Igrejas são incendiadas no Chile e na Venezuela\, e outras igrejas invadidas no Brasil, interrompendo o culto da Santa Missa. Lula, candidato, afirmou em bom tom, que se chegar ao poder vai dizer aos padres católicos e pastores protestantes qual e o seu lugar e sua função, ameaçando a liberdade de expressão e culto religioso. E muitos padres, bispos, leigos aplaudindo… Infelizmente parte da clero e da cúpula da Igreja, de forma negacionista do verdadeiro evangelho e do Magistério da Igreja, faz de conta que não lembra de todos os documentos do Magistério que condenam o comunismo e o socialismo. Só para lembrar alguns: No ano de 1846, Pio IX, na Encíclica Qui pluribus já firmava a posição do Magistério da Igreja contra o comunismo: “Nesse ponto, a doutrina nefasta do comunismo, como eles dizem, é mais adversa à própria lei natural; uma vez admitido, os direitos de tudo, coisas, propriedade e até a própria sociedade humana seriam perturbados pelo fundo. A esse aspecto estão as armadilhas tenebrosas daqueles que, em mantos de cordeiros, mas com espírito de lobos, se insinuam com falsas aparências de piedade mais pura e de virtude e disciplina mais severas: surpreendem gentilmente, fecham ligeiramente, matam ocultamente; afastam os homens da observância de toda religião e destroem o rebanho do Senhor”. Trinta e dois anos depois, em 1878, num documento magisterial a Igreja se pronunciava novamente, agora na voz de Leão XIII:“Clame, não cesse, levante a voz como uma trombeta. Vocês entendem, veneráveis ​​irmãos, que falamos dessa seita de homens que, sob vários e quase bárbaros nomes, são chamados de socialistas, comunistas, eles planejam há muito tempo – a derrubada de toda a sociedade civil”. Papa Leão XIII, em 28 de dezembro de 1878,na Encíclica Quod apostolici muneris, afirmava: “Obedecendo ao dever do Nosso cargo apostólico, não deixamos logo no princípio do Nosso Pontificado, nas cartas encíclicas que Vos dirigimos, Veneráveis Irmãos, de apontar esta peste mortal que se introduz como a Serpente por entre as articulações mais íntimas dos membros da sociedade humana, e a coloca num perigo extremo”. Convém recordar palavras de João Paulo II, quando nos alerta na Centesimus annus que A Igreja recebe o ‘sentido do homem da Revelação divina. “Para conhecer o homem, o homem verdadeiro, o homem integral, é preciso conhecer Deus”, dizia Paulo VI, citando imediatamente Santa Catarina de Sena, que, em oração, exprimia a mesma doutrina: “Na tua natureza, Divindade eterna, conhecerei a minha natureza’”. Acordem católicos: Isto simplesmente não existe na consciência de um comunista. Para eles, Deus foi inventado pelo homem. O Deus do comunismo é o povo proletariado! E, para encerrar, Pio XI, na Quadragesimo Anno reforça dizendo ser incompatível o socialismo com o cristianismo católico: “Para lhes respondermos, como pede a Nossa paterna solicitude, declaramos:o socialismo, quer se considere como doutrina, quer como fato histórico, ou como ‘ação’, se é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se aproximar da verdade e da justiça nos pontos sobreditos, não pode se conciliar com a doutrina católica,pois concebe a sociedade de modo completamente avesso a verdade cristã (…)”. Ressalte-se que todos esses documentos estão em plena vigência para o Magistério da Igreja. Então, por que setores da nossa Igreja “esqueceram” esses documentos e não os difundem ao povo católico? Com qual fundamento apoiam os socialistas e comunistas? De fato o Trono de Nossa Senhora está ameaçado! E ao que parece, ameaçado também por dentro! Nesse dia 12 de outubro, nos resta fazer das palavras de João Paulo II, ao lembrar a oração de Ester, como nossa Oração de hoje: “Tendo levado consigo estes valores para o Céu, Ela sabe o que pedir junto de Deus melhor do que o fizera Ester ao rei Assuero: «Só te peço, ó rei, que salves o meu povo” (cf. Est 7, 3). Mãe Aparecida, salve o povo brasileiro! Públio Caio Bessa Cyrino Procurador de Justiça do MPAM e Ministro da Palavra na Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, em Manaus

  • Oikophilia e Oikophobia

    Como funciona o amor e o ódio pelo lar "O brasileiro tem síndrome de vira-lata": certamente o leitor já ouviu esta expressão. Criada em 1950 por Nelson Rodrigues, a frase surgiu após a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo daquele ano. Contudo, ela se estende a outras áreas da vida do brasileiro: nunca se achou apto a ganhar nenhuma competição, deprecia a própria cultura, a economia, a inteligência e a moral do seu país. Se considera o resto do resto. A expressão que define este sentimento chama-se oikophobia, que deriva do grego: oikos (casa, lar) e phobos (medo). Dentro do contexto político, é a prática utilizada por determinadas ideologias (de esquerda) para o menosprezo da própria nação. O filósofo britânico Roger Scruton, em sua obra “England and the Need for Nations”, utilizou a oikophobia para significar repúdio ao lar. Ele argumenta que é "um estágio pelo qual a mente adolescente normalmente passa", mas que é uma característica de alguns, tipicamente esquerdistas, impulsos políticos e ideologias que defendem a xenofilia, ou seja, a preferência por culturas estrangeiras. Isso é nítido em nossa cultura: o cinema brasileiro, grandemente patrocinado pela Lei Rouanet, quase nunca aborda aspectos positivos de nosso país. Isso não quer dizer que não tenhamos problemas, pelo contrário; problemas transbordam, não apenas aqui, mas em todo lugar. Contudo, nossos cineastas abordam em demasia as dificuldades, com a desculpa de “fazer uma crítica”. Analisemos o longa “Medida provisória”. Com participação de Taís Araújo, Seu Jorge e Adriana Esteves, a sinopse relata que “em um futuro distópico, o governo brasileiro decreta uma medida provisória, em uma iniciativa de reparação pelo passado escravocrata, provocando uma reação no Congresso Nacional, que aprova uma medida que obriga os cidadãos negros a migrarem para a África na intenção de retornar a suas origens.”. Por mais que seja uma obra de ficção, qual sentimento um trabalho como este desperta? “Tá vendo, é isso que o governo quer fazer, o presidente é racista, querem enviar todos os negros de volta para a África...”. E isso faz alimentar ainda mais a síndrome de vira-lata. Outra questão que é tratada desta forma é a falta de conhecimento do povo brasileiro de sua própria história, que faz com que despreze personalidades, fatos e obras importantes de seu passado. Recentemente, Guilherme Terreri, nome civil da drag queen Rita Von Huty, em entrevista para o podcast “Embrulha sem Roteiro”, disse que o Hino Nacional é elitista e não foi feito para o brasileiro comum cantar, menosprezando a riqueza linguística da obra. Este é um claro exemplo de oikophobia. Porém, graças ao nascimento do movimento conservador no Brasil o desprezo deu lugar ao amor pelo lar, pela pátria: a chamada oikophilia. Scruton também utilizou esta expressão, que foi analisada por Robert George em artigo para o New York Times: “De fato, Roger [Scruton] foi o principal defensor filosófico do amor ao lar e ao próprio, o que ele chamou de ”oikofilia”. É claro que, como humanista e cristão, ele reconhecia deveres para com toda a humanidade – até mesmo deveres de amor (entendidos como sendo menos sobre sentir do que sobre querer): Todos são irmãos e irmãs sob a paternidade de Deus, que nos fez a todos em sua própria imagem. Mas Roger também sustentou que uma pessoa natural e corretamente tem um amor especial e deveres para com os membros de sua família, tradição de fé, comunidade local e região e concidadãos.” Percebam que Scruton, como conservador, entendia que não se pode valorizar o que há fora “do lar” sem antes prestar o devido respeito pelo que existe dentro. Como respeitar autoridades internacionais sem ter a devida reverência às próprias? Como admirar o patriotismo das nações irmãs e desprezar a pátria mãe? A Bíblia diz “ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o Senhor.” (Levítico 19.18), logo, eu não posso demonstrar nada pelo meu próximo se eu mesmo não nutrir por mim mesmo. Os movimentos progressistas, com suas agendas em curso, esforçam-se para que a população, a nível mundial, despreze seus valores, a beleza, as tradições, ensinando a desdenhar seus antepassados e lançar no lixo tudo o que deu certo desde a Antiguidade. Contudo, é necessário exercermos a oikophilia, o amor pelo lar, a começar pela nossa casa, nossa família, nossa fé, valores e costumes. Muitas vezes pensamos que venceremos agendas progressias com grandes feitos, mas não; Nosso Senhor fala: “A que assemelhare-mos o reino de Deus? ou com que parábola o representaremos? É como um grão de mostarda, que, quando se semeia na terra, é a menor de todas as sementes que há na terra; mas, tendo sido semeado, cresce; e faz-se a maior de todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua sombra.” (Marcos 4:30-32). O grão de mostarda é a menor das sementes, e é a que mais cresce. Se grãos de mostarda forem plantados por nós nos corações dos nossos filhos e netos, veremos árvores frondosas e que fornecem sombra, refúgio, aos demais. São as pequenas ações de oikophilia que farão a diferença.

