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  • A Páscoa

    Tradição, Reflexão e Renovação Espiritual A Páscoa é uma celebração profundamente enraizada na história da humanidade, marcando tanto a libertação dos hebreus da escravidão no Egito como, para os cristãos, a ressurreição de Jesus Cristo. Ao longo dos séculos, essa festividade foi absorvida por diferentes culturas e tradições, adaptando-se ao contexto social e espiritual de cada época. Mais do que um feriado, a Páscoa é um convite à reflexão sobre nossas falhas e sobre a importância do perdão e da renovação da fé. A palavra "Páscoa" vem do hebraico “Pesach”, que significa "passagem". No Judaísmo, ela representa a libertação dos hebreus do Egito, evento central do Êxodo. Para os cristãos, a Páscoa tem um significado ainda mais profundo: é a celebração da ressurreição de Jesus Cristo, o momento que marca a vitória sobre a morte e o pecado. Com o tempo, a Páscoa cristã assimilou símbolos de fertilidade e renovação presentes nas tradições pagãs europeias, como o ovo e o coelho, representando o renascimento da vida. Apesar das mudanças culturais, o cerne da celebração permaneceu inalterado: a fé na ressurreição e no amor redentor de Cristo. Quando o Cristianismo se tornou a religião predominante no Império Romano, a Páscoa foi consolidada como sua principal festa religiosa. Para reforçar o sentido espiritual da celebração, a Igreja Católica estabeleceu a Semana Santa e o Tríduo Pascal, período no qual os fiéis revivem os últimos momentos de Cristo antes de sua gloriosa ressurreição. Hoje, entretanto, a Páscoa também tem um aspecto comercial e social, muitas vezes desconectado de seu significado original. Mesmo assim, para os que buscam preservar sua essência, ela continua sendo um momento de profunda reflexão sobre a vida, o sacrifício e o amor divino. O Tríduo Pascal: A Essência da Páscoa Cristã O Tríduo Pascal compreende os três dias que antecedem a ressurreição de Cristo. Ele representa os momentos mais intensos da fé cristã, convidando os fiéis a meditarem sobre o sofrimento, a morte e a vitória de Jesus sobre o pecado. 1. Quinta-feira Santa – O Amor e a Servidão Este dia celebra a Última Ceia de Jesus com seus discípulos, na qual Ele institui a Eucaristia, oferecendo pão e vinho como símbolo de seu corpo e sangue. Além disso, ocorre o lava-pés, um gesto de humildade e serviço que ensina a importância de amar e servir ao próximo. Após a ceia, Cristo segue para o Jardim das Oliveiras, onde enfrenta profunda angústia em oração antes de ser traído e preso. 2. Sexta-feira Santa – O Sacrifício Redentor A Sexta-feira Santa é marcada pela Paixão e Morte de Cristo na cruz . É um dia de jejum, silêncio e profunda reverência. Durante a Liturgia da Paixão , os fiéis meditam sobre o sacrifício de Jesus e participam da Adoração da Cruz, reconhecendo o amor incondicional de Cristo pela humanidade. A Via-Sacra relembra o doloroso caminho de Jesus até o Calvário, onde Ele entrega sua vida pela redenção dos pecados. 3. Sábado de Aleluia – A Expectativa da Ressurreição Este dia simboliza o período em que Jesus esteve no sepulcro. É um momento de reflexão e esperança, enquanto os cristãos aguardam a chegada da ressurreição. Na Vigília Pascal, celebrada à noite, a escuridão da igreja é rompida pelo Círio Pascal, representando Cristo como luz do mundo. A liturgia renova a fé e culmina na celebração da primeira missa da Páscoa. A Páscoa não é apenas uma comemoração religiosa; é um momento de reconhecer nossas falhas e buscar a reconciliação. Assim como Cristo se entregou por amor, somos chamados a perdoar, a amar e a renovar nossa caminhada espiritual. No mundo moderno, onde tantas distrações nos afastam da verdadeira essência da vida, a Páscoa nos lembra que a fé, o sacrifício e a misericórdia são fundamentais para encontrar a paz interior. A Páscoa passou, deixando em nós um chamado à reflexão e à renovação. Revivemos os momentos da Paixão, da entrega e do triunfo da ressurreição, e agora seguimos adiante com corações renovados. Que os ensinamentos vividos nesse período não se dissipem com o fim das celebrações, mas permaneçam guiando nossas escolhas e atitudes. Assim como Cristo venceu a morte e trouxe nova vida, que nós também saibamos transformar nossas falhas em oportunidades de crescimento, levando adiante o amor e a esperança que a Páscoa nos inspira. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 53 edição de Abril de 2025 – ISSN 2764-3867

  • A Semana Santa

    Essa é a semana mais importante do ano, para os cristãos. Nela, revivemos a paixão de Cristo, suas dores e sofrimentos, as traições sofridas, os flagelos de sua carne e o jorrar de seu sangue. Rememoramos a Santa Ceia, o beijo da morte vindo de Judas, a negação de Pedro ao amanhecer, as falhas de caráter e a maldade humana, em sua potência máxima. Também lembramos de José de Arimateia, que pediu a Pilatos o corpo de Jesus, colocando-o em um túmulo nunca antes utilizado, aberto na cavidade de uma pedra. Dali o corpo desapareceria, reaparecendo Cristo, já ressuscitado, para seus apóstolos, no Domingo. Houve, ainda, a reconciliação de Herodes e Pilatos, inimigos declarados, mas agora unidos pela decisão que mudaria o rumo da Humanidade. Um, porque incentivou a crucificação. O outro, por ter lavado suas mãos, deixando a cargo da turba enlouquecida, que queria o Cristo crucificado, no lugar de um criminoso condenado. Refletimos sobre a primeira pessoa para quem Cristo apareceu, após ressuscitado: Maria Madalena , que foi ao seu túmulo rezar e encontrou-o vazio, tendo o Mestre surgido, então. Cristo não foi reconhecido por ela, num primeiro momento. Somente ao chamá-la pelo nome, esta percebeu que tratava-se do filho de Deus. E há muitos momentos mais… Todos os vícios e virtudes humanos já descritos ou conhecidos estiveram ali configurados, naquele episódio torpe da Humanidade, em sua pior versão. Houve quem se superasse, mostrando-se maior do que antes fora. Outros, na iminência da perseguição e da prisão, negaram o Cristo, fugiram, acovardaram-se. Muitos outros torturaram-no, feriram-no, xingaram-no, vilipendiaram seu corpo, humilharam-no, atacaram-no. A humildade de Cristo, em contrapartida, revela-se em muitos momentos. Na Santa Ceia, ao lavar os pés de seus 12 Apóstolos. Na aceitação da humilhação e dos sofrimentos que lhe foram infligidos, durante a via crucis de sexta feira. Na redenção do ladrão com ele crucificado, exortando-o para que entrassem juntos no Céu. Sobretudo, na submissão total e irrestrita à vontade de seu Pai. Afinal, Jesus poderia, após tantos milagres realizados, com um só gesto, fazer cessarem todos aqueles atos bárbaros, de selvageria e brutalidade, contra ele perpetrados. Contudo, a vontade de Deus era de que sofresse Ele, o Cristo, em seu próprio corpo, para salvar a Humanidade. E assim foi feito. Tudo que emerge da Semana Santa, pode ser ferramenta para nossa evolução, com o aprimoramento das nossas virtudes, a elevação moral, a busca do amor, da compaixão e da solidariedade. Podemos morrer para quem fomos, renascendo para sermos quem queremos ser. Muito nos foi dado. É justo que retribuamos. Podemos ser bons. Sinceros. Justos. Corajosos. Equilibrados. Amorosos. Fraternos. Menos raivosos e ressentidos, egoístas e autocentrados. A mudança sempre começa em nós. A fé materializada gera um conjunto de atitudes, que podem transformar-nos como seres humanos. Desejo uma Santa e abençoada Páscoa para todos. Que Jesus esteja em seus lares mas, principalmente, em seus corações. Todos podemos ser maiores e melhores. O exemplo está ali: basta olharmos para a cruz. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 53 edição de Abril de 2025 – ISSN 2764-3867

