O problema não é a polarização
- Danielly Jesus

- há 5 dias
- 6 min de leitura

Estava eu navegando na internet em busca de uma pauta. Afinal, além de ter o privilégio de escrever para a Revista Conhecimento e Cidadania, trabalho em um portal de notícias. Em minha procura, encontrei um artigo da Gazeta do Povo, cujo título é “Brasil precisa parar de adorar entes políticos como Lula e Bolsonaro”.
Eu detesto este tipo de comparação esdrúxula. Primeiro que, quem admira Bolsonaro o faz justamente por ele ser o oposto do que temos visto desde o fim do regime militar: alguém que, de fato, almeja o bem do país e o faz sem politicagem.
Segundo, me espantou a publicação deste material em um jornal deveras renomado como a Gazeta do Povo. Estou até o presente momento atônita com o ocorrido.
Contudo, em vez de criticar o conteúdo gratuitamente, prefiro analisar o texto nas linhas a seguir.
Comecemos pelo seguinte trecho:
“Sempre que me perguntam sobre direita e esquerda, aponto o caminho para a frente…”
Esse tipo de análise rasa não me convence. No fundo, é uma tentativa de desviar-se de um posicionamento claro sobre suas convicções políticas. Um termo popular que define este tipo de pessoa é “isentão”.
Qual o problema em se posicionar? O problema consiste em ter que se explicar, e quando a pessoa não possui argumentos suficientes para tal, a tendência é de que seja “engolida” pelo seu opositor. Assumir uma postura não é para qualquer um, na realidade.
O texto segue:
“Em um país com características naturais tão singulares quanto o Brasil, o maior desastre natural orbita, literalmente, entre direita e esquerda na política”
Não, este não é o maior desastre. O que assola o país – e o mundo – é a questão moral. E neste espectro é a esquerda que deixa a desejar.
Exemplos que justificam isso não faltam: a ala progressista da força defende aborto, desencarceramento em massa, o fim da polícia militar, leis feministas que amordaçam os homens, entre outras pautas que decerto o leitor se recordou neste momento.
E o artigo segue:
“Clãs como os de Bolsonaro e Lula corroem toda a riqueza que poderíamos estar gerando para a população, pois, politicamente, atrapalham todos os que querem viver o melhor que o Brasil pode oferecer com base no próprio trabalho e esforço”
Confesso que minha primeira reação ao ler este trecho foi: “Hã? É sério que um CEO, formado na Escola Superior de Propaganda e Marketing, com curso de extensão pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, teve a audácia – para não dizer, a desonestidade – de escrever tamanho absurdo?”
A menos que este senhor tenha transferido sua residência para a lua ou adentrado em um buraco negro, é praticamente impossível que um empresário brasileiro não saiba das notícias econômicas do seu país. É de conhecimento público que Fernando Haddad aumenta e cria impostos com maior velocidade do que um chute de esquerda de Roberto Carlos; que Lula e sua turma de “papagaios de pirata” extinguem as reservas de dinheiro publico mais rápido do que o fogo que devastou a Califórnia e destruiu as casas das celebridades; que não houve sequer um único ser punido pela fraude do INSS e que os mesmos envolvidos estão sendo blindados pelo Judiciário.
Para que não fique somente nas minhas palavras, provarei o que estou dizendo com as seguintes manchetes:
“Gastos fora da meta fiscal ultrapassam R$ 300 bilhões em governo Lula 3” (CNN Money, 14/06/2025)
“Gastos do governo Lula com viagens oficiais superam os 4 anos de Bolsonaro” (Coluna Radar, Veja, 07/05/2025)
“Governo gasta, em média, R$ 5 milhões bancando viagens” (Canal Claudio Humberto, YouTube, 21/10/2025)
“Governo Lula gasta R$ 8,4 mi em 30 dias com anúncios nas redes e eleva gastos em 360%” (InfoMoney, 05/10/2025)
“Brasil terá rombo fiscal mesmo com recorde de impostos em 2025” (Poder 360, 19/10/2025)
Jair Bolsonaro, doutra sorte, enquanto esteve ocupando a cadeira da Presidência da República, fez com que um único verbo fosse conjugado: economizar. Mas não cabia somente a Paulo Guedes, ministro da Economia, a responsabilidade de “enxugar a máquina pública”. Jair Bolsonaro aplicava o mesmo verbo em sua própria casa.
Em entrevista para o jornalista Felipeh Campos no dia 8 de fevereiro de 2025, o empresário – e amigo da família Bolsonaro – Agustin Fernandez, relatou como era a rotina no Palácio da Alvorada:
“Bolsonaro é tão simples, tão simples, tão simples, que a comida era feita por militares e todo dia era a mesma comida: arroz, estrogonofe, bife de frango ou de carne e aquela salada que é alface, cebola e tomate. Naquela época, os lençóis eram da época do (José) Sarney. O colchão era muito desconfortável, o ar-condicionado era aquela caixa antiga que fazia um barulho… Então, o glamour que as pessoas viam de fora não era o que eu vivia la dentro”.
Agustin ainda relatou um episódio inusitado em relação a Jair Bolsonaro:
“Eu amo tomar banho longo, e o Bolsonaro falava assim ‘Para de ser vagabundo, isso aqui é dinheiro do pagador de imposto, não pode ficar o dia inteiro tomando banho!’Eu me sentia mal. Mas quando eu comecei a ver os gastos da atual primeira-dama, vejo que, na época, era economia para o pagador de imposto”.
Inclusive, foi o verbo “economizar” que possibilitou que o outro verbo, o “auxiliar”, fosse utilizado na pandemia. Se Paulo Guedes não tivesse trabalhado, o Brasil teria sucumbido. Graças a Deus e ao trabalho de um ministro capacitado – e não de um zé que colou do coleguinha no mestrado de Economia – o Brasil foi o que melhor se saiu economicamente no pior período da história mundial recente.
Sigamos com a análise:
“O Brasil tem tudo para ser um país bom de morar e empreender, porém desenvolveu uma vocação para o assistencialismo e a adoração de entes políticos como Lula e Bolsonaro.
Concordo com esta citação até a palavra “adoração”. De fato, o Brasil é uma nação próspera, mas o povo brasileiro desenvolveu vocação para o assistencialismo. Contudo, é importante explicarmos isso.
Até os anos 90, as regiões Norte e Nordeste não eram tão desenvolvidas como hoje. Muitos moravam em casas de pau-a-pique (desenvolvidas com bambu entrelaçado e seladas com barro), a seca castigava o sertanejo, muitos sequer possuíam um par de chinelos.
Neste contexto, nasce o “voto de cabresto”, onde políticos “pagavam” eleitores em troca de voto. O “pagamento” era em forma de cesta básica, água, tijolos ou até dinheiro vivo. Enquanto os candidatos subornavam o cidadão, realizavam inúmeras promessas de campanha que nunca eram cumpridas.
A título de exemplo: as promessas para a transposição do Rio São Francisco remontam ao século XIX, com o primeiro projeto sendo proposto em 1847 no Reinado de Dom Pedro II. Desde então, diversos presidentes anunciaram a obra.
Atualmente, o voto de cabresto é conquistado via assistencialismo, por meio de Bolsa Família e diversos auxílios. Note bem: não sou contra esses auxílios, contudo, devem ser entreguem àqueles que estão em situação de vulnerabilidade extrema. Porém, vemos que pessoas que estão aptas para trabalhar simplesmente não o querem, porque é mais cômodo esperar que o “pai Estado” seja o provedor do sustento.
Dados recentes divulgados pelo portal Poder 360 mostram dados alarmantes: dez estados brasileiros – todos das regiões Norte e Nordeste – possuem mais beneficiários do Bolsa Família do que trabalhadores com carteira assinada. O campeão é o Maranhão, com 521,6 mil pessoas a mais recebendo auxílio do que empregados.
Sobre o restante da frase:
“E isso impede que as coisas aconteçam e prosperem por aqui”
Polarização política é algo novo no Brasil, portanto, não é a responsável pelo caos instalado. A questão é, acima de tudo, moral. O mal de todo liberal é pensar que, resolvendo a questão econômica o resto fluirá, o que não é nem de longe verdade.
Vamos a um exemplo: uma matéria da CNN Brasil, publicada em 24/09/2024, denunciou: “Beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bi com ‘bets’ em agosto”. A ajuda que seria, em tese, para possibilitar a aquisição do alimento, estava sendo utilizada para apostar. Este é um problema moral extremamente grave, que não se resolve sequer aplicando as teorias da Escola de Chicago.
Para finalizar:
“É mais do que hora de desconstruirmos o status quo da política e do judiciário, como sociedade civil organizada e darmos um basta nisso tudo”
Vote 12345! (Não parece um jargão eleitoral?)
Sinceramente, eu esperava mais de um CEO. Alexandre Schwartsman tem mais conteúdo para oferecer.
Bom, não sou CEO de nada. Porém, apresento iniciativas que podem melhorar – um pouco – o país.
Diminuição ou aniquilação de impostos. O Brasil possui uma das maiores cargas tributárias do mundo. Economicamente falando, é inviável prosperar desta forma.
Diminuição ou aniquilação de cargos públicos (comissionados, apadrinhados, indicados, etc)
Isso ajudaria e muito a economia brasileira a respirar melhor.
PPP – Parceria Público-Privada. Medida importante para fomentar turismo, tecnologia, indústria e outros setores.
Rastreamento dos auxílios e limite de uso. Isso faria com que vulneráveis não perdessem o auxílio e inibiria os aproveitadores.
Fim de Brasília (polêmica essa). Tudo seria feito de maneira remota e cada parlamentar ficaria em seu estado. A medida traria uma economia absurda e faria com que certos deputados não fugissem da realidade da localidade que os elegeu. Estes seriam melhor cobrados pela população a resolver as demandas.
Diante do exposto, quando um CEO fala que o maior problema do Brasil é "polarização", penso com meus botões se este não é um analfabeto funcional, filho de Paulo Freire.
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Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 59 edição de Outubro de 2025 – ISSN 2764-3867





















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