  • Fundação de Petrópolis

    Palácio Imperial, 1960 (hoje Museu Imperial) O palácio de verão era uma tradição das monarquias européias. A Casa de Bragança, em Portugal, veraneava no Paço Real e no Palácio da Pena, ambos em Sintra. No Brasil, desde de Dom João VI, a Família Imperial passava seus verões no Convento Jesuíta de Sta Cruz, no Rio de Janeiro, tentando, sem muito sucesso, se livrar do calor do clima de São Cristóvão. Dom Pedro II não tinha muita simpatia nem pelo Convento, nem pela Fazenda de Sta. Cruz. Em 1850, Dom Afonso, primeiro filho do Imperador, tinha dois anos e a Família Imperial estava desde o Natal em Sta Cruz, quando, sem motivo aparente, o menino apareceu morto no seu berço. O monarca ficou desolado e tomou horror pelo Convento, decidindo nunca mais ali voltar, passando a se interessar pelo projeto do seu mordomo. Ele conheceu a Serra da Estrela em 1844, quando esteve na Fábrica de Pólvora. Em 1845, esteve hospedado com a imperatriz na casa-grande do Córrego Seco, especialmente preparada desde outubro de 1843 para recebê-lo. Paulo Barbosa nasceu em Sabará, MG. Aos quatorze anos era cadete e, em 1810, foi promovido a alferes. Como capitão, foi transferido para o Imperial Corpo de Engenheiros. No ano de 1825, embarcou para a Europa em viagens de estudos. Com a queda de José Bonifácio, tutor do imperador, o coronel Paulo Barbosa da Silva passou a ser, por intermédio de uma nomeação, o Mordomo da Casa Imperial, função que ia desempenhar com grande desenvoltura. O mordomo Paulo Barbosa, com seu espírito liberal e ecumênico, era contra a escravidão e prestou relevantes serviços ao Império. A sua participação na fundação de Petrópolis foi decisiva quando mobilizou o seu companheiro de arma, o engenheiro Major Júlio Frederico Köeler. Além disso, foi Ministro Plenipotenciário na Rússia, na Alemanha, na Áustria e na França, onde, em 1851, foi demitido de sua função diplomática. Retornou ao Brasil a chamado de D. Pedro II, em 1854, novamente como Mordomo da Casa Imperial, falecendo em 1868. Júlio Frederico Köeler era germânico da Mogúncia, no vale do rio Reno, dominada na época pela França de Napoleão, com suas instituições que valorizavam o mérito e a riqueza em lugar das convenções e privilégios. Os hábitos e o refinamento franceses marcaram profundamente o temperamento do Mj Köeler e orientaram a sua atuação nos primeiros anos da fundação de Petrópolis. Ainda jovem, ingressou no Exército prussiano, chegando a alferes. Em 1828, foi contratado para servir no Exército Imperial, depois de prestar rigorosos exames perante a Academia Militar do Rio de Janeiro. Casou-se, em 1830, na catedral de Niterói, com D. Maria do Carmo Rebelo de Lamare. Afastado do Exército por questões políticas quando foram demitidos todos os oficiais estrangeiros não naturalizados, Köeler foi contratado como engenheiro civil na Província do Rio de Janeiro. Em 1831, já naturalizado cidadão brasileiro, retornou ao Exército e, nos doze anos seguintes, realizou importantes obras públicas na província, uma delas a construção da Estrada Normal da Estrela, que dava acesso a Petrópolis. Em 1843, arrendou a Fazenda Imperial e iniciou o seu trabalho na região. O plano urbanístico para Petrópolis era complexo porque a cidade deveria ser levantada entre montanhas, aproveitando o curso dos rios. Ele inverteu o antigo estilo colonial português de construir as casas com o fundo para os rios que eram utilizados apenas como esgoto, como na maioria das nossas cidades. Passou a aproveitar os cursos de água para traçar pelas suas margens as avenidas e as ruas que davam acesso aos bairros. Outro aspecto relevante no plano foi a preocupação com a preservação da natureza, determinada pelo seu código de posturas municipais. Köeler faleceu num trágico acidente durante um torneio de tiro ao alvo, na Chácara da Terra Santa, de sua propriedade. Sua curta administração frente à colônia de Petrópolis foi decisiva para o que foi realizado nos anos posteriores. O major Júlio Frederico Köeler, ao projetar Petrópolis, reservou um terreno para a construção de uma Igreja Católica, que anos depois se tornaria a Catedral São Pedro de Alcântara. Na primeira metade dos anos 1800, as consequências sociais e econômicas da Revolução Francesa e da Revolução Industrial resultaram numa difícil condição de vida para os povos de língua alemã. A população estava politicamente desiludida e havia discórdia por toda a parte. Ricos e pobres endividados, o desemprego era grande no Rhur, o coração do aço alemão, com muitos problemas nas minas de carvão. Salvo os que viviam da vinicultura, uma parte da população que, movida pela esperança de vida melhor, deixou tudo e partiu para as Américas. A maioria dos colonos que chegou a Petrópolis era natural de aldeias localizadas nos bispados de Treves e Mogúncia, na Renânia e Westphália, (Grão-Ducado de Hesse-Darmstadt e no Ducado de Nassau), região atualmente conhecida pelo nome de Hunsrück, localizada na confluência dos rios Reno e Mosel. Em 1837, aportou no Rio de Janeiro o navio Justine com 238 imigrantes alemães em viagem para a Austrália. Devido aos maus tratos sofridos a bordo, eles resolveram não seguir viagem, permanecendo no Rio de Janeiro. O Mj Koeler soube da ocorrência e se entendeu com a Sociedade Colonizadora do Rio de Janeiro para trazer os imigrantes para trabalhar na abertura da Estrada Normal da Estrela, pagando uma indenização ao capitão do navio. Assim, foi dada permissão aos colonos de desembarcarem no Rio de Janeiro. Estes, sob as ordens de Koeler, estiveram primeiramente trabalhando no Meio da Serra, depois foram para o Itamarati. A segunda leva de colonos foi planejada pelos presidentes da província João Caldas Viana e Aureliano Coutinho para trabalhar em obras na província, mas eles acabaram em Petrópolis, locando no terreno do plano urbanístico traçado por Koeler. Foram 600 casais de colonos alemães contratados em 1844, exigindo-se que fossem artífices e artesãos com experiência. Treze navios deixaram Dunquerque com 2.338 imigrantes, o primeiro deles chegando ao porto de Niterói em 13 de junho e o último em 7 de novembro de 1845, sendo os imigrantes alojados em barracões ao lado da igreja matriz. Acertados os trâmites legais, eles foram transferidos para o Arsenal de Guerra do Rio, onde se acha hoje instalado o Museu Histórico Nacional, ficando por lá alguns dias e, então, seguiram viagem pela baía da Guanabara e pelo rio Inhomirim até o Porto da Estrela. De lá, para o Córrego Seco, foram a pé ou a cavalo, com escalas na Fábrica de Pólvora e no Meio da Serra, onde