  • A guerra dos enclaves

    A Grécia antiga, conhecida por seus habitantes como Hellas, diferente daquele que vemos nos dias atuais, pois, naquele tempo, o que hoje conhecemos como Grécia era uma região composta por cidades-estados de forma que, os centros urbanos gozavam de soberania, pois os cidadãos livres, que participavam ativamente da política, não possuíam vínculos com quaisquer outras cidades, logo, havia uma total independência entre uma cidade-Estado e as outras. Evidentemente, as terras próximas de uma determinada cidade-Estado estavam sujeitas à influência daquela e, por vezes, a ausência clara de fronteiras fazia com que duas das figuras soberanas disputassem o território que consideravam como seu. A existência clara entre fronteiras faz com que nações não precisem se digladiar em disputa por porções de terras, por outro lado, a definição das fronteiras pode ser questionada com base em inúmeros argumentos. Se por um lado uma fronteira pode ter surgido com base em um determinado marco geográfico, como é o caso das fronteiras fluviais, destacando-se o Rio Danúbio, responsável por dividir diversos países do leste europeu e as fronteiras entre Brasil, Paraguai e Argentina, ao sul do continente americano. Por outro lado, há fronteiras que surgiram com base em tratados, sendo resultado de guerras ou não. Nenhuma fronteira é inquestionável, podendo uma nação reivindicar uma alteração sob os mais diversos argumentos. Usualmente, para que um país alegue que a fronteira não deveria ser estabelecida em determinado ponto, seus líderes levantarão questões históricas ou a presença de uma população que se considera integrante do povo da nação que não detém a soberania em determinado território. A Bolívia, eventualmente, reivindica seu acesso ao mar, ora perdido para o Chile em batalha, questionando o resultado do episódio, de maneira que, busca que o governo chileno reconsidera a anexação da região que ocorrera há mais de um século, todavia, não existem relatos recentes de que a Bolívia tenha ameaçado uma ação beligerante com o fim de reaver tal território. A Venezuela, por sua vez, deixa evidente que está disposta a recorrer ao uso da força para mover a fronteira da Região do Essequibo, buscando invalidar o tratado que definiu ser da Guiana a maior parte da aludida região, de maneira que, a ditadura bolivariana pretende, mesmo se isso der início a uma guerra, se apossar de todo o território, o que inclui parte que pertence ao Brasil, para satisfazer a sanha do ditador, talvez como meio de concentrar os esforços da população em uma guerra vazia que visa, tão somente, o enriquecimento do déspota que ocupa o poder, a despeito dos males que o próprio governo narcossocialista impôs ao povo daquele país. Uma outra reivindicação, está levada a cabo por ação beligerante, foi feita pela Rússia em relação à Criméia e, posteriormente, às regiões de Lugansk e Donbasse, em face da Ucrânia, cujo fundamento apontado pelo ditador russo era a proteção dos russos étnicos que habitavam a região, alegando que a Ucrânia, sofrendo grande influência do ocidente e contaminada por uma espécie de neonazismo, tomava medidas enérgicas contra grupos separatistas que pretendiam anexar tais territórios à grande potência vizinha, colocando em risco a integridade dos russos étnicos que ali viviam. Embora Moscou patrocinasse ativamente os separatistas, por isso, após seu fracasso decidiu assumir que a intenta dos supostos guerrilheiros era, na verdade, uma ação da própria Rússia, o temor em relação da aproximação da Ucrânia com o ocidente restou evidente quando o país do leste europeu decidiu se candidatar ao posto de membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, o que impediria uma ação da Rússia contra a Ucrânia sem, em tese, sofrer a retaliação de outros membros da organização. Uma reivindicação ainda mais acentuada, embora ainda não tenha resultado em uma ação militar declarada, é da ditadura chinesa em relação à Taiwan, na qual, o governo socialista de Pequim apenas instiga um possível ataque, provocando seu alvo para desgastar a confiança do povo taiwanês em seus líderes. A questão de Taiwan difere das demais reivindicações ora apresentadas por conta de um ponto central, a China não pretende anexar parte do território de Taiwan, desejando assumir o controle total da soberania da ilha, de forma que o Estado taiwanês deve ser extinto caso a gigante ditadura asiática concretize seu desejo. A soberania permite que seu detentor, sendo o povo, uma ditadura ou qualquer outro regime de governo, exerça sobre aquele território o poder em caráter absoluto, estando adstrito às regras preestabelecidas em sua norma fundante, quando ela existir. Um Estado soberano, em regra todos o são, é capaz de se autogerir, criar suas normas e dirimir conflitos entre seus integrantes, podendo opor-se aos desmandos externos em seus domínios. As fronteiras podem apresentar características interessantes, mas o caso dos enclaves é algo que pode nos levar a uma reflexão sobre a questão da soberania, posto que, embora existam países que não possuem um acesso a uma rota libre, ou seja, uma saída para o mar, na qual é preciso manter uma relação comercial ou militar sem anuência de outro Estado, como a já citada Bolívia, incapaz de manter uma rota, ainda que espacial, sem a concordância de seus vizinhos, os enclaves, em se tratando de Estados, são países em que o território é totalmente circundado por outro país, não podendo manter rotas terrestres ou aéreas sem que o seu único vizinho permita. Os enclaves mais conhecidos são o Lesoto, inserido em meio ao território da África do Sul, o Vaticano e San Marino, enclaves envoltos pelo território italiano, de maneira que, tais Estados não podem se relacionar comercial ou militarmente com qualquer país que seja sem a aquiescência dos países que os circundam. Hipoteticamente, caso Lesoto e a África do Sul iniciassem um conflito por quaisquer motivos, salvo a interferência de terceiros, isolaria o enclave, impedindo que qualquer tipo de ajuda, seja militar ou humanitária, fosse enviada àquela pequena nação. No cenário de guerra entre Lesoto e África do Sul, se o apoio dado por outras nações se resumisse ao que ocorre na Ucrânia, envio de dinheiro e armas, o Lesoto sequer poderia receber tais contribuições, não podendo garantir seu esforço de guerra. Seria, em tal hipótese, um cerco com base na estrutura existente anterior à guerra em si. O mesmo ocorreria com San Marino em se tratando de um conflito entre tal enclave e a Itália. O Vaticano seja talvez uma rara exceção, uma vez que seu valor inquestionável à grande parte de cidadãos de outros países faria com que diversas nações fossem compelidas a intervir e impedir que a soberania daquele país fosse ameaçada. A própria Itália, dado o considerável número de italianos que professam a fé católica, teria dificuldades em promover uma invasão ao Vaticano. Analisando pela ótica do Vaticano, que, como observado, quase não corre o risco de sofrer um ataque por parte do país que o circunda, nota-se que o senário se inverte, pois a Itália acaba por se tornar uma defesa do pequeno país, impedindo que uma nação estrangeira avançar sobre o Vaticano sem antes declarar guerra à Itália, tal regra também pode favorecer San Marino e o Lesoto, se estes mantiverem uma boa relação com aqueles que os cercam. Não há como declarar guerra ao Lesoto sem que a África do Sul, ao menos, concorde com a invasão, caso contrário a nação circundante estará envolvida no confronto, servindo de barreira em favor do Lesoto, caso em que a África do Sul tornar-se-ia um obstáculo maior que as próprias defesa do país que se pretende atacar. No passado a África do Sul interviu no Lesoto para, segundo o Governo de Mandela, evitar um suposto golpe de estado, quando um dos partidos do pequeno enclave conquistou setenta e nova de oitenta cadeiras no parlamento, gerando o questionamento quanto a lisura do processo eleitoral. Evidente que a África do Sul, governada por Nelson Mandela, não constatou grandes irregularidades no processo eleitoral do Lesoto quando partido denominado Congresso do Lesoto para a Democracia, ligado à Internacional Socialista, venceu as questionadas eleições por uma vantagem quase inimaginável. A Itália, no período da Segunda Grande Guerra, também interviu em San Marino para apoiar os fascistas, bombardeando o pequeno enclave, surgindo assim o Fascio Republicano de San Marino. Seguindo os mesmos moldes de Mussolini, Mandela apoio seus pares ideológicos intervindo no enclave, o que prova a fragilidade e interdependência de uma nação cujo território está inserido e cercado por outro Estado. Ao que indica, a soberania de um enclave é algo frágil, quase que sujeita a aprovação daquela nação que cerca totalmente o país encravado. Assumindo a ideia de soberania fragilizada, é inevitável se questionar se há de fato soberania, posto que, a autodeterminação independe da permissão de um ente maior, podendo aquele povo editar regras conforme sua vontade. Hipoteticamente, a soberania de San Marino que sequer tem uma força de defesa, contando apenas com forças de segurança e cerimoniais, cabendo a Itália garantir a proteção de seu território, ou até do Lesoto, que dispõe de um exército formal que está adstrito às funções de guarda real e policiamento, sendo, portanto, incapaz de se proteger de sua vizinha, podem ser questionadas. Mais uma vez, desconsideramos o Vaticano, por ser a sede da Igreja Católica e, por isso, ter a proteção dos católicos em todo o mundo, sem contar que, mesmo os ortodoxos e protestantes, naturalmente, repudiam a ideia de um ataque belicoso ao Vaticano. A soberania permite que um ente, que pode ser representante do povo ou não, pois um ditador ou tirano podem exercê-la, possa dirimir conflitos, promover políticas e editar suas regas, podendo impô-las pelo uso da força. Um Estado soberano é capaz de impor um código de ética para o convívio e exercer a jurisdição, que é apontar a quem assiste razão em um conflito, além disso, ele se autogere, se organizando e distribuindo funções, o que não e uma prerrogativa única da soberania, mas encontra-se presente para que existam meios de legislar, julgar e governar. Não há como negar que o crime organizado, assumindo sua face de guerrilha narcossocialista, apresenta características de Estados soberanos nas áreas sob sua influência, posto que, tais forças criam seus códigos de conduta e os impõem aos que ali vivem, contando até mesmo com julgamentos e aparato de repressão. Os senhores dos enclaves chamados favelas, são praticamente soberanos em seus territórios, ocorrendo, por vezes, intervenções do Estado que os circunda, mas sem grande repercussão, pois, são situações pontuais e cada vez mais restritas. O Presidente salvadorenho Nayib Bukele, conhecido por suas ações drásticas contra o crime organizado em seu país, as chamadas maras, chegou a afirmar que um Estado que não combate com a máxima energia as organizações criminosas que atuam em seu território deveria ser considerado cúmplice, deixando evidente que a existência dos enclaves que são bolhas de soberania em meio à outra, só podem existir com a anuência daquele que deveria o soberano real sobre aquele território. A narrativa de que o Estado não poderia agir com firmeza devido às violações de direitos humanos, critica que se aplica à administração de Bukele, não encontra fundamento, uma vez que, a existência de enclaves do crime em território de um país, permite que as organizações criminosas que dominam tais espaços exerçam sua soberania violando ininterruptamente os direitos humanos daqueles que estão sob o seu julgo, ainda que vivam ou circulem apenas pelos arredores, portanto, ao sobrepesar o direito do membro da organização criminosa e de suas vítimas, o Estado deveria proteger aqueles que, em nenhum momento, optaram por delinquir e violar o direito alheio. Ao alegar que as forças de segurança não podem atuar com energia com o fim de evitar violações de direitos humanos, o Estado está relegando os cidadãos, em especial os afetados pelas ações dos criminosos, à soberania dos enclaves do crime, assumindo, segundo o Presidente Bukele, uma posição como cúmplice dos algozes de seu povo. O governante salvadorenho traz à superfície uma hipótese que pode ser aterrorizando, pois, se consideradas a áreas sob o controle das organizações criminosas, cartéis organizados, hierarquizados e com códigos de éticas claros, além de assumirem uma postura cultural, afirmando sua ideologia e influindo nas práticas comerciais e de entretenimento, podemos perceber que há um distanciamento entre os cidadãos que vivem no território circundante e os que habitam os enclaves do crime. Assumindo tal premissa, os cidadãos que vivem nos enclaves do crime podem se considerar como integrantes de outro povo, por isso, a máxima de que o outrora chamado morador do asfalto não merecia a preocupação, sendo, na visão de conflito de classe, uma classe opressora que deve ser expropriada pelos agentes da revolução, ou seja, os senhores dos enclaves com soberania parcial ou tolerada. Se, por um lado, o Estado soberano pode atuar contra as organizações criminosas que atuam em seu território, cercando-as e assumindo o controle das áreas sob suas influências, também é importante dizer que, ao deixar de investir contra as facções, mesmo que fundamentando na narrativa dos direitos humanos que só alcançam o lado dos membros do crime organizado, o Estado estaria servindo de escudo para que outras forças não pudessem atuar no sentido de reprimir as organizações criminosas. Observando tal impasse, abraçando a teoria do Chefe de Estado de El Salvador, assim como a Itália serve de proteção para um possível ataque contra San Marino e o Vaticano, e a África do Sul teria o mesmo papel em se tratando do Lesoto, poder-se-ia imaginar que o Brasil desempenha a mesma função quando em se tratando das organizações narcossocialistas, como o Primeiro Comando da Capital, o Comando Vermelho, o Terceiro Comando e os grupos paramilitares denominados milícias, além de outras facções menores que, por ventura, assumam igual papel. É evidente que a ideologia socialista abrigou em seu seio, tais facções, algo esperado uma vez que foi tal pensamento político que outrora deu vida ao que hoje são as guerrilhas narcossocialistas, portanto, não seria absurdo, após refletir a respeito da fala de Bukele, que Estados como o México são associados e protetores dos cartéis que lá habitam, confirmando a hipótese que as facções no Brasil são enclaves que gozam do reconhecimento parcial e da proteção indireta do Estado, algo que fica ainda mais sombrio se observadas as políticas de enfrentamento ao crime organizado por parte de políticos de viés marxista ou social-democratas, como o nada saudoso Leonel Brizola, a quem se atribui uma diretriz de recuo das forças de segurança e o “abandono” das áreas ocupadas pelo crime organizado. Quando houve, ao menos em proposta, a ideia de enfrentamento mais enérgico em face do crime organizado, uma legenda socialista recorreu ao Poder Judiciário para impor limites à atuação policial apenas no Rio de Janeiro, criando uma espécie de regramento que protegia apenas as organizações criminosas que atuam naquele ente federativo, o que parece uma resposta à promessa de enfrentamento ao crime que pode ter sido um dos fatores que elegeu o chefe do governo fluminense no ano anterior. Se as facções lutam pelo controle territorial e, uma vez assumindo-o, passam a impor seu código de conduta, explorar atividades mercantis, lícitas ou não, além de influenciarem diretamente na cultura, tais grupos arregimentam soldados entre os jovens locais e alimentam a narrativa de que as forças de segurança acabam por ceifar a vidas de uma juventude periférica que a própria guerrilha revolucionária levou para o fronte, romantizando a criminalidade e assediando com dinheiro e poder os incautos, dando aos que pretendem frear a atuação coercitiva dos agentes de segurança, elementos que justifiquem a interrupção total ou parcial do enfrentamento ao crime. Os senhores dos enclaves, por sua vez, percebem que podem exercer o poder em seu território através da força e avançam sobre as áreas que circundam, expandindo suas atividades para localidades mais lucrativas, cientes de que devem desafiar o Estado de forma pontual, pois, para o seu próprio povo, os que vivem nos enclaves, precisam passar a imagem de entes soberanos, ao passo que buscam conquistar os enclaves que são controlados por outras facções, entretanto, para os que vivem fora de seus domínios, é preciso impor o medo sem que se coloquem como uma afronta real ao Estado. Por fim, na mais perversa das hipóteses, ainda assumindo a premissa de Nayib Bukele, é preciso verificar se, assim como a harmonia existente entre San Marino e a Itália, não há uma relação de simbiose entre o Estado e os enclaves do crime, que proteger-se-iam mutuamente para que figuras estranhas não possam agir contra as organizações criminosas e tais facções, de alguma forma, concedam favores às autoridades ou ao regime como um todo, impedindo que o povo se levante contra seu verdadeiro algoz, um conluio entre o poder aparentemente legítimo e aquele que sequer apresenta verniz de legalidade. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 52 edição de Março de 2025 – ISSN 2764-3867

