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Editores da realidade

Editores da realidade

“Censura é proibida constitucionalmente, eticamente, moralmente, e eu diria até espiritualmente. Mas também não se pode permitir que estejamos numa ágora em que haja 213 milhões de pequenos tiranos soberanos” Carmem Lúcia, Ministra do Supremo Tribunal Federal

Um dos brinquedos mais populares na década de oitenta eram os exércitos de pequenos soldados, cowboys e índios apaches, aqueles pequenos guerreiros, quase sempre monocromáticos, travavam incontáveis batalhas em nome de seus senhores recém-saídos das fraldas. Aquelas guerras eram encenações cujo único propósito era entreter garotos que criavam histórias em suas jovens mentes, portanto, o seu desfecho atenderia o roteiro imaginado por seus donos. Curiosamente, vencedores e derrotados, tendo cumprido seus respectivos papéis, voltavam aos seus alojamentos para um merecido repouso, momento em que a rivalidade não mais importava, pois, nas caixas de brinquedos, não passavam de peças de plástico.

Sendo o convívio social algo intrínseco à natureza humano, ao crescer deixamos de nos observamos como o centro do universo, reconhecendo a existência de outras pessoas com independente, não se desintegrando quando fora de nossas vistas. Seja com irmão ou amigos, as brincadeiras em conjunto obrigam-nos a transigir, de forma que, aquelas batalhas de brinquedos deixarão de seguir uma vontade única para terem resultado definido pelo acordo daqueles que controlam os guerreiros. Nem sempre que os soldados são retirados da caixa um desfecho premeditado, como um roteiro, acontecerá, pois, diante da participação de outra mente, surgirá a intervenção dela nos desdobramentos do conflito e aqueles que despertaram condenados à derrota, poderão se sagrar vencedores.

Não raros os casos em que irmãos e amigos brigam para conduzirem as histórias conforme suas vontades, mas o tempo os fará entender que, juntos, poderão criar tramas muito mais ricas e memoráveis. Aprender que há vontades tão soberanas quanto as nossas é fundamental para que possamos coexistir e evoluir, não fosse pela intervenção de grandes pensadores, heróis, vilões e todos aqueles que de alguma forma colaboraram para legar algo, a humanidade não teria história. Mas há aqueles que, sendo donos dos brinquedos, preferirão os recolher às suas caixas a permitir que outrem dê novos rumos àquilo que planejara.

Conhecido entre seus amigos como “o dono da bola”, tal curiosa figura, não aceitando a derrota, recolherá a bola condenando a diversão a um final precoce, haja vista que, em sua visão egoísta, a única vontade que importa é a sua. Não aprendendo que seu sangue não tem mais valor e o universo não foi criado como um aquário exclusivo de um peixe raro, o dono da bola se recusa a saborear a frustração e busca impor aos outros o resultado que deseja, mas, ao menos, ele é o dono da bola.

Na mentalidade da elite revolucionária, que se considera iluminada, que se considera mais digna e capaz que todos os outros, mesmo que a bola pertença ao grupo, o líder dar-se-á o direito de interromper o jogo e tomar tal objeto para si, impedindo que o desfecho seja qualquer outro que não aquele que sua mente egoísta desejava. Faltando-lhe o pudor para reconhecer que rema contra a vontade de todos, algumas vezes contra a própria realidade, o revolucionário tentará assumir o timão do universo, julgando-se um deus entre homens e, voltando a sua primeira infância, tornar-se-á o senhor dos pequenos bonecos em sua brincadeira nefasta.

Talvez algumas pessoas não tenham tido a oportunidade de dividir seus brinquedos ou praticarem esportes coletivos, seja por impopularidade, isolamento natural ou, ainda mais triste, por terem sido encastelados por ascendentes tão arrogantes que não admitiam que os seus tivessem quaisquer contatos além dos muros que os protegiam da plebe que usavam fingindo proteger. Não por acaso, a regra entre os revolucionários é que suas lideranças sejam intelectuais criados em meio ao luxo que simulam empatia em relação aos menos afortunados, ao passo que os desprezam.

Não há como negar que os senhores da revolução gritam por igualdade do topo de suas ricas varandas, mas se recusam a se aproximar dos pobres que alegam defender como se leprosos fossem. Exigindo tratamento especial, de furar filas em aeroportos à área exclusiva em shows patrocinados pelo poder público, tais figuras se anojam do povo comum, mas os querem para lhes servirem, com a única condição de que jurem vassalagem a qualquer preço.

Ao exigir submissão total, através do totalitarismo, os líderes revolucionários desejam que homens de verdade tornem-se aqueles brinquedos que são sacados de suas caixas apenas quando o interesse de seus senhores assim pretender, entretanto, o quê se pede é que o indivíduo abra mão de seu livre arbítrio, algo que nem mesmo Deus tirou dos seres humanos, permitindo-nos errar, aprender, espiar nossos erros e buscarmos a redenção. Não seria louco imaginar que alguém que luta para subtrair o libre arbítrio de outros seres humanos, seja nada além de um servo daquele que outrora desejou o lugar do próprio Deus, mas isso fica para outra ocasião.