existiam ranchos para os viajantes. Muitos dos colonos que deixaram Dunquerque não chegaram a Petrópolis em conseqüência do mau passadio a bordo e do surto de febres nos depósitos. Outros, especialmente crianças, não resistiram à penosa subida da serra e foram enterrados pelo caminho. O diplomata belga, Auguste Ponthoz, em seu livro “Avaliação sobre o Brasil”, afirma que 252 imigrantes morreram, sendo 56 nos portos ou na viagem para Petrópolis. Vieram muito mais alemães católicos do que protestantes. No dia 19 de outubro de 1845, na praça Koblenz, dia de São Pedro de Alcântara, num altar ornamentado com flores silvestres, o Padre Luís Gonçalves Dias Correia celebrou uma missa para os católicos e o pastor Frederico Ave-Lallemant professou um culto para os protestantes. O Presidente da Província, Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho, compareceu a essa solenidade, tendo feito um grande elogio ao trabalho dos colonos. Foram muitas as dificuldades iniciais. Logo que aqui chegaram, foi necessária a compra de 200 cabras para alimentar as crianças, já que suas mães não tinham leite, devido às agruras da viagem. Köeler planejou uma colônia agrícola em Petrópolis sem estudo prévio da geologia do terreno, o que resultou no fracasso do empreendimento. Os colonos abriram estradas, derrubaram matas para a construção de residências e semearam suas hortas para consumo e foram utilizados nas obras públicas, retificando os rios, drenando os lodaçais e construindo os prédios da povoação. Para tornar mais fácil a adaptação dos colonos alemães à nova terra, Koeler nomeou os quarteirões de Petrópolis com o nome de suas regiões de origem, como Mosela, Palatinato, Renânia, Nassau, Bingen, Ingelheim, Simeria, Castelânia, Westphalia. Ele também homenageou a Família Imperial em dois quarteirões, Vila Imperial e Vila Teresa. Em 1854, Otto Reimarus, que continuou o trabalho de Koeler, criou os quarteirões de Darmstadt, Woerstadt, Worms e outros. Também prestou homenagem às várias nacionalidades de imigrantes de Petrópolis, nomeando outros quarteirões: Quarteirão Francês, Quarteirão Suíço, Quarteirão Inglês e mais tarde o Quarteirão Italiano. Para os brasileiros que ajudaram a construr Petrópolis, dedicou o Quarteirão Brasileiro e o Quarteirão Mineiro. Hoje, os descendentes dos colonos estão por toda a cidade e seus nomes de família podem ser encontrados no Obelisco do centro da cidade, nos guias telefônicos e dão nomes a ruas e praças. O progresso dos colonos alemães dinamizou Petrópolis, contribuindo para o seu desenvolvimento. O seu trabalho e a sua lembrança fazem parte da cidade. A partir de 1960, a cidade não conseguiu os grandes investimentos de que necessitava para se modernizar e poder enfrentar a crescente concorrência comercial e industrial. Houve então a grande mudança de rumo na vida do petropolitano e da sua cidade, que se voltou cada vez mais para a sua tradição histórica, para a urbanização e arquitetura que ficaram de seu passado e para a beleza e preservação da sua natureza. A cada dia, novas mansões e palácios abriam suas portas para visitação. A Prefeitura de Petrópolis planejou e organizou o setor de turismo e cultura e uma extensa rede de facilidades foi sendo oferecida ao turista, como informações, eventos, pousadas e hotéis, restaurantes e outras atrações cheias de requinte e particularidades, capazes de atrair o interesse do visitante. Em 1979, um grupo de petropolitanos animados, corajosos e vibrantes com sua cidade se movimentou em torno de entidades preservacionistas como a APANDE e sensibilizou o presidente João Figueiredo, conseguindo que fosse assinado o Decreto 80, em 1981, impedindo demolições e construções que descaracterizavam o Centro Histórico. E ele atribuiu à cidade o título de CIDADE IMPERIAL. Com apenas cinco artigos no seu decreto, Figueiredo salvou o que restou da Petrópolis imperial. Nos anos seguintes, em conjunto com os moradores, a Câmara Municipal promulgou um bem elaborado código de posturas municipais que garantiu as tradições e os valores da cidade. Tanto no Império como na República, Petrópolis se desenvolveu, sempre estimulado pela presença de pessoas ilustres que amaram a cidade e aqui passaram boa parte de suas vidas. Muitos deles estão sepultados em Petrópolis e foram incorporados ao patrimônio cultural de nossa cidade. Especialmente a sua rica tradição ligada à Família Imperial brasileira, em particular a figura de D. Pedro II, passou a ser um valor significativo para a cidade e um forte apelo para turismo cultural de maior grandeza. A educação também é um expressivo valor petropolitano. Os alunos do nosso ensino fundamental público e privado sempre se destacaram nas avaliações oficiais. Também os estudantes do ensino superior, representados pela Universidade Católica de Petrópolis, Faculdade de Medicina de Petrópolis, Universidade Estácio de Sá e, desde 2015, pela primeira universidade pública do munícípio, com a instalação do campus da Universidade Federal Fluminente na cidade, entre outras, destacam-se na vida profissional. Para que esses valores histórico-culturais possam se transformar em riqueza para a cidade, estão sendo feitos grandes esforços pela iniciativa privada e pelo poder público, com ações diretas como investimentos na educação, na divulgação e, principalmente, na transformação da consciência dos que vivem em Petrópolis para que se sensibilizem com esses valores e recebam com toda atenção aqueles que vierem nos visitar. Outras cidades imperiais da América Latina são Ciudad Imperial, no sul do Chile, e a Vila Imperial de Potosi, na Bolívia, que foram as primeiras e receberam seus títulos concedidos por Carlos V. Dom Pedro I deu o título de Imperial à Cidade a São Paulo, à Vila Rica (Ouro Preto) e a Montivideo, querendo consolidar a presença militar brasileira na Banda Oriental do Rio da Prata em 1825. Os regentes de 1831 chamaram uma pequena vila de Goiás de Vila do Porto Imperial. Finalmente, Dom Pedro II preferiu denominar nossa vizinha como Imperial Cidade de Niterói em 1841. Todas essas concessões foram rigorosamente legais, concedidas por decretos oficiais. Petrópolis, porém, entre todas essas, é a única que nasceu sob o patrocínio e com a proteção de Dom Pedro II, em terras da Família Imperial. Até a sua morte, nosso Imperador nunca se desligou de sua cidade. Petrópolis é cidade imperial oficiosa, mas com todo o direito e o orgulho desse título de nobreza. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 20 na pág. 23. Link para a versão em flipbook: https://heyzine.com/flip-book/ef7cb9a478.html