  • A construção de uma nação

    Uma nação não nasce de um dia para o outro, a história de um povo é a sua essência, forjada por séculos, há aquilo que mantém tantos indivíduos ligados em uma fraternidade única. O descobrimento é o ponto chave na criação do Brasil que hoje conhecemos, para alguns até mesmo tal nome deveria ser modificado, entretanto, é assim que será chamado, pois descobrir é revelar e desde aquele encontro de duas culturas tão diferentes começara a se desenhar aquilo que hoje chamamos de Brasil. Parte das pessoas credita a chegada dos portugueses ao Brasil à fortuna e outras tantas ao desejo de desbravar novos horizontes, sendo certo que, por um golpe de sorte, o qual pode ser também reconhecido como o designo divino, ou pela dedicação daqueles que buscavam novas terras, deve-se assumir que as navegações eram aventuras que dependiam de fé e conhecimento. Se os ventos da sorte ou a dedicação trouxeram os navegadores ao Brasil, esta escrito que esta terra deveria ser o local do encontro entre os povos indígenas e os europeu, logo, independente da versão que se assume, há de se reconhecer a importância da descoberta. Dos portugueses, descendentes do Império Romano, e dos índios, que já habitavam as terras do novo mundo, a princípio, surgiria o povo brasileiro, não fosse o fato de o futuro nos reservar ainda mais. Surgem as invasões, ora franceses ora holandeses, miscigenando ainda mais o povo e, a chaga da escravidão, que trouxe às terras do Brasil os escravos, oriundos de mais de uma etnia, somaram-se a forjar a raiz do que hoje é o brasileiro. As guerras, de Guararapes à participação na Segunda Grande Guerra derramou o sangue dos brasileiros e moldou heróis, não menos importantes foram os grandes nomes que ascenderam a produção cultural do país, como Machado de Assis, Heitor Villa-Lobos e tantos outros. No Brasil atual, parece que a cultura tem sido vaporizada, consumida por chamas de uma subcultural nefasta, como recentemente ocorrera Museu de História natural, outrora palácio no qual residira o monarca. O advento da obra do lúmpen proletariado  e sua consagração como “arte”, a fim de alçar ao topo da produção cultural do país, fazendo com que, a nação seja incapaz de produzir a boa arte. Apaga-se a memória ao passo que dão novo significado às palavras, corrompendo a linguagem , ou simplesmente suprimindo informações. Tratando o regime de exceção de outrora como ditadura, os revolucionários que buscavam impor uma ditadura como defensores da democracia e, até mesmo, apagando o nome de autoridade  em feito que a envergonhe. Guardar a memória é essencial para manter a história de um povo e assim conservar sua verdade, a cultura é a manifestação de uma nação e através dele, lega-se às gerações vindouras o sentimento fraterno entre os cidadãos, sendo, um povo sem história e sem cultura incapaz de identificar-se e proteger-se. Não por acaso, revolucionários rejeitam a celebração do hino nacional, pois sabem reforça a fraternidade entre patrícios, sem, contudo, causar objeção à execução de sua abjeta exaltação do hino da internacional socialista, uma ode à pútrida ideologia que derrama sangue como meio de obtenção do poder. O cuidado em preservar a cultura e, portanto, a história é um dever de todos, afinal, muitos de nós conhecemos os chamados “velhos ditados”, reconhecidos, devidamente, como sabedoria popular. Sabemos que há inúmeros contos na literatura de cordel e nas cantigas do interior não morreram, em que pese, queiram enterrar vivas, as tradições das serestas e as festas juninas, cada vez mais distantes, celebrações que em outros tempos, tão próximos que recordamos, celebravam São João, Santo Antônio e São Pedro, apresentando ao público as chamadas quadrilhas, não as que tomam de assalto os cofres da nação, mas aquelas que através da cultura uniam seus integrantes que somavam esforços para manifestar o ser brasileiro. A sétima arte se corrompeu no crepúsculo do extinto Cinédia, antigo estúdio cinematográfico em Jacarepaguá, onde hoje há um condomínio, destroçando-se quando a produção do cinema acaba por morar na mesma região, no atual Projac, caindo nas mãos de uma empresa diretamente dedicada ao monopólio da informação . Não conservar a produção cultural, mas acrescentá-la, é indispensável ao resgate do povo e um futuro com esperança. A história precisa ser verdadeira e não aquela contada por alguns . É imperioso que a produção de conteúdo artístico seja uma prioridade, antes que sequer consigamos entender quem somos. Retomando o fato de como hodiernamente o Brasil se encontra, estamos presenciando uma revolução comunista à moda Gramsci, esta que fora implementada há anos, de forma que a cultura do povo brasileiro tem sido renegada para aderirem à sociedade uma cultura marxista. A cultura retém tamanha importância pois esta molda a sociedade, isto é, uma civilização nada mais é do que um amontoado de indivíduos, sendo baseada numa média de seus componentes, um ou outro será destoante, todavia, majoritariamente haverá uma similaridade dentre os valores de seus integrantes. De forma análoga, no Direito têm-se o conceito de que o poder emana do povo, considerando tal afirmativa e retirando do âmbito jurídico, temos o poder caracterizado como valores, mantendo-se em tal analogia retemos o sentido de que, um povo o qual deseja pena de morte para determinados crimes, terá tal pena em seu território, de forma concreta vemos este caso e na abstrata, na cultural, têm-se um povo cujo não achará nenhum absurdo algum criminoso ser morto devido seu crime, a lei nasce para regulamentar os valores sociais. Dito isto, podemos ver de forma simplificada os valores de uma nação em suas leis, pois esta é visível, é literária, enquanto a cultura está no modo de pensar, viver, de cada indivíduo. Um povo cujo renega sua própria cultura, é um povo desconexo, algo o qual vivenciamos no Brasil, pessoas distribuídas em subgrupos, tentando aderir um arrematado de ideias que não fizeram parte na construção de sua personalidade. Nada é feito atoa, uma civilização dividida é naturalmente enfraquecida por si mesma, veja bem, quem nunca viu um brasileiro falar mal do Brasil, se dizer menos brasileiro, como se fosse uma ofensa, hastear uma bandeira de um subgrupo homossexual no local de sua nação. Feito tal adendo, aponto para o âmbito artístico novamente, pois esta, é uma área inexplorada por conservadores, uma pauta a qual não se discute, visto que está em mãos inimigas. Como Olavo de Carvalho dizia, um artista é um intelectual, jamais por ser inteligente, vemos diversos artistas como Anitta e sua afirmação dos dólares voando , isto é, o título de intelectual é para aquele o qual consegue moldar a mente de uma multidão, infelizmente, a própria Anitta tem milhões de seguidores, de reproduções em suas músicas, inclusive crianças acabam tendo contato, então Olavo caracteriza alguém assim como intelectual, e é isso que falta, professores, artistas, jogadores de futebol, qualquer pessoa que tenha influência no mais leigo, apenas livros, palestras de conservadores para conservadores, acaba sendo um movimento brusco, o qual é sim necessário, todavia, não neste momento, pois entrega-se um conteúdo vislumbrante sobre patriotismo para pessoas as quais buscam a cultura brasileira, enquanto aquele que trabalha, estuda, tem filhos, uma vida humilde cujo para apenas para assistir televisão no horário da janta, estará vendo Globo neste momento, seguindo um jogador de futebol militante, ouvindo as músicas daquela citada anteriormente. Neste momento, uma atenção para o lado artístico, para o lado acadêmico, pois os professores das crianças atuais, já estudavam no estilo Paulo Freire, então terão uma didática completamente no sentido nefasto da instrução acadêmica, nos hábitos, todavia, citarei este tópico em específico. É necessário uma linha oposta no âmbito supracitado, pois principalmente as crianças, só tem acesso ao lado corrompido, muitas das vezes estas escolheriam o certo se ao menos este se fizesse presente em sua vida, se ela o conhecesse. Um caminho correto, todavia, ofuscado pelo caminho errôneo, não por capacidade daquele nefasto, mas também pela passividade do certo, faz com que só seja visto o maléfico, o qual aparenta ser o único. O povo via-se sem escolha, o Presidente desbravou o caminho e apontou para a direção, entretanto, não há como uma única pessoa trilhar o caminho de uma nação por inúmeras gerações, cabendo àqueles que compartilham do mesmo viés, do mesmo sentimento, compatriotismo, continuar a sinalizar para outrem que existe uma opção mesmo neste mar de trevas. Relembrando que, comunistas jamais se darão por vencido, da mesma forma que não aceitam o fracasso de sua ideologia, se negam a ver as chacinas feitas para no fim, fracassar, e nunca chegarão ao que fora dito como conclusão, visto que esta nada mais é do que uma utopia para os mais leigos, pois, quem realmente sabe do que se trata, tem em mente que nunca chegará em tal ponto. Lutamos para que o Brasil não seja tomado por essa metodologia gramsciana, todavia, a forma de Lenin ainda é uma opção vista por aqueles de natureza corrompida, visando o comunismo como algo sacro, desta forma, visar toda a parte social é necessária, todavia, não podemos deixar a parte militar de lado, pois esta também será usada caso a sociológica não falhe. A cultura é como um caminho, trilha esta que moldara toda a nação, através de seus costumes, valores, hábitos, moral, religião, de forma que nada será implementado de uma hora para outra, todavia, gradativamente há quem tente introduzir a cultura marxista no lugar da nossa, e caso isto ocorra de fato, o Brasil perderá sua identidade como a nação que é. Para não só manter a nação, mas melhorá-la, anteriormente precisamos saber quem fomos, para sabermos quem somos, para depois desta etapa, pensar em quem seremos, deixando frisado a necessidade de resgatar a cultura adquirida dos antepassados, e somar com algo hodierno, mas nunca substituí-la. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 13 edição de Junho de 2022 – ISSN 2764-3867

  • Antes de partir

    A hora da nossa morte, nosso “memento mori”, é quando fazemos um balanço de tudo que se passou conosco e das escolhas que fizemos, perante essas circunstâncias. Filósofos antigos como São Tomás de Aquino colocavam um crânio sobre suas mesas de trabalho, a fim de que não se esquecessem da máxima “do pó viemos e ao pó retornaremos”. Esse é o tema abordado, como pano de fundo, na série Il Gattopardo na Netflix. Baseada nos livros de Giuseppe T Lampedusa, a narrativa se desenrola em torno do príncipe siciliano Fabrizio Salina e de sua família. Também conhecido como Il Gattopardo (O Leopardo), o príncipe é um homem vaidoso e altivo, arrogante e soberbo em suas decisões. Conduz com pulso de ferro os rumos de sua família, não admite críticas a suas atitudes, é intransigente em diversos assuntos e gera conflitos e disputas que poderiam ser evitados, por meio do diálogo. Entretanto, os tempos eram outros. Estamos no século 19, quando a Itália era palco de inúmeros conflitos por sua unificação, sendo, à época, dividida em vários reinos. O reino governado pelo príncipe era o da Sicília. Pai de seis filhos, Don Fabrizio tem que demonstrar força e poder e enxerga seu sobrinho Tancredi como seu sucessor natural, em detrimento do próprio filho Paolo. Com isso, protege e encobre os excessos do sobrinho, o que gera ressentimentos no filho. Sua filha Concetta é a menina de seus olhos e a voz da razão, dentro de sua família. A ela, cabe o difícil papel de alertar o pai sobre seus erros, não sendo, contudo, bem compreendida por este, o que gera muitos desentendimentos entre os dois. A estória é belíssima, trazendo questionamentos sobre fé, amor, valores e virtudes, prazeres e política, escolhas e renúncias, traições e reconciliações. Reproduz a época e os conflitos havidos na Itália do século 18, até a sua unificação. Ocorre que, na hora de sua morte, Don Fabrizio confessa que, ao longo da vida, fez muitas coisas de que se arrepende, com pequenos lampejos, “entre as cinzas de seus erros”, acerca de momentos felizes que viveu. E esses momentos não possuem correlação com dinheiro, poder, vitórias e glórias, mas com o sorriso da esposa, em seu primeiro encontro, ou uma valsa dançada, um perfume sentido no ar, a aurora de uma nova manhã… Assim é, também, a nossa experiência na Terra. O que nos faz felizes são as coisas simples. Os gestos de bondade. O amor e a amizade sinceros. O sorriso de um filho. A contemplação de uma linda paisagem. Buscamos, muitas vezes, prazeres e sensações, reconhecimento e dinheiro, quando o que importa está muito além disso. Don Fabrizio, como tantas pessoas, percebeu isso apenas ao constatar que a morte estava próxima. A partir desse momento, tornou-se mais humano, menos autoritário, mais sensível ao que estava ao seu redor e que antes, simplesmente, não percebia. Um livro que traduz a hora da morte de um homem poderoso, imerso em um universo de vaidades e interesses dúbios, é A Morte de Ivan Ilitch, de Tolstói. Neste, um juiz de direito da alta corte, na Rússia do Século 19, dá-se conta de que, em seu memento mori, só restou-lhe a companhia do criado. O romance foi escrito logo após a conversão religiosa do escritor e é de uma sensibilidade impactante. Todos nós devemos refletir sobre como será o nosso memento mori, qual será o nosso legado e quem serão as pessoas que estarão realmente presentes, quando a nossa vida estiver chegando ao fim. Caso a conclusão a que você chegar não seja aquela que desejava, olhe para dentro de si e analise as suas escolhas e para o rumo que está dando às coisas, por aqui. Sempre há tempo de mudar… Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 52 edição de Março de 2025 – ISSN 2764-3867

