“LUTEM, LUTEM, LUTEM”
“Tudo em volta induz à loucura, ao infantilismo, à exasperação imaginativa. Contra isso o estudo não basta. Tomem consciência da infecção moral e lutem, lutem, lutem pelo seu equilíbrio, pela sua maturidade, pela sua lucidez. Tenham a normalidade, a sanidade, a centralidade da psique como um ideal. Prometam a vocês mesmos ser personalidades fortes, bem estruturadas, serenas no meio da tempestade, prontas a vencer todos os obstáculos com a ajuda de Deus e de mais ninguém. Prometam SER e não apenas pedir, obter, sentir, desfrutar.” (Olavo de Carvalho).
No sábado, 13 de julho de 2024, por volta das 18:13h (horário local), ocorreu um incidente grave durante um discurso de Donald Trump, político republicano, na cidade de Butler, Pensilvânia. O político foi alvo de tiros que o feriram superficialmente na orelha direita. Após o incidente, foi prontamente retirado do local por sua equipe enquanto declarava com determinação: "Lutem, lutem, lutem".
Infelizmente, um dos presentes no evento perdeu a vida, e outros dois ficaram feridos. O atirador foi abatido poucos segundos após o atentado e as autoridades o identificaram como Thomas Mathew Crooks. As investigações sobre o caso prosseguem em meio a muitas suspeitas de facilitação por parte das forças de segurança presentes no evento.
Os Estados Unidos possuem um histórico de eventos trágicos envolvendo atentados contra presidentes. Podemos citar alguns deles.
Andrew Jackson, o sétimo presidente dos Estados Unidos, também foi alvo de um atentado durante seu mandato. O incidente ocorreu em 30 de janeiro de 1835, quando Jackson estava saindo do Capitólio dos Estados Unidos após um funeral. Richard Lawrence, um desempregado britânico, tentou disparar duas pistolas contra Jackson, mas ambas falharam por problemas mecânicos.
Abraham Lincoln foi assassinado por John Wilkes Booth enquanto assistia a uma peça no Teatro Ford em Washington, D.C., em 14 de abril de 1865. Ele faleceu no dia seguinte, em 15 de abril.
James A. Garfield foi baleado por Charles J. Guiteau em Washington, D.C., em 2 de julho de 1881, e morreu dos ferimentos em 19 de setembro de 1881.
William McKinley foi baleado por Leon Czolgosz durante uma recepção em Buffalo, Nova York, em 6 de setembro de 1901, e morreu dos ferimentos em 14 de setembro de 1901.
Theodore Roosevelt foi baleado enquanto fazia um discurso em Milwaukee, Wisconsin, em 14 de outubro de 1912. Apesar dos ferimentos graves, ele sobreviveu e continuou sua campanha presidencial.
Em 1933 o presidente eleito Franklin D. Roosevelt foi alvo de cinco disparos desferidos por um homem. Roosevelt não foi atingido, mas o prefeito de Chicago Anton Cermak não teve a mesma sorte, tendo morrido 19 dias após o atentado.
Harry S. Truman teria sido mais uma vítima quando dois porto-riquenhos, Griselio Torresola e Oscar Collazo, tentaram invadir a Casa Branca em 1º de novembro de 1950 com o objetivo de assassiná-lo. Torresola e o policial Leslie Coffelt morreram no tiroteio, mas Truman não foi ferido.
Possivelmente o atentado mais famoso da história dos Estado Unidos foi o de John F. Kennedy, assassinado a tiros em Dallas, crime supostamente cometido por Lee Harvey Oswald, em 22 de novembro de 1963. Oswald supostamente se posicionou em um prédio al longo do trajeto em carro aberto, feito pela comitiva presidencial. Kennedy teve morte instantânea e Oswald foi assassinado dois dias depois.
Em 22 de setembro de 1975 a ativista política Sara Jane Moore, aproveitando uma visita do presidente Gerald Ford a São Francisco, em meio à multidão disparou contra Ford, mas errou o tiro. Antes que conseguisse atirar uma segunda vez foi imobilizada por um fuzileiro à paisana que acompanhava a visita. O primeiro tiro ricocheteou em uma parede próxima atingindo outra pessoa sem gravidade. Ford escapou ileso.
Nem seis anos se passaram e mais um presidente foi alvo da loucura humana. Dessa vez o alvo foi Ronald W. Reagan, em 30 de março de 1981. Após sair de um evento no Washington Hilton Hotel, Reagan foi alvejado por John Hinckley Jr. Reagan teve um dos pulmões perfurado, mas sobreviveu ao ataque graças ao rápido atendimento médico.
Para os brasileiros mais desavisados que após esta pesada leitura, dizem a si mesmos aliviados: ‘graças a Deus o Brasil é um país pacífico’, calma, não tão rápido! O Brasil também tem seu histórico de violência no seu contexto político. Apresentaremos a seguir alguns casos que se tornaram um pouco mais conhecidos.
Em 15 de julho de 1889, Dom Pedro II sofreu um atentado a tiros enquanto embarcava em uma carruagem na saída do Teatro Sant’Anna (atualmente Teatro Carlos Gomes) no Rio de Janeiro. O atentado foi perpetrado por Adriano Augusto do Valle, um militante republicano, mas Dom Pedro II saiu ileso.