  • A raposa e as uvas

    E o que Bolsonaro tem a ver com isso Todos temos sonhos. O ser humano possui desde tenra idade (alguns mais, outros menos) objetivos que anseiam cumprir ao longo da vida, e isso é natural. A própria Bíblia diz que é Deus quem efetua em nós tanto o querer como o realizar (Filipenses 2.13), e ela também diz que o desejo cumprido é árvore de vida (Provérbios 13.12). Contudo, há aqueles que, quando não conseguem realizar seus objetivos, sempre procuram, terceirizar suas frustrações: “Não consigo por culpa de fulano, ciclano, beltrano, tetraclano, pentaclano...”. Até porque, desde Adão e Eva, o método mais fácil de se escapar é culpar a todos, menos ter humildade de reconhecer seus erros. A fábula da raposa e as uvas exemplifica isso: uma raposa deitou-se debaixo de uma parreira e viu uvas agradáveis aos olhos e tentou pegá-las. Tentou, tentou, porém sem sucesso. Após várias tentativas, a raposa vou queixar-se com o pássaro: “Eu pegaria as uvas se elas estivessem maduras. Eu me enganei no começo, mas quando me dei conta que ainda estavam verdes, deixei para lá. Uvas verdes não são um bom alimento para um paladar tão refinado como o meu.” E por que estou falando a respeito disso? Porque em eleições tão polarizadas é nítido que há a uva e existem as raposas, e que as raposas estão tão desesperadas que apresentam uma dissonância cognitiva gravíssima: assim como a personagem, emitem as desculpas mais esfarrapadas por não conseguirem alcançar o topo. O exemplo mais recente é das manifestações de 7 de Setembro: quantas não foram as raposas, ou melhor, os jornalistas, que fizeram de tudo para conter este evento? “Cuidado, os bolsonaristas estarão armados com AK-47, haverá snipers, tudo escapará do controle, não saiam às ruas!” Porém, nada disso aconteceu, pelo contrário: eu, que estive presente em Copacabana, pude constatar um povo ordeiro que apenas exigiu, pacificamente, sua liberdade. Famílias inteiras, crianças, idosos, pessoas de todas as classes sociais e cores, e até freiras! Todos uníssonos pelo fim das amarras impostas pela toga. E as raposas, o que fizeram: negaram a realidade! A comentarista da Globo News, Eliane Castanhede, como não pôde pegar as “uvas”, resolveu difamá-las, assim como a raposa da fábula. Na noite do dia 7, em rede nacional, ela disse: “Hoje é um dia triste. Bolsonaro colocou milhoes de pessoas na rua. Foi bom pra ele, foi péssimo para o Brasil.”. Miriam Leitão, outra “raposa”, comentou: “Uma apropriação indébita do 7 de Setembro. Foi um absurdo o que aconteceu hoje.”. Com mais de um milhão de pessoas nas ruas (se fizermos uma conta simples por metro quadrado, somando RJ, SP e Brasília), os jornais tiveram a insensatez de escrever a seguinte manchete: “Bolsonaro reúne 64 mil em Copacabana e 32 mil na Paulista”. E o Jornal Nacional, a maior das raposas, anunciou que o evento de Brasília houve apenas elogios ao governo e “comentários machistas”. Aliás, uma raposa bem peculiar chamada Folha de São Paiulo, ao invés de ressaltar a grandiosidade das manifestações, utilizou-se de uma brincadeira (que nem foi feita pelo presidente) para dizer que o presidente poderia ter “disfunção erétil”. Explico: um animador de rodeios conhecido como Cuiabano, amigo do presidente, disse que Bolsonaro é “imbrochável”, Oras, é óbvio que não se tratava do suposto desempenho sexual do presidente! Cuiabano denominou desta forma para explicar que, mesmo após tantas perseguições da mídia e problemas no governo que nunca faltam, Jair Bolsonaro tem se mostrado forte, aguerrido, erguido. Não há comentário machista ou coisa do gênero! Contudo, a Folha não teve vergonha alguma ao publicar o seguinte: “Problemas de ereção atingem 70% dos homens na idade de Bolsonaro”. Antigamente, as “raposas” da mídia eram ovacionadas, tratadas como semi-deuses, inerrantes, perfeitas e imaculadas; ninguém ousava discordar da velha imprensa, ainda que tivesse motivos para tal. E estas “raposas” deliciavam-se com as “uvas” neste tempo: o prestígio, os elogios, o dinheiro estatal que alimentava suas redações. Então, apareceu Jair Bolsonaro, trazendo a maior “uva”: a verdade. Tendo como lema o versículo de João 8.32 “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, ele passou a expor como de fato funciona a grande imprensa brasileira e, ao assumir a cadeira presidencial, deixou de alimentar a velha imprensa com dinheiro do contribuinte. E o resultado não seria diferente: choro e ranger de dentes. As “raposas” não conseguem ter a hombridade de reconhecer que, se a população já não os adula mais é por culpa de si mesmos; e assim como a personagem da fábula, culpam a falta de maturação das uvas; e como é difícil alcançar esta “uva” denominada verdade, as “raposas” acusam o “pássaro”, o povo, que tem as asas que o levam ao seu objetivo. O sonho das “raposas” a cada dia estará longe e seguirão frustrados se não olharem a si mesmos e reconhecerem: “Se não me delicio mais com esta uva, pedirei ao pássaro ajuda. Quem sabe assim, serei bem-sucedida.”