  • A imprensa e o Direito de Informare

    Vivemos na era da informação e das redes sociais. O volume de dados que circulam o planeta Terra diariamente ultrapassa o valor inimaginável de 12 bilhões de Gb. O fenômeno da capilarização da informação, proporcionado pela internet, fez com que os grandes conglomerados de comunicação praticamente perdessem o controle e o monopólio que mantinham sobre a comunicação de massas. Cada pessoa pode ser um comunicador, cada celular é um instrumento de informação. Mas o que é informar? Do latim informare , informar significa dar forma, instruir. A ideia implícita em informar é oferecer conteúdo àquele que ignora, pressupondo que a informação é construída a partir de alguém que previamente conhece o fato e, moldando – dá forma – para em seguida comunicar ou informar. A história da veiculação de informações e notícias no Brasil colonial, seguiu na contramão do que se praticava na América espanhola. Segundo Sergio Buarque de Holanda, ainda na primeira metade do século XVI já se prensavam livros na Cidade do México, mas somente em treze de maio de 1808 através de um decreto assinado pelo Príncipe Regente D. João VI, foi criada a Imprensa Régia. Então, em setembro daquele ano e com a utilização de maquinário de tipografia instalado na residência de Antônio de Araújo e Azevedo, futuro conde da Barca, Ministro dos Assuntos Estrangeiros e da Guerra, saiu a primeira edição da Gazeta do Rio de Janeiro. Essencialmente o jornal reproduzia informações anteriormente distribuídas por outros periódicos europeus, além de apresentar notícias sobre os atos de governo. Uma biblioteca era um jardim em um ambiente cultural ainda extremamente árido como o do Brasil colonial e, somente a partir de 1808 o Rio de Janeiro, capital do império português, recebeu sua primeira Biblioteca Real. Ainda em 1808, por não ser permitida no Brasil a impressão de qualquer livro, jornal ou panfleto, além do material produzido pela Imprensa Régia, o jornalista Hipólito José da Costa fundou o Correio Braziliense. Hipólito fundou seu jornal em Londres, onde passou a ser impresso e distribuído, chegando clandestinamente ao Brasil e escapando assim da proibição imposta pela coroa, já instalada na cidade do Rio de Janeiro em função das invasões napoleônica a Portugal. Tornando-se um instrumento de divulgação de ideias liberais em língua portuguesa, tendo acompanhado e transmitido informações sobre a Revolução do Porto de 1820 e o processo que conduziu à independência do Brasil em 1822, certamente causava transtornos à coroa portuguesa. A independência americana e a Revolução Francesa eram ainda episódios recentes e preocupantes aos interesses coloniais portugueses. De tal modo era necessário controlar a livre circulação de notícias e informações que, segundo o historiador Laurentino Gomes, o Correio Braziliense passa a ter parte de sua tiragem adquirida pela própria coroa e passa a receber subsídios para apresentar um conteúdo mais amigável ao governo de D. João. Arriscaríamos dizer que pode ter sido o primeiro caso conhecido no Brasil de acumpliciamento entre o Estado e um meio de comunicação. Em 1811 surge na Bahia o jornal Idade d'Ouro do Brazil, publicado duas vezes por semana e com a permissão do Governador Geral da Bahia, Marcos de Noronha e Brito. Ainda não se diferenciava do que hoje conhecemos como Diário Oficial, apresentando apenas atos oficiais e notícias do governo. Após o retorno da família real a Portugal em 1821, o Reverbero Constitucional Fluminense é lançado no Rio de Janeiro. Era um momento em que muitas ideias circulavam, como o retorno à condição colonial, a independência e o republicanismo. Sem a presença da família real e contando com um ambiente menos repressivo, os periódicos tornam-se menos raros. O amplo desenvolvimento da imprensa brasileira vai ocorrer a partir de 1822 com a Independência. Durante o primeiro reinado e, sobretudo ao longo do segundo reinado, os jornais se consolidavam como veículos de comunicação, transmissão de ideias e como formadores da opinião pública. A propósito do segundo reinado, D. Pedro II era alvo rotineiro de matérias críticas, charges e humor ácido, nem assim o Soberano impôs qualquer censura, reforçando o ideal de liberdade de expressão e de imprensa. Segundo o pensamento liberal, a atividade da imprensa em qualquer lugar do mundo está ligada de modo indissociável à liberdade de expressão e ao sigilo das fontes. Assim sendo, é impossível informar se houver qualquer tipo de barreira ou limite. Entretanto, durante o período Vargas, especialmente durante a fase do Estado Novo (1937 a 1945), a atividade jornalística e a livre circulação de informações foram seriamente ameaçadas e a pesada mão do controle estatal se fez presente. Não trataremos neste artigo das especificidades do controle da gestão Vargas, mas podemos afirmar que até aquele momento, nem mesmo durante o período anterior à República a censura se fez de modo tão intenso e institucionalizado. Somente com a Constituição de 1946 a imprensa brasileira pôde contar com um ambiente menos hostil, ainda que regulamentado pelos instrumentos legais. Durante os anos do regime militar, e nos reportando à Constituição de 1969, o Art. 153, § 8º tinha a seguinte redação: “É livre a manifestação de pensamento, de convicção política ou filosófica, bem como a prestação de informação independentemente de censura, salvo quanto a diversões e espetáculos públicos, respondendo cada um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros, jornais e periódicos não depende de licença da autoridade. Não serão, porém, toleradas a propaganda de guerra, de subversão da ordem ou de preconceitos de religião, de raça ou de classe, e as publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos bons costumes” . Depreende-se que qualquer informação com caráter de licenciosidade moral, apologia ou incentivo a crime, ou ainda à subversão da ordem estabelecida e desejada pela ampla maioria da população conservadora da época, era obviamente proibida. Ainda que as informações que nos chegam referentes àquela época, descrevam um controle absoluto do Estado sobre os meios de comunicação, este não é o consenso. O filósofo e jornalista Olavo de Carvalho, que trabalhava no meio jornalístico naqueles tempos, afirmava que não havia censores em cada redação, que eles sequer eram autorizados a acessar os recintos restritos aos jornalistas, que as notícias não eram censuradas de todo, apenas os trechos que violavam o referido artigo constitucional. A Constituição de 1988 retoma a questão da liberdade de modo muito especial em dois de seus artigos. O Artigo 5º, IV diz que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” ; e no Art. 220 lê-se: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição” . É clara e de facílima compreensão a mensagem destes artigos, não cabendo dúvida ou interpretação: liberdade! Para os casos de abuso ou inverdade o Código Penal contém previsões quanto a injúria, calúnia e difamação. Casos específicos são tratados de forma específica, e de maneira geral vivemos sob o estandarte da liberdade de expressão. Em 2009 o Plenário do STF decidiu que era inconstitucional a exigência de diploma de jornalismo para o exercício da atividade jornalística. Aquela decisão derrubou o Decreto-Lei 972/69 que limitava o exercício legal da profissão aos formados em curso superior de jornalismo. Assim, em conformidade com o princípio de liberdade de expressão sob o qual vivemos, qualquer pessoa pode informar “sob qualquer forma, processo ou veículo” (C.F. Art. 220) . A decisão do STF veio àquela época acompanhar as inovações que abordamos em nosso primeiro parágrafo deste artigo, tornando ainda mais livre o terreno digital em que hoje “trafegamos”. Mas afinal por que tantas vozes se levantam clamando pelo estabelecimento de limites à liberdade de expressão? Por que motivo, setores da política nacional tem incorporado esta mentalidade que só pode ser compreendida em governos ditatoriais? O ex-presidente Lula, por exemplo, tocou ao menos nove vezes no tema da regulamentação desde 2019, tendo sido bastante explícito em uma de suas falas durante viagem à Europa: “Vamos ter que regulamentar as redes sociais, regular a internet, colocar parâmetro” . Pode ser que o sentido etimológico original da palavra informar possa dar alguma luz aos questionamentos. Informare é dar forma. Informar, mais que o simples ato de dar a conhecer é moldar o fato para atender ao sentido ideológico daquele que informa, formando a opinião daquele que é informado. Múltiplas opções de “forma” deixam ao leitor a tarefa de refletir e decidir por si só quanto à verdade dos fatos. E o que a política tem a ver com os meios de comunicação? Ao menos em dois momentos o poder político e os meios de comunicação se encontram. O primeiro momento é representado pelo Artigo 21 da Constituição de 1988 que trata das competências da União, onde está estabelecido no inciso XI que compete a União “explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais” . Desta forma a União tem poder de influência, mesmo que indireta, sobre o conteúdo e a linha editorial ou de programação que lhe compete conceder, atendendo de toda forma aos termos da nossa Constituição. O segundo momento é indireto, mas de profunda relevância para o bom entendimento dos interesses e conflitos de interesses envolvidos na legítima tarefa de informar. Em uma lista tornada pública em 2011 pelo Ministério das Comunicações, 56 parlamentares constavam como sócios ou diretores de empresas de comunicação. Ainda que a legislação da época autorizasse a participação societária e vedasse o exercício de diretoria a políticos, ou seja, ainda que fosse legal, seria perfeitamente lícito o questionamento quanto a moralidade daqueles vínculos. A título de exemplos, a família do ex-ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães possuía naquele ano a TV Mirante e a família Collor de Mello a TV Gazeta, ambas afiliadas à Rede Globo de Televisão. Segundo Lucas Borges de Carvalho, em seu artigo ‘A política da radiodifusão no Brasil e seu marco legal: do autoritarismo ao ultraliberalismo’, “(...) Assim é que, conforme demonstram Costa e Brener, o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) se valeu da possibilidade legal de conceder autorizações, sem licitação e de forma não onerosa, para a prestação do serviço de Retransmissão de Televisão (RTV), visando angariar apoio político em momentos cruciais, como no caso da votação da emenda da reeleição” . E no mesmo artigo, citando Costa e Brener em ‘Coronelismo eletrônico’, “(...) Depois de passar praticamente quase todo o ano de 1995 sem distribuir RTVs, o ministro Sérgio Motta — que coordenou o processo de arregimentação de votos pró-reeleição — assinou, naquele mês, portarias de outorga de aproximadamente 400 repetidoras, sobretudo para empresas e entidades controladas por políticos e para prefeituras” . Se considerarmos as conexões diretas e indiretas criadas a partir do controle ou participação em emissoras de rádio, televisão, jornais, revistas, sites de internet, canais... Bem, a lista seria quase infinita. Todas as conexões nos induzem à conclusão de que muito mais que informar, “muito além do papel de um jornal” conforme uma campanha publicitária de O Globo, a atividade jornalística tacitamente se presta a formação de opinião, direcionamento de seu público, atenção aos interesses de mercado e principalmente, associação com o meio político para melhor alcance de seus interesses próprios e mútuos. Se as pautas da censura velada e da regulamentação dos meios de informação têm sido cogitadas com frequência, não é de causar espanto. Os poucos exemplos apresentados neste artigo são apenas a ponta de um iceberg gigantesco que, caso fossem elevados acima da linha d’água do conhecimento público, desnudariam as relações formadas entre a comunicação e o poder. Políticos de oposição e os tradicionais veículos de comunicação de massas unidos, buscando desfigurar as políticas de governo e moldar a opinião pública (como sempre o fizeram), encontrando na internet a barreira final que os têm impedido de voltar às velhas relações de compadrio. De Hipólito da Costa às denúncias de favorecimento a emissoras de televisão por meio de publicidade oficial, passando pela participação política em empresas de comunicação, há um padrão histórico de compadrio, de corrupção, de concussão. O silêncio comprado ou o foco dos holofotes, tudo depende de qual lado se está. Se não pagam pela informação que querem, recebem a informação que não solicitam. Para os detentores tradicionais da informação, a verdade e a mentira são dois lados da moeda viciada lançada ao ar. A relação do público e do privado e ambas com seus eleitores, leitores e telespectadores nunca mais serão as mesmas, ou ao menos não retroagirão enquanto estivermos sob o refrão: “Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós! Das lutas na tempestade dá que ouçamos tua voz!” . Voz alta e clara, isenta de censura e livre. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 13 edição de Junho de 2022 – ISSN 2764-3867