Em 5 de novembro de 1897, Prudente de Morais sofreu um atentado durante uma cerimônia pública em frente ao Arsenal de Guerra no Rio de Janeiro. Marcelino Bispo de Melo, um soldado do exército tentou atingir Morais usando uma garrucha que falhou, dando tempo ao ministro da Guerra, Marechal Carlos Machado Bittencourt de tentar protegê-lo. Marcelino então, usando uma faca, feriu mortalmente o marechal, sendo preso em seguida. O presidente escapou ileso.
Em 23 de maio de 1928, houve um atentado contra o presidente Washington Luís no Hotel Copacabana Palace. Supostamente durante um encontro extraconjugal com a italiana Elvira Vishi Maurich, o presidente foi ferido a bala. Atendido pelo médico pessoal de Octávio Guinle, dono do hotel, o presidente foi conduzido a uma casa de saúde onde foi operado e se recuperou.
Em 5 de agosto de 1954, houve um atentado a tiros na Rua Tonelero, no Rio de Janeiro, contra Carlos Lacerda, um dos principais opositores de Getúlio Vargas. O atentado resultou na morte do major da Aeronáutica Rubens Vaz e acabou desencadeando uma crise política que levou ao suicídio de Vargas em 24 de agosto de 1954. Café Filho que então era vice-presidente da República assumiu o governo.
Em 30 de maio de 1989, o bancário João Antônio Gomes protagonizou um dos atentados mais bizarros da história brasileira. Após sequestrar um ônibus da Viação Planeta na rodoviária de Brasília, subiu a rampa do Palácio do Planalto, sendo detido apenas pelo rebaixamento de gesso no teto do saguão do palácio. Segundo depoimento do sequestrador, ele pretendia tirar a vida do presidente José Sarney ou de qualquer um que tentasse impedi-lo, dada a sua insatisfação com sua situação pessoal e do próprio país. Ocorre que o presidente sequer estava no palácio no momento do incidente. João Antônio foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional.
Em 22 de março de 1991, o então presidente Fernando Collor de Mello cumpria mais uma de suas rotineiras cerimônias de descida rampa do Palácio do Planalto, quando José Darionísio Pereira da Cruz, desempregado, furou o cordão de isolamento se lançando contra o presidente, portando uma faca. José foi impedido e imobilizado por um segurança, sendo preso logo em seguida. Collor nem mesmo percebeu o que tinha acabado de acontecer.
Um ovo arremessado não chega a ser um atentado contra a vida de ninguém, no máximo contra a compostura e o bom asseio. Em 20 de maio de 2000, José Serra, então Ministro da Saúde, quando chegava para um evento partidário em um clube de Sorocaba não foi ovacionado, mas foi atingido por um ovo lançado por um manifestante anônimo que conseguiu fugir em seguida ao ato. Mais tarde, entrando em contato com jornalistas por telefone, o jovem se identificou como estudante secundarista e disse:
“Eles usam a polícia para descer o pau em professores e estudantes, nós usamos ovos, que não machucam, mas deixam evidente nossa revolta”.
Quanto a José Serra, depois de cuidados cosméticos, seguiu sua agenda.
Ainda seguindo a linha dos “ovos voadores”, Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo e figura política bastante controversa, quase foi atingido por um ovo em 22 de outubro de 2001 quando chegava ao prédio do Ministério Público em São Paulo. O ovo foi atirado por Juarez dos Santos, um manifestante, que aguardava a chegada do político para prestar depoimento. Juarez buscava demonstrar sua revolta contra a empáfia do político paulista.
Em 6 de setembro de 2018, Jair Bolsonaro, então candidato à presidência, foi esfaqueado durante um comício em Juiz de Fora, Minas Gerais. Ele sobreviveu após passar por cirurgias. O criminoso foi identificado como Adélio Bispo de Oliveira, um suposto ‘lobo solitário’ que, segundo as investigações, sofreria de transtornos mentais. Adélio segue preso.
Retornando ao caso de Donald Trump, suas palavras "Lutem, lutem, lutem", ditas num contexto de profunda comoção, poderiam induzir à conclusão de que seus apoiadores deveriam se rebelar contra a violência de seus opositores. Mas, à luz das palavras do inesquecível Olavo de Carvalho, que encabeçam este texto, a luta é pelo “equilíbrio, pela sua maturidade, pela sua lucidez”. Tanto americanos quanto brasileiros conhecem, resguardadas as devidas proporções, a loucura, o infantilismo, a exasperação. Nesse momento profundamente conturbado que vivemos, é necessário manter a sanidade e seguir a ‘luta’, que significa manter a cabeça erguida, coluna ereta e ombros para trás, no melhor estilo Jordan Peterson.
A hora não é de retrocessos, mas também não é de enfrentamentos. Maior proveito e melhores resultados obterão os seguidores da paz, se souberem conduzir-se utilizando as falhas daqueles que usam da violência como instrumento, e mantendo a sanidade em meio à loucura.
“Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sedes prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas” (Mateus 10:16)
Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 44 - ISSN 2764-3867
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