  • Serra da Estrela

    Pintura feita avistando o paredão de rocha de Serra da Estrela A Serra da Estrela, onde se encontra Petrópolis, era praticamente desconhecida pelos colonizadores portugueses nos primeiros 200 anos de colonização, salvo por alguma expedição exploratória para tomar posse de sesmarias. Isso se devia ao enorme paredão montanhoso de mais de 1000m de altura que tinha que ser vencido para se chegar até lá; e também pela presença dos bravios índios Coroados que habitavam serra acima. Ali não havia atividade econômica. Somente quando os bandeirantes paulistas descobriram ouro nas Minas Gerais é que foi aberto o Caminho Novo, em 1704, para facilitar a viagem até as vilas mineradoras. O caminho era “novo” porque havia um outro, o “velho”, a variante do Caminho Novo, passando pelo alto da serra onde hoje está nossa cidade desde meados dos anos 1600, muito longo e de difícil trânsito, aberto pelos próprios bandeirantes, constituído de trilhas e picadas até as minas de ouro. O caminho novo O Caminho Novo faz parte de uma rede de importantes caminhos do Brasil Colonial, aos quais era dado o nome de Estrada Real. Muitos desses caminhos eram antigas trilhas e veredas abertas pelos bandeirantes que se embrenhavam pelo sertão, na direção de Minas Gerais e Goiás, à procura de ouro e pedras preciosas. O mais antigo deles, conhecido como Caminho Velho, ia de São Paulo, de Piratininga até Taubaté, subia a Serra da Mantiqueira, passava por São João Del Rey e ia para Vila Rica, Caetés, Sabará. Dali havia extensões para Tijuco (Diamantina), Jaguará, até a região da Fazenda Meia Ponte, hoje Pirenópolis, Goiás. Mas quem vinha da capital, Rio de Janeiro, tinha de ir em uma embarcação até Paraty, subir e descer a Serra do Mar até Taubaté para encontrar o Caminho Velho e seguir adiante. Do Rio eram “99 dias de viagem, sendo 43 a pé ou a cavalo”, conforme descrição do Governador Geral Artur de Sá e Meneses, que fez a viagem em 1699, para avaliar as possibilidades da exploração do ouro. Foi após essa viagem que ficou decidida a abertura de um caminho oficial por onde pudesse ser transportado sob controle, o ouro extraído nas minas e fosse feito todo o suprimento das dezenas de arraiais e vilas que iam surgindo em torno da mineração. O Caminho Novo foi aberto por Garcia Rodrigues Paes e levava vinte ou trinta dias de viagem, um terço do tempo feito pelo Caminho Velho. Ele iniciava num porto do rio Pilar, que desagua no fundo da baía da Guanabara, subia a Serra do Mar na altura de Xerém, passava por Marcos da Costa, Paty do Alferes e Paraíba do Sul, onde havia um Registro para a fiscalização colonial, e seguia para as Minas Gerais, passando por Juiz de Fora e Barbacena. Ocorre que a subida do paredão da Serra do Mar, em Xerém, era muito íngreme, onde muitas vezes pessoas e mulas carregadas rolavam ribanceira abaixo. Depois de vinte anos de sofrimento, Bernardo Proença, um rico fazendeiro da região, se propôs abrir uma nova subida da Serra por antiga trilha de índios em sua fazenda. Aceita a proposta, Proença construiu o Porto da Estrela no fundo da baía da Guanabara, onde é hoje a Praia de Mauá, e que se tornou logo uma importante vila, depósito e escoamento de mercadorias. Esse porto, com sua capela em louvor de Nossa Senhora Estrela dos Mares, está hoje em ruínas, mas ainda pode ser visitado. Ele foi o início da variante do Caminho Novo, por onde os tropeiros subiam a Serra do Mar, atravessando a exuberante encosta da nossa Serra Velha. Chegando ao alto, a Variante de Proença seguia em direção à área onde hoje está situada a Estação de Transbordo Imperatriz Leopoldina, passando pela fazenda do Córrego Seco, onde, mais tarde, surgiria Petrópolis. Dali os tropeiros tomavam a atual rua Silva Jardim até o Quissamã. Para chegar a Corrêas, os viajantes percorriam um trecho que até hoje tem o nome de Estrada Mineira. Vinha depois Pedro do Rio, Secretário, Sebollas, até encontrar o Caminho Novo de Garcia Rodrigues Paes em Paraíba do Sul, prosseguindo, então, até a região das minas de ouro. Em Barbacena, também há hoje um bairro com o nome de Caminho Novo e uma rua Caminho Novo, sobre os antigos trechos da histórica trilha. Segundo o Registro de Paraíba do Sul, em 1824, a cada dia, indo e vindo, passavam em média pelo Caminho Novo 153 mulas dos tropeiros e 77 pessoas. Por ela também passaram os importantes viajantes-naturalistas dos anos 1800 como Spitz, von Martius, Saint Hilaire, Walsh, Freireys e muitos outros que, como o Barão de Langsdorff, queriam conhecer as riquezas do novo país para informar as possibilidades de exploração aos seus governos. Bernardo Proença recebeu pelo seu trabalho uma sesmaria no Alto da Serra, onde hoje está quase toda a cidade de Petrópolis. Outras sesmarias foram distribuídas ao longo do Caminho Novo e logo a região se desenvolveu muito. Se ele não tivesse aberto a Variante do Caminho Novo passando pelo Córrego Seco, todo o desenvolvimento da nossa região teria acontecido no eixo Xerém-Paty do Alferes-Miguel Pereira-Paraíba do Sul, que era o traçado original daquela via feita por Garcia Rodrigues Paes. Bernardo Proença recebe três homenagens em Petrópolis: um monumento próximo à Estação de Transbordo Imperatriz Leopoldina, o nome de uma rua no bairro do Itamarati e o de um conjunto habitacional em Corrêas. Garcia Rodrigues Paes é lembrado em um monumento em Paraíba do Sul. O Brasil, antes desses caminhos, não existia como unidade geopolítica e administrativa. Havia algumas feitorias explorando açúcar no litoral e outros núcleos urbanos na Bahia, Nordeste e São Paulo. Esses caminhos ligaram o interior ao litoral, promovendo uma unificação cultural e de esforços que resultou na ocupação e no desenvolvimento de uma vasta região onde se instalaram fazendas, ranchos, pousos e vendas. Data daí, também, o início da nossa atividade administrativa pública, organizada com o emprego de funcionários para controle da zona mineira, como fiscais, meirinhos, corregedores; a criação dos “Registros” ao longo dos caminhos; monetarização da economia, com a criação da Casa da Moeda, das Casas de Fundição e a formação, enfim, de uma classe média mais sólida, ao lado de outras como a dos mineradores, artesãos, administradores, comerciantes etc. A fazenda do Pe. Correia e D. Pedro I Antônio Tomás de Aquino Correia, filho de Manuel Correia da Silva, nasceu no Rio da Cidade em 1759, estudou na Universidade de Coimbra e foi ordenado em 1783, passando a ser conhecido como o Padre Correia. Transformou sua propriedade na mais progressiva fazenda da Variante do Caminho Novo, citada por todos os viajantes estrangeiros que por ali passaram quando o Brasil abriu seus portos ao comércio internacional. Em 1829, o viajante inglês Robert Walsh cita em seus diários que lá tomou um excelente suco de pêssego. Refere-se também a plantações de café, mostrando dessa forma a importância da fazenda. A casa grande da fazenda era enorme, com varanda na frente e muito bonita. Havia uma capela consagrada a Nossa Senhora do Amor Divino, cuja imagem está atualmente na igreja de Corrêas. Esse conjunto arquitetônico está preservado até hoje como um dos mais antigos e valiosos monumentos coloniais petropolitanos. O Padre Correia criava gado mais para corte do que para o aproveitamento de leite. Como o clima era propício, havia o cultivo de cravos, figos, jabuticabas, uvas, pêssegos, marmelos, milho, maçãs e outras frutas de origem européia. Mas a principal atividade do Padre Correia era cultivo de milho e a fabricação de ferraduras para atender à enorme demanda exigida pelas dezenas de tropas diárias que pernoitavam na Fazenda. Lá também existiam muitos escravos. O Padre Correia foi um dos grandes senhores de terra da região petropolitana. D. Pedro I esteve na fazenda em março de 1822 e retornou várias vezes, passando a ter grande admiração por aquele local. O Padre Correia faleceu em 1824, com 65 anos, de morte repentina, provavelmente problemas cardíacos, tendo Da. Arcângela Joaquina da Silva, sua irmã, herdado a fazenda. Desde a primeira vez que se hospedou na fazenda do padre Corrêa, D. Pedro I desejou adquirir terras na região para o tratamento da saúde de sua filha, Paula Mariana de 5 anos que sofria de problemas respiratórios e se sentiu bem melhor na primeira vez que se hospedou. A fazenda do Córrego Seco Dom Pedro I sentia a necessidade de construir um palácio fora do Rio de Janeiro, pois recebia muitas visitas da Europa não habituadas ao calor tropical. Construir um palácio na fazenda do Padre Correia seria muito oportuno pelo excelente clima da região, que agradaria aos visitantes estrangeiros. Incomodava também ao Imperador a existência de residências muito mais luxuosas que os seus palácios, todos eles muito simples. Um palácio de verão serra acima poderia ser mais qualificado para a sua condição imperial. Além disso, sua filha, a princesinha Da. Paula, que tinha sérios problemas de saúde, vindo a falecer prematuramente aos dez anos, passou um verão na Fazenda do Padre Correia e se sentiu muito bem, repetindo a estadia muitas vezes. Em 1828, D. Pedro I, agora com sua segunda esposa, D. Amélia, continuava a frequentar a fazenda com Da Paula. A comitiva imperial nunca tinha menos de cinquenta pessoas e Da. Amélia sentiu que visitas tão avantajadas estavam trazendo muitos problemas para Da. Arcângela, irmã e herdeira do padre. Pediu então a Dom Pedro que comprasse a Fazenda. O Imperador se entusiasmou com a idéia, mas Da. Arcângela, alegando questões familiares de herança, não concordou com a venda. Ela mesma, talvez querendo se ver livre das incômodas e freqüentes visitas reais, indicou a Dom Pedro I uma fazenda vizinha que estava à venda, a do Córrego Seco, pertencente ao Sargento-Mór José Vieira Afonso. Assim D. Pedro comprou o Córrego Seco por vinte contos de réis, preço considerado muito alto para o valor real da fazenda. A escritura de compra foi assinada em 1830. D. Pedro I ainda adquiriu outras propriedades no entorno, no Alto da Serra, em Quitandinha e no Retiro, ampliando a área de sua fazenda. Ele poderia afinal realizar seu sonho de 1822, construindo um Palácio de Verão. Como enfrentava dificuldades políticas na capital, desejando que reinasse paz entre a Nação e o Trono, passou a chamar o seu Córrego Seco de Fazenda da Concórdia, onde pretendia construir um palácio. Encarregou o arquiteto real Pedro José Pezerat e o engenheiro francês Pierre Taulois de um projeto que denominou Palácio da Concórdia, simbolizando a harmonia que tanto desejava entre a Nação e o ramo brasileiro da Casa dos Bragança. Mas a obra não foi realizada, pois no dia 07 de abril de 1831, o Imperador foi obrigado a abdicar para retornar a Portugal. O projeto do palácio e o orçamento da obra constam dos arquivos do Museu Imperial, infelizmente sem referência quanto ao local da obra. Fonte: https://www.petropolis.rj.gov.br/imc/index.php/petropolis/historia e https://soupetropolis.com/2019/03/16/14-fatos-sobre-a-fundacao-de-petropolis-que-talvez-voce-nao-saiba/