  • Uma mensagem assinada com sangue pelo povo da cruz

    “ E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um, compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram.” (Apocalispe 6.9-11). Eu pensei muito no que abordar neste artigo; tantos acontecimentos políticos e geopolíticos que sobram temas para dissecar nessas linhas que a Revista me proporciona (a quem agradeço publicamente pela confiança). Mas gostaria de tratar sobre um assunto importante: a perseguição aos cristãos . “ Ah, mas isso existe há tempos” . Concordo. Há mais de dois mil anos o cristianismo é ostracizado nos quatro cantos do planeta. Contudo, Nosso Senhor Jesus nos preveniu sobre isso: “... vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus.” (João 16,b) . Ou seja, quem deseja eliminar os cristãos pensa estar fazendo a vontade de Deus. E assim, nossa história vem sendo escrita com sangue. Estevão foi o primeiro mártir; homem sábio e cheio do Espírito Santo, foi terrivelmente injustiçado. Testemunhas falsas corroboraram com as mentiras ditas pelos membros da sinagoga e levaram-no para julgamento. Após um longo discurso, onde não negou sua fé, foi lançado para fora da cidade e apedrejado. Com os apóstolos de Cristo não foi diferente: Tiago, o Maior, irmão de João, foi o primeiro dos doze a ser assassinado, no reinado de Herodes Agripa; Felipe, que evangelizou na Ásia Setentrional (atual Rússia), foi açoitado e crucificado. Mateus, que foi para a Etiópia, foi imolado com uma albarda (espécie de machado). Tiago, o Menor, irmão de Jesus, faleceu aos 94 anos, com seu crânio esmagado; Matias, que ocupou o lugar de Judas, terminou seus dias, decapitado. André, irmão de Pedro e um dos primeiros discípulos de Nosso Senhor, foi crucificado em forma de X. Marcos, o escritor do evangelho que leva seu nome, foi arrastado pelas ruas de Alexandria, no Egito, até que sua carne fosse rasgada. Pedro, o pescador, um dos mais próximos de Jesus, foi crucificado, dizem, de cabeça para baixo, a pedido próprio, pois não se achava digno de morrer como Nosso Senhor. Paulo, aquele a quem Jesus apareceu no caminho para Damasco, foi decapitado. Judas, irmão de Jesus e Tiago, foi crucificado. Bartolomeu, um dos discípulos menos conhecido, que pregou até na Índia, também foi crucificado. Tomé, chamado Dídimo, atravessado por uma lança. Lucas, evangelista e médico, foi enforcado na Grécia. Simão, o Zelote, evangelizou na Grã-Bretanha e lá foi crucificado. “ Mas como que Jesus não os protegeu?” : esta é a pergunta daqueles que não crêem, e não é um questionamento sem resposta. Jesus disse: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.” (João 15.18-19). “... Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.” (João 15.20b) Jesus não prometeu vida sem qualquer tipo de problema ou dificuldade; e segui-Lo significa abdicar de si próprio. A verdade é que aquele que se predispõe a seguir a Cristo precisa entender o seguinte: não tem como ter duas vidas; ou eu tenho a minha própria, ou a Dele. E aqueles que perderam a sua vida por amor a Ele estão em melhor situação do que nós. “ Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” (Mateus 16.25) Humanamente falando, seguir a Cristo é uma loucura; imagine abdicar dos meus desejos e vontades para entregar minha vida – e alma – para uma divindade e sofrer ao invés de ser recompensado? O apóstolo Paulo entendia perfeitamente isso: “ Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” (1° Coríntios 1.18) Aquele que renuncia a tudo pelo Reino dos Céus entende que sua recompensa jamais virá nesta terra, mas na Eternidade. Não é errado buscar uma vida confortável, afinal “E também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus.” (Eclesiastes 3.13) . Mas todo aquele que entrega a sua vida a Jesus sabe que o bem mais precioso é a salvação da sua alma. Farei um salto histórico dos tempos da igreja primitiva para a Revolução Francesa. Aquele período que hoje é aclamado como o mais iluminado, onde o homem se separou da fé e passou a idolatrar a razão, na verdade, foi um dos mais sanguinários. A guilhotina, que leva este nome graças ao médico J oseph-Ignace Guillotin, foi a “máquina de matar” quem discordava do sistema. E os cristãos não foram poupados. As Carmelitas de Compiègne foram dezesseis religiosas do mosteiro carmelita de Compiègne assassinadas por revolucionários franceses do Comitê de Salvação Pública que as levaram à guilhotina por ódio à religião, no segundo período do Terror da Revolução Francesa, no dia 17 de julho de 1794, no local hoje denominado " Place de la Nation" , na época "Place du Trône Renversé" . A lei revolucionária de 1790 forçava o fechamento do convento, o que acarretou a redistribuição das freiras em quatro casas separadas. Com muita “ liberdade, igualdade e fraternidade” , as religiosas ainda tiveram que escolher entre assinar o “juramento revolucionário” ou sofrer a deportação. A priora carmelita Teresa de Santo Agostinho fomentou entre as irmãs da sua comunidade a fidelidade aos preceitos da vida conventual, que elas continuaram a praticar na clandestinidade. Entretanto, algumas denúncias às autoridades revolucionárias levaram a uma investigação que juntou “ provas de vida conventual ”: as carmelitas foram assim acusadas de “ complô para restabelecer a monarquia e extinguir a República ”. As religiosas que foram presas se negaram a assinar novamente o juramento revolucionário e, acusadas de “ conspiração contra a revolução ”, foram amarradas e levadas a Paris em duas carroças. Na capital francesa, foram trancadas na prisão da Conciergerie. Foram condenadas à morte no dia 17 de Julho de 1794. Em uma carroça, foram levadas para seu destino; no caminho, entoavam Te Deum, hino católico cuja redação final é tradicionalmente datada do ano 387 d.C. quando da ocasião do batismo de Santo Agostinho por Santo Ambrósio. O hino é usado principalmente na liturgia católica, como parte do Ofício de Leituras da Liturgia das Horas e outros eventos solenes de ações de graças. Eis um trecho: “ Dignai-Vos, pois, assistir a Vossos servos, que haveis remido com Vosso preciosíssimo sangue. Fazei que sejam do número dos Vossos santos na glória. Salvai o Vosso povo, Senhor, e abençoai a Vossa herança (…) Dignai-Vos, Senhor, neste dia conservar-nos sem pecado. Compadecei-Vos de nós, Senhor! Compadecei-Vos de Nós. Desça sobre nós a Vossa misericórdia, segundo a esperança que em Vós pusemos. Em Vós, Senhor, esperei; jamais serei confundido.” Aos pés da guilhotina, iniciaram o Veni Creator Spiritus : “ Vinde, Espírito criador, visitai as Vossas almas; enchei com a graça do alto os corações que criastes.” Uma a uma, pedindo a última bênção da priora, subiram ao cadafalso e foram martirizadas. A realidade ocidental é um pouco melhor em termos de liberdade religiosa do que era há cem, duzentos anos. E isso faz com que nossos olhos estejam fechados para o que acontece na Janela 10-40. A Janela 10-40 é uma faixa da terra que se estende do Oeste da África, passa pelo Oriente Médio e vai até a Ásia. A partir da linha do Equador, subindo forma um retângulo entre os graus 10 e 40. Calcula-se que até hoje menos da metade da população mundial com as suas etnias e línguas tenham sido confrontadas com o evangelho. Eu, particularmente, não fazia ideia de que esta delimitação existia até 2006. Neste ano, a cantora evangélica Fernanda Brum lançou o álbum “Profetizando às Nações” , o segundo mais vendido da sua carreira. O disco tinha a seguinte missão: contar à igreja ocidental o que ocorre com cristãos pelo oriente. E foi quando eu descobri que não sou crente. Caro leitor, não me leve a mal; sou nascida e criada na igreja. Mas quando digo que “não sou crente” me refiro ao fato de que eu ainda “não resisti até ao sangue” (Hebreus 12.4) pelo Evangelho de Cristo. E, penso eu, que esta é a condição da igreja no ocidente. Temos mordomias, regalias, bíblias com diversas traduções a nosso dispor, devocionais, pregações de todo o tipo e para todos os gostos, podemos ir à Igreja sem sermos apedrejados ou fuzilados, podemos exibir terços, crucifixos ou simplesmente a cruz. Mas temos Cristo? E isso traz a seguinte reflexão: se não estamos conseguindo viver para Ele, como teremos condições de morrer por Ele? O pior martírio ocorrido nos últimos tempos completou dez anos em 15 de Fevereiro: a degolação de 21 cristãos no litoral de Sirte, na Líbia, no Mar Mediterrâneo, pelas mãos do ISIS. As águas que levaram os apóstolos para pregar o Evangelho foram as mesmas que receberam o sangue dos servos de Cristo. Na época, estava no início da gestação do meu filho; não procurei saber de maiores detalhes porque estava poupando minha mente, pois me senti muito mal fisicamente nos primeiros meses de gravidez. E depois, cumprindo meu papel mãe, não recordei de pesquisar sobre o caso. Mas agora, dez anos depois, eu fiz meu papel de jornalista e fui pesquisar. Dos 21, 20 deles eram da Igreja Coopta do Egito e moravam em uma pequena cidade ao sul do Cairo, chamada Minya. O 21° era proveniente de Gana, e também era cristão, provavelmente protestante. Esses homens eram trabalhadores comuns, operários da construção civil que deixaram o Egito em busca de melhores oportunidades para sustentar suas famílias. Foi em Sirte, entre os meses de Dezembro de 2014 e Janeiro de 2015, que eles foram sequestrados por milícias do Estado Islâmico. O mundo só voltaria a saber deles por ocasião do seu martírio. A morte dos 21 cristãos foi registrada em um vídeo divulgado pelo grupo terrorista, denominado “Uma mensagem assinada com sangue para o povo da cruz” . Eu procurei este vídeo, e com muita dificuldade, encontrei. Assisti na íntegra. A cada cena, um nó na garganta. Lágrimas insistiram em cair. Porque uma coisa é tratar de martírio em tempos longínquos, os quais não vimos, e outra bem diferente é assistir em nossos dias, com nossos próprios olhos. O vídeo começa com a chegada dos cristãos e dos soldados jihadistas na praia, na costa de Wylãyat, Tarãbulus; os cristãos, descalços e vestindo macacões laranja, semelhantes aos utilizados nos presídios americanos, e os islâmicos, de preto e toucas ninja. São alinhados e postos de joelhos. Na legenda, a seguinte frase: “O povo da cruz, os seguidores da hostil igreja egípcia” O maioral toma a palavra. Escreverei seu discurso ipsis literis : “ Louvado seja o Deus Forte e Poderoso Que a paz esteja com aquele que garantiu a família, que Deus proteja os mundos. Ó povo, vocês nos viram nas colinas de Sam e na planície de Dabiq, abates de cabeças que sempre carregaram a ilusão da cruz. Eu absorvi o ódio pelo islamismo e pelos muçulmanos. Hoje estamos no sul de Roma, na terra do islamismo, a Líbia, enviando outra mensagem. Ó Cruzados, segurança é o teu desejo. Principalmente porque vocês estão lutando contra todos nós, nós lutaremos contra todos vocês, até que a guerra termine. Então jesus, que a paz esteja com ele, desça. Ele quebra a cruz, mata o porco e cobra o imposto (citação do Alcorão) Este mar em que vocês esconderam Osama bin Laden, que Deus o aceite, juramos por Deus que será coberto com seu sangue (cristão)” Em seguida, os rostos dos cristãos são exibidos em silêncio. Alguns estão chorando e orando, outros, estão chamando por Jesus, e os demais, firmes. Depois, são jogados ao chão. Uma música árabe toca ao fundo enquanto os jihadistas tomam suas facas e degolam-nos vivos. No áudio, é possível ouvi-los clamando por Jesus em sua própria língua. No fim do massacre, suas cabeças foram colocadas sobre seus próprios corpos; o que me chamou a atenção foram seus semblantes: não havia desespero, não havia dor. Pareciam estar dormindo. Jesus os recebeu. O líder tomou a palavra novamente, agora com as mãos sujas de sangue: “ Conquistaremos Roma, se Deus quiser. Esta é a promessa do nosso profeta. Que Deus o abençoe e lhe dê paz.” A última cena: o Mar Mediterrâneo. Não mais azul. Vermelho. Confesso que não foi fácil assistir. Sinto um nó na garganta apenas por pensar da dor que sentiram. Contudo, o que vi me levou a uma profunda reflexão sobre meu próprio estado espiritual: como tenho vivido?Será que tenho feito o que agrada a Deus? E se radicais invadissem minha casa, eu teria coragem de permanecer ou negaria minha fé? “ E as famílias?” , pode questionar o leitor. Enlutadas, feridas, machucadas. Receberam os corpos apenas três anos depois. Mas felizes. Parece inacreditável, mas é isso que eles relatam. Encontrei várias entrevistas e documentários com as famílias dos 20 cristãos egípcios. Os depoimentos no geral são: “estou feliz porque tenho um mártir na família”, “graças a Deus ele não negou a Jesus”, “eu tenho orgulho dele” . Os membros do ISIS devem ter imaginado que veriam familiares com ódio e sede de vingança, mas eles encontraram cristãos autênticos que perdoaram todo o mal feito. Difícil de acreditar, não é mesmo? Mas é real. Temos em nossos dias cristãos ocidentais vendendo suas almas por um prato de lentilha, por uma noite, por um momento; e do outro lado, cristãos que preferem ser degolados vivos a apostatarem de sua fé. Que Nosso Senhor Jesus Cristo tenha misericórdia de nós e nos ensine a como servi-Lo, porque até o dia de sua vinda, o número de mártires terá de se completar. Seremos algum deles? Não sabemos. Mas como disse Paulo: “Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.” (Romanos 14.8) Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 52 edição de Março de 2025 – ISSN 2764-3867

  • O Ícaro que habita cada um de nós

    Na Ilha de Creta reinava Minos, governante que sofrera um castigo por tentar ludibriar o senhor dos mares, Poseidon, tendo o deus feito com que a esposa do rei se apaixonasse por um touro, gerando assim a temida figura do Minotauro, que significa o touro de Minos. A besta era uma maldição para o senhor de Creta, mas considerando ser tal castigo merecido por ter afrontado o deus dos mares, tratou de conter a fúria da criatura mantendo-a em um labirinto engenhoso. A mente genial por trás da construção do labirinto de Creta fora Dédalos, um arquiteto, artesão e inventor ateniense cuja habilidade fez do labirinto algo inimaginável, praticamente impossível de fugir. A construção, não só mantinha a besta com corpo humano e cabeça de touro confinada, como evitava que suas presas, jovens virgens oferecidos em sacrifício à fera, que os devorava. Dédalo ajudou a fila do Rei Minos, Ariadne, ensinando-a como seria possível sair do labirinto, posteriormente, a princesa ensina o herói Tseu, que, após ceifar a vida da besta, usa o fio de lã para escapar do local. Pela ajuda dada à princesa e ao herói, Dédalo foi castigado pelo Rei Minos que o colocou no labirinto, aprisionando também o filho do arquiteto, Ícaro. Dédalo sabia que era impossível sair de Creta por mar, pois Minos, ao acatar o castigo imposto pelo deus dos mares, tinha recuperado o apreço da divindade. O governante também era o senhor da ilha, sendo inviável escapar de sua ira enquanto estivessem naquele solo. O engenhoso artesão decidiu que o único meio de fugir do monarca era escapar de sua temível obra, o labirinto, e sobrevoar para longe da Ilha de Creta. Criando asas para si e para Ícaro, usando penas coladas com cera, conseguiram escapar do suplício. O arquiteto instruiu seu filho que permanecesse próximo, assim poderia acompanhá-lo durante o voo, orientando que não voasse muito alto para que a cera não derretesse ou muito baixo ou as penas seriam molhadas. Fascinado pela luz do sol, sentindo-se livre ao voar, Ícaro ignora o conselho de seu pai e acaba voando cada vez mais alto, tentando assim se aproximar do astro. Conforme se aproxima do sol, o calor derrete-lhe as asas fazendo com que o jovem caia de uma altura fatal. O pai só percebe que Ícaro tomou tal destino tardiamente, não podendo evitar tal infortúnio. Levou os restos mortais de seu filho para a Sicília, onde o enterrou no lugar que batizara como Icaria, homenageando o jovem falecido. Em sua trajetória, Dédalo foi um sábio e talentoso inventor, que cumprira com esmero as missões que lhes foram confiadas, mas seu filho, ignorando sua a sabedoria e vivência encontrou seu fim quando deslumbrado pela beleza do astro-rei. Devemos aprender com o trágico fim de Ícaro que a sabedoria é um dom que deve ser respeitado e a vivência uma conquista que jamais pode ser desprezada, para que, nunca nos deixemos cegar pela luz da soberba ou da ilusão de sermos mais do que aquilo que temos como missão de vida. Não se deve voar acima da capacidade de suas asas ou derreterão, impedindo que seja feito mais do que o que está ao alcance, bem como, não é correto voar muito baixo para não ter as asas molhadas, pois edificar aquém daquilo que é possível, é deixar de cumprir seu papel como ser que carrega a cama divina. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 13 edição de Junho de 2022 – ISSN 2764-3867