É bem provável que Maximillien Robespierre, Joseph Stalin, Adolf Hitler, Mao Tsé-Tung, Benito Mussolini, Fidel Castro, Hugo Chaves, Nicolás Maduro e outros tantos líderes abjetos não tenho aprendido a dividir seus brinquedos quando crianças e, por tal motivo, nunca superaram a fase da infância em que se consideravam o centro do universo e o motivo da existência de tudo, o que explicaria, sem justificar, seus feitos. Incapazes de superar a ideia de controlar cada passo de seus brinquedos, os ditadores acabam lutando contra a natureza humana, tendo em mente que, diferente dos soldados de plástico, cada homem tem seus desejos e suas motivações.

Destruir a natureza humana tornou-se a missão central dos nefastos senhores da revolução, criando estratagemas dos mais variados para subjugar a vontade inextinguível da alma humana por liberdade, haja vista que, se, como mencionado, Deus, em sua onisciência, não subtraiu a liberdade de consciência do homem, não seria um intelectual, cego por sua arrogância ou a serviço de uma força nefasta, que o faria.

Poderíamos alegar, em favor daqueles que buscam controlar a consciência humana, que a liberdade tem limites, mas há uma grande diferença entre limites impostos à convicção e consequências da ação, sendo necessário um parêntese para tratar do tema.

Ao impedir que se discutam temas ou se levantem hipóteses acerca de algo, o único resultado buscado é a hegemonia da elite, seja pelo fato de que, aos membros da revolução não se impede defender as mais transloucadas e doentias teses, ou, porque não se pode dar a chancela da verdade a um espectro, sob pena de não existirem vozes dissonantes. Por outro prisma, há de se enfrentar que, sem a liberdade de expressão, não há como discorrer sobre algo em sentido contrário à elite dominante, de maneira que, mesmo as falhas serão encobertas pelo silêncio. Como exemplo hipotético, é possível sugerir que um grupo de cidadão durante o regime nazista argumentasse em favor dos judeus e contra os campos de concentração, podendo convencer o povo daquele país que as medidas impostas pelo governo eram erradas, levando, ao menos, a questão ao debate. Obviamente, no cenário real, em que o Partido Nazista controlava o quê podia ser dito, ou seja, impunha a censura, tal grupo insurgente acabaria criminalizado e levado pelos trens aos campos de concentração.

Desagradar os senhores, em um regime totalitário, sempre foi considerado o crime mais grave, justamente, porque a liberdade para apontar falhas e desmandos do regime tende a desestabilizá-lo, por isso, bradar contra os ocupantes de posições de poder é, constantemente, uma ação rotulada de antidemocrática, não por atentar contra a democracia em si, mas contra aqueles que se julgam os donos da bola no jogo do poder, subtraindo, em seu favor, o conceito de democracia para o transmutar e dar falso verniz a sua ditadura.

Controlar a informação, além de espalhar a miséria, é uma arma usada para que os indivíduos sejam convencidos que a versão da elite revolucionária é a verdade e quando tal versão se torna tão inverossímil a ponto de não convencer as massas, resta deturpar termos, calar quem aponta para as falhas e, por fim, usar da violência para coagir a todos para que sigam, sem questionar, as ordens de seus senhores. Por isso, editar a realidade é a verdadeira utopia, posto que, é a busca infrutífera pelo horizonte que não seduz os idiotas úteis, mas a própria elite revolucionária.

O idiota útil, a massa de manobra que aposta na revolução coletivista para viver em um paraíso em vida, sendo que o plano material é, em sua essência, a fase de provação para a alma humana, em que vivemos em pecado para superá-lo e redimir nossa alma, fazendo com que a ideia de construir um paraíso de ímpios é uma utopia em si, por isso, o idiota útil busca chegar à linha do horizonte, guiado pela elite intelectual revolucionária, ignorando que, a cada passo dado na direção de tal linha, mais ela se afasta.

Em síntese, os servos das ideologias revolucionárias agem como se fossem marinheiros que, seguindo as ordens de seu capitão, acreditam que chegarão à linha do horizonte, enquanto o seu líder os mantém subjugados prometendo que, um dia, chagarão ao destino. Quanto mais buscam igualdade, mas ela é destruída, quanto mais buscam justiça, mais injusto seus métodos se provam, quanto mais lutam contra a miséria, mais a espalham, e, por fim, quanto mais afrontam as tradições, mais se autodegradam.

Por outro lado, a elite revolucionária não está sendo iludida por seus senhores, mas por sua própria soberba, uma vez que acredita ser capaz de dobrar a realidade e controlar a natureza humana, fazendo daqueles que estão sob seu poder criaturas reduzidas a brinquedos em uma caixa, o quê não incomoda os idiotas úteis que aceitam suas migalhas em troca de uma promessa mentirosa ou de uma pequena concessão de luxo, mas esbarra naqueles que buscam preservar sua existência e consciência.