  • Caderno Variedades

    Caderno Variedades da Revista Conhecimento & Cidadania - Sugestões culturais Livro: Ilíada: A Guerra de Tróia A guerra de Tróia foi a mais terrível daqueles tempos antigos. Durou mais de dez anos, contou com a intervenção dos deuses olímpios e com a participação de heróis lendários como Odisseu, Agamêmnon, Aquiles, Heitor, entre outros. Essa guerra, cheia de sofrimento e beleza, que começa pelo rapto de uma linda mulher, é o cenário da Ilíada de Homero, um clássico da literatura universal. Clique na imagem e ouça Música: Pachelbel in the Garden Poema: O Caminho da Vida O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. Trecho do discurso finaldo filme de Charles Chaplin "O Grande Ditador" (1940). Filme: Henrique IV – O Grande Rei da França Um soldado que luta pela liberdade religiosa torna-se o Rei da França no século 16. Para ajudar a continuarmos com este trabalho, doe qualquer quantia: PIX: 28.814.886/0001-26

  • O que Schopenhauer tem a ver com a sabatina de Bolsonaro no Jornal Nacional

    A Erística (do grego Eris, deusa grega do caos) refere-se a argumentos que visam contestar com êxito o argumento de outra pessoa, em vez de procurar a verdade. Esta dialética foi abordada pelo filósofo Arthur Schopenhauer na obra conhecida “A arte de ter razão”, publicada postumamente. Nela, o autor apresenta 38 estratagemas para vencer uma discussão. Segundo Schopenhauer, a Dialética Erística se preocupa principalmente em tabular e analisar estratagemas desonestos, para que possam ser reconhecidos e derrotados de uma só vez, a fim de continuar com um debate dialético produtivo. É por essa mesma razão que a dialética erística deve admitir ter vitória, e não verdade objetiva, por seu objetivo e propósito egoístas. Quem leu a obra atentamente e assistiu a sabatina do presidente Jair Bolsonaro no Jornal Nacional certamente pensou: os apresentadores mergulharam profundamente nos estratagemas da obra para elaborarem suas citações estapafúrdias contra o candidato à reeleição. A sabatina inicia; aparentando educação e cortesia, William Bonner e Renata Vasconselos cumprimentam Jair Bolsonaro e agradecem por sua presença. Porém, essa elegância britânica acaba tão logo a primeira pergunta é feita: Bonner afirmou que o presidente havia xingado ministros, acusado “sem provas” o modo de como é realizado o processo eleitoral e o acusou de ter ameaçado impedir a realização do pleito em 2022. Então veio a pergunta: “O senhor pretendeu criar um ambiente que, de alguma forma, permitisse um golpe?” Aqui encontramos o estratagema número 1: “Levar a afirmação do inimigo para além de seus limites naturais, interpretá-la do modo mais geral possível, tomá-la no sentido mais amplo possível e exagerá-la”. Ora, o presidente não xingou ministros; aliás, apenas um está esticando a corda ao ponto de ruptura (talvez não seja necessário escrever o nome do “santo”, já está claro de quem se trata). E no que tange às eleições, sabemos que Bolsonaro não é um ditador; ao contrário do que a ala vermelha da força prega, o presidente sentou-se para conversar com todos os que propuseram diálogo republicano. Logo, não seria coerente ser contra as eleições. As duras críticas que ele e muitos fazem é sobre o processo eleitoral, que carece de lisura. Para contra argumentar a fala de Bolsonaro sobre a transparência do processo eleitoral, Bonner utiliza-se do estratagema 30: “Argumento baseado no respeito. Em vez de razões, precisamos de autoridades, segundo a medida dos conhecimentos do adversário. ‘Todo mundo prefere crer a julgar’, diz Sêneca”. Este argumento é aquele onde se traz os “entendidos” de um determinado assunto, já que não se tem base para refutar. E foi isso que William fez ao dizer que vários “órgãos fiscalizadores”, como o Tribunal de Contas da União, Advocacia Geral da União, associações de juízes, de juristas, de delegados da polícia federal tinham atestado a segurança das urnas eletrônicas. Porém, uma importantíssima associação ficou de fora: a dos trabalhadores da área de T.I. Por que será? Mudando para o assunto pandemia, Bonner “passa o bastão” para sua colega Renata, que, devidamente municiada de falas retiradas de contexto, tentou colocar Bolsonaro contra a parede. Um dos questionamentos de Renata foi: “O senhor estimulou e usou dinheiro público para comprar medicamento comprovadamente ineficaz contra a COVID”. Ela utilizou-se do estratagema 5: “Para provar nossa tese, também podemos utilizar premissas falsas (...) então tomamos proposições que são falsas em si, mas verdadeiras ad hominem e argumentamos a partir do modo de pensar do adversário ex concessis” (limitar a validade de uma tese). Por que a premissa de Renata é falsa? Porque o tratamento precoce é algo que os médicos sempre realizaram. E quando há uma “doença nova” e existe a possibilidade de o medicamento X ser eficaz, o profissional tem a liberdade de receitá-lo, já que não existe vacina ou remédio específico naquele momento. Fora o fato de inúmeras pesquisas científicas atestarem a eficácia do tratamento precoce para COVID, pesquisas estas publicadas em revistas científicas importantes, como a Lancet e a Nature. E o presidente, além de refutar este absurdo, acrescentou: “O grande erro disso tudo foi um trabalho forte da grande mídia, entre eles, a Globo, desestimulando os médicos a fazerem o tratamento precoce.” Touché! Parece que os âncoras do jornal não se recordam, mas eu farei o papel da memória e farei isso: inúmeros médicos foram perseguidos unicamente por receitarem o tratamento precoce, embora o próprio -residente do CRM, Mauro Ribeiro, ter dito à época:“O CFM não incentiva o tratamento precoce ou o condena, tampouco bane. Falar que a hidroxicloroquina e a ivermectina matam é falácia. Quem quer fazer o tratamento precoce, que faça. Quem não quiser, não faça”. E disse que o Jair Bolsonaro citou na sabatina: a autonomia dos médicos. “Qual foi a nossa postura sobre o tratamento precoce? Deixar o médico definir o que é melhor para o paciente dele”. Já que Renata não obteve a resposta que tanto desejava, começou a indagar seguidamente o presidente no mesmo tema, sem pausa para respiração, diga-se de passagem: “Mas candidato, o senhor desestimulou a vacinação, isso não tem nada a ver com liberdade; o senhor chegou a dizer que quem tomasse a vacina poderia virar jacaré; o senhor associou a vacinação ao vírus da AIDS”. Aqui foi utilizado o estratagema 7: “Perguntar muitas coisas de uma só vez e em detalhes para ocultar aquilo que realmente se quer que seja admitido e, por outro lado, apresentar rapidamente a argumentação resultante do que foi admitido.” Ou seja: pergunte freneticamente para que seu adversário desista de responder ponto por ponto e seja vencido pelo cansaço. Jair respondeu a quase tudo, exceto a situação mais espinhosa, digamos: as vacinas “causariam” HIV. Como o assunto é complexo, tentarei resumir: em outubro de 2021, na sua live semanal, o presidente leu o título de uma matéria da Revista Exame, que dizia “Algumas vacinas COVID podem aumentar o risco de HIV”. A matéria em questão citou um ARTIGO CIENTÍFICO (deixo bem claro isso porque não foi o presidente quem afirmou isso) publicado na Revista The Lancet, que dizia que, a utilização de um adenovírus na fabricação de vacinas para a pandemia poderia aumentar o risco de que pacientes fossem infectados com o vírus HIV. Um dos médicos que participou do estudo foi o DR Lawrence Corey, que ajudou a desenvolver uma vacina para combater a AIDS em 2007 e constatou: o número de infectados aumentou após as doses. Ou seja: não foi o presidente Bolsonaro quem fez esta associação, e sim algo que foi atestado por médicos. Porém, uma das piores falas de Renata foi, ao citar o lockdown, reescrever o lema da pandemia de “Fique em casa” para “Fique em casa SE PUDER”, numa tremenda falta de respeito aos brasileiros que foram agredidos e presos unicamente porque, necessitando trabalhar para sustentar sua família, “transgrediram” o decreto da quarentena. Aqui, foi utilizado o estratagema 26, que trata do argumento de reversão (inverter o argumento do adversário): “Uma manobra brilhante é a retorsio argumenti: quando o argumento que o adversário quer usar a seu favor pode ser mais bem usado contra ele.” Quando Renata se utiliza da expressão “se puder”, está tentando vender a ideia de que, se a população sofrer, a culpa é do Presidente, e não dos governadores e prefeitos que trancafiaram trabalhadores em casa. Analisando toda a sabatina, a impressão que se tem é a de que William Bonner e Renata Vasconcelos se utilizaram da obra de Schopenhauer dias a fio, preparando-se para esta entrevista. Claro, trato como mera especulação esta premissa, contudo é assustadora a proximidade das perguntas inquisitórias feitas ao presidente e aos estratagemas abordados por Arhur. E quem assiste na íntegra percebe que, de fato, foram utilizados estratagemas desonestos, que não buscavam a verdade dos fatos com o objetivo de esclarecer o eleitor. Aristóteles escreveu: “Pessoas que apreciam a verdade gostam de ouvir boas razões, mesmo da boca do adversário”. E a sabatina mostrou quem gosta de boas razões; e não são os âncoras da rede Globo.