  • Ausência de praxes agregantes

    A falta dos hábitos é um grande motivo para a decadência cultural, pois, tem-se em mente uma ideia errônea do mundo, partindo do pressuposto que fazer determinada atividade continuamente por meses, anos ou até pelo resto da vida, é algo ruim, pois se fosse bom, seria breve. Seguindo esta linha de raciocínio, vemos uma sociedade em que a pessoa não vai em seu centro religioso, independente de qual for, todo fim de semana, uma vez no mês, ou no ano, mas sim quando outras pessoas a consideram errada, neste momento sim, o indivíduo busca um centro religioso para lavar-se de seus erros, e voltar a cometê-los crendo que basta retornar após errar novamente. Todavia, não ocorre apenas na religião, mas em toda a vida daquele, pois, a poligamia, traições, nada mais é do que um indivíduo, ou casal, o qual nega-se a viver em par, ter aquela pessoa pelo resto de sua vida, querendo nada além de um momento, ou momentos que seja, mas nada realmente duradouro, uma consistência, um hábito, rotina. Portanto, era natural que fosse ocorrer na leitura a mesma coisa. “Passar dias, semanas ou meses lendo uma trilogia de livros? É mais rápido ver um filme, diz a mesma coisa.” Comumente, buscar o mais breve tornou-se visto como o correto, não que seja algo contrário à natureza, pois, a forma de evolução busca o caminho mais breve, seu corpo não quer ter um trabalho extra, passar dias para ler um livro como O Senhor dos Anéis, basta um dia maratonando os filmes que, seu cérebro buscará isto, visando evitar a fadiga, como diria o icônico Jaiminho, entretanto, cabe ao indivíduo ter como norte justamente não ficar parado, esperando algum problema para agir. Nosso cérebro funciona quimicamente, naturalmente, como um animal, gasta-se energia para comer e hidratar-se, fora isso, mantêm-se descansado caso apareça um predador, todavia, somos seres humanos, os quais necessitamos buscar algo além do básico, o bordão destes é viver, sobreviver para ser mais exato, quando também precisamos de um desafio, evoluir, uma sociedade a qual almeja apenas sua sobrevivência estagnar-se-á, pois, nunca buscará algo além de, isto caso todos fossem bons por natureza, visto que, uma sociedade sem querência alguma relacionada a evoluir, deixar algo para a próxima geração, necessariamente terá outra ambição no lugar desta. Curioso, não? Atoa nunca vai ser, a crescente de pessoas buscando fama, pelos motivos mais bisonhos, buscando uma riqueza meramente monetária, a qual fora muito bem abordada aqui . Levando em conta esta onda de pessoas sedentas por poder e bens materiais, as quais fazem de tudo para viver de forma luxuosa, sem o menor prestígio em seus meios para atingir tal ambição, naturalmente cria-se um sistema de governo corrompido, pois, o poder emana do povo, numa ditadura, pode ocorrer do governo ser podre e uma população vítima daquele tirano, entretanto, numa democracia, por mais perversa e manipulada que esta seja, ainda reflete em partes o povo. Quando o brasileiro diz que leis presente em seu código legislativo é uma lei para inglês ver, ou está vivendo numa hegemonia inclusiva, em outras palavras, numa ditadura pintada de democracia, ou sim, o povo corrobora com seu governo, pois se estivesse no lugar daquele, faria o mesmo. Infelizmente, é o que ocorre, uma criança furtando caneta na escola é algo normal, pegar bens do trabalho e levar para si não é nenhum absurdo, rouba mas faz, e outros diversos absurdos. Um açougueiro que leva carnes do trabalho para casa de forma ilícita, não se distância do político que lava dinheiro, que pega renda de instituições públicas para si, portanto, para termos um governo decente, um governo límpido, de antemão, cabe a nós sermos indivíduos, os quais constituem uma civilização, aglomerado de pessoas este, que nada mais é do que uma média de todos os seus compositores, ou seja, cada indivíduo sendo alguém de valor faz com que tal sociedade seja rica em valores. Os hábitos dos indivíduos constroem a sociedade, isto é, pessoas cujo tem o hábito de todo dia passar duas horas no TikTok, Facebook, Instagram e similares, farão com que a sociedade tenha como regra pessoas as quais dedicam horas do seu dia para visitar tais redes, e como consequência, aquele que passa estas horas lendo, jogando, dormindo que seja, será interpretado como destoante, retornando ao raciocínio animalesco, aquele que é diferente do meu bando, do meu ser, é um predador, ou presa, criando uma antipatia natural. Não venho aqui dizer que pessoas com rotinas diferentes se odiarão, entretanto, haverá uma distanciação, mesmo que sem conflito. Todo indivíduo tende a querer ser aceito em seu meio social, isto é, um adolescente que tem como hábito ler fábulas e jogar vôlei nos momentos de lazer, terá uma certa dificuldade em criar amizades no âmbito escolar, onde seus amigos de classe jogam futebol e assistem desenhos animados. Não debatendo neste exemplo o que seria o correto a fazer, mas é indiscutível que teriam uma certa dificuldade em conviver, fazendo com que o único que jogava vôlei, migrasse para o futebol, e similarmente sobre a leitura de contos e desenhos animados na televisão, algo que dificilmente teria algum conflito entre os jovens, entretanto, de forma gradual o que se sente excluído irá tornar-se o mais compatível com seus companheiros, e isto ocorre de maneira geral, desde os mais novos, para se introduzirem num grupo escolar, até os mais amadurecidos, para criar um ambiente de trabalho similar, âmbito acadêmico onde todos são iguais não gera debates, confrontos, e isto é algo o qual muitos tem medo de enfrentar, não defendo no sentido de violência, mas o medo de ter um confronto de ideias ainda será um grande problema, mas isto é tema para outro momento. Após ter uma sociedade com hábitos uniformes, estes que normalmente são os mais fáceis, pelos motivos biológicos e incentivados por pessoas de má índole, pessoas sem moral, aceitam atitudes imorais, retornando ao ponto mencionado no início, uma vez estando à margem da lei, aceita-se outros marginais, pequenos crimes não são portas para crimes de grande escala por te dar meios, mas sim, por retirar seu freio moral, o que aumenta caso não seja punido, já que não houve nenhum problema devido daquele ato ilícito, qual o problema de cometer outro? A bola de neve corrompida engrandece conforme a moral decai, e a moral nada mais é do que os valores de uma sociedade, estes que são estabelecidos pela cultura de cada indivíduo, aquele que não retém o hábito de ir à um centro religioso, perderá a cultura da fé, a crença em divindade, contemplando algum homem, isto é, nenhum espaço se mantém vazio, onde o Estado não atua, há traficantes, milicianos, entre outras formas de reger aquele território, portanto, um ditador da Coreia do Norte não é idolatrado atoa, pessoas sem religião tem o espaço de sua fé em vão, assim como, da ambição para subir na vida, fazer por onde deixando um legado ético, um caminho digno, baseado em valores para que a próxima geração caminhe mantendo este, e se possível, fazer por onde para melhorá-lo. A falta do hábito em visitar a família, libera um vão para seu grupo social, onde farão festas, encontros, substituindo nas aparências sua família, mas para manterem-se neste grupo, muitas outras liberdades serão tomadas. Como dito anteriormente, não de forma brusca, mas pela falsa necessidade vista pelo indivíduo, onde este, precisa seguir as mesmas coisas que seu grupo de amigos, pois estes suprimem sua família, quando na verdade, você não só pode como deve ter amigos, mas a família é fundamental. O modo pelo qual toda falta de hábito que agrega em algo faz com que crie um vão o qual não deveria existir, já fora pensado, não é atoa, a principal questão é retornar tais hábitos, para que assim, recupere-se a cultura, a moral, os valores, e disto sim, recuperar o país. Mudar uma sociedade de cima para baixo nunca vai ser o correto, pois, será de forma ditatorial, mas quando o povo sai de seu casulo, o Estado tende a seguir, visto que, se ele mantiver as pessoas presas artificialmente, estas rebelar-se-ão, e de forma justa, visto que o Estado existe pelo povo, e constitui-se pelo povo, portanto, o povo não serve ao Estado, mas sim, o contrário. Todavia, visar uma revolução, nada mais é do que pular etapas, simplesmente mudar o topo da pirâmide esperando que toda ela se mude junto, enquanto deve ser mudada a base desta, e manter tal progresso de forma sucessiva, até mudar o topo, para algum que corresponda à sua base. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 13 edição de Junho de 2022 – ISSN 2764-3867

  • Do Carnaval a Páscoa

    O Carnaval é uma das festas populares mais conhecidas e celebradas no Brasil e no mundo. Com raízes em festivais pagãos da Antiguidade, como as Saturnálias de Roma, foi absorvido e transformado pela cultura cristã durante a Idade Média. O nome “Carnaval” vem da expressão latina “carnis levale”, que significa “retirar a carne”, em alusão ao período de abstinência da Quaresma que se segue. Historicamente, o Carnaval sempre simbolizou um momento de celebração e liberdade, no qual as pessoas aproveitavam intensamente antes do início da Quaresma. Originalmente, o Carnaval era uma festa pagã na Europa, celebrada como um momento de diversão antes do período de abstinência e reflexão da Quaresma. Ao longo dos séculos, a celebração se transformou e se espalhou pelo mundo, ganhando características únicas em cada lugar. No Brasil, a festa ganhou características únicas, como os desfiles de escolas de samba, os blocos de rua e as marchinhas, misturando influências europeias, africanas e indígenas. O Carnaval brasileiro, que se tornou uma atração internacional, é visto como uma festa cheia alegria desmedida para a introspecção. Mas deveria ser um momento de reflexão para a Quaresma. Apesar de hoje ser uma celebração de excessos, o Carnaval pode ser visto como um chamado à renovação. História do Carnaval 1. Antiguidade Clássica: O Carnaval tem suas raízes em festivais antigos, como as Sacéias na Babilônia e as Saturnálias em Roma, onde havia inversão de papéis sociais e liberação de prazeres. 2. Idade Média: Na Idade Média, o Carnaval se tornou uma festa popular na Europa, com desfiles, banquetes e apresentações teatrais. A Igreja Católica absorveu essas festividades e as ressignificou, criando uma conexão com a Quaresma. 3. Século VI: O Papa São Gregório Magno (590-604) teria dado ao último domingo antes da Quaresma o título de “dominica ad carnes levandas”, que significa “domingo de retirada da carne”, o que teria gerado o termo “Carnaval”. A ideia era permitir que as pessoas tivessem um período de celebração e indulgência antes do início da Quaresma. 4. Século XVII: Com a chegada dos africanos escravizados ao Brasil, o Carnaval começou a incorporar elementos africanos, como ritmos musicais e danças vibrantes. 5. Período Colonial: O Carnaval foi introduzido no Brasil pelos colonizadores portugueses, que trouxeram a tradição do entrudo, onde as pessoas jogavam líquidos e sujeiras umas nas outras. 6. Século XVIII: No Rio de Janeiro, os colonizadores portugueses trouxeram suas tradições carnavalescas conhecidas como “entrudo”, uma festa popular em que as pessoas se jogavam água, farinha e outros elementos umas nas outras, em um clima de diversão e liberdade. Com o tempo, essa celebração evoluiu e incorporou elementos africanos e indígenas, resultando na rica e diversa tradição carnavalesca que conhecemos hoje. 7. Século XX: No início do século XX, o Carnaval do Rio de Janeiro ganhou destaque com a criação das primeiras escolas de samba, como a Deixa Falar, fundada em 1928. Essas escolas começaram a organizar desfiles competitivos, com enredos temáticos, carros alegóricos e fantasias elaboradas. O primeiro desfile oficial de escolas de samba ocorreu em 1932. 8. Expansão e Evolução: Ao longo dos anos, o Carnaval evoluiu e se expandiu, incorporando ritmos como samba, frevo e maracatu. Cada região do Brasil desenvolveu suas próprias tradições carnavalescas, tornando a festa ainda mais rica e diversa. A influência da umbanda e do candomblé no Carnaval brasileiro é profunda e significativa, refletindo a rica herança cultural e religiosa afro-brasileira. Essas tradições trazem ao Carnaval elementos como a música, a dança e representações simbólicas, como os orixás e guias espirituais, celebrados em desfiles e alegorias. Apesar de suas origens pagãs, o Carnaval foi ressignificado pela Igreja Católica ao conectá-lo à Quaresma e, por consequência, à Páscoa. O Cristianismo desempenhou um papel importante na adaptação e preservação das festividades, moldando-as ao longo dos séculos. Embora existam debates entre religiões de matrizes africanas e a fé cristã, é essencial lembrar que ambas compartilham raízes históricas e valores como a celebração da vida e da espiritualidade. A África foi berço de grandes contribuições ao Cristianismo, como Santo Agostinho e outras figuras históricas, enquanto as religiões de matrizes africanas destacam solidariedade e respeito à natureza, valores que convergem com a mensagem cristã. A Quaresma A Quaresma é um período de 40 dias (excluindo os domingos) que começa na Quarta-feira de Cinzas e termina na Quinta-feira Santa, na Semana Santa. Inspirada nos 40 dias relatados na Bíblia em que Jesus passou no deserto em oração e jejum, a Quaresma é um tempo de penitência, renovação espiritual e preparação para a celebração da Páscoa. Seu significado está profundamente enraizado na tradição cristã desde o século IV, quando a Igreja formalizou esse período no calendário litúrgico. Durante a Quaresma, os cristãos são convidados a buscar três práticas principais: 1. Jejum e abstinência: Um ato de sacrifício e solidariedade, lembrando que é possível desapegar-se de prazeres terrenos para focar no espiritual. 2. Oração: Um momento para fortalecer a relação com Deus, buscando orientação, gratidão e arrependimento. 3. Caridade: A prática de ajudar os necessitados, refletindo o amor ao próximo e os ensinamentos de Cristo. Mas como viver uma boa Quaresma? Reserve alguns minutos do dia para meditar sobre os valores cristãos e avaliar suas atitudes. Busque a reconciliação com Deus, com o próximo e consigo para alcançar a paz interior e renovar sua jornada espiritual. Leia mais a Bíblia e as passagens que falem da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, aprofundando sua compreensão do sacrifício de Jesus. Faça um esforço consciente para renunciar a algo que normalmente considera importante, seja material ou emocional, e ofereça isso como um sacrifício. A Quaresma não é apenas um tempo de restrição, mas um convite à renovação e ao fortalecimento da fé. Ela permite que os cristãos se conectem com o sacrifício de Cristo, preparando-se para vivenciar profundamente o significado da Páscoa. A Páscoa A Páscoa é a celebração mais importante do calendário cristão, marcando a vitória de Jesus Cristo sobre a morte por meio de Sua ressurreição. Essa data representa o ápice da fé cristã, simbolizando renovação, esperança e a promessa de vida eterna. A celebração da Páscoa tem suas origens no judaísmo. O termo “Páscoa” deriva do hebraico Pesach , que significa “passagem”, em referência ao Êxodo, quando Deus libertou o povo hebreu da escravidão no Egito. Na tradição cristã, a Páscoa ganhou um novo significado com a ressurreição de Jesus Cristo, que ocorreu durante a comemoração da Páscoa judaica. A paixão, morte e ressurreição de Cristo são interpretadas como a libertação da humanidade da escravidão do pecado, oferecendo a todos a salvação. A Páscoa, portanto, é o ponto culminante do ano litúrgico, celebrando a nova aliança entre Deus e a humanidade. Para os cristãos, a Páscoa é um momento de alegria e renovação, em que a vitória de Cristo sobre a morte renova a esperança de uma vida plena. É um tempo para celebrar o amor de Deus, refletir sobre o sacrifício de Jesus e renovar compromissos de fé. O Carnaval, a Quaresma e a Páscoa estão profundamente interligados no calendário cristão. O Carnaval marca o fim de um período de celebração e dá início ao tempo de introspecção e penitência da Quaresma. A Quaresma, por sua vez, prepara os cristãos para a celebração da Páscoa, permitindo uma jornada de purificação e renovação espiritual. A Quaresma é essencial para a Páscoa, pois é nela que o fiel tem a oportunidade de refletir sobre o sacrifício de Cristo e se preparar para vivenciar plenamente a ressurreição. Já a Páscoa dá significado à Quaresma, pois celebra o triunfo da vida e a renovação espiritual que ela proporciona. Juntas, essas três fases representam um ciclo de transformação: o Carnaval, com sua celebração efêmera; a Quaresma, com sua introspecção transformadora; e a Páscoa, com sua celebração da vitória eterna. Para os cristãos, a Páscoa não é apenas o clímax do calendário litúrgico, mas a essência da fé, o momento em que a renovação e a salvação se tornam reais. Cada um desses momentos carrega um significado único, mas é na conexão entre eles que encontramos o verdadeiro propósito da fé cristã: celebrar a vida, refletir sobre o sacrifício e renovar o compromisso com Deus e com os valores da fé. Para o cristão, a Páscoa é o ápice dessa trajetória, um chamado à renovação, ao amor ao próximo e à valorização da esperança. Em suma, a mensagem que emerge desse ciclo não é apenas espiritual, mas também humana: independente das diferenças culturais ou religiosas, somos convidados a abraçar a diversidade e a encontrar o significado nas transições da vida. É por meio da celebração, do silêncio da introspecção e da alegria da ressurreição que aprendemos a transformar nosso interior e a viver em plenitude. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 52 edição de Março de 2025 – ISSN 2764-3867