Durante o experimento totalitário, apelidado como pandemia, na última virada de década, todos aqueles que ousaram expor quaisquer contradições nas narrativas adotadas pela Torre de Marfim foram tradados como negacionistas, termo cunhado para rotulá-los como pessoas contrárias à ciência, em que pese a regra nos campos científicos seja o enfrentamento de teses contrárias e a agenda transgênero seja flagrantemente contrária a ciência, logo, negacionista. Mesmo derrubadas algumas das teorias que embasaram as medidas autoritárias naquele período, a elite revolucionária luta para não reconhecer seus erros e abusos ou, simplesmente, se nega a tratar do tema.

A censura é o meio reconhecido para a imposição do autoritarismo, razão pela qual, torna-se elemento vital em regimes de tal natureza. Não há como manter um sistema autoritário sem o controle da opinião, da consciência, bem como, é impossível aplicar a censura sem que o regime se torne desmedidamente autoritário, logo, pode-se dizer que um não existe sem o outro.

Evidentemente, ninguém espera que um agente da censura, portanto autoritário, assumir-se-á sem cerimônias e sem uma máscara diante de todos. Não até que seu poder e soberba sejam tamanhos que sequer precise preservar sua imagem.

Negando sua natureza autoritária, a elite revolucionária colocar-se-á como bastião da democracia, justificando suas ações antidemocráticas, e incriminará qualquer um que considere um obstáculo em seu caminho, ainda que o crime seja discordar ou cogitar algo. Para tanto, atribuirá suas qualidades àqueles que pretende destruir ou calar, impondo-lhes rótulos como negacionistas, fascistas, golpistas, antidemocráticos e, por mais que pareça loucura, tiranos, ou melhor, pequenos tiranos, uma vez que não estão em posição de poder para exercer a tirania com a elite que os acusa.

A censura não é um remédio, mas um veneno para a democracia, de maneira que jamais deveria ser tolerada, mesmo em casos excepcionalíssimos, logo, não se poderia admitir a censura apenas para garantir o bem andamento do processo eleitoral, pois a democracia seria assassinada naquele momento e sucedida por um regime que considera a censura um instrumento válido.

A medida injustificável foi considerada por muitos como meio de salvar a democracia da democracia, ou seja, uma quimioterapia que tinha como finalidade matar o paciente e salvar o câncer, o quê torna-se inegável quando aqueles que deveriam ser os soberanos segundo a Carta Magna são escanteados da vida política em nome da defesa de um Brasil sem brasileiros, uma vez que, não passam de pequenos tiranos.

Pensando que a soberania é da elite e não do povo, podemos concluir que o mais de um bilhão de pequenos tiranos da China devem ser controlados pelo regime tão admirado pelos defensores da democracia, haja vista que seria deveras perigoso que tivessem a liberdade para questionar o democrático, ao menos em nome, regime que encante à Juristocracia brasileira, assim como, a tiranete que ousou criticar o regime venezuelano talvez mereça a condenação a dez anos de prisão. Há quem aplicam penas até maiores, chegando à prisão por quatorze anos.

Por fim, assim como Daniel entre os leões, devemos perseverar, pois não há mal que nunca se acabe, sendo assim, nós, os duzentos e treze milhões de pequenos tiranos, poderemos ver o raiar da liberdade no horizonte do Brasil.

Hino da Independência do Brasil

D. Pedro I e Evaristo de Veiga

“Já podeis da Pátria filhos,

Ver contente a mãe gentil;

Já raiou a liberdade

No horizonte do Brasil

Já raiou a liberdade,

Já raiou a liberdade,

No horizonte do Brasil.


Brava gente brasileira!

Longe vá temor servil

Ou ficar a Pátria livre

Ou morrer pelo Brasil;

Ou ficar a Pátria livre,

Ou morrer pelo Brasil.


Os grilhões que nos forjava

Da perfídia astuto ardil…

Houve mão mais poderosa…

Zombou deles o Brasil;

Houve mão mais poderosa

Houve mão mais poderosa

Zombou deles o Brasil.


Brava gente brasileira!

Longe vá temor servil

Ou ficar a Pátria livre

Ou morrer pelo Brasil;

Ou ficar a Pátria livre,

Ou morrer pelo Brasil.


Não temeis ímpias falanges

Que apresentam face hostil;

Vossos peitos, vossos braços

São muralhas do Brasil;

Vossos peitos, vossos braços

Vossos peitos, vossos braços

São muralhas do Brasil.


Brava gente brasileira!

Longe vá temor servil

Ou ficar a Pátria livre

Ou morrer pelo Brasil;

Ou ficar a Pátria livre,

Ou morrer pelo Brasil.


Parabéns, ó! brasileiros!

Já, com garbo varonil,

Do universo entre as nações

Resplandece a do Brasil

Do universo entre as nações

Do universo entre as nações

Resplandece a do Brasil.


Brava gente brasileira!

Longe vá… temor servil

Ou ficar a Pátria livre

Ou morrer pelo Brasil;

Ou ficar a Pátria livre,

Ou morrer pelo Brasil”.


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Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 55 edição de Junho de 2025 – ISSN 2764-3867


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