  • Avenida Central, atual Rio Branco

    Caderno Variedades traz também algumas curiosidades sobre nome de ruas, bairros e etc. Marc Ferrez. Avenida Central, atual avenida Rio Branco, na altura da rua do Ouvidor com rua Miguel Couto, 1906. Rio de Janeiro, RJ / Acervo IMS A Brasiliana Fotográfica fez uma seleção de imagens da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, produzidas por fotógrafos ainda não identificados, por Aristógiton Malta (1904-1954), Augusto Malta(1864 – 1957), Marc Ferrez(1843 – 1923), João Martins Torres e pela Phototypia A. Ribeiro. Foram produzidos no início do século XX, quando surgia o Rio de Janeiro da BelleÉpoque. A abertura da avenida foi uma das principais marcas da reforma urbana realizada por Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), o bota-abaixo, entre 1902 e 1906, período em que foi prefeito do Rio de Janeiro. Essas transformações foram definidas por Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914), autor da seção “Binóculo”, da Gazeta de Notícias, com a máxima “O Rio civiliza-se”, que se tornou o slogan da reforma urbana carioca. Essa reforma urbana tornou o Rio uma cidade cosmopolita, moderna. A Avenida Central inaugurou um novo eixo da cidade em direção ao mar, a orla foi embelezada com a Avenida Beira-Mar, aberta em 1906, e a cidade, antes portuária, incorporou à sua vida urbana as praias de Copacabana, Ipanemae Leblon. Abria-se, então, o caminho para o litoral da zona oeste através da Avenida Niemeyer, inaugurada oficialmente em 27 de setembro de 1920, pelo rei Alberto I da Bélgica (1875 – 1934), em visita ao Brasil. Em um período de cerca de 20 anos, o Rio de Janeiro assumia sua identidade de cidade balneária. Voltando à Avenida Central. É de autoria do fotógrafo Marc Ferrez o Álbum Avenida Central: 8 de março de 1903-15 de novembro de 1906, importante registro da reforma da principal via da então capital federal, onde ele contrapôs reproduções das plantas às fotografias das fachadas de cada edifício documentado. Esse tipo de fotografia foi fundamental para a construção e para a difusão de uma nova imagem do Rio de Janeiro, uma imagem associada aos ideais de civilização e progresso. A linha central da avenida foi inaugurada pelo presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919), em 7 de setembro de 1904 (O Paiz, 8 de setembro de 1904, na sexta coluna, sob o título “Avenida Central” e Gazeta de Notícias, de 8 de setembro de 1904, na última coluna). No ano seguinte, 1905, sob um temporal, a avenida foi aberta oficialmente, em 15 de novembro (O Paiz, 16 de novembro de 1905, na quinta coluna, sob o título “15 de Novembro”). O engenheiro chefe de sua construção foi André Gustavo Paulo de Frontin (1860 – 1933). A Avenida Central, que ligava o novo porto, onde atualmente está a Praça Mauá, à região da Glória, tornou-se logo a principal via de circulação da cidade, e também seu polo econômico e de entretenimento. Seu nome foi mudado, por decreto, em 15 de fevereiro de 1912, para Avenida Rio Branco, uma homenagem ao diplomata e ministro das Relações Exteriores do Brasil, o barão de Rio Branco (1845 – 1912), que havia falecido cinco dias antes (O Paiz, 16 de fevereiro de 1912, sob o título “Barão do Rio Branco”). Na época de sua inauguração, a Avenida Central tinha 1.800 metros de extensão e 33 metros de largura. Cerca de 300 casas coloniais foram demolidas para a construção dos novos edifícios, cujas fachadas foram escolhidas por concurso. Alguns dos jurados foram o prefeito Pereira Passos, o engenheiro Paulo de Frontin, Lauro Muller (1863 – 1926), ministro da Viação e Obras Públicas; e Oswaldo Cruz (1872 – 1917), diretor-geral da Saúde Pública. Além de edifícios do governo, ergueram-se, na avenida, jornais, clubes, hotéis e sedes de empresas. O calçamento, em mosaico português, foi feito por artesãos vindos de Portugal. Passear pela Avenida Central era passear pela espinha dorsal do mundo das compras e do lazer dos elegantes, dos negócios e da cultura. Alguns remanescentes da primeira geração de prédios da avenida são o Teatro Municipal, o Clube Naval, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes e o Centro Cultural da Justiça Federal. Fonte: Biblioteca Nacional