  • “Uma bomba sobre o Japão, fez nascer o Japão da paz”

    Em 1945 chegou ao fim um dos marcos temporais mais importantes da era contemporânea e com ele surgiu um capítulo à parte, dentre os mais controversos e tristes da história humana: as explosões atômicas em Hiroshima e Nagasaki (6 e 9 de agosto). As duas explosões permanecem entre os eventos mais dramáticos e ainda mal explicados da história militar. A partir dos anos 60 o movimento historiográfico de viés marxista começou a moldar uma linha narrativa que frequentemente descreve aqueles bombardeios como desnecessários, caracterizando-os como meros testes de armas nucleares ou ataques indiscriminados contra populações civis, apenas o resultado do ímpeto imperialista americano. No entanto, uma análise mais abrangente do contexto histórico, militar e estratégico revela que as decisões tomadas pelos Estados Unidos foram baseadas em uma complexa avaliação de cenários, buscando encerrar a Segunda Guerra Mundial com o menor custo possível de vidas humanas, por mais paradoxal ou contraproducente que aquela decisão possa parecer. Este artigo busca apresentar uma visão mais equilibrada, destacando os motivos estratégicos e o contexto geopolítico que levou àqueles eventos. Em maio de 1945 a Segunda Guerra Mundial na Europa havia terminado com a rendição da Alemanha nazista. No entanto, no Pacífico, o Japão continuava a resistir ferozmente, apesar de estar em uma situação militar insustentável. Os Aliados haviam conquistado ilhas estratégicas, como Iwo Jima e Okinawa, mas a invasão do território japonês continental ainda era um desafio monumental. O Japão, sob o comando do Imperador Hirohito e de líderes militares como o General Hideki Tojo, mantinha uma postura intransigente, recusando-se a aceitar a rendição incondicional exigida pela Declaração de Potsdam. Essa resistência fanática foi evidenciada em batalhas como a já citada batalha de Okinawa, onde milhares de civis japoneses cometeram suicídio em vez de se renderem às forças aliadas. Para os líderes militares, essa disposição de lutar até o fim era uma prova de que o povo japonês estava preparado para enfrentar uma invasão terrestre com determinação implacável. A resistência japonesa era alimentada por uma cultura militar que valorizava a honra acima da vida. O código de honra samurai, conhecido como "bushido", desempenhou um papel central na mentalidade militar japonesa durante a guerra. Esse código valorizava a lealdade, a coragem e a disposição para morrer em combate acima de tudo. A ideia de rendição era vista como uma desonra intolerável, e muitos líderes militares acreditavam que a morte gloriosa em batalha era preferível à capitulação. Essa mentalidade foi reforçada pela doutrina do "gyokusai", que incentivava soldados e civis a lutarem frontalmente até o último homem, mulher ou criança. A invasão do Japão, planejada sob o nome de "Operação Downfall", estava programada para começar em novembro de 1945. A operação seria dividida em duas etapas: a invasão de Kyushu (Operação Olympic) e a subsequente invasão da região de Tóquio (Operação Coronet). Estimativas militares sugeriam que a campanha poderia durar até 1947, com custos humanos catastróficos. Os planejadores militares dos Estados Unidos previram que a invasão resultaria em até um milhão de baixas aliadas, incluindo mortos e feridos. Do lado japonês, as perdas poderiam chegar a vários milhões, considerando a disposição dos civis para lutar até a morte. Além disso, os japoneses haviam mobilizado milícias civis e preparado táticas de guerrilha, o que aumentaria ainda mais o número de vítimas. Diante desse cenário, os líderes americanos buscaram alternativas para evitar uma prolongada e sangrenta campanha terrestre. O general Curtis LeMay, responsável pelo bombardeio incendiário de Tóquio em março de 1945, já havia demonstrado que mesmo ataques convencionais poderiam matar mais de 100 mil pessoas em uma única noite. Ainda assim, o governo japonês não mostrava sinais de rendição. Ainda que por décadas as narrativas da escolha de Hiroshima e Nagasaki apontassem as cidades como inocentes alvos civis, sem interesses militares importantes, ou seja, tudo não passando de um cruel teste atômico, tal escolha não foi arbitrária. Ambas as cidades tinham importância militar e industrial significativa. Hiroshima era um centro logístico e de comando, abrigando o quartel-general do Segundo Exército japonês, responsável pela defesa do sul do país. A cidade também era um importante centro de produção de armamentos e um ponto de embarque para tropas. Nagasaki, por sua vez, era um dos principais portos do Japão, com estaleiros e fábricas que produziam equipamentos militares. Além disso, ambas as cidades haviam sido poupadas de bombardeios convencionais, o que permitiria aos cientistas avaliarem com precisão o poder destrutivo das novas armas nucleares. A seleção desses alvos refletia a intenção de maximizar o impacto militar e psicológico, forçando o governo japonês a reconsiderar sua postura intransigente. O desenvolvimento das bombas atômicas foi resultado do Projeto Manhattan, um esforço científico e industrial sem precedentes que mobilizou mais de 130.000 pessoas e consumiu cerca de US$ 2 bilhões (equivalente a mais de US$ 20 bilhões hoje). Liderado por cientistas como J. Robert Oppenheimer e Enrico Fermi, o projeto buscava criar uma arma que pudesse encerrar a guerra de forma decisiva. A primeira bomba, apelidada de "Little Boy", utilizava urânio-235 e foi lançada sobre Hiroshima. A segunda, "Fat Man", baseava-se em plutônio-239 e foi detonada sobre Nagasaki. Ambas as armas foram projetadas para liberar uma quantidade imensa de energia, causando destruição massiva e ondas de choque que devastariam infraestruturas e abalariam a moral do inimigo. Apesar da devastação causada pelo bombardeio de Hiroshima, a liderança japonesa ainda hesitava em se render. Alguns líderes militares acreditavam que os Estados Unidos possuíam apenas uma bomba atômica e que o Japão poderia continuar resistindo. Outros argumentavam que a rendição incondicional levaria à destruição do sistema imperial e da cultura japonesa. A destruição de Nagasaki três dias depois deixou claro que os Estados Unidos tinham capacidade de produzir mais armas nucleares. As explosões de Hiroshima e Nagasaki causaram a morte imediata de aproximadamente 200.000 pessoas, com dezenas de milhares morrendo nos anos seguintes devido a ferimentos, queimaduras e efeitos da radiação. Embora essas perdas sejam trágicas, é importante contextualizá-las dentro do cenário mais amplo da guerra. O Japão havia sido responsável por atrocidades em larga escala, incluindo o massacre de Nanquim, onde centenas de milhares de civis chineses foram mortos, e a exploração brutal da Manchúria. A extensão da guerra resultaria em mais mortes, tanto de soldados quanto de civis, em toda a Ásia. As explosões de Hiroshima e Nagasaki foram eventos trágicos, mas devem ser entendidas dentro do contexto complexo e brutal da Segunda Guerra Mundial. A escolha desses alvos foi baseada em considerações estratégicas e militares, motivadas pela necessidade de encerrar o conflito com o menor custo possível de vidas. Embora o debate sobre a moralidade dessas ações continue, é essencial reconhecer que as decisões tomadas foram influenciadas por circunstâncias extraordinárias e por um cálculo difícil entre opções igualmente terríveis. A história não deve ser simplificada, mas sim analisada em sua totalidade, considerando todos os fatores que moldaram esses eventos decisivos. Outro elemento crucial que influenciou a decisão de usar as bombas atômicas foi o papel da União Soviética no cenário geopolítico da época. Em fevereiro de 1945, durante a Conferência de Yalta, os Aliados concordaram que a União Soviética entraria na guerra contra o Japão três meses após a rendição da Alemanha. Essa promessa foi cumprida em 8 de agosto de 1945, quando a URSS declarou guerra ao Japão e invadiu a Manchúria. Para os Estados Unidos, a entrada da União Soviética na guerra no Pacífico representava um dilema. Por um lado, a participação soviética poderia acelerar a derrota do Japão. Por outro, ela aumentaria a influência soviética na Ásia, algo que os Estados Unidos desejavam evitar. A bomba atômica, portanto, não era apenas uma ferramenta para forçar a rendição japonesa, mas também um instrumento de poder geopolítico, destinado a demonstrar a supremacia militar americana e conter a expansão soviética. A liderança japonesa, no verão de 1945, estava profundamente dividida sobre como encerrar a guerra. Enquanto alguns membros do governo e do alto-comando militar reconheciam a inevitabilidade da derrota, outros insistiam em continuar a resistência, mesmo diante de circunstâncias cada vez mais desesperadoras. Essa divisão refletia não apenas diferenças estratégicas, mas também questões culturais e ideológicas profundamente enraizadas na sociedade japonesa. No início de agosto de 1945, o Conselho de Guerra japonês, composto por seis membros-chave, estava profundamente dividido. De um lado, estavam o Primeiro-Ministro Kantaro Suzuki e o Ministro das Relações Exteriores Shigenori Togo, que buscavam uma forma de negociar a paz. Do outro lado, estavam o Ministro da Guerra Korechika Anami e os chefes do Exército e da Marinha, que insistiam em continuar a luta. A destruição de Hiroshima em 6 de agosto abalou profundamente o governo japonês, mas não foi suficiente para superar a resistência dos líderes militares. Alguns deles duvidavam que os Estados Unidos possuíssem mais de uma bomba atômica e acreditavam que o país poderia suportar ataques adicionais. Outros argumentavam que a rendição incondicional levaria à destruição do sistema imperial e da cultura japonesa, algo que consideravam inaceitável. A destruição de Nagasaki em 9 de agosto, combinada com a declaração de guerra da União Soviética no mesmo dia, mudou drasticamente o cenário. A invasão soviética da Manchúria eliminou qualquer esperança de mediação por parte da URSS, algo que alguns líderes japoneses ainda consideravam possível. A entrada da União Soviética na guerra também aumentou o temor de uma ocupação comunista do Japão, o que era visto como uma ameaça existencial ao sistema imperial. Diante desses eventos, o Imperador Hirohito, que até então havia adotado uma postura mais passiva, decidiu intervir diretamente. Em uma reunião histórica do Conselho de Guerra em 10 de agosto, Hirohito declarou que a continuação da guerra só traria mais sofrimento ao povo japonês e que era hora de "suportar o insuportável" e aceitar a rendição. Sua decisão foi influenciada não apenas pelas bombas atômicas, mas também pelo temor de que a resistência contínua levaria à destruição completa do Japão. Mesmo após a decisão do Imperador, houve uma tentativa de golpe por parte de militares que se opunham à rendição. Na noite de 14 de agosto, um grupo de oficiais liderados pelo Major Kenji Hatanaka tentou tomar o Palácio Imperial e destruir a gravação do discurso de rendição de Hirohito. O golpe falhou, e na manhã de 15 de agosto, o Imperador anunciou a rendição do Japão em uma transmissão de rádio sem precedentes, conhecida como o "Jewel Voice Broadcast". A rendição formal ocorreu em 2 de setembro de 1945, a bordo do USS Missouri, marcando o fim oficial da Segunda Guerra Mundial. A decisão de Hirohito de se render foi um momento decisivo na história do Japão, encerrando anos de conflito e abrindo caminho para a reconstrução do país sob ocupação aliada. Após a rendição do Japão em 1945, os Aliados impuseram três condições principais: ocupação do país, desmilitarização e remoção do imperador Hirohito. O governo japonês, no entanto, insistiu na preservação da monarquia, temendo que sua remoção levasse ao caos interno. O general Douglas MacArthur, comandante das forças de ocupação, também considerava que a manutenção do imperador poderia garantir estabilidade, evitando que o Japão seguisse o caminho da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial, quando a queda do kaiser e a criação da República de Weimar contribuíram para o surgimento do nazismo. Assim, os EUA aceitaram manter Hirohito, desde que ele renunciasse ao seu status divino e assumisse um papel apenas cerimonial na Constituição de 1947. O uso de armas nucleares contra populações civis levantou questões éticas e morais na época, o que suscitou ideias alternativas, como explodir uma bomba em área desabitada. No entanto, os líderes americanos da época acreditavam que uma demonstração não teria o mesmo impacto psicológico e militar que o uso real das armas. Além disso, havia a preocupação de que uma bomba falhasse durante uma demonstração, o que poderia encorajar o Japão a continuar resistindo. A decisão de usar as bombas foi, portanto, baseada em uma combinação de considerações práticas e estratégicas, embora isso não diminua a gravidade das consequências humanitárias. Por outro lado, as bombas também serviram como um alerta para os perigos da guerra nuclear. O sofrimento das vítimas de Hiroshima e Nagasaki, conhecidas como "hibakusha", tornou-se um símbolo dos horrores da guerra e da necessidade de buscar a paz. As cidades reconstruídas hoje abrigam memoriais e museus dedicados à promoção do desarmamento nuclear e à educação sobre os efeitos devastadores das armas atômicas. Assim, entendemos que toda história tem no mínimo dois lados, mas a verdade sempre paira sobre os fatos, resultando que simplificações morais ou exaltações ufanistas criam narrativas que somente interessam àqueles que desejam ter o controle da História. “ E se todos os outros aceitassem a mentira imposta pelo Partido – se todos os registros contassem a mesma história –, a mentira tornava-se história e virava verdade. ‘Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente controla o passado’, rezava o lema do Partido. (…) O passado, refletiu ele, não fora simplesmente alterado; na verdade fora destruído. Pois como fazer para verificar o mais óbvio dos fatos, quando o único registro de sua veracidade estava em sua memória?” (Winston, personagem do livro “1984”). Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 52 edição de Março de 2025 – ISSN 2764-3867