  • A tragédia que transformou homicídio qualificado em crime hediondo

    Muitos tonaram conhecimento do mais novo documentário da plataforma de streaming HBO Max “Pacto Brutal – O assassinato de Daniella Perez”. Os mais jovens podem não entender a magnitude deste caso e como isso modificou a Legislação Brasileira. Para estes, escrevo as linhas que se seguem. A rede Globo possuía o monopólio da teledramaturgia, embora outras emissoras também investissem nas produções. A única vez que a Globo perdeu o posto de primeiro lugar em audiência foi com a exibição da novela “Pantanal”, em 1990, pela rede Manchete. Essa era uma época em que ser contratado da rede Globo era motivo de status, de grandeza. Não à toa, a emissora era chamada “poderosa”. Artistas de renome compunham o casting da casa, não apenas atores, mas autores de novela. Uma delas era Janete Clair. Janete é considerada até os dias de hoje a maior autora de novelas da teledramaturgia brasileira. Escreveu Irmãos Coragem (1970), Pecado Capital (1975) e Selva de Pedra (1972), esta última, a primeira a quebrar o recorde de audiência da época. A escritora faleceu aos 58 anos, vítima de um câncer. Antes de sua morte, necessitou de colaboração para continuar a escrever a novela “Eu prometo” (1983), pois já estava muito debilitada. Sua nora, então, apresentou a Janete Glória Perez, que continuou a escrever a trama. O ano era 1992. Glória estava escrevendo sua primeira novela solo (as anteriores sempre foram em parceria com outros autores). O nome da produção era “De corpo e alma”. Para o papel principal, Glória escalou sua filha, Daniella, que era bailarina e já havia feito pequenas participações nas obras “Kananga do Japão” (1989), “Barriga de aluguel (1990) e “Dono do mundo” (1991). Na trama, Daniella vivia a personagem Yasmin, que vivia um romance com Bira, mas que terminaria com Caio (Fábio Assunção). Bira, era vivido pelo ator Guilherme de Pádua. Guilherme, mineiro, saiu de Belo Horizonte de moto para tentar a vida no Rio de Janeiro. Fez parte do show erótico “Os leopardos” em 1988, que fez sucesso na época. A “atração” chegou a ser assistida por Lizza Minelli e Madonna. Em 1989, atuou no longa alemão “Via Appia”, que mostrava como era o submundo da prostituição no Rio de Janeiro. Depois, Guilherme fez teste para atuar na peça “Blue Jeans”, dirigida por Wolf Maia. A peça tinha em seu elenco atores em ascensão, como Fábio Assunção, Alexandre Frota e Maurício Mattar. Antigamente, um bom ator era formado no teatro. Apenas após algum tempo atuando, era convidado para participar de teledramaturgias. Assim aconteceu com os grandes artistas como Tarcísio Meira, Glória Menezes, Fernanda Montenegro, entre outros. E com Guilherme não foi diferente, embora fosse um ator medíocre. Em 1990, fez uma “ponta” (minúscula participação) na novela “Mico preto” da rede Globo. Em 1992, foi escalado para a novela “De corpo e alma” de Glória Perez. Mas como isso ocorreu? Ao escrever o personagem Bira, Glória pensou em Alexandre Frota que, à época, atuava na novela “Perigosas Peruas”, do horário das sete. Embora o diretor da novela da Gloria (que era a das oito) e da outra fosse o mesmo, foi o autor de “Perigosas”, Carlos Lombardi, que não permitiu que Frota fosse liberado. Glória e Roberto Talma, o diretor, conversaram e pediram ao departamento de elenco fitas de rapazes na faixa dos vinte anos e que possuíam o tipo físico semelhante ao de Frota, que era o mesmo do personagem. Na busca, encontraram Guilherme. Este seria seu primeiro papel de destaque; tinha tudo para ascender na carreira, pois a novela das 8 era a de maior audiência e dava visibilidade aos atores, que eram constantemente chamados para comerciais e, os rapazes, para festas de debutantes. Porém, a ganância e sede de poder fizeram-no cometer um dos crimes mais brutais dos anos 90. Como citei acima, Bira não terminaria com a personagem Yasmin, mas Caio. Porém, Guilherme andava insatisfeito e não aceitava o roteiro desta forma. Como Daniella, filha da autora, era a personagem principal, ele começou a cercá-la através de ligações e nos estúdios da novela, pedindo para que ela intercedesse por ele à sua mãe, para que Bira, tivesse maior visibilidade. No documentário da HBO Max, colegas da atriz relataram que ela reclamava do assédio de Guilherme, que, inclusive, estaria prejudicando seu casamento. Daniella era casada com o também ator Raul Gazolla há três anos. O ápice da fúria de Guilherme foi quando descobriu que seu personagem não apareceria em dois capítulos. Ele, indignado, procurou os produtores da novela pedindo incessantemente o telefone de Glória Perez, que não foi dado, evidentemente. A partir daí, começa o plano macabro para tentar crescer na carreira, utilizando sangue inocente. No dia 28 de Dezembro de 1992 foi gravada a cena do término de Yasmin e Bira. Neste dia, Guilherme cercou Daniella, de modo a vigiá-la e não permitir que ela saísse sozinha dos estúdios. Naquele mesmo dia, a atriz havia desabafado com o ator Sandro Solviatti, que disse: “Se você não contar para sua mãe hoje mesmo, vou contar amanhã.” infelizmente, foi tarde demais. Por volta das 21h, Daniella e Guilherme saíram dos estúdios. Ele foi na frente e a esperou em um posto de gasolina. A atriz parou para abastecer e na saída, foi emboscada por Guilherme, que deu um soco que deslocou seu maxilar e a fez desmaiar. Ele a colocou em seu carro, no banco do carona, enquanto ele assumiu a direção do carro da atriz. Quem dirigiu o carro de Guilherme era sua própria esposa, Paula Thomaz. No carro, Paula deu 18 punhaladas na atriz. Guilherme e sua esposa deixaram o corpo em um matagal na Barra da Tijuca. Em duas horas após encontrarem o corpo da atriz, a polícia descobriu que Guilherme de Pádua era o assassino e depois, o envolvimento de sua esposa. Em 25 de Julho de 1990, havia sido promulgada a Lei dos Crimes Hediondos. O texto da lei abrangia, praticamente, crimes ligados ao patrimônio. Homicídio qualificado não estava no rol. Logo, quem praticava tamanha barbaridade poderia responder em liberdade e, cumprindo um sexto da pena, poderia retornar à vida em sociedade. Foi o que ocorreu com Guilherme e Paula, que não passaram mais de sete anos na cadeia. E, no caso deles, após o cumprimento da pena, voltaram a ter “ficha limpa”, ou seja, para a lei, é como se nunca tivessem cometido crime algum. Isso fez despertar em Glória, aquela mãe que não pôde viver o luto da perda de sua filha, uma força imensurável para recolher mais de um milhão de assinaturas de todo o país para que a lei dos crimes hediondos fosse modificada. Vale lembrar que, em 1993, quando Glória iniciou esta jornada, não havia os recursos que temos atualmente. Hoje, em questão de horas, conseguimos que uma petição obtenha este número através da internet; porém, no ano em questão, a autora recebeu ajuda de amigos que pediam para transeuntes assinarem a petição. Atores que estrelavam peças de teatro passavam a lista após cada apresentação; barracas eram montadas na rua para colherem as assinaturas. Em três meses, ela conseguiu. Glória, acompanhada dos atores Cristiana Oliveira, Guilherme Karan e outros, levaram todas as assinaturas para Brasília, e pediram aos deputados para votarem. Foi uma vitória para o cidadão de bem. O crime possui inúmeros detalhes que, em virtude de espaço, não podem ser registrados neste artigo; porém, de algo tão bárbaro, Glória tirou forças para mobilizar todos o país a modificar a legislação, de modo a incluir o homicídio qualificado como crime hediondo. Recomendo que os jovens leitores da revista assistam ao documentário para que vejam os detalhes que não puderam ser escritos. E para que possam conhecer a luta de uma mãe para solucionar o crime cruel cometido contra sua filha, para que a mesma pudesse descansar em paz.

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