  • A Ramificação do Mal

    Como definição de ramo podemos dizer que é a divisão ou subdivisão de algo, como por exemplo de galhos de uma planta, originando-se de outro galho ou de um caule. Diferentemente do efeito da simbiose, na qual dois ou mais seres se juntam por um interesse comum, a ramificação é quando um ser maior se subdivide para alcançar seu objetivo. Como um rio que se divide em filetes buscando o caminho do mar. A ramificação do mal difere-se da simbiose, justamente, porque um de seus membros é derivado de outro ser nefasto, que, como forma de buscar propagar sua intenta abissal, dividir-se-á quantas vezes conseguir para então abocanhar sua presa. Como não falar em Saul Alinsky, fundador, mesmo que de forma indireta, de aproximadamente quarenta e quatro organizações não governamentais, todas elas engajadas em promover a revolução. Até mesmo o Ex-presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, figurou como ativista. O sociólogo gramscista espalhou diversas organizações e fomentou a instabilidade através da revolução naquele país, tendo sua obra “Regras para Radicais” (tradução livre), influenciado milhares de ativistas, sejam de grupos raciais, feministas, pautas LGBT, ambientalistas e outras tantas. Importante ver um exemplo de simbiose entre o ativismo revolucionário e o crime organizado no trecho do Mestre em Geográfica Antônio Carlos : “ Na sua juventude, na década de 1930, Saul Alinsky foi apresentado ao famoso ”Al Capone” e sua gangue, onde teve estreita aproximação com o número 2 da máfia (Frank Nitti), com quem confessa ter aprendido bastante sobre a organização criminosa de Al Capone, absorvendo todas as táticas que a máfia utilizava para se manter a organização poderosa (e criminosa) que foi”. A grande diferença entre os seres simbióticos e os ramificados é justamente o fato de que os primeiros podem se unir para buscar algo, no caso o mal em comum, já os ramificados, muito mais perigosos, são facetas diferentes do mesmo ser, não havendo o ponto em que se confrontam. Um outro exemplo curioso é o do dragão vermelho , gigante nação asiática socialista, que ora realiza uma espécie de simbiose com metacapitalistas ávidos por lucro e poder, no segundo caso por serem de natureza progressista mesmo, ora tal nação prefere incentivar o crescimento de empresas parceiras de origem local para que se tornem gigantes internacionais. Uma pequena pausa para reflexão, realmente é inacreditável que possam assumir que exista alguma grande empresa de porte considerável crescendo na sombra do Partido naquele país sem constatar que tal corporação é, na verdade, um órgão governamental que tem uma figura interpretando ser o proprietário. Basta ver o caso da “suposta” espionagem praticada por uma empresa de telecomunicações daquele país e a forma que a ditadura atuou em defesa da empresária, algo como o resgate de uma espiã capturada, ou ainda mais grave, o estranho desaparecimento de um empresário do ramo de exportações, que aparentemente desagradava o regime, tendo, logo em seguida reaparecido, mas com uma atitude bem mais amistosa em relação aos tiranos. Assim como as organizações criadas pelo sociólogo gramscista, trais empresas parecem ter sido criações do regime socialista que comanda a nação mais populosa do mundo, sendo ramificações de tais seres, que servem de instrumentos para atingir seus ignóbeis objetivos. Na América Latina as coisas não foram diferentes, a metodologia é a mesma, por mais que nomes se alterem, como podemos observar a parceria entre grandes empresas e governos tirânicos, tivemos em nosso país s chamadas “campeãs nacionais”, o entrelaçamento entre metacapitalistas e um plano de tomada de poder orquestrado, que por vezes era nutrido pela corrupção, por outras bençãos governamentais, ou, somente pela vontade de ver a submissão às pautas progressistas. O ativismo revolucionário parece ter afetado os mais poderosos de tal forma que a simbiose está causando um grande estrago em suas mentes. A ramificação do mal também pode ser vista a olho nu, movimentos sociais e sindicatos patrocinados por agremiações políticas, organizações não governamentais que se banqueteiam de incentivos estatais, mudando até mesmo a nomenclatura para organizações sociais com o fim de receber diretamente verbas públicas, lei de incentivo à cultura sendo usada para aliciar nomes influentes e farta verba destinada aos veículos de comunicação comprando a simpatia de quem deveria relatar de forma equidistante. Ramificam-se as teses que defendem o desconstrutivismo e propagam cada vez mais o sentimento revolucionário, ao mesmo tempo em que apertam o enforcador quando duas pautas nitidamente progressistas se chocam, fazendo com que a “reinvenção dos fatos”, a pós-verdade , convença os idiotas úteis a abrir mão de toda sua vontade em submissão aos desmandos dos artífices da revolução. Curioso espiar como feministas reagem ao avanço de homens, que se declaram mulheres, em áreas de atuação diferenciada, silentes ao perceberem que uma mulher se vê constrangida a prática de esportes, inclusive de contato, contra seres cuja constituição física resulta em uma flagrante vantagem. A aceitação passiva de grupos LGBT quando a ditadura chinesa trata homossexuais como doentes, mas não aceitam que um sacerdote, não queira celebrar a união entre duas pessoas do mesmo sexo com base e suas convicções, ou pedem a demissão por conta da opinião de u atleta já consagrado, e o pior, tal pedido é acatado por um grupo que prefiro não adjetivar, aceitando a pressão de uma empresa outrora associada a um regime abjeto, a FIAT , “ A famosa Fabrica Italiana Automobili Torino tem sua vida pública menos associada a Hitler e mais ligada à Itália Fascista de Mussolini ”. Não é justo deixar de mencionar a relação entre o socialismo e o crime organizado, em verdade, há dois tipos de coexistência entre ambos. No primeiro caso pode-se mencionar o chamado Jogo do Bicho, a contravenção, que parece ter um comportamento cujo objetivo central é o poder econômico, associando o uso da violência e a rentabilidade, mafiosos dos quais a esquerda socialista não faz a menor questão de se distanciar, acima isso já foi exposto, mas no Brasil temos como exemplo o caso envolvendo Carlinhos Cachoeira, acusado de financiar políticos e até a imprensa. Por fim, não em caráter de simbiose, mas de ramificação da revolução, temos o narcotráfico, e porque não chamar pela definição mais correta, GUERRILHA NARCOSSOCIALISTA , sim, é uma braço armado do socialismo latino-americana e dá continuidade a luta armada. Diferente do que muitos pensam, eles não desistiram das trincheiras para ir aos debates acadêmicos, apenas colocaram pessoas demasiadamente desinformadas para ficar de frente no combate enquanto as movimentam como peças em seu tabuleiro doentio. As facções criminosos resultam do aliciamento político de marginais para lutarem uma guerra contra a sociedade, tanto que lhes foi dada a proteção acadêmica e política, a narrativa de que são vítimas da sociedade os faz ser a antítese de um estado de coisas que os fez caírem na marginalidade, logo, se sente impelidos a reagir, embora suas ações não sejam contra aqueles tiranos que realmente massacram o povo, estão a serviço justamente dos déspotas que os insuflam contra o cidadão de bem, tem sua moral despida, são escravos das drogas que comercializam, tornando-se idiotas úteis com armas de guerra nas mão. Assim como grupelhos revolucionários, são amados pela grande mídia e, por vezes, protegidos por autoridades, que são capazes das piores sandices para garantir que esses agentes do caos sob seu comando inconscientemente aterrorizem cada indivíduo, fazendo-o incapaz de erguer a cabeça contra os abusos. Nota-se que é uma prática latino-americana, não se dá de forma exclusiva no Brasil, sendo seu maior exponente as FARC, mãe do partido colombiano Comuns (mudou o nome para se dissociar da organização criminosa, qualquer semelhança é a imaginação do leitor). Façamos um exercício mental para compreender como o cerceamento de liberdades parece ser incentivado contra os bons e é rechaçado quando se fala dos guerrilheiros, como a energia usada para fechar estabelecimentos comerciais ou exigir uso de mascarás e vacinas poderia ser direcionada contra as facções do crime organizado. Ao mesmo tempo que se busca impedir operações policiais em comunidades, relegando os moradores ao julgo de criminosos, tentam autorizar a demissão de não vacinados sem nunca ter autorizado a demissão de usuários de drogas. O fruto do mal, por sua vez, é a colheita por realizada por aqueles que semeiam o caos, trata-se da imposição de um sistema totalitário em uma sociedade adoecida por tudo aquilo que foi implementado pelos agentes do socialismo, mesmo que de forma inconsciente, a degradação da vida em sociedade fará com que os indivíduos, arrebanhados por grupos que dançam a valsa da morte acoitem aqueles que tentam-se manter livres e implorem por um feitor que os escravizem. Eles se diversificaram, se enraizaram e não desistirão tão fácil, é necessário entender que estas faces têm um só coração, o socialismo a maior chaga da humanidade. “ Um rei governa súditos propensos a aceitá-lo, um tirano governa quem não o quer.” escreveu George Buchanan, influente erudito escocês do século XVI. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 12 edição de Maio de 2022 – ISSN 2764